31.5.14

A semana que passou

Para início de conversa digo-vos já que esta foi uma das semanas bolsistas mais maradas de que me recordo. 

Claro que visto agora, da frente para trás, como de costume a lógica prevaleceu e a insanidade foi apenas aparente, mas devia ser mais raro ver-se dinheiro tão fácil de ganhar a passar-nos completamente ao lado porque nos mantemos agarrados a uma ideia feita de que as coisas devem seguir um rumo pré-determinado. Se leram o livro de Nassim Nicholas Taleb sobre acontecimentos raros e epifânicos, leitura que vos recomendamos em absoluto, esta semana foi um autêntico cisne negro: um daqueles momentos da nossa vida em que se dá uma rutura na maneira de pensar que leva a mudanças impercetíveis mas decisivas no modo de atuar. E não há nada mais capaz de produzir cisnes negros do que aquilo que mexe com a luta para se ser bem-sucedido em algo que tenha um impacto verdadeiramente mensurável e instantâneo.

Recapitulemos, então, para memória futura.

Há uma semana atrás, nós aqui no NeB, e não andarei longe da realidade se pensar que uma grande parte dos investidores, dávamos praticamente por adquirido que havia dinheiro que era preciso colocar no aumento de capital do BES, desde que o fizéssemos a preços de uva mijona. Já não digo no aumento de capital do BANIF que é um banco quiçá com problemas ainda maiores e que, ainda por cima, ia fazer um reverse stock split capaz de causar mossa de monta nas cotações. Mas ao BES era mandatório comparecer, por exemplo, atacando nos direitos que, certamente, iriam afundar para valores apetitosos porque havia muita gente graúda que dizia à boca cheia que os queria ver pelas costas: afinal de contas, 900 milhões à venda haviam de cumprir a sua função regulamentar de baixar o preço para o ponto em que nós atacaríamos. Para além disso, os últimos aumentos de capital, e não foram nada poucos, vieram acompanhados de saldos saborosos nos direitos e nas ações. Lembro-me de que no último AC do BPI chegou-se ao ponto em que não havia comprador para os direitos porque eles, pura e simplesmente, não valiam cheta nenhuma: as ações do banco já estavam ao preço das novas ações – 50 cêntimos. Portanto, a jogada era trigo limpo, farinha amparo. Com sorte comprávamos direitos a 5 cêntimos e numa situação delirante podia dar-se o caso de um tanso os passar para a nossa mão na casa dos 2 cêntimos, com o BES a 0,70€: uma pechincha de fazer corar.

Mas a coisa, sabemo-lo agora deu em barracada da grossa. Os direitos do BES e consequentemente as ações do banco subiram compulsivamente e nós ficamos a ver. E o pior é que levaram na bolina o BCP (que, caso o BES caísse, era rapaz para nos fazer a gentileza de derrapar até aos mágicos 16 cêntimos). E ficamos a assistir da bancada no primeiro dia, agarrados à ideia de que havia malucos à solta na Bolsa, e mesmo depois de os direitos subirem 30% mantivemo-nos certos de que no dia seguinte os mercados reconsiderariam e lá apareceria o carregamento de produto para vender que haveria de nos oferecer os tão lógicos e aguardados saldos. O problema é que no segundo dia, para perdão dos nossos pecados, o foguetório continuou e nós de fora de mão estendida. Como dizem os brasileiros: cáralho! Alguma coisa não estava bem no nosso modus operandi e, como andamos em altura de avaliações e com testes para corrigir, houve marosca que nos escapou e a maior parte do povo sabia mais do que nós. Entretanto, havia outros títulos que já se tinham alegremente associado à festa e nós nada, numa de vêm aí saldos do AC. A Mota ligou o turbo e foi a custo que lhe deitamos a mão. Mesmo assim, não tivemos unhas e fomos cuspidos fora ao mínimo solavanco. P. que pariu: dezasseis anos de mercados e ainda não sabemos ver um bom negócio quando o sacana está todo sorridente a acenar-nos com plaquetes luminosas. Diacho!

Foi só no final do segundo dia que a luz iluminou as trevas e a notícia importante finalmente apareceu diante dos nossos olhos: a malta graúda que se queria desfazer dos direitos do BES já os tinha arrematado numa espécie de venda direta a investidores institucionais. O tal carregamento de direitos para vender que estava previsto desabar no mercado mandando as cotações para baixo, afinal nunca chegaria e nós íamos mesmo ficar a chuchar no dedo. Mas nessa altura, já a notícia tinha bolor de tão requentada que estava. E o pior é que esse tipo de anúncio muda tudo, como já tivemos oportunidade de assinalar no desabafo que publicamos neste mesmo local no dia em que o cisne negro levantou voo à frente dos nossos olhos. E essa mudança requer um tempo para recalibrar circuitos cerebrais. A colocação dos direitos de compra das novas ações por parte do BES diretamente junto de investidores e não no mercado, só é possível se existir a perceção de que o negócio vai compensar e o risco é reduzido. Nos AC anteriores (e diz o Expresso que a conta já vai num total de 18 mil milhões de euros em 5 anos) os bancos andaram ao tio tem lume para vender as novas ações, mas desta vez houve quem as quisesse apanhar logo por atacado, e ficasse com elas como se não houvesse amanhã. Que melhor sinal pode haver para a banca e até para o país?

A venda a institucionais muda completamente o cenário. Os AC eram maus para as cotações porque estava criada a sensação de que se tratava de dinheiro que se colocava num poço sem fundo, que aumentava o número de ações no mercado, diluindo o valor de cada título, e que não serviam para criar riqueza. Mas a forma rápida e certeira como correu esta manobra do BES (e, porque não dizê-lo, do BANIF), criou a sensação, pelo menos no curto prazo, de que desta vez o negócio vale mesmo a pena e que a banca pode realmente dar a volta por cima a partir daqui. É que, mesmo do ponto de vista do negócio em si, há, de facto, uma grande racionalidade em, neste momento em que as falências e as constituições de reservas tendem a diminuir (atenção aos testes de stress do BCE), ir ao mercado levantar dinheiro para pôr a casa em ordem mais rapidamente. Curiosamente, fica-se agora com a estranha sensação de que o ideal é que o próprio BCP anuncie o aumento de capital tão cedo quanto possível, porque há dinheiro disponível para entrar em força no negócio e é um disparate estar a pagar juros altíssimos ao estado por aquela caca de CoCo ou lá o que é. Claro que o montante que o BCP já chupou em aumentos de capital nos últimos anos, cerca de 3000 milhões, é quase tanto como o valor total do banco no fecho de sexta-feira (3600 milhões), sem contar com a ajuda do estado, o que nos leva à sinistra conclusão de que, por ora, o graveto foi-se pelo cano de esgoto. Mas isso, de momento, não nos põe dinheiro no bolso. O que a semana nos mostrou é que os AC já não são um bicho papão e transformaram-se numa oportunidade para entrar em títulos que começam a estar bastante apetecíveis e na moda. Pela parte que nos toca, aqui no NeB, não temos qualquer problema em mudar de campo. Afinal de contas, a Bolsa, tal como a vida, não é sobre ideias feitas, mas sobre leitura, compreensão e decisão, num misto de razão e emoção que tornam o produto final tão excitante.

Para o início da semana que vem, na impossibilidade de estarmos atentos a todas as nuances, deixamo-vos já algumas notas para que possam construir a vossa análise:
·       Fecho de sexta-feira com algumas Bolsas europeias e americanas em máximos históricos;
·       Início do mês de junho, em que está prevista a tomada de decisão do BCE quanto a um possível início de um programa de estímulos na Europa que combata o medo da deflação. O plano poderá passar por um financiamento direto aos bancos, que ajude a baixar as taxas de juro cobradas às PME, que poderão contratar mais gente, que terá mais dinheiro no bolso para gastar o que ajudará os preços a subirem;
·       Ressaca da decisão do TC em Portugal. A decisão era esperada e veremos se o Governo reage de forma que não deite gasolina na fogueira. Por outro lado, sai da mente dos investidores o receio dessa decisão: é menos um problema no horizonte;
·       Fim do aumento de capital do BES;
·       Aumento de capital no BANIF com procura 40% superior à oferta. O banco anunciou que quer antecipar a liquidação do empréstimo do estado. Por outro lado, ao contrário do que se esperava, o BANIF não vai realizar o reverse stock split já, mas apenas no final do ano.  As novas ações começam a negociar a 6 de junho.
·       PSI20 entalado entre uma curtíssima linha de tendência ascendente e a linha de resistência horizontal na zona dos 7150 (imagem abaixo).


29.5.14

KAPUTT

Kaputt é uma palavra alemã que significa algo como destruição total, acabado. Presumo que se poderia aplicar a palavra, também, ao que aconteceu aos mercados financeiros em 24 de outubro de 1929.

Kaputt é também o título de um livro do italiano Curzio Malaparte (pseudónimo de Kurt Suckert), que tem por cenário a Europa da segunda guerra mundial, lugar e época a que, como nenhum outro, se pode aplicar um termo como Kaputt. Malaparte percorreu, no norte e leste da Europa sobretudo, durante quatro anos, como correspondente de guerra, e envergando a farda de oficial italiano,  alguns dos palcos principais onde se desenrolou o conflito: Polónia, Alemanha, Finlândia, Ucrânia, Roménia, Croácia, para acabar o livro numa Nápoles arrasada pelos bombardeamentos aliados.

A ação desenrola-se, por isso, no território do Eixo. Mas não são os acontecimentos históricos da guerra que ocupam as páginas do livro, mas as pessoas que viveram a guerra, fazendo-a ou sofrendo-a. O livro, maravilhosamente escrito, ocupa-se a descrever uma série imensa de situações, presenciadas quase todas por Malaparte, onde o Homem é mostrado a sofrer prodigiosamente ou, sobretudo, a infligir prodigiosos sofrimentos. Fascinante é descrição que é feita de uma quase intimidade de um dos mais altos elementos da cúpula nazi, o governador geral da Polónia, Hans Frank, um dos condenados à morte pelo tribunal de Nuremberga. Malaparte nunca nos interpela a tentar dar respostas, mas é inevitável que o 'como foi possível?' nos surja vezes sem conta.

A natureza humana é dissecada com rara habilidade por um observador minucioso e implacável, o que aliado a uma mestria rara torna Kaputt um livro ímpar no seu tipo. Considero mesmo que o livro talvez tenha criado para si um nicho único, onde nenhum outro se possa equiparar, o que não seria inédito nos livros de Malaparte, evidente em 'Técnica do Golpe de Estado'.

Extraordinário é também suceder que Kaputt não seja hoje um livro conhecido por aí além, quer tanto pelo seu valor literário como histórico. Pois que, dependendo do temperamento do leitor, tem potencial para se tornar para alguém o livro acima de todos os outros.

27.5.14

COMENTÁRIO

E pronto amigos, justo quando o mundo parecia tão previsível, tipo, o BES despenca, o BCP malha rumo ao subsolo, a Mota vai catrapumba pelo penhasco abaixo e o PSI20 só pára no próximo Bear Market, cá estamos nós outra vez a ser levados nos cornos do touro que nem sabemos de que terra somos. Pelo menos os que apostaram no cavalo certo que eu cá sou dos que preferem emoções menos fortes e agora dei por mim a fazer compras ao Pingo Doce, a ver se me toca a sorte dos que andam investidos na banca. Maldição! 

Afinal, agora sabe-se que aquela fartura de direitos no BES era boateira barata: os que não querem ir ao aumento de capital, já arranjaram quem lhes ficasse com a carga, de maneira que se estavam a contar com esses para apanhar BES a preço de saldo desenganem-se que houve quem fosse mais esperto que nós e que vocês. Motherfuckers! Perdão. 

O BCP, claro, também subiu a reboque, porque agora já pode fazer à vontade quantos AC quiser porque já passou o tempo em que esses bichos metiam medo: isso era quando andavam por cá aquelas samelos da Troika. Agora, desde que o BES inaugurou a era dos AC empolgantes, com direitos a valorizar 30% ao dia, um AC vai ser empreitada para vermos foguetes no ar ao mesmo ritmo a que são concebidos novos ricos (desde que sejam frequentadores do NeB, evidentemente).

A Mota é aquela máquina e ganha obras por tudo quanto é canto. Escusado será dizer que, para ganhar tanta obra, tem que dar orçamentos que fazem da mão de obra chinesa uma excentricidade só ao alcance de vedeta futeboleira. Na quinta-feira já vamos poder aferir o resultado líquido de tanta vindima: será tudo parra ou também vem uva?

Não deixem de olhar para os CTT que continuam em grande forma: na era da Internet e do comércio online é, realmente, de elementar bom senso comprar uma porção de acepipes deste sabor. E a Portucel, quiçá a empresa mais discreta do PSI, mas que hoje fez máximo histórico, repito, senhores... histórico (all time high). Palmas! Trata-se da empresa ideal para quem gosta de ver o património crescer com calma e languidez (raio de palavra, se bem que perfeitamente adequada).

Para não fazer asneira, e depois não virem dizer que fizeram caca por andarem a frequentar este nosso asseado cantinho fiquem com o gráfico do PSI20 sem mais comentários (a não ser talvez para dizer que os alemães e os americanos fizeram máximos históricos hoje). Decidam em conformidade:




26.5.14

Vídeos

Uma introdução ao Prorealtime e à análise técnica (Parte I)

Contém análise gráfica à Mota Engil, um título que tem o bonito hábito de pagar bem aqueles que lhe amparam os maus humores!


25.5.14

O Namoro:

Boas Tardes:

Chegado a casa a última sexta-feira, depois de mais um dia a laborar, eis que me deparo com uma carta do Millenium bcp. O teor dessa carta é referente a uma assembleia geral de acionista. Bem, receber uma carta destas até dá um certo Status, afinal já sou (mas irei deixar de ser) um grande acionista desta tão grande instituição financeira. No entanto, lá resolvi ler a carta, que mais parecia uma carta de namoro, sempre com o charme do Amado espalhado pelos seus curtos seis parágrafos. Neles se realçam a excelente recuperação da instituição em 2013, como: Plano de reestruturação; Fortalecimento da posição de liquidez e recuperação da rendibilidade; Contínuo desenvolvimento do negócio das operações internacionais “core”. Realça-se ainda o facto de a ação ter sido o título com a maior valorização percentual e o título do Psi20, entre as empresas com capitalização acima dos 1000 milhões de euros (121,9%).

Até aqui tudo bem. Mas o que me deixou com a pulga atrás da orelha é o que está escrito a seguir, onde me parece bem vincado um pedido de casamento (entenda-se Aumento de Capital) para próximo. O que até nem parece mau, visto a rendabilidade que tenho obtido neste título. A diferença é que lhe vou pedir um tempo para pensar. Quem sabe até, experimentar umas relações extras, antes de dar o passo…. he he he . Frases como: “…este trabalho tem que ser continuado em 2014, ano crítico para o banco…”; “… uma clara inversão da tendência da conta de resultados e o inicio do pagamento ao estado…”; fazem-me acreditar que, mesmo que ainda não seja nesta assembleia que lancem a “bomba”, porque estão a decorrer o AC do BES e do BANIF e não há guito para todos, iremos ter com certeza um NIM no ar e numa próxima oportunidade a confirmação.

Bem, enquanto não fazem o pedido de casamento formal, é melhor ficar de fora e juntar umas lecas para comprar as alianças.

Bons Negócios

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24.5.14

COMENTÁRIO AO BES

Nos dias a seguir ao anúncio da fusão da PT com a brasileira OI, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) veio anunciar que tinha alienado a sua participação na dona do MEO por um preço que tinha ficado perto dos 3,5€ por ação. Lembro-me perfeitamente de, nessa altura (há 3 meses atrás), ter ouvido Ricardo Salgado, presidente do BES, sugerir que a venda da CGD era incompreensível, uma vez que, depois da fusão PT/OI era expectável uma forte valorização dos títulos e que, no seguimento dessa linha de raciocínio, o BES não só não estaria vendedor da participação na PT como, inclusive, acorreria entusiasticamente ao aumento de capital da OI, investindo mais 75 milhões de euros. Dito e feito. Como é evidente, ninguém sabe se a empresa que resultar da fusão das duas operadoras de telecomunicações vai ser ou não rentável (embora toda a gente no meio ache que o Zeinal Bava é uma espécie de Steve Jobs dos telefones fixos e a coisa vai ser show di bola) e gerar lucros que correspondam às expetativas do presidente Salgado do BES. Mas há uma coisa que podemos já ter como certa: as ações da PT estão hoje na casa dos 2,8€, 20% abaixo do preço a que a CGD vendeu (e a brasuca OI amolou p’ra cima de 50% depois do anúncio). O negócio promete!

Esta passagem da história não terá provavelmente qualquer tipo de importância em termos de gestão, porque muitas destas operações são feitas numa ótica de longo prazo e há quem diga que a empresa que resulta da fusão PT/OI vai ser, de facto, um gigante das comunicações globais. Por outro lado, não creio que os administradores da CGD tenham vendido porque se aperceberam de que o preço ia para baixo e sejam uns génios visionários. É mais provável que tenham agido por pura questão de sobrevivência (precisavam de guito fresco). Mas o que isto demonstra é que a gestão destas coisas da banca e no caso particular do BES, que costumava ser tido como um exemplo do génio ao serviço da acumulação de riqueza, nada tem de verdadeira excelência. De facto, parece ser pura aritmética: o dinheiro gera mais dinheiro e, com a dose certa de sorte e perspicácia, com uns contactos tipo uma mão lava a outra e informação atempada é possível disfarçar, durante uma assinalável quantidade de tempo, todas as nossas insuficiências.

Agora o BES anda outra vez de mão estendida a pedir dinheiro para tapar buracos. Não se trata de dinheiro para investir numa nova linha de produção ou num produto inovador, mas sim de dinheiro canalizado do trabalho para cobrir a preguiça: a preguiça de se analisar como deve ser e viver sentado numa poltrona a produzir dinheiro ao mesmo ritmo a que se concedem empréstimos sem nexo (como bem se explica, em posts anexos, nas “Histórias de dinheiro”).

Mas nós, que felizmente não somos cegos, nem temos memória curta e tudo fazemos para não ser burros, mas também não temos ilusões nem vivemos num universo paralelo, tentamos de forma justa e com as ferramentas que temos ao nosso dispor garantir o nosso quinhão em toda esta malabarice.

Estamos em crer que na Bolsa o BES ainda vai passar por um mau bocado na próxima semana. O início da negociação dos direitos é provável que venha a ser penoso, porque há sempre muita gente que se quer desfazer deles, já que não está para abichar com mais umas lecas para mais este peditório.

Seja como for, depois de arrecadar mais 1000 milhões (diga-se que é para isso, afinal, que a Bolsa serve: para as empresas se financiarem, abrindo o capital e uma turbamulta de interessados), é possível que o BES fique em boa posição para dar umas alegrias aos crentes, pelo menos no curto prazo (que é, bem vistas as coisas, o prazo que verdadeiramente conta) porque, em princípio, só um asno completo falhará na banca depois de lhe taparem os buracos que a idiotice tinha gerado. Claro que, como se sabe, a idiotice e a sua prima, a burrice, costumam ser degenerescências de caráter incurável, pelo que manda o bom senso que sejamos prudentes, mas não podemos descartar, em boa consciência, uma entrada neste barco.

Para quem se decida a entrar, uma compra de direitos a bom preço é capaz de ser a jogada mais racional (não esquecer que o racional na Bolsa é facilmente chutado para canto). O preço dos direitos tende a ser igual a 0,4 a multiplicar pela diferença entre o preço das atuais ações e 0,65, que é, como se sabe, o preço das novas ações. Neste momento, por exemplo, o preço dos direitos deverá rondar os 0,081€.

Os direitos têm a vantagem de também poderem ser negociados e estão sujeitos a uma oscilação mais robusta do que ação, mas não se esqueçam de que ficar com os direitos implica ter de desembolsar mais 0,26€ por cada um para terem uma nova ação que só poderão negociar no dia 17 de junho, data em que haverá mais 1607 milhões de ações do BES à solta no mercado (os números são tão estrambólicos que a empreitada mais parece Astronomia, ou coisa que o valha). Portanto, há que pesar prós e contras, entre atacar nos direitos ou nas ações.

De acordo com o gráfico, o BES tem um suporte aos valores atuais, mas uma quebra é bem capaz de o levar aos 0,78€ (direitos a 5,2 cêntimos). E uma hecatombe atira-o aos 0,70€ (direitos ao módico valor de 2 cêntimos). Confiram, p.f.:



Diga-se que a esses dois últimos valores, o BES estará avaliado a:

- 4388 M€ no primeiro caso, o que se traduz num acrescento de valor de 137 milhões de euros relativamente ao dia em que o AC foi anunciado (contra uma injeção de capital de 1000 milhões);

- 3938 M€ para uma avaliação de 70 cêntimos por ação. Nesse caso, teríamos uma injeção de capital de 1000 milhões transformada numa perda de valor do Banco de 313 milhas das grandes, o que transformaria a operação num case study sobre a forma de melhor proceder à queima de notas de euro no menor espaço de tempo possível! Na Bolsa não seria inédito, nem tão pouco motivo para grande admiração, mas eu, que sobre isto nada sei, diria que estaríamos em presença de uma boa oportunidade para pagar as férias (e, porque não, o IRS).


Mais do que isto, lamentamos, mas não vos podemos fazer. Decidam que é para isso que têm a cabeça em cima dos ombros. E oiçam a cantiga abaixo que é gira e ajuda!

22.5.14

O que devo saber antes de Negociar em Bolsa:

Facto nº 24

Na Bolsa, saber vender é a virtude capital... e a virtude que preserva o capital.

O típico investidor até compra bem e começa a ganhar. 

Recosta-se na cadeia a desfrutar o momento e a fazer contas de somar. E a coisa sobe e sobe à mesma velocidade a que crescem a ganância e a cagança do nosso homem. 

Com o peito inchado do orgulho e a conta bancária a bater no teto, o nosso intrépido investidor vê o seu negócio fazer máximo sobre máximo... até inverter. A dada altura, é evidente que o sentimento do mercado mudou para bearish no curto prazo, mas, temerário, agarra-se ao máximo que ficou para trás e começa a contabilizar o que deixou de ganhar. 

É neste ponto que decide vender se voltar a esse valor. Mas a Bolsa, que é cruel, não lhe faz a vontade e lá vai caindo. E o artista, apesar de ver notícias azedas por todo o lado, esforça-se ao máximo por adoçar a pastilha e qualquer micro subida momentânea é um tónico que lhe fortalece a auto-estima em estado de decomposição. 

Nesta altura, até já é rapaz para vender a coisa um pouco abaixo do máximo. O que é preciso é que lá chegue! Mas não lhe fazem a vontade, os maus, e aquela caca continua a cair. A dada altura, um trade que tinha um lucro tão simpático, começa a dar prejuízo. 

O aventureiro prova o sabor amargo de estar a queimar graveto sem levar nada para casa, temperado com o desnorte de ter sido tão gananciosamente burro. Quando, na mente do nosso artista, a queda já orça a valores que não autorizam uma venda, a solução é transformar um trade de curto prazo, numa entaladela de longo ou longuíssimo prazo. 

Até que, quando o desespero o leva à conclusão de que o fim do mundo está próximo, e só lhe resta salvar os tostões que sobram, conclui que o mais sensato é vender. E vende! 

Está feito o mínimo e os mercados podem subir. Começou o Bull Market!

21.5.14

COMENTÁRIO

O mercado português está numa situação de tão grande indefinição que parecemos marias (sem desprimor para as que começam o nome com maiúscula), de mãos atadas na cabeça sem saber para onde cair.

Para além de ainda estarmos todos meios doridos depois da coça da semana passada, há vários fatores que aconselham prudência: aumentos de capital (reais e em potência), situação técnica periclitante do PSI20 e de muitos títulos, eleições europeias no final da semana, com possível vitória de nacionalistas em vários países, que nos podem vir a fazer a vida mais negra, risco de aumento da taxa de juro da dívida pública no mercado secundário, e o famoso fator calendarístico sell in may and go away.

Por outro lado, depois da queda arejadora, algumas empresas parecem estar a preços bastante apetecíveis, e há sinais de que pode haver condições para reatar o bull market:
- os índices americanos continuam a flirtar com máximos históricos;
- o DAX alemão também anda lá perto;
- tem-se falado das eleições europeias como o grande travão a uma ação mais efusiva do BCE nos mercados e há quem considere que, a partir de junho, podemos ter um pacote de compra de obrigações capaz de levar a economia e, consequentemente, a Bolsa definitivamente para cima;
- a queda devida aos AC, em princípio, esgotar-se-á logo que estes estejam concretizados (e o do BES já está a decorrer) e com dados económicos sistematicamente favoráveis há condições para a recuperação do nosso índice.

Deixem-me falar em particular de 4 títulos:

- O BCP é um dos favoritos de muita gente e tem dado muito dinheirinho a ganhar, se bem que ultimamente esteja a passar por um período de baixa de forma. Ontem o Goldman Sachs (GS), que é conhecido por não dar ponto sem nó, veio lançar um price target (PT) de 0,21€ para as ações (segundo percebemos aqui no NeB para depois do AC, o que coloca as coisas ao nível do exorbitante). Os PT têm um valor muito relativo e não os devemos usar como guia seja para o que for: na Bolsa devemo-nos guiar exclusivamente pela nossa cabeça e acreditem que se os fulanos que lançam os PT soubessem o que estavam a fazer, provavelmente, não precisavam de estar a fazer análises e a lançar PT. Adiante. A novidade desta análise é o facto de vir precisamente do GS. É que esses meninos não costumam brincar em serviço e se lançam esse PT é porque precisam de quem os ajude a levar o preço até lá. Digo eu! Juntando a isto o facto de os concorrentes da Blackrock se terem atravessado no BES, e de Portugal estar na moda entre as casas de investimento, não me custa nada a acreditar que os artistas do GS estejam a preparar uma entrada em força no BCP. Se assim for, quem somos nós para não irmos deitar uma mão?

- No BES começa amanhã a negociação dos direitos ao preço de 9,43 cêntimos (com o ajuste da cotação do banco para 88,6 cêntimos). Se for como é costume, vamos ter queda a partir do segundo ou terceiro dia, para recuperar nos dias finais da negociação. É capaz de ser boa ideia acompanhar a negociação dos direitos. É que uma desvalorização do BES vai ser bastante ampliada nos direitos.

- A JMT, que aqui analisamos há dias, com possível presença de um animador cup and handle no gráfico, caiu forte hoje, colocando em causa a ativação da figura. Diríamos que ainda não está tudo perdido (mas pode ficar já amanhã): confiram no gráfico abaixo:


- A Mota foi a empresa coqueluche do ano passado, mas agora ficou sem gasolina e, como se isso não bastasse, foi pela ribanceira abaixo. Ainda não pifou de vez, mas o caso está bicudo. Mesmo ao jeito, portanto, dos mais aventureiros: deitem-lhe uma mão que ela é rapariga para pagar generosamente. O gráfico diz tudo: ou sobe agora... ou desce!




20.5.14

E esta?

Pois não é que quando a coisa começa a ficar feia, eis que surge uma notícia boa (aparentemente) para deixar a malta feliz: "Goldman Sachs dá potencial de valorização de 20% ao BCP". Apesar de sermos fieis à AT, não podemos ignorar as notícias. Veja-se quem leu o DN "early in the morning". Safou-se a tempo. O que acontece é que esta notícia pode ser lida de vários prismas, que nos ajudam (ou não) a tomar as nossas decisões: Senão vejamos: Se por um lado a GS vem dizer que o banco irá devolver os CoCo’s ao estado, vem reforçar a ideia que a melhor maneira é, passo a citar: "O BCP poderá decidir por uma opção "simples" com um aumento de capital no valor total da ajuda do Estado – três mil milhões de euros –, uma solução mais diluitiva para o valor das acções mas que aumentaria a visibilidade sobre os níveis de capital e impulsionaria os lucros ao eliminar o custo dos juros com as CoCo’s.". Sim leram bem? 3000 milhões de Euros!!!! É isto que me faz questionar o porquê desta visão de valorização de 20% na cotada. Claro que se realizasse um AC desta magnitude, penso que rapidamente poderia chegar lá. No pós é claro. Até lá só via um caminho para a cotada e não ascendente com certeza. Por outro lado, é sabido (pelo menos o mestre aqui da casa relembrou-me) que a GS é conhecida mundialmente por empurrar as cotadas para o seus Price Targets. E agora, em que ficamos?

19.5.14

Análise

Será impressão nossa ou a Jerónimo Martins está a ficar com bom aspeto?


De tarde, quando lançamos a questão, não tivemos oportunidade de elaborar e deixamos apenas à vossa consignação. 

Além de os indicadores parecerem saudáveis e a JMT ser uma tradicional ação de refúgio em tempos de maior turbulência, a hipótese de trabalho que estamos a colocar é a possibilidade de o título estar a desenhar uma figura de continuação de tendência bullish de longo prazo chamada cup and handle (chávena e asa). Podem encontrar muitas informações sobre figuras em gráficos na Internet.

O importante, neste caso, é que se a figura foi efetivamente um cup and handle teremos um breakout por volta dos 13,10-13,20€ com uma projeção 2 euros acima: diferença entre o inicio da cup e o mínimo observado.

Dado a possível mais-valia, é capaz de não ser desacerto acompanhar!

O que devo saber antes de Negociar em Bolsa:

Facto nº 23

Nunca devemos arranjar argumentos emocionais para justificar porque mantemos um trade que, racionalmente, percebemos que foi um erro. Na dúvida, cortamos as perdas tão cedo quanto possível e preservamos o capital.


A Bolsa não é sobre ideias feitas, nem sobre estados de alma e costuma ser cruel com quem acha que os mercados têm o dever de lhe dar razão.

17.5.14

A lição da semana que passou

A maior inimiga do investidor nos mercados financeiros é a dúvida. Quem compra nunca tem certezas, mas assume como muito provável a valorização do capital investido. Se a dúvida surge e a probabilidade se inverte tem que vender. E não deve ter contemplações, estados de alma ou receios por assumir perdas. De facto, a Bolsa não é um campeonato para ver quem é mais esperto e acerta mais vezes. Todos nós, que andamos nisto há já algum tempo, fartamo-nos de errar (como até já se devem ter apercebido com a leitura de alguns dos posts que foram saindo) e lidamos com esse facto com o fair play que a realidade nos impõe. O número de vitórias e de derrotas é perfeitamente irrelevante. O que é relevante é que o valor das mais-valias vá sendo superior ao valor das menos-valias. É esse o objetivo e é fundamental que não o percamos de vista, porque se assim não for, então, este não é um ramo em que devamos exercer.

É evidente que, dito assim, até parece fácil, mas todos sabemos como a realidade é bastante mais complicada porque, muitas vezes, pensamos que está tudo bem e há otimismo porque o mercado sobe, depois já achamos que está tudo mal porque há notícias que saem ou movimentos mais bruscos de descida que espoletam o pessimismo, para em seguida voltar a estar tudo bem e, assim sucessivamente… ao longo de um só dia. Na maior parte das ocasiões, trata-se do ruído natural do mercado, de que nos devemos abstrair porque em nada põe em causa o nosso julgamento inicial. Para nós, que não dedicamos o nosso tempo exclusivamente aos mercados, diríamos que, salvo raras exceções, bastará avaliar a abertura e o fecho das sessões, em busca de sinais técnicos, e estar atento apenas às notícias mais relevantes.

Nesta linha de raciocínio, a semana que hoje termina acabou por ser particularmente rica em ensinamentos para o futuro, por exemplo, graças aos acontecimentos que envolveram a Banca.

No início da semana, o comportamento anémico das ações do setor, com pressão vendedora dissimulada mas permanente, deveria pôr-nos de sobreaviso (criar dúvida), porque parecia indiciar que haveria no mercado gente com a certeza de que viria a poder recomprar bem mais abaixo.

Na quarta-feira de manhã, antes da abertura dos mercados, uma visita ao site do Diário Económico dava-nos a confirmação de que o caminho seria para baixo, com a notícia dos aumentos de capital. Se estivéssemos investidos, este era o momento decisivo: era preciso vender, custasse o que custasse e fazê-lo rapidamente, se possível na abertura. No caso do BCP, por exemplo, a quebra com volume dos 0,19€ deveria ser a confirmação de que a tendência, pelo menos no curtíssimo prazo, era de descida.

Mas a venda deveria ter logo traçado um valor para a recompra: os 0,16€. Mesmo sem saber se a cotação lá chegaria (afinal de contas, dos 0,20 aos 0,16 são 20% de desvalorização), esse era um valor evidente, porque da última vez que a cotação lá foi em baixa, teve uma reação explosiva de mais de 10% num só dia, criando um suporte muito fiável (ver gráfico).


Claro que as notícias, na chegada aos 0,16€ continuavam a ser más, com a confirmação do AC do BES, e nada parecia indicar que teríamos o tal ressalto. Mas essa é a beleza da Bolsa: por muito mal que as coisas estejam num dado momento, é sempre possível que a situação se inverta ao ponto de justificar uma compra. Aliás, é quando o pessimismo exorbita que se fazem as melhores compras.

E lá veio o tal ressalto. E quem vendeu a 0,19€ e comprou na zona dos 0,16€ não só poupou 16% à carteira, como já está a lucrar 12%. Incrível, não é?!

Entretanto, no início da próxima semana (e no curtíssimo prazo) deixará de haver novidade na má notícia do AC e, no caso do BCP, pode mesmo tornar-se dominante o sentimento de que essa solução não está eminente, como parece transparecer da entrevista que o Nuno Amado deu ao Dinheiro Vivo:


De maneira que poderemos ter uma nova aproximação aos 0,19€ que, agora, passaram de suporte a resistência (veremos se forte).

E é isto, meus amigos, a Bolsa.


16.5.14


SEM REDE

A onda vermelha que se espalhou pelo PSI 20 dificilmente é explicada apenas pelos maus resultados do BES e os aumentos de capital, já certos ou previstos, para o BES e o BCP. Nem mesmo o facto de o PSI 20 ter valorizações consideravelmente acima dos índices ocidentais, e exigir uma eventual correção técnica, explica, a meu ver, tal tsunami em dois dias sobre a generalidade das cotadas.

Parece-me que a tão celebrada saída limpa do programa da Troika, para um país que mantém uma elevadíssima dívida, não terá sido muito bem vista pelos investidores estrangeiros, que não estão para correr riscos desnecessários, colocando o dinheiro num perigoso jogo de equilíbrio sem rede. Se for o caso o que se está a passar, significa que a saída limpa, ao invés de aumentar o nosso crédito, diminuiu-o. Oxalá seja este desabafo apenas uma má impressão.

Cálculos para o AC do BES

Para apreciadores e não só!

Já agora, amigos, apesar de estar explicado em posts anteriores, com valores para o dia em que a notícia foi conhecida, não me importo absolutamente nada de repetir o raciocínio e o cálculo para perceberem como cheguei aos valores do post anteriores (afinal de contas é isso que eu faço na vida: explicar cálculos).


Ontem às 16:35, quando a sessão fechou, o capital social do BES estava distribuído por  4.017.928.471 ações, valendo cada uma 1,058€, o que significa que o banco estava avaliado em 4251 milhões de euros.
À noite é anunciado o aumento de capital, que passa pela emissão, a partir do nada, de cerca de 1.607.000.000 ações (que serão vendidas ao preço de 0,65€).

Assim sendo, embora o aumento de capital ainda não tenha sido realizado, para todos os efeitos é como se já tivesse sido, e o BES abriu hoje de manhã com um total de 5625 milhões de ações (4018 a 1,058€ +1607 a 0,65€).

Para que o valor do BES se mantivesse igual ao de ontem, tínhamos de ter, como é evidente, uma descida da cotação para os tais 94 cêntimos: 

(4018x1,058+1607x0,65)/5625= 0,94€ 

É aqui que o desconto do AC faz mossa: quanto maior for o desconto, mais diluída é a cotação da ação.

A propósito, neste momento, com o BES a cotar nos 0,98€, podemos dizer que o mercado está a calcular um benefício real para o BES de 225 milhões de euros com o AC.

Podemo-nos interrogar por que motivo alguém vai comprar ações hoje a 0,98€ se as pode comprar no AC a 0,65€. A resposta é muito simples: para poder comprar no AC, é necessário adquirir direitos, que são atribuídos a quem possui ações. Não há almoços grátis. O preço dos direitos com o preço da subscrição equilibra automaticamente com o preço instantâneo da ação.

Quanto ao BCP, fiz um exercício, que não corresponde a nenhuma espécie de realismo porque ainda nada foi anunciado de concreto, mas que passa por assumir um AC do valor noticiado com um desconto igual ao do BES.

Aumento de capital do BES


Amigos, acabo de chegar de ver o Godzilla no cinema, e diabos me levem se os bichos não fazem lembrar um aumento de capital (AC): escavacam tudo e não deixam pedra sobre pedra. Quanto ao filme, trata-se, evidentemente, de uma cegada sem fim, a fazer lembrar um Alien vs Predador (não sei se viram?), mas sem alien (acho eu!). Mesmo como divertimento puro é cansativo, pelo que apenas se recomenda a aficionados incondicionais de filmes desbundativos de domingo à tarde. 

Havemos de voltar a falar de cinema que é assunto que tem lugar assegurado nesta casa.

Entretanto, chego e vejo que há novidades no que à Bolsa diz respeito. O BES apresentou os resultados mauzinhos que se previa e confirmou o anunciado aumento de capital. Pois bem, dos resultados nada direi porque nem lhes pus os olhos a não ser no prejuízo líquido. Quanto ao AC peguei no lápis e fiz umas contas de merceeiro para atualizar os dados que publicamos há dois dias atrás, quando a notícia estoirou. Com o desconto oferecido, e a preço de fecho de hoje, o valor justo de cada ação do BES fica nos 94 cêntimos (por valor justo, entenda-se valor do banco para, após o AC, valer justamente o mesmo que vale hoje).

Já agora apresento também o cálculo para o BCP que, não duvidem, vai enveredar pelo mesmo caminho do AC (veremos é se há dinheiro que chegue para todos). Aliás, depois do estrago feito, seria impensável não avançar com essa medida, visto que é, apesar de tudo, uma solução ótima para o banco se ver livre dos coco’s, que exigem um juro de, se não estou em erro, 9,5%. Ora bem, se o BCP fizesse hoje um AC nos moldes do BES, mas no valor de 1500 milhões de euros, que é do que se tem falado, teríamos ações novas a ser vendidas a cerca de 10,4 cêntimos e um valor justo para a ação atual de 14,1 cêntimos.

Com estes dados, façam as vossas apostas, mas cuidado: no curto prazo vai haver subidas com certeza, mas a tendência inverteu completamente e é capaz de não ser saudável para a carteira exigir de mais dos mercados. 

Entalo não, por favor...

Testemunho:

Meus caros amigos. Não sei se já repararam, mas somos um grupo de amigos a escrever com este Nick (negociarembolsa), pelo que por vezes pode causar alguma confusão nos utilizadores. Eu, que escrevo neste momento, sou o pato bravo, que tem apenas três anos nestas andanças e que teve que pagar bem caro este curso. Mas como não tinha conhecimento nenhum, ia tentando perceber onde é que tinha errado, através de alguma leitura e de partilha com o meu mestre (um dos outros amigos com quem partilho este nick), esse sim com muita experiência e conhecimento no assunto (foi ele que criou o tópico: "aumento de capital na banca") que vos aconselho a seguir, porque, não me dando nunca conselhos nem soluções, ajudou-me a pescar (um bocadinho melhor). Mas o facto de estar a escrever e a utilizar o tema testemunho, é porque irei partilhar a minha experiência de BCP, para ver se pelo menos abro os olhos a alguns, como eu tive que fazer mas com muita dor (financeira):
Em Dezembro de 2011, resolvi pegar em 1000 Euros e comprar ações do Bcp, porque alguém me disse que já tinham valido 3 Euros e que bla bla bla. Como os juros que tinha recebido de uma aplicação a 1 ano tinham sido miseráveis, resolvi arriscar e lá as comprei a 0,107. Passado pouco tempo, já tinham subido para 0,125 e vendia-as, comprando-as a seguir mais barato e assim sucessivamente, achando que era o maior, pois em apenas um mês tinha ganho mais 500 Euros. Como aumentei a confiança, resolvi colocar lá mais pilim e adquirir mais ações e ficar rico e deixar de trabalhar etc, etc, etc... Eis que dou por mim a correr atrás de as comprar numa semana louca em Fevereiro de 2012, com os rumores da Sonangol e a chegada do Amado e então, ganhei o meu grande entalo que, durou muito tempo. uma compra a 0,21 que me fez não as largar até que se deu a salvação no aumento de capital. De 10000 Euros investidos cheguei a ter apenas 4000 Euros. Feitas as contas, só era uma desvalorização de 60%. Para além disso, foi um ano e meio com o capital preso e sem poder fazer negócios que me pudessem ajudar a recuperar (por um lado até foi bom, porque assim não fazia mais borrada). Com o aumento de capital e as subidas loucas, onde fui reforçando, atingi com uma venda a 0,2335, cerca de 70% de lucro, acrescentando ao BCP, alguns negócios curtos no BANIF e na Sonae Industria. Acabada a festança, eis que chega esta carnificina a que estamos a assistir. O grande teste ao meu curso tinha chegado. Pois, das muitas coisas que aprendi aqui convosco e com o meu mestre, foi: PROTEGER O CAPITAL, OU SEJA, não podemos contrariar a tendência. Quando muito, podemos ver alguns sinais de compra e outros de venda, mas curtos, como eu fiz hoje (dia especialmente bom), mas não esperarmos, como eu fiz durante cerca de dois anos que o mercado vai virar a nosso favor porque nós queremos. Para finalizar, apenas queria dizer que, a grande diferença é que desde os 0,2307, último máximo, até ao mínimo de hoje (0,1662), são 38% de desvalorização. Eu, fazendo algumas compras e vendas boas e outras más, apenas cedi cerca de 5%, o que me mantém com um bom lucro este ano. Algumas destas vendas foram dolorosas, mas transformaram-se rapidamente em negócios menos maus do que poderiam ser, se simplesmente ficasse a olhar. Espero que não entendam este texto como exibicionismo, mas sim como uma partilha de experiência.

Bons negócios

15.5.14

Má onda

Definitivamente, a coisa azedou e o mínimo que se pode dizer sobre as notícias de aumento de capital na banca, que ontem saíram na imprensa, é que o timing foi azarado:

 - O PSI20, depois de um arranque de ano fulgurante, tinha encetado há já algumas semanas uma correção que já passara para lá do meramente saudável, para assumir proporções alarmantes, com quebra da tendência ascendente na passada 2ª feira (ver o nosso gráfico no tópico do índice);

- As principais ações do índice davam sinais de grande fraqueza, com destaque precisamente para a banca que estava a fazer lower highs sucessivos;

- Do lado da banca foi terrível o anúncio de que o Barclays tinha a intenção de fechar o negócio no nosso país e abalar. Embora o fecho puro e simples tenha depois sido desmentido (de forma tão pueril que só o tornou mais assustador), o facto de não se ponderar a venda deixou a ideia de fuga atabalhoada, o que só é possível, diga-se o que se disser, se o negócio estiver pior do que se pensava. Ninguém foge, nem a peanners (Antes tivesse dito "feijões". Agora fiquei mal disposto. Diacho, ando com uma crise de azia desde ontem ao início da noite! De que será?);

- Entretanto, vem hoje na imprensa que o BBVA também está de malas aviadas, coisa já sabida há algum tempo, mas a verdade é que a notícia, se no início do ano era encarada como uma simples opção tática de gestão (o BBVA fartou-se de assumir prejuízos em Portugal), nos dias que correm começa a deixar a tristonha sensação de debandada;

- Hoje saíram os números do PIB português e dá outra vez má onda. Os números vêm abaixo do previsto e a economia dá claramente sinais de estar a fraquejar.


Diria que só falta os juros da dívida pública começarem a subir, para termos o caldo entornado. Mas nem vamos falar disso para não agoirar.

14.5.14

COMENTÁRIO

O PSI20 acionou o sinal de venda maciça e o povo levou a coisa tão a peito que despejou ações como se não houvesse amanhã. O resultado foi uma queda tão vermelha que até me faz pensar que o final do dia vai ser também dessa cor lá para os lados de Turim. Vermelho Benfica, bem entendido! Oremos!

Entretanto, vamos descascando o abacaxi que hoje nos tocou em sorte. 

Eu cheguei a dizer, não me lembro se escrevi, que um gentlemen como o Nuno Amado não ia fazer a borrada de apresentar os resultados e não falar em aumento de capital, para alguns dias depois virem anunciar essa porcaria. Esqueci-me que estávamos a lidar com banqueiros, que é gente habituada a manobrar a arte da esperteza saloia (leiam, a propósito, o episódio de hoje da Histórias de dinheiro, que sai mais daqui a pouco). Pelos vistos, houve gente mais avisada ao longo destes dias e foi vendendo, antecipando a marosca!

Do lado do BES o anúncio foi menos foleiro porque o Ricardo Salgado já tinha dito anteriormente que a probabilidade de ser necessário realizar um AC era elevada. Não sei se foi por causa disso que o malho do BES foi menor, mas acredito que a gosma ao BCP tenha levado a um exacerbar das descargas dos institucionais.

Deixo a conta que já fiz para o BCP, também para o BES. 

- Ontem o BES fechou a valer 1,22€. Como existem 4.017.928.471 ações representativas do capital do banco, isso significa que o banco valia cerca de 4900 milhões de euros.

- Hoje é noticiado um aumento de capital de 1000 milhões de euros, o que elevará o valor do banco para 5900 milhões de euros de forma automática, por mera criação de capital.

Agora as questões-chave:

- Se os acionistas acharem que, com o aumento de capital se gerará riqueza para justificar essa valorização automática de 20,4% no valor do banco, as ações não caem e o preço mantém-se (está bom de ver que não foi esta a leitura);

- Se os acionistas perceberem que o aumento de capital não vai acrescentar valor nenhum ao banco e que o dinheiro desaparecerá pura e simplesmente, então, depois de recebido o dinheiro do aumento de capital, o banco continuará a valer os tais 4900 milhões de euros. Acontece que terá mais cerca de 820 milhões de ações representativas do capital entretanto emitido. Por esse motivo, o valor de cada ação já não será 1,22€, mas sim 1,01€!

- Se os acionistas acharem que o aumento de capital retira valor ao banco... é fazerem as contas! 

Contas feitas, para que o valor do banco se mantenha, o BES deverá desvalorizar em relação a ontem cerca de 17,0%, ao passo que a queda do BCP deverá ser de 27,5%. Aqui sim, percebemos ainda melhor por que motivo a queda do BES foi ligeiramente inferior no dia de hoje!

Claro que, daqui até ao aumento de capital ainda muita água vai correr debaixo das pontes e as cotações vão sofrer alterações, mas estas contas de algibeira explicam-nos muito do afundanço a que tivemos oportunidade de assistir.

Aumento de capital

Um aumento de capital, nos moldes que foi hoje noticiado que será(?) feito pelo BES e pelo BCP, é basicamente a emissão de novas ações por parte de uma empresa. Essas ações serão criadas a partir do nada e vendidas aos atuais acionistas ou novos investidores que as queiram adquirir, permitindo à empresa arrecadar dinheiro que será utilizado com um fim pré-determinado.

Se um aumento de capital é bom ou mau depende da perspetiva dos investidores sobre o negócio. Se se tratar de um aumento de capital que permita aumentar a taxa de crescimento da empresa, em princípio será bom; se, por outro lado, foi feito um aumento de capital para acudir a necessidades urgentes de capitalização ou para o pagamento de dívidas, já não será encarado de forma tão benigna, porque significará que a empresa não está a conseguir, pelos seus próprios meios, financiar-se e terá de se socorrer dos acionistas.

Mesmo sem sabermos se o aumento de capital dos bancos é um bom negócio ou não, dado que ainda não foram apresentadas as condições (nem sequer há confirmação), uma conta rápida vai-nos ajudar a compreender por que motivo esta notícia está a levar a uma forte queda das cotações dos dois bancos.

Usemos, como exemplo, o caso do BCP:

- Ontem o banco fechou a valer 0,203€. Como existem 19.707.167.060 ações representativas do capital do banco, isso significa que, ontem, o BCP valia grossomodo 4000 milhões de euros.

- Hoje é noticiado um aumento de capital de 1500 milhões de euros, o que elevará o valor do banco para 5500 milhões de euros de forma automática, por mera criação de capital.

Agora as questões-chave:

- Se os acionistas acharem que, com o aumento de capital se gerará riqueza para justificar essa valorização automática de 37,5% no valor do banco, as ações não caem e o preço mantém-se;

- Se os acionistas perceberem que o aumento de capital não vai acrescentar valor nenhum ao banco e que o dinheiro desaparecerá pura e simplesmente, então, depois de recebido o dinheiro do aumento de capital, o banco continuará a valer os tais 4000 milhões de euros. Acontece que terá mais 7389 milhões de ações representativas do capital entretanto emitido. Por esse motivo, o valor de cada ação já não será 0,203€, mas sim 0,147€!

- Se os acionistas acharem que o aumento de capital retira valor ao banco... é fazerem as contas! 

De qualquer das formas, tudo isto tem de ser analisado com alguma atenção, até porque vai haver muitos fatores a ponderar. Hoje e no curto prazo, a notícia é, evidentemente, muito mal recebida, porque os bancos portugueses já se fartaram de vir pedir dinheiro aos acionistas e a destruição de valor tem sido, de facto, terrível. Vejam o número absurdo de ações que o BCP já tem: quase 20000 milhões! 

Por outro lado, tecnicamente, o BCP está naquele valor que referimos aqui há dias (vejam no arquivo) em que tudo se decide. Do ponto de vista técnico, um fecho com volume e convicção abaixo dos 0,19€, seja por que motivo for, é um sinal de alerta muito grande para quem está dentro.

13.5.14

COMENTÁRIO


Com alguns dos mercados mundiais a fazerem máximos, custa vermos o nosso PSI20 tão enfezado e mortiço. E para  aqueles que andam sempre em cima das cotações (malditos smartphones), este estilo bipolar de quem sobe cheio de genica num dia para logo vir com ameaças de que se escangalha todo no dia seguinte, dá cabo dos nervos, das noites e da carteira. Uma maçada!

É preciso, contudo, não esquecer que o PSI20 é dos índices que mais sobe em 2014, a nível mundial (embora esteja a 6,5% do máximo do ano). Hoje, fechamos com as seguintes valorizações anuais:

PSI20: 11,6%
IBEX35 (Espanha): 7,1%
DAX30 (Alemanha): 2,1%
CAC40 (França): 5,5%
Footsie100(Inglaterra): 1,1%
Nikkei225(Japão): -11,5%
S&P500(EUA): 2,7%
NASDAQ (Índice eletrónico americano): -1,0%

Por outro lado, o S&P e o DAX não só estão em máximos do ano, como estabeleceram hoje máximos históricos. O nosso PSI20 ainda tem que subir 86% para levar essa medalha. É um dos preços a pagar por termos aberto falência! Não faz mal: que suba à bruta depois de nós entrarmos!

De qualquer das formas, depois da saída limpa, da queda dos juros e da recuperação económica parece que chegamos a um ponto em que faltam expetativas de que as coisas possam vir a correr bem. Pelo contrário! Agora há o medo de que os juros subam, de que a saída limpa tenha sido asneira, de que a recuperação económica se tenha esgotado com o arremate de BMs, Mercedes e outros carros cheios de cartima, etc.

De maneira que, pelo menos no curto prazo, não há, de facto, grandes motivos para comprar, a não ser para imitar os outros. O que, muito honestamente, é capaz de ser pouco, tanto mais que há por aí umas notícias para sair, que envolvem o constitucional, as eleições europeias, etc., que, pelo menos, transportam a expetativa de poder fazer mossa do ponto de vista económico. Se a isso juntarmos o gráfico concluímos que até do ponto de vista técnico a coisa não está famosa. Confiram abaixo, p.f., (com índices bipolares nunca se sabe, mas parece irresistível uma ida pelo menos até à linha azul, a já famosa EMA150):


Não se esqueçam de que esta é a análise de hoje e pode ser que amanhã até dê subida, mas a verdade é que, pelo menos para o índice portuga, o velho dito bolsista sell in May and fly away parece estar a preparar-se para fazer todo o sentido. Veremos!
Conversas exemplares 2

Dinheiro e Liberdade



O meu amigo Tavares defende que esta crise em que estamos atolados se deve exclusivamente ao facto de a maior parte de nós ter esquecido para que serve o dinheiro. Exclusivamente parece-me forte, mas o Tavares insiste. O raciocínio dele labora na ideia de que, ao contrário das outras mercadorias, que servem para satisfazer as nossas necessidades ou caprichos, a função mais importante do dinheiro é dar-nos liberdade. E eu, que pensava que o dinheiro servia para comprar as coisas de que necessitamos, dou por mim banzado enquanto o oiço, pois faz-me uma certa impressão essa associação entre numerário e liberdade como se o 25 de abril tivesse alguma coisa a ver com os escudos que cada um tinha na algibeira. 

Mas o meu amigo não desarma e estipula que durante trinta e tal anos perdemos mesmo a noção do que é o dinheiro. Oiço o Tavares e ponho-me a pensar no meu avô e nas histórias que ele me contava de uma época em que as poucas pessoas que iam conseguindo juntar dinheiro ou sabiam rigorosamente o que fazer com ele ou, então, o curso normal dos acontecimentos encarregava-se de que deixassem de o ter em três tempos. E a verdade é que tanto quanto me lembro dessas histórias, a diferença entre ter ou não ter dinheiro nunca esteve em ser feliz ou infeliz, mas em garantir que se era livre, não no sentido que se dá agora de se poder dizer ou fazer o que nos der na real gana, mas antes num contexto mais realista e racional de não depender de nada nem de ninguém. E à medida que vou recordando essas histórias do meu avô, que saudades, volta-me essa sensação de imaginar como é difícil a vida, cheia de riscos e de sacrifícios, por causa do dinheiro que devemos tratar com respeito e parcimónia (mas nunca com subserviência) para que chegue o dia em que, de certa forma, nos torne livres. De maneira que, a dada altura, dou de barato que foi, de facto, esse conhecimento que se perdeu em pouquíssimo tempo que nos minou a liberdade que julgáramos ter conquistado com uma revolução e cravos ao peito. 

Mas até aqui talvez já toda a gente tenha chegado e eu por último. 

O Tavares, que é meu amigo, encarrega-se de me instruir com exemplos concretos. Um supor que te põem no olho da rua e ficas sem salário, qual é o problema se tens dinheiro para suprir às tuas necessidades? E mesmo que tenhas pouco dinheiro, qual é o problema se souberes como o multiplicar e não tiveres medo de o fazer? 

Mas a mim, enfarinhado como estou numa lógica de consumo, volta-me uma certa impressão de que, afinal de contas, isto não pode ser ao mesmo tempo tão simples, tão complicado e tão fora de moda. Não foi à toa que toda essa arte da poupança e do investimento se desvaneceu e julgávamos esquecida para sempre, porque não é com ordenados mínimos que te vai valer a pena poupar para prevenir o que quer que seja, de maneira que a solução óbvia está em estourar o guito todo de uma vez e pelo menos contribuir para que alguém venda mais e possa haver mais emprego. Isto parece-me de uma racionalidade muito saudável e a toda a prova. Ainda por cima, ao encher a casa de trastes e ao atualizares ritmadamente a quota que te cabe de gadgets inúteis vais assegurando a tua dose diária de felicidade instantânea, ao mesmo tempo que evitas ter o dinheiro parado no banco, ao serviço de um punhado de indivíduos pouco recomendáveis que se serve dele para fazer investimentos super lucrativos. 

Vendo que vacilo, o bom do Tavares muda de tática e envereda por um percurso histórico. Com o fim da escassez, conta ele, depois da revolução industrial, houve necessidade de criar uma dinâmica de consumo que permitisse rentabilizar o excesso de produção, ao mesmo tempo que mantinha ocupada a massa trabalhadora que de outra forma se tornaria supérflua com o surto da maquinaria. Veio, assim, aquilo que designamos por consumismo: a arte de tornar indispensável o que nunca nos fez falta, mas que alguém se predispôs a produzir e é necessário escoar. Não foi uma coisa pensada, como é óbvio, embora há mais de duzentos anos já fosse evidente que a oferta cria a sua própria procura. Com o passar do tempo, que é o escultor das sociedades, viemos ter a esta época em que ou tu te tornas fugral e usas o dinheiro para investir e tentar ficar livre ou trocas o dinheiro por mercadoria que não falta mas que acabará por te acorrentar e dar cabo do canastro. O mal da primeira opção é que dá muito mais chatices e menos alegria instantânea, sendo totalmente desadequada a exibicionistas. 

Agora é fácil falar, mas houve gente que ao longo de mais de trinta anos andou a poupar e a investir as poupanças para nos financiar o consumo. Para fim de conversa com o Tavares, reconheço que, ao não saber lidar com o dinheiro, nos pusemos coletivamente do lado dos que não são livres.

12.5.14

iPhone 6 chega mais cedo e traz super resolução

À atenção de quem detém ações da Apple. Segundo o Wall Street Clear Sheet as encomendas já ultrapassam as do Iphone 5S, com vendas expectáveis de mais 20% logo no arranque. A Apple, a propósito, está a apenas 1% do máximo do ano. E vai subir... dizemos nós. Se quiserem comprar um Iphone 6 em Agosto já sabem onde arranjar dinheiro!


iPhone 6 chega mais cedo e traz super resolução - Dinheiro Vivo
O que devo saber antes de Negociar em Bolsa:

Facto nº 22


Como sempre sucede na nossa vida, na Bolsa nunca há almoços grátis. 

No curto prazo, se um determinado comportamento parecer evidente, então, é melhor apostar contra todas as evidências.
Oops! A menina foi imprevisível outra vez. 

Justamente quando todos estávamos numa de para baixo é o caminho, eis que a Bolsa sobe cheia de fulgor como se lhe chegassem fogo ao rabo. O Dow Jones americano está inclusive em máximos históricos e o índice alemão é rapaz para ir lá já amanhã. Nada mais a propósito do facto nº 22 que devo saber antes de Negociar em Bolsa, que sai do forno mais daqui por um bocado.

Amanhã, outro dia, nova alegria: siga p'ra bingo!


O que devo saber antes de Negociar em Bolsa:

Facto nº 21

Só há um motivo para comprar em Bolsa: se consideras que a probabilidade de venderes mais caro se sobrepõe, para lá de uma margem de erro razoável, à probabilidade de venderes mais barato.


Só há um motivo para vender em Bolsa: se consideras que a probabilidade de comprares mais barato se sobrepõe, para lá de uma margem de erro razoável, à probabilidade de teres de vir a recomprar mais caro.