30.9.14

O Brasil e o petróleo

De entre os BRICs talvez fosse o Brasil o mais dependente de expetativas futuras. No tempo da presidência de Lula da Silva a alta do preço dos metais e, de forma muito especial, a descoberta de enormes reservas de petróleo inundaram o país de liquidez injetada por investidores deslumbrados com as promessas de ganhos que supostamente não encontrariam em mais lado nenhum do mundo.

Excitados com a teoria do peak oil, a salivar ante os ganhos brutais que os países do Médio Oriente ou até a Venezuela de Chavez tiveram quando o barril chegou aos 150 dólares e ávidos por investir as enormíssimas reservas de capital que tinham sorrupiado ao Zé Manel, não faltaram artolas a canalizar recursos absurdos para a empreitada de extrair crude de jazidas que se encontram a mais de 5000 metros debaixo do oceano. A peta de que o petróleo iria esgotar lá para 2040, que enfiavam na cabeça das criancinhas desde o jardim de infância, entranhou-se de tal forma na grande massa cinzenta global que até uma empresa de 5ª categoria como é a GALP, vinda de um país endividado até ao tutano, se avalançou aos leilões dos poços brasileiros.

Mas o petróleo não vai acabar. E nem é preciso, nem faz qualquer sentido, ir buscar petróleo a reservas que estão lá no fundo do mar, da mesma forma que é absurdo capturar um asteróide para lhe sacar os metais! E nem sequer estou a falar do shell oil que é fruto de uma tecnologia recente. Estou mesmo a falar do crude normal que existe em reservas no subsolo.

O Mar Negro (Black Sea) tem uma área 5 vezes maior do que Portugal e uma profundidade média que ronda os 1200 metros (dados da Wikipédia). Mas não passa de um pequeno charco na grande área do planeta. Está a norte da Arábia Saudita que, como sabem, flutua precisamente sobre um mar de crude.


O Mar Negro tem 547000 quilómetros cúbicos de água. Por dia consomem-se em todo o mundo uma média de 90 milhões de barris de crude, sendo que cada barril contém 159 litros de matéria-prima. 

Se a água do Mar Negro fosse crude para quanto tempo teríamos reservas? 

Sigam-me nesta conta e dividam o volume total de água pelo consumo diário. Não se esqueçam de reduzir tudo à mesma unidade! Provavelmente deu um valor muito grande. Dividam por 365 para obter o resultado em anos! Está feito?! 

Se não falharam nada, obtiveram 104726 anos! 

Aí está, amigos, se toda a água do Mar Negro fosse crude, teríamos reservas para mais de 100000 anos, mantendo intacto o consumo diário atual.

As conclusões ficam por vossa conta!

28.9.14

Má onda no PSI

Diacho, amigos! Afinal, dinheiro na PT só para quem estivesse curto ou para os que entraram nos primeiros minutos de negociação de sexta-feira. Nada de grave para os disciplinados que aguardaram pacientemente pelo sinal de arranque na quebra dos 1,85 e nem chegaram a entrar. Como no campo de batalha, também na bolsa a disciplina é um bem precioso e permite evitar desperdícios. Aliás, na PT nota-se perfeitamente as forças do mercado a manobrarem: de cada vez que a cotação parece aproximar-se da resistência saltam os ursos e despejam ações emprestadas filados num bom rácio ganho/risco. É por isso que uma quebra da resistência tem potencial para catapultar a ação coisa de 60 cêntimos para cima: a ursalhada vai ter de hibernar, o que em linguagem bolsista significa fechar posições curtas, indo buscar ações ao mercado. 

Claro que, aparentemente, a saúde da PT do ponto de vista técnico deteriorou-se durante a semana, embora a vinda cá abaixo aos 1,60, seguida de boa recuperação, tenha colocado os indicadores em posição de descolagem. Agora é fácil concluir que a quebra em baixa dos 1,60 são o sinal evidente de que alguma coisa não está bem com os motores e que vai ser preciso chamar o pessoal de manutenção da TAP (it's a joke) porque a coisa já não descola. Ainda por cima quando a OI lá no Brasil continua a dar sinais de querer rebentar com a resistência, com um fecho de semana a 1,75 reais, justo em cima da dita. Mas não se esqueçam de que vai ter eleições de hoje a oito!

Mas não é só à PT que podemos ir buscar dinheiro para pôr pão na mesa. Daqui a pouco os meus amigos até começam a desconfiar que eu tenho o camião cheio de MEOS e quero pôr-vos a dar-lhes gás. Nada mais falso: nós aqui no NeB queremos como é evidente influenciar o mercado, mas não somos loucos ao ponto de entrar numa ação antes dela dar sinal de compra: como dizia o outro, antes perder um ganho, do que ganhar uma perda (ainda se fosse uma perca!).

O problema maior parece estar no PSI20 como um todo. A semana que ontem terminou era tão importante para o índice do ponto de vista técnico que nem nos passou pela cabeça que o animal se estampasse. Mas foi justamente o que sucedeu e nem o fecho de sexta-feira conseguiu amenizar o estrago feito. O nosso moribundo índice quebrou um suporte que nos parece bastante importante na zona entre os 5750 e os 5775 e a menos que volte para cima quanto antes, arrisca descambar até ao suporte-mor na zona dos 5320, quase 7% abaixo do valor a que fechou a semana. Fica o gráfico diário:


E esta semana colocamos também um gráfico semanal que, para além de nos dar uma visão fortemente tristonha do PSI20, com as médias móveis na direção e na ordem completamente errada para os touros, nos mostra que pode haver um suporte semanal na zona dos 5650.


Vai ser importante, pois, verificar como arranca a próxima semana, mas convém desde já fazer figas para que não se estejam a cozinhar novas escandaleiras neste cantinho à beira-mar, como parece pressagiar o caso Passos/Tecnoforma. Seja como for, pelo menos para já, a queda do PSI20 pareceu seguidismo em relação aos maiores índices mundiais que, tanto quanto podemos avaliar para já, aproveitaram maus dados económicos para aliviar indicadores. 

A propósito de dados económicos, uma vez que os mercados se tornaram sensíveis a eles, deixamo-vos, para fechar, o link do Investing.com, para que os possam consultar praticamente em tempo real.

Bons negócios para todos.

21.9.14

A próxima semana

Se queremos ter sucesso nos mercados o melhor é manter sempre a coisa simples, quanto mais simples melhor, e ir entrando e saindo de ações que conhecemos relativamente bem. Para nós tugas, que temos a infelicidade de ter por perto um dos índices bolsistas com pior comportamento neste ano (já foi um dos melhores), não é tarefa fácil e muitas vezes dá vontade de nos pormos no piro e abalar para outros mercados. Mas isso tirava-nos uma parte da simplicidade e, pelo menos para já, aqui o NeB vai-se mantendo 100% nacional, uma coisa galharda, do género do Atlethic de Bilbao, até porque estamos em crer que, apesar de tudo, há empresas que parecem demasiado castigadas. É certo que isso acontece não porque se esteja a criar verdadeiramente valor, mas mais por estarem reunidas as condições para que a especulação funcione e faça subir as cotações. É esse o caso, por exemplo, do BPI, de que já aqui falamos.

E, seguindo esta linha de raciocínio, onde é que nós vemos dinheiro na próxima semana? Pois, amigos, digo-vos muito diretamente e nem precisamos de pôr gráfico nenhum, pois serve o que aqui deixamos num post anterior. Voto na PT. 

E isto porquê? 

Por causa do fecho da OI na sexta-feira passada. É verdade que nem a OI é exatamente a PT, nem o que acontece de bom à OI é necessariamente bom para a PT, mas duvido muito que a OI suba e a PT não lhe siga no encalço. E a OI fechou em máximo do dia e máximo da semana na bolsa brasileira, a um tick de encostar a uma resistência que uma vez abatida pode fazer brotar do nada reais em catadupa na conta dos acionistas (confiram aqui). Também a PT é gaja para explodir se quebrar os 1,85€ e se até a OI ajudar, porque diabo não o há de fazer? E não se esqueçam de toda a especulação que graça em torno das telecomunicações no Brasil, que pode perfeitamente fazer esquecer as dívidas colossais que estas empresas têm e os sarilhos em que estão metidas. 

Na Bolsa ninguém quer saber do que vai acontecer daqui por um mês, desde que ganhe dinheiro no dia seguinte. Tudo o que precisamos é do chuto de felicidade instantânea, porque no longo prazo, já sabem, isto é sempre uma montanha russa.

Quanto ao PSI18? Vai subir.

15.9.14

O BPI

Sem nada de relevante para dizer, vou-me mantendo calado que a bolsa também é feita de silêncios. 

Hoje, porém, volto a olhar para o BPI. Depois dos acontecimentos do fim-de-semana, envolvendo o Novo Banco (grande barracada aquela foi e continuará a ser), fica-se sempre na expetativa de ver como se vão amanhar os restantes bancos. A verdade é que as notícias para o lado do BPI parecem mais engraçadas do que para o outro banquito da nossa praça, se bem que não seja de excluir que a subida de um impulsione o outro. 

A perspetiva de, por tuta e meia, poder avalançar-se ao negócio do Novo Banco é capaz de contribuir para nos alegrar um pouco mais a conta bancária, se nos conseguirmos colocar do lado correto do mercado. Dá-me a ideia de que com o Governo à rasca para vender, sem que haja abundância de interessados, vamos ter o Ulrich a ficar com vontade de assumir os galões de DDT. E o negócio é capaz de ser engraçado. O BPI tem que entrar com 10% da diferença entre os 4 mil e tal milhões e o preço da venda, mas o BCP ou a CGD vão ter que assumir 20 ou 30%. Pode dar-se o caso de o BPI comprar por um preço que faça parecer os 10% uma bagatela, ao mesmo tempo que entala a concorrência. Não há dúvida de que o jogo, no mínimo, promete. E nem sequer estamos a entrar em linha de conta com os depósitos que entretanto estão a transitar do ex-BES para os bancos que restam e que, no limite, devem chegar para colocar os rácios de acordo com os mandamentos dos testes de stress (aliás, se eu fosse adepto de teorias da conspiração, coisa que não me seduz, diria que liquidaram o BES para salvarem os outros todos e evitar que a banca portuguesa colocasse o país ainda mais de pantanas).

Entretanto, tecnicamente, o BPI está num ponto em que ou vai ou racha: aquela SMA200 (a vermelho), uma vez quebrada, vai permitir dançar o bira. Que assim seja!


5.9.14

Dear Telephone

Na proposta de hoje da rubrica "Música para festejar os ganhos em bolsa" deixamo-vos com uns amigos cá da minha terra.


4.9.14

A festa de Super Mário

Esteve boa e bonita a festa que o Super Mário patrocinou e espero que todos tenham conseguido ficar com um bocadinho do bolinho que foi crescendo ao longo do dia. Aliás, quem leu o que dissemos na nossa rentrée acerca das palavras do presidente do BCE e agiu em conformidade, é bom que se chegue à frente para pagar uma jantarada porque no BCP vamos com 20% de subida, no BPI com 13% e na PTC com 23%. Não tem comparação com a Glint, que subiu 40% esta semana, mas já ninguém se pode queixar!

Agora que já distribuímos as medalhas, convém olhar em frente para tentarmos perceber o que pode suceder a partir de amanhã. Claro que com valorizações destas vem aí a tradicional realização de mais-valias, pelo que a questão que queremos discutir nem é se teremos queda amanhã ou não. O que interessa é se haverá possibilidade de estar invertida definitivamente a tendência no PSI18 ou se o foguete está para rebentar. É que a notícia que o Marocas nos deu é boa e temos em marcha um plano de compra de ativos,  mas não se trata de um verdadeiro QE, o que pode trazer motivo para desilusão no curto prazo (embora hoje não se tenha notado). Também não é de entranhar um sell on the news (que teria um efeito de mais ou menos curto prazo), ou um voltar de atenções para outros problemas como o conflito ucraniano ou os testes de stress à banca ou mais coisas que o mercado se encarregará de fazer brotar. 

Olhemos para o gráfico do PSI20:


No curto prazo parece com ganas de regressar à caixa laranja e pode ser que tenha unhas para ir lá acima testar o topo nos 6350-6400. Uma vez dentro da caixa (o que pode acontecer já no fecho de semana) a base passa a ser um suporte óbvio, mas até lá o mais rijo parece ser o dos 5775 (embora as médias móveis possam suster uma crise de mãos leves). O cruzamento da EMA9 para cima da EMA21 foi um bom sinal de força e parece haver cada vez mais gente disposta a acreditar que a subida é para valer e que os 8% de queda anual do índice, apesar do colapso do BES, são um despropósito. Se assim for, os adeptos do entra e sai são capazes de começar a serem substituídos pelos que vestem a camisola do entra e fica!

Mas porque é que o índice hoje não fechou em máximos?

A resposta é muito simples e dou-vo-la na forma de gráfico das nossas ações de eleição de há duas semanas. Confiram:




Os gráficos falam sozinhos e em todos eles vemos o que fez os investidores mais atentos desatarem a vender nos minutos finais da negociação, contribuindo para uma certa hesitação final do PSI. O que vale a quem está dentro é que qualquer uma destas resistências cai se a marrada for de touro bravo e não é difícil perceber onde se encontram os suportes que podem tranquilizar os mãos leves. Para além disso, o RSI ainda não está em sobrecompra, pelo que, apesar de o movimento a olho nú já parecer vir esticadote, a análise técnica diz que ainda há espaço para puxar mais.

Vemo-nos amanhã... no sítio do costume!

2.9.14

Os russos

Numa das nossas últimas intervenções dissemos que achávamos fundamental ao bom trader a leitura de livros de história em vez de desnecessários e pouco interessantes livros sobre bolsa que muitas vezes mais não são do que manuais de auto-ajuda. Pois bem, agora concretizamos.

Uma das leituras a que deitamos mão nas férias foi o magnífico "A queda de Berlim 1945" do historiador inglês Antony Beevor.


O livro narra, como o próprio título indica, os acontecimentos que, nos primeiros meses de 1945, ditaram a implosão do regime nazi e a consequente destruição da Alemanha e da sua capital. Evidentemente, foi o clímax de uma época em que o nível de destruição e de completa selvajaria entre seres humanos foram levados e um extremo como jamais terá acontecido em toda a história da nossa existência neste planeta. E o livro faz uma descrição, quer do ambiente entre os civis, quer das manobras dos militares que não economiza nos detalhes e que, por isso, nos transporta para um mundo que ninguém pode colocar a hipótese de que se venha a repetir.

Um dos aspetos que salta à vista no texto é o facto de a larguíssima maioria das páginas dizerem respeito aos feitos militares dos soviéticos e às decisões mandatórias que a partir do Kremlin Estaline despachava para os seus generais. Para o soldado soviético não havia outra saída que não a aniquilação e humilhação completa do inimigo. Para ele, cair prisioneiro era pior do que morrer, porque significava o terror dos campos de concentração nazis ou o gulag da Sibéria se se desse o caso de ser libertado. Foi a ferocidade destes soldados soviéticos, aliada ao número impressionante de efetivos que, em grande medida, tornou possível desmatelar a máquina de guerra nazi.

É certo que, depois da operação barbarossa, cabia aos russos uma grande quota parte da sede de vingança contra os nazis, mas que dizer dos franceses que viram a sua capital invadida e subjugada ou dos ingleses que foram bombardeados sem piedade meses a fio? A verdade é que os russos agiam com a frieza daqueles que nas maiores adversidades parecem não hesitar, porque tinham a certeza de que todas as alternativas eram infinitamente piores. Com os corpos cheios de álcool (quando não líquido dos travões ou combustível de avião), os soldados soviéticos violaram e mataram sem piedade nem problemas com as baixas que sofriam (na invasão de Berlim, as baixas entre os soviéticos foram incrivelmente superiores às baixas nazis) porque do Kremlin vinha a voz de comando que tinha de ser obedecida sem hesitação.

Hoje estamos outra vez em guerra com os russos. Felizmente, ainda não há soldados nos campos de batalha, nem se perspetiva que tal venha a verificar-se (para além do que acontece no leste da Ucrânia), mas estamos numa guerra que os russos têm todas as condições para vencer, porque, tal como aconteceu há 70 anos atrás, tirando meia dúzia de renegados do sistema (como por exemplo as excêntricas Pussy Riot), a maioria dos russos sabe que não há alternativa senão seguir o líder. É por isso que as sanções que os ocidentais lhes estão a aplicar, e que tanta mossa fazem na população, não estão a surtir efeito e é provável que este episódio ainda venha a azedar bastante mais.