12.11.17

IA, PSI20 e BCP

Desconcertante é o mínimo que se pode dizer sobre o comportamento do PSI20 esta semana, ainda que desconcertado seja adjetivo quiçá inapropriado para descrever um mano que se aventure neste submundo dos mercados financeiros. Sem conserto ainda vá, muitos ficam desse jeito depois de o mercado ter tratado deles, mas desconcertado tem mais a ver com espanto e só um néscio se espanta com o vira e revira do traquinete! 



Fico curioso por saber como será que tudo isto ficará quando as novas máquinas da inteligência artificial (IA), anunciadas na web summit, assumirem os comandos e passarem a manobrar a jogatana. Não me refiro a estas coisas início de século que existem agora cheias de algoritmos, sensores e programações, mas de verdadeira inteligência capaz de estar sempre a absorver informação em tempo real, sem uma lágrima no canto do olho, nem um abalo nos tarecos ou um sopro no coração, inteligência pura de crescimento exponencial, isenta de emoções e medos, com capacidade para tratar toneladas de informação à velocidade da luz e decidir sem histerias ou conversa fiada. Uma inteligência verdadeiramente perigosa, das coisas mais take cover que nós podemos imaginar, uma inteligência que não tem problema absolutamente nenhum em assumir uma perda de 90% da carteira de um dia para o outro se pura e simplesmente chegar à conclusão de que fez merda e há que arrepiar caminho. Uma inteligência que falha como falha tudo o resto neste nosso mundo, mas que assume as falhas sem hesitações nem complacências e que aprende sempre e sempre e retira ensinamento puro e não contemplativo dessas aprendizagens. Uma inteligência capaz de pôr os cabelos em pé de susto ao Stephen Hawking, homem habituado a lidar, sem um pestanejo (e não é por causa da falência nervosa), com buracos negros e traçar colisões de estrelas de neutrões a partir da sua cadeira de rodas hiperfuturista, uma inteligência que não se acobarda mesmo ante o avassalador medo do imprevisível e se está perfeitamente nas tintas para as consequências sociais, morais e que causem ais das decisões que toma. Uma inteligência, enfim, de quem não vive condicionado pela certeza da morte e de como é exíguo o tempo em que desfruta da genica necessária para lutar pela sobrevivência. Como vai ser viver num mundo com este tipo de inteligência acho que nenhum de nós conseguirá imaginar, mas que podemos perfeitamente ir de cangalho disso julgo que ninguém poderá ter dúvidas. Somos demasiado emocionais para ser verdadeiramente inteligentes e tem sido isso que tem feito do mundo um lugar habitável, um sítio onde é possível ganhar uma partida de xadrez ou fazer dinheiro na bolsa. Com robôs como os que existem agora, burros como portas, incapazes de desligarem o algoritmo quando a coisa infecta, podemos nós bem e raro é a maquineta que faz dinheiro de forma consistente e consegue evitar a falência, mas se os artolas começarem a aprender sozinhos e forem destituídos de emoção quem os poderá vencer? 


Foram os robôs imbecis que plantaram oito vistosas velas vermelhas seguidas no gráfico do PSI20 nestas últimas sessões ou terão sido os maus que andam aí a deitar isto cano esgoto abaixo? Como caraças é que agora que pareciam estar alinhados todos os astros para que isto subisse, agora que a cena na Catalunha ficou a cozer em lume brando, agora que o Kim Ping Pong foi encostado às cordas quando a China expulsou todas as empresas coreanas e os deixou ainda mais isolados do resto do mundo, agora que os juros da dívida atingem mínimos históricos e a economia ainda vive com os números favoráveis da primeira metade do ano e com valores cada vez mais baixos do desemprego, agora, enfim, que tinham sido quebradas resistências tão evidentes e parecia possível minimizar a diferença entre um índice que está a um terço de máximos históricos e os outros que andam a bater no teto, de onde veio esta cena marada, esta correção psicadélica deste que deve ser, muito provavelmente, o mais difícil mercado para negociar neste mundo de Deus! E tinha logo de ser o nosso!

Não se sabe! Terá sido o caguefe de um conflito no médio oriente, onde a casa de Saud anda outra vez a baralhar as cartas para distribuir os às de trunfo e a atirar o petróleo ao alto? Arábia e Irão, à vez, sodomizam PSI20! Hilariante! E doloroso! Não se sabe, mas a verdade é que também não importa absolutamente para nada, porque num mundo com inteligência sem ser artificial (natural, confecionada e batida em castelo ao longo de milhões de anos pela mãe natureza), os motivos são, como sabemos, despiciendos. No futuro, olhando para trás, tudo fará sentido porque onde existe emoção a coisa autojustifica-se. No futuro, podemos perfeitamente compreender que esta terá sido a derradeira oportunidade de compra antes do arranque rumo à Lua ou o sinal de que o touro escafedeu mal entrou na arena. Se se confirmar a quebra da linha amarela, veremos o que faz na Lta, onde, cremos, estará au point para uma entrada no carrossel.



Num mundo com inteligência artificial talvez não tivéssemos uma empresa que pesa 6,5% no índice a cair 50% este ano e 35,5% em menos de duas semanas (falamos dos CTT) porque tem uma administração sem inteligência nem arrojo e que só agora, depois do caldo entornado, conseguiu ver o óbvio! Com este peso na média ponderada e com a queda que se tornou evidente, talvez muitos tenham começado a vender porque 1) tiveram mais uma prova de que nos locais de decisão deste país estão, salvo raras exceção, personagens sem estaleca nem visão de futuro e 2) não parece ser possível, com as empresas fracas e voltadas para o passado que o constituem, o PSI20 enfrentar o futuro e ir muito mais para cima de 1/3 do seu máximo histórico.


Ainda assim, continuamos em bull market e tudo isto não terá passado, até ver, de uma saudável correção motivada pelas sempre presentes emoções à flor da pele. Os CTT já corrigiram e é possível que estejam perto do seu valor justo como banco capaz de gerar algum lucro no futuro, os resultados da NOS não foram tão desinteressantes como chegamos a temer (havendo inclusive boas notícias vindas de Angola) e, em geral, as pequenas empresas têm apresentado lucros e há, claramente, uma recuperação económica que se vai refletir nos resultados daquelas que ainda parecem muito anémicas. 


Na semana que ora se inicia, teremos resultados empresariais muito importantes e que poderão deixar pistas bastante significativas para o futuro, a começar já com o BCP amanhã. O banco pesa apenas 3,5% no índice, mas é talvez das empresas mais importantes do mercado, tal é a quantidade de investidores que arrumou definitivamente nos últimos anos e o número daqueles que acham que se trata da única empresa da bolsa. A ganhar quase 40% este ano é bom que o BCP apresente bons resultados e que, acima de tudo, consolidem a ideia de que no próximo ano poderá começar a aumentar consistentemente a rentabilidade e a reduzir o malparado. No mundo da inteligência artificial, a venda seria mandatória na quebra em baixa de linha amarela no nosso gráfico (0,24€) e a compra compulsiva se fechar terça-feira acima dos 0,26€. Simples! Mas no mundo da IA, como sempre, também haverá erros!


A nossa tese, que não é a tese da inteligência artificial mas a da velhinha intuição pura e dura é a de que muito do futuro do índice se poderá jogar nos resultados do BCP. Se forem bons ó larila, se forem maus... ó caralho! 

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