19.4.15

EDP e BCP

Se vocês pensam que a bolsa foi inventada para que nós nos pudéssemos entreter a comprar e vender ações estão redondamente enganados. A bolsa resulta da necessidade de juntar pessoas com excesso de liquidez a empresas e projetos com necessidades de financiamento. É um projeto meritório, portanto! Apesar de tudo!

Caso vivêssemos numa era pré-banca moderna e tivéssemos a ideia de montar um qualquer negócio, mas não houvesse capital suficiente para a empreitada, restava-nos a alternativa de procurar sócios com quem fossem divididas despesas, responsabilidades e lucros futuros. Foi esta necessidade de fazer convergir aqueles que tinham ideias com os que dispunham de capital que, com o tempo, levou à invenção da empresa (sociedade anónima de responsabilidade limitada), que limitava a responsabilidade dos sócios ao capital investido, e que, por sua vez, possibilitou o desenvolvimento do mercado de capitais onde os donos do capital investiam a seu bel-prazer nos projetos que mais os seduziam, tendo a liberdade plena de mudar de opinião, comprando ou vendendo posições quando lhes aprouvesse. O financiamento bancário, sem ser sinónimo de usura, veio depois e resultou precisamente do desenvolvimento do mercado de capitais.

Sendo a bolsa o local onde as empresas cotadas se financiam, estando sujeitas a um grande número de regras de informação de modo a manter a credibilidade do mercado, nada é mais natural do que assistamos regularmente a operações que têm precisamente esse mesmo objetivo.

Na semana que passou tivemos notícia precisamente de dois casos distintos de operações de financiamento lançadas através do mercado, uma pela EDP e outra, já no final da semana, pelo BCP. Vamos falar dessas duas empresas e dizer aquilo que nos parece quanto ao futuro das respetivas cotações em bolsa.

A EDP, que é a mais endividada empresa portuguesa, emitiu 750 milhões, tendo pago um juro de 2% a 10 anos e não teve dificuldade em encontrar investidores. Da operação, nada a dizer a mais do que foi dito na imprensa.

Quanto ao comportamento em bolsa, foi com pena que tivemos que fechar a posição que tínhamos na sexta-feira, mas já explicamos que o PSI20 não nos deixou alternativa (ver aqui). Felizmente, andávamos investidos na EDP, que foi das que menos caiu, o que nos limitou as perdas, mas ao entrega-la a outros deu-nos um aperto no peito, porque a verdade é que a miúda continua com bom aspeto (malvado PSI). Ora vejam:


Dirão que nos precipitamos duas vezes: compra antes da quebra do máximo histórico e venda antes da quebra da linha de tendência ascendente (notem que a empresa teve a EMA21 a segurá-la, o que só reforça a ideia de que, até ver, a correção está mais do que na normalidade). Não podíamos estar mais de acordo! Aliás, os anteriores recuos da EDP à Lta resultaram em ganhos de cerca de 10% nos dias seguintes, pelo que não haverá falta de quem acredite que o mesmo se repetirá já a seguir. Sabíamos tudo isto na sexta-feira, mas a estratégia está montada no sentido de obedecer em primeiro lugar ao movimento do índice e só depois ao de títulos em particular (é muito difícil que uma ação aguente suportes se o índice os quebrar consistentemente) e não há nada mais catastrófico do que termos uma estratégia que funciona e não a implementarmos por uma questão de improviso. De resto, vendemos com margem suficiente para que ainda possamos reentrar se o mercado nos piscar o olho e, se isso acontecer, a EDP está, com certeza, na nossa mira!

Falemos do BCP que também veio pedir que o mercado cumpra a sua função financiadora. Neste caso, a empresa pretende pagar aos obrigacionistas não com notas do BCE mas com novos títulos que vai criar a partir do nada, isto é, vai pôr a trabalhar a máquina de fazer notas que todas as empresas cotadas ganham o direito de usar por terem entrado no mercado de capitais. Sim, trata-se de um aumento de capital, pequeno é certo (428 milhões), sendo que, em vez de entrar dinheiro, evita-se a sua saída!

Do ponto de vista da empresa o negócio faz todo o sentido e vem, mais uma vez, demonstrar como parece ajuizada a gestão do Nuno Amado. Elimina-se passivo sem corrosão de ativo, torna-se o banco mais sólido, poupam-se juros e aumenta-se a capacidade de proceder a empréstimos o que pode vir a ter um impacto nos resultados futuros. De caminho, pode ser que surja disponibilidade para liquidar o empréstimo estatal!

Para os acionistas há uma diluição de quase 10% nos dividendos futuros, o que, numa leitura direta retiraria o mesmo valor à cotação da ação. Claro está que a leitura não pode ser feita dessa forma porque a diluição pode ser compensada por resultados positivos e dividendos mais rapidamente. Para além disso, com a queda de 13% nas cotações esta semana, o fator diluição pode estar mais do que compensado.

Olhando para os obrigacionistas (não me dei ao trabalho de ir ver que taxa de juro estão a auferir e qual a maturidade do investimento - deixei essa tarefa para vós), a troca só fará sentido se tiverem a perceção de que as ações podem valer mais do que 8 cêntimos mais os juros que receberiam. E que melhor tónico haverá para essa perceção que o facto de elas já estarem bem acima desse valor quando forem chamados a tomar uma decisão? 

Somado tudo, depois da queda da semana, espoletada, provavelmente, por vendas de gente que já estava a par da operação parece-nos que o efeito negativo que pudesse advir estará mais do que assumido. Mesmo o receio que pode ser causado pela entrada no mercado de mais essa pipa de 5300 milhões de novas ações tenderá rapidamente a ser relevado, porque a operação só será aprovada a 11 de maio e as novas ações serão admitidas, evidentemente, depois disso!

Portanto, estamos em crer que o efeito nas cotações de mais este anúncio de AC esbate-se passando os primeiros minutos de negociação de amanhã. É possível que possa haver alguma turbulência inicial, mas à hora a que entram ao serviço os manda-chuvas que mexem com o mercado, a notícia já será velha e já todos estarão virados para o comportamento geral dos mercados por essa Europa fora. Para o BCP o que passará a contar será a apresentação de resultados do dia 4 de maio (estão prometidos lucros! De quanto?), pelo que até podemos ter um movimento bastante positivo!

O que nos preocupa um bocado é o gráfico que ficou em pantanas depois do malho:


Aceitamos que haja quem veja um suporte na zona dos 8 cêntimos, mas não lhe conseguimos dar uma importância de maior (se amanhã reagir imediatamente para cima, passamos a marcar uma linha horizontal nesse valor). À falta de melhor pusemos lá as retrações de Fibonacci e elas dão-nos valores de compra nos 0,0789 e nos 0,0748 (valor que pode ser atingido se houver quem ache que os 10% de diluição são para retirar puros à cotação de fecho de sexta-feira). Duvidamos que lá vá, a não ser que os mercados continuem em modo bearish. Para cima, talvez a SMA200 nos 0,0877 possa agora travar a recuperação, mas também não será por aí que vai haver espiga, se o mercado aceitar como boa a notícia do AC: quando a quebra é repentina e o povo se arrepende a subida também é feita sem problemas (notem que também não acreditamos que voltemos já para valores acima dos 9 cêntimos: é que muita gente ficou escarmenta é se a apanha a esses valores vai ser difícil convencê-los a não vender)!

Bons negócios para todos!

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