Nos dias a seguir ao anúncio da
fusão da PT com a brasileira OI, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) veio anunciar
que tinha alienado a sua participação na dona do MEO por um preço que tinha
ficado perto dos 3,5€ por ação. Lembro-me perfeitamente de, nessa altura (há 3
meses atrás), ter ouvido Ricardo Salgado, presidente do BES, sugerir que a
venda da CGD era incompreensível, uma vez que, depois da fusão PT/OI era
expectável uma forte valorização dos títulos e que, no seguimento dessa linha
de raciocínio, o BES não só não estaria vendedor da participação na PT como,
inclusive, acorreria entusiasticamente ao aumento de capital da OI, investindo
mais 75 milhões de euros. Dito e feito. Como é evidente, ninguém sabe se a
empresa que resultar da fusão das duas operadoras de telecomunicações vai ser
ou não rentável (embora toda a gente no meio ache que o Zeinal Bava é uma
espécie de Steve Jobs dos telefones fixos e a coisa vai ser show di bola) e gerar lucros que correspondam
às expetativas do presidente Salgado do BES. Mas há uma coisa que podemos já
ter como certa: as ações da PT estão hoje na casa dos 2,8€, 20% abaixo do preço
a que a CGD vendeu (e a brasuca OI amolou p’ra cima de 50% depois do anúncio).
O negócio promete!
Esta passagem da história não
terá provavelmente qualquer tipo de importância em termos de gestão, porque
muitas destas operações são feitas numa ótica de longo prazo e há quem diga que
a empresa que resulta da fusão PT/OI vai ser, de facto, um gigante das
comunicações globais. Por outro lado, não creio que os administradores da CGD
tenham vendido porque se aperceberam de que o preço ia para baixo e sejam uns
génios visionários. É mais provável que tenham agido por pura questão de
sobrevivência (precisavam de guito fresco). Mas o que isto demonstra é que a
gestão destas coisas da banca e no caso particular do BES, que costumava ser
tido como um exemplo do génio ao serviço da acumulação de riqueza, nada tem de
verdadeira excelência. De facto, parece ser pura aritmética: o dinheiro gera
mais dinheiro e, com a dose certa de sorte e perspicácia, com uns contactos tipo
uma mão lava a outra e informação
atempada é possível disfarçar, durante uma assinalável quantidade de tempo,
todas as nossas insuficiências.
Agora o BES anda outra vez de mão
estendida a pedir dinheiro para tapar buracos. Não se trata de dinheiro para
investir numa nova linha de produção ou num produto inovador, mas sim de
dinheiro canalizado do trabalho para cobrir a preguiça: a preguiça de se
analisar como deve ser e viver sentado numa poltrona a produzir dinheiro ao
mesmo ritmo a que se concedem empréstimos sem nexo (como bem se explica, em posts anexos, nas “Histórias de
dinheiro”).
Mas nós, que felizmente não somos
cegos, nem temos memória curta e tudo fazemos para não ser burros, mas também
não temos ilusões nem vivemos num universo paralelo, tentamos de forma justa e
com as ferramentas que temos ao nosso dispor garantir o nosso quinhão em toda
esta malabarice.
Estamos em crer que na Bolsa o
BES ainda vai passar por um mau bocado na próxima semana. O início da
negociação dos direitos é provável que venha a ser penoso, porque há sempre
muita gente que se quer desfazer deles, já que não está para abichar com mais
umas lecas para mais este peditório.
Seja como for, depois de
arrecadar mais 1000 milhões (diga-se que é para isso, afinal, que a Bolsa
serve: para as empresas se financiarem, abrindo o capital e uma turbamulta de
interessados), é possível que o BES fique em boa posição para dar umas alegrias
aos crentes, pelo menos no curto prazo (que é, bem vistas as coisas, o prazo
que verdadeiramente conta) porque, em princípio, só um asno completo falhará na
banca depois de lhe taparem os buracos que a idiotice tinha gerado. Claro que,
como se sabe, a idiotice e a sua prima, a burrice, costumam ser
degenerescências de caráter incurável, pelo que manda o bom senso que sejamos
prudentes, mas não podemos descartar, em boa consciência, uma entrada neste
barco.
Para quem se decida a entrar, uma
compra de direitos a bom preço é capaz de ser a jogada mais racional (não
esquecer que o racional na Bolsa é facilmente chutado para canto). O preço dos
direitos tende a ser igual a 0,4 a multiplicar pela diferença entre o preço das
atuais ações e 0,65, que é, como se sabe, o preço das novas ações. Neste
momento, por exemplo, o preço dos direitos deverá rondar os 0,081€.
Os direitos têm a vantagem de
também poderem ser negociados e estão sujeitos a uma oscilação mais robusta do
que ação, mas não se esqueçam de que ficar com os direitos implica ter de
desembolsar mais 0,26€ por cada um para terem uma nova ação que só poderão
negociar no dia 17 de junho, data em que haverá mais 1607 milhões de ações do
BES à solta no mercado (os números são tão estrambólicos que a empreitada mais
parece Astronomia, ou coisa que o valha). Portanto, há que pesar prós e
contras, entre atacar nos direitos ou nas ações.
De acordo com o gráfico, o BES
tem um suporte aos valores atuais, mas uma quebra é bem capaz de o levar aos 0,78€
(direitos a 5,2 cêntimos). E uma hecatombe atira-o aos 0,70€ (direitos ao
módico valor de 2 cêntimos). Confiram, p.f.:
Diga-se que a esses dois últimos valores,
o BES estará avaliado a:
- 4388 M€ no primeiro caso, o que
se traduz num acrescento de valor de 137 milhões de euros relativamente ao dia
em que o AC foi anunciado (contra uma injeção de capital de 1000 milhões);
- 3938 M€ para uma avaliação de
70 cêntimos por ação. Nesse caso, teríamos uma injeção de capital de 1000
milhões transformada numa perda de valor do Banco de 313 milhas das grandes, o
que transformaria a operação num case
study sobre a forma de melhor proceder à queima de notas de euro no menor
espaço de tempo possível! Na Bolsa não seria inédito, nem tão pouco motivo para
grande admiração, mas eu, que sobre isto nada sei, diria que estaríamos em
presença de uma boa oportunidade para pagar as férias (e, porque não, o IRS).
Mais do que isto, lamentamos, mas
não vos podemos fazer. Decidam que é para isso que têm a cabeça em cima dos
ombros. E oiçam a cantiga abaixo que é gira e ajuda!
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