31.1.16

Ponto da situação

Quem acreditou em rebotese não cometeu o erro de se enfiar apenas na Altri, é bem provável que tenha embolsado para cima de 10% em 7 dias de negociação. Bem bom, se atendermos às circunstâncias (queda mensal de quase 5% no PSI20), pelo que é mais do que justo mandar vir uma medalha para nós! Afinal de contas, é disto que a gente vive: medalhas simbólicas por espalhar o bem e encher os bolsos aos sensatos que nos incluem entre os favoritos!


Se estiveram atentos ao nosso paleio durante o excitante mês de janeiro que ora acaba (se não estiveram vejam aqui que ficam com uma panorâmica), lembram-se que optamos por ficar de fora desde o início porque havia resistências a vencer (topo do canal e linha horizontal tracejada vermelha no gráfico seguinte). Também dissemos que comprávamos na base do canal, na zona dos 4900 pontos. Então, o ano arrancou em modo ursil (é por causa disto, diga-se de passagem, que o DiCaprio desta vez leva o Óscar: tal como os mercados, também ele foi atacado pelo urso! (Que ligação tão fatela! Enfim!)) e a queda foi tão arrepiante que ficamos na retranca e só entramos, meio a medo, no dia seguinte ao do sinal de rebote (o facto de a linha tracejada laranja ter aguentado o embate e, acima de tudo, o amparar do tranco acima dos níveis DATAC no S&P e no DAX convenceram-nos de que o rácio ganho/risco era, apesar de tudo, favorável). A quebra dos 4900 para cima foi a dica para reforçar e deu-nos a esperança de que isto ainda se pode salvar de um mercado ursino mais prolongado. Vejam como ficou o nosso gráfico depois do fecho de semana:


Como é que vemos isto daqui para a frente? 

Com otimismo! As últimas sessões convenceram-nos de que há dinheiro e vontade para o usar no sentido de comprar a carga que os vendidos querem alijar. 

A fechos atuais, a zona dos 4980 (EMA21) é o primeiro alvo de um movimento corretivo de curto prazo e voltamos à caca se arriarmos abaixo dos 4900 pontos - esse é o meu valor para fechar a loja, incondicionalmente (ainda que admita um fecho muito antes se sentir que o marmanjo me vai testar os nervos e baixar a esse nível)!

Para cima, sou capaz de admitir que amanhã se chegue ao topo do canal nos 5160! Vencendo... bolas, é ver no gráfico!

Uma chamada de atenção para os resultados do BCP que, de acordo com o Jornal de Negócios são os únicos a sair esta semana. É já amanhã! A apresentação de resultados do BCP é um daqueles momentos emocionantes em que muita gente está à espera de finalmente cumprir a promessa feita de pagar as prestações com o graveto que a bolsa dá. É uma espécie de lotaria com uma probabilidade de 50%, o que é bom! O único problema é que a aposta tem dado para torto e não é de agora, pelo que a cada trimestre se renovam as esperanças de que seja desta. Vamos ver se amanhã os resultados em Portugal chegarão para compensar a quebra que se antecipa para o futuro imediato na Polónia. Com a recuperação económica e os problemas no Novo Banco (que é um concorrente infinitamente menor que o BES) e em menor escala no Banif pode ser que resulte claro um reembolso antecipado dos 750 M€ em dívida, o que permitiria ao BCP tornar-se consolidável. Atenção à margem financeira e ao nível de incumprimento. A verdade é que o BCP é dos poucos títulos da bolsa portuguesa que tem volume suficiente para permitir aos fundos, que têm milhões para gerir, tomarem posições numa base diária, pelo que quer para um lado quer para o outro, poderão ocorrer fechos/tomadas de posição relevantes o suficiente para causarem movimentos interessantes. Mais uma vez, vai ser emocionante!

21.1.16

Primavera Sound Barcelona 2016

Se não ligam cheta nenhuma ou até mesmo são alérgicos a boa música então agradecemos a visita mas não se alonguem mais, fiquem por aqui! Isto vai estar infestado!

Adiante!

Foi hoje divulgado, provavelmente - de modo a não ferir susceptibilidades, o melhor cartaz festivaleiro de sempre cá pelas redondezas! Das ditas redondezas dificilmente estaríamos mais distantes mas dá-nos a sensação que poderá contagiar tudo em redor e dar assim o melhor pontapé de saída para um verão musical de interesse, cada vez mais competitivo e agressivo, à boa maneira mercantil! O Primavera Sound Barcelona 2016 é qualquer coisa! Tanta gente boa em tão pouco espaço e tempo que mesmo na impossibilidade de lá chegarmos, quanto mais não seja, abre a perspectiva de termos, à dimensão, uma edição 2016 na Invicta igualmente de puta madre.


Desde nomes como Radiohead, que dispensam qualquer tipo de apresentações e que também marcarão presença no Nos Alive 2016, os celestiais Sigur Rós ou a transcendência instrumental de Beirut que já emolduraram os nossos artigos, passando por outros para os quais ainda não surgiu oportunidade como PJ Harvey, Suede, Air (também já confirmados para o Porto), LCD Soundsystem, Tame Impala ou Brian Wilson (fundador dos lendários Beach Boys, a pontuar com a performance de um dos melhores álbuns de sempre - Pet Sounds) que deixam vontade de apreciar com semelhante sensibilidade o restante cardápio!


Como a ocasião faz o ladrão, roubamos a oportunidade do parágrafo anterior e deixamos o que ainda não tinha surgido numa pequena playlist, a juntar, ao que por lá se poderá ouvir! 

Para infestar, sem receios!






A terminar, como seria bom!

Boa noite, seguem os Beach Boys!





20.1.16

Gráficos para quem acredita em rebotes

Quem vê o que o S&P fez hoje fica na dúvida: quebrou os 1870 (o que é mau), mas foi direto à zona dos 1815 e aguentou o impacto, evitando o péssimo e fazendo uma espécie de remontada! Diga-se que aquela queda brutal até meio do dia, com um volume altíssimo e um pico de pessimismo, é típico de situações de saturação numa dada tendência do movimento, em que os mais tesos acabam por ceder e entregam a carga que vinham a segurar desde lá de cima.


O DAX, para todos os efeitos práticos, aguentou os 9400 pelo menos mais um dia:


Tanto um como o outro estão numa situação de flagrante sobrevenda e acumulam, numa dúzia de sessões, quedas de 9 e de 12% respetivamente. 

Estamos em crer que é possível que este movimento de sucessivas quedas possa aliviar momentaneamente (ainda que o fecho do S&P nos deixe na dúvida), e possamos ter motivos para subir pelo menos amanhã e quiçá na sexta-feira.

Nessa eventualidade, e apenas para quem gosta de arriscar, deixamos, sem mais comentários, 5 gráficos que nos parecem interessantes dentro do esfrangalhadíssimo PSI20.  






Para que não restem dúvidas, deixem-nos apenas recordar que não estamos a dar sugestões, nem jamais o faremos: trata-se de partilhar os nossos estudos. Por outro lado, e porque às vezes há quem fique com macaquinhos a bailar no sótão, dizemos que não temos qualquer posição aberta em nenhuma das empresas que aqui analisamos.

19.1.16

BCP

Sei que há muitos frequentadores desta casa que são proprietários de ações do BCP e que estarão a pensar no que fazer perante esta sucessão de episódios de terror com que o banco nos brinda a cada passo. Evidentemente, não há muito que se possa dizer do ponto de vista fundamental, nem nos parece que isso seja importante neste momento. Olhando para o volume altíssimo negociado na sessão não me surpreenderia que tenha havido desfazer de uma posição qualificada e olhando para as declarações dos últimos dias sou mesmo em dizer que é provável que a Blackrock tenha deitado a toalha ao tapete e ande a abandonar o barco. Aliás, até sou moço para dizer (mas não apostar) que a queda de hoje anda de mão dada com esta notícia (alguns fundos têm que fazer alocações geográficas, pelo que é possível que um desbanque não seja um abandono completo).

Trabalhemos esta hipótese!

A Blackrock, da última vez que comunicou ao mercado, detinha 2,22% do capital do BCP, ou seja, cerca de 1200 milhões de ações. Se, por hipótese académica, hoje largou 400 milhões, reduziu a posição em 1/3 e terá que comunicar ao mercado, pelo que logo saberemos! Resta saber se vai alijar a carga completamente ou se está apenas interessada em reduzir a posição. Olhando para a brutalidade da descarga, diríamos que não está muito preocupada em dar uma sacudidela grande nas cotações, pelo que é de admitir que estará com pressa. Continuando nesta alegre especulação, não custa digerir que vai continuar a descarregar em grande: por norma, estes movimentos de institucionais fazem-se numa base de maior organização em negócios fora da bolsa, mas com a gosma com que estes trampolineiros andam, damos de barato que queiram fazer da nação valente um exemplo para o mundo (contas feitas, se forem mesmo eles, vão abichar uma menos-valia de cento e tal milhões na jogada com o Millenium, uma autêntica pechincha por comparação com a bojarda que apanharam no NB). Estou a imaginá-los de dedo em riste: "se é para confiscar, que mais ninguém neste mundo e arredores tenha a triste ideia desses atrevidos dos tugas que se puseram a enrab... (perdão!) tirar aos ricos; tirem aos contribuintes que eles são mais, são néscios e não se queixam; onde é que vocês tinham a cabeça, seus grandessíssimos desconhecedores dos meandros e das regras de funcionamento dos mercados financeiros globais? Quilhar a malta da pesada para poupar uns empregos e nos impostos dos remediados? Que carago de ideia foi essa? Ah!"

Agora falando a sério: é de aproveitar este dilúvio e deitar a mão a uma tranche para nós?

Diria que depois do flop da venda do NB e de termos pago à grande para vender o Banif, a valorização dos bancos portugueses deve, logicamente, ser revista em baixa e não admira que esse ajuste seja feito, mas o BCP ao preço de fecho de hoje vale menos de 2000 milhões de euros e eu, que não sou contabilista, sinto-me inclinado a achar que o maior banco português valer isso é, pelo menos, tentador (contas de gajo que vai ao supermercado e é responsável pelas guloseimas)! Claro que a 1000 milhões fica melhor... and so on!

Resumindo, sou rapaz para dar uma dentada, mas garanto que vou ponderar muito bem as odes de apanhar parte dos tabefes da fúria dos indignados da pesada! Entradas agora são para gente afoita ou para aqueles que compram para ficar para os netos e eu não me enquadro em nenhum desses perfis, pelo que temo fazer asneira!

Tecnicamente, o BCP está todo partido, e só em 2012 é que conseguimos encontrar valores que possamos usar para fazer as vezes de suporte (são tão antigos que já devem ser suportes podres). Seja como for, no semanal não há registo de fechos abaixo de 0,0320€ e o mínimo histórico está na zona dos 0,0270€ (estes valores praticamente fazem do BCP uma penny stock com todas as consequências que daí advêm). Não há muito mais a dizer a não ser talvez referir que com 28% de queda nos 19 dias que tem este ano deve estar a preparar-se para estabelecer um novo tipo de recorde! E ressaltos, há?

Não conseguimos fazer melhor que pôr este gráfico semanal. 


18.1.16

Blue monday

O que é um bear market se não uma situação em que se instala a deflação no preço das ações?

Os que estão de fora a ver os preços a fazer voo picado, na tensão de deitar a mão aos saldos, mantêm-se na fé de que é possível apanhar o produto mais em conta no dia seguinte, nem que para isso tenham de abdicar dos ressaltos pontuais que sempre existirão! Quem entra para apanhar supostos bons negócios fá-lo tolhido de medo e, se a coisa arreia nem que seja um tico, vende não vá cair na enxurrada. E quem está dentro desde lá de cima, anda tão partido que só pensa em ver-se livre dos trambolhos e fugir para um sítio longe, onde possa calmamente lamber as feridas: se houver um ressalto, por minúsculo que seja, tira esse peso de cima!

É este cocktail que faz um ursalhão: uma deflação arreigada que leva a um adiar das compras e faz com que seja fácil chegar à conclusão de que mais vale vender filado em compras mais apropriadas! E o pior deste ambiente depressivo é que ele vem não se sabe de onde nem porquê, mas depois de instalado, todos os motivos são ótimos para vender e quem se apresta a comprar corre sérios riscos de fazer figura de urso (daí o mercado urso - bear market!*).

Se lerem o que temos vindo a dizer de há semanas a esta parte, em especial aqui, verão que estávamos na disposição de deitar uma mão (todas as ajudas contam) cá em baixo na base do nosso canalito, mas o PSI20 nem nos deu hipótese na aproximação aos 4900, tal foi a rapidez com que levou knock-out! Hoje, blue monday, o dia mais deprimente do ano segundo os especialistas, limitou-se a confirmar que se esbardalhou todo e só com um milagre muito grande se poderá salvar:


Tugas banzados com o milagre do Sol

E de que milagre poderemos estar a falar?

Diríamos que o PSI, mais do que estar a levar porrada por causa de os manda-chuva se terem amotinado em resposta ao confisco dos milhões que empataram no banco salgado, estará a antecipar a entrada em bear market dos principais mercados mundiais (os artolas da Blackrock, tão inteligentes que enfiaram milhões no BCP a 12 cêntimos, deram pela falta do graveto e acagaçaram-se a tal ponto que começaram a mandar postas a ver se alguém se junta a eles solidário no medo; não vêem os estafermos que, sendo verdade que o BCP está a lerpar como gente grande este ano (novidade?!), não deixa de também ser certo que, por exemplo, o BNP Paribas francês também cai na casa dos 15%). 

Nessa linha de raciocínio, e voltando ao nosso artigo DATAC, somos em crer que a quebra dos 9400 no DAX e dos 1870 no S&P serão a confirmação de que o mercado urso é real! E é isso que o PSI antecipa como costuma fazer: nisto o mastonço não tem problema nenhum em ir à frente! Se os alemães e, acima de tudo, os ianques ampararem nos respetivos valores, coisa de que duvido muito seriamente, há uma nesga de hipótese de isto tudo não ter passado de um pesadelo, mas se os outros avinagrarem, não vai ser fácil encontrar motivos para sorrir com compras no nosso mercadito. 

Em todo o caso, há um aspeto que convém frisar: o PSI20 está a 1% de queda do mínimo de 2015, feito no dia 7 de janeiro, e é possível que haja motivos para um ressalto de curto prazo, quiçá amanhã, se os guias dos mercados internacionais não quebrarem os valores que mencionamos. Nesse caso, o bear market pode ser confirmado com uma recusa de passagem para cima dos 4900, mas há uma subida de 5% até lá que pode ser tentadora para quem tem seguido os nossos bitaites e continua a ver da bancada! A sobrevenda flagrante do índice (vejam o RSI) e o facto de se começar a ver muita gente cheia de medo (mil perdões!) são outros dois aspetos que poderão ajudar a um rebote. Seja como for, até prova em contrário e enquanto estiver abaixo dos 4900 pontos, nós não podíamos estar mais ursos e ninguém nos tira a ideia de que a sensatez manda ser contido!


* Não é este o motivo real do nome e algures no blogue (ou mais fácil, na web), encontrarão a verdadeira explicação!

17.1.16

The big short

É possível negociar em bolsa se não se tiver sentido de humor? Ganha dinheiro nos mercados quem estiver nisto com o ar circunspecto de uma comunhão solene? Temo que não e estou convencido de que é essa falta de queda para a comédia um dos fatores que mais contribui para que muitos abandonem o barco, desiludidos com as promessas de riqueza fácil e sucesso sem esforço! É que quem se fia em facilitismos vê a vida a régua e esquadro e um mundo feito de certos e errados, bons e maus, numa permanente divisão entre as dores de cabeça do medo e as enxurradas de azia de ganância. Sem humor, portanto!

Ora é essa falta de humor que mais salta à vista em A queda de Wall Street (The big short, no original), novo filme de um realizador, Adam McKay, que tem currículo feito precisamente com algumas comédias comezinhas (veja-se, por exemplo, Filhos e enteados). Ainda que haja quem considere o cinismo dos personagens do filme apontamentos de humor refinado, no final o que acaba por ficar com o espectador é uma sensação de profunda apreensão, fruto da atmosfera de catástrofe eminente que impregna todo o filme. É essa angústia de que há algo de terrível para acontecer, de que só têm consciência uns poucos iluminados que fazem apostas contra o mercado imobiliário (o big short do título), que contagia quem vê e dá um toque de profundo moralismo a toda a história que nos é contada (reforçado por uma componente didática que é uma preocupação constante do realizador - de histórias lamechas, de violências atrozes e de cenas de horror percebemos todos, mas quando toca a dinheiro e negociatas precisamos que os atores se virem para o ecrã e nos expliquem muito bem como as coisas funcionam para que o filme não se torne maçudo! Cristo, valei-nos!). 


Bem sintomática da indecisão dos argumentistas em relação à história que nos querem contar são a cenas finais em que nenhum dos vencedores acaba satisfeito, apesar de terem faturado milhões em apostas contra tudo e contra todos. Em vez disso, todos parecem alienígenas vindos diretamente do planeta da boa moral e dos bons costumes, traumatizados por terem enriquecido, enquanto o mundo mergulha numa crise de raras dimensões. Algum trader real fica triste nessas condições? É realista isso? Aliás, o filme está cheio de personagens ambivalentes e inverosímeis que fazem apostas no mercado completamente a contragosto apenas porque têm a certeza de que estão a ver algo que mais ninguém vê e não porque querem ganhar dinheiro. Todos são movidos pelo desejo de estarem certos na previsão de uma catástrofe e não por pretenderem lucrar. A personagem de Steve Carell transborda de azia não por não ter ganho suficiente, mas porque (e só no final do filme é que o percebemos) anda fodido da vida por ter oferecido dinheiro ao irmão que se suicidou (o que tem isso que ver com a queda do mercado imobiliário e com a restante narrativa, continua a ser um mistério para mim). 

No final, saímos da sala sem saber se acabamos de ver um documentário (ao estilo, por exemplo, do excelente Inside job) ou um drama biográfico ou que carago vimos e corremos o risco de mandar às urtigas toda esta treta de nos cansarmos sem fim para sacar uns tustos dos mercados: afinal de contas, se a concretização de acertarmos na muche e ganharmos pipas de cacau tem por consequência ficarmos como os gajos que aparecem neste Big short, então talvez seja melhor estarmos do lado dos perdedores e juntarmo-nos à manada (sempre somos dignos de pena!). Pela parte que me toca, prefiro achar que o filme é uma bodega sem fim e retrata individualidades que só existem fruto de contingências pessoais que nada têm que ver com o big picture que a história pretende retratar: Steve Carell está traumatizado com o suicídio do irmão, Christian Bale tem um olho de vidro, Brad Pitt levou no trombil nos mercados e não quer dizer a ninguém, etc. Para nós que andamos na arte, vale a pena se o formos ver com o fito de lucrarmos pedagogicamente; quem se está nas tintas para jogatanas com o dinheiro e crises financeiras fica melhor servido se for ver o Principezinho ou o filme do Snoopy.

Este filme está nomeado para os Óscares em quatro categorias: melhor filme, melhor ator secundário (Christian Bale), melhor realizador e melhor montagem. Há algum sentido nestas nomeações? Há, se pensarmos que os Óscares não têm nada a ver com cinema mas sim com vaidades e auto-elogios. Se isto é um melhor filme, então temos que deixar de ver cinema, se a realização é boa, então eu vou para realizador, da montagem nem é bom falar (está cheia de cortes que parecem ser de filme caseiro montado no movie maker), e o Christian Bale, que é um bom ator, faz um papel engraçado, mas é completamente inverosímil no tratamento de um gestor de fundos que investe contra o mercado de uma forma tão agressiva e contrária ao senso comum: com aquela idade e a manobrar tantos milhões, ainda não conseguiu ultrapassar o complexo de ter um olho de vidro! Give me a break!

Neste particular, temos a sorte de ter tido recentemente um caso exemplar no Lobo de Wall Street, realizado por Martin Scorsese, um filme que vai ficar na história dos filmes sobre mercados financeiros e na histórias das comédias, com uma realização que é um portento de competência e com um desempenho irrepreensível do Leonardo DiCaprio no papel de Jordan Belford, o estroina que contribuiu, à sua maneira, para a mesma crise que é retratada no filme que ora comentamos. Ora, o Lobo de Wall Street também foi nomeado para os Óscares, em 2014, mas os ignorantes daquela academia da passadeira vermelha escolheram o 12 anos escravo (WtF) para melhor filme, o Matthew McConaughey para melhor ator, só porque fez dieta e aparece tísico num filme de segunda categoria sobre charrados, e o Alfonso Cuarón por se ter visto livre da gravidade num filme que é um ótimo documentário para mostrar aos alunos de FQ do 7º ano!  Suckers!

Depois da ressaca do Small Short, sabe ainda melhor recordar:


14.1.16

Foi por pouco...

Quem está dentro e vem aguentando tenazmente este clima agreste que nos perdoe, mas é preciso uma paciência de santo para conseguirmos fazer umas comprinhas no PSI20 cá em baixo no nosso valor de referência na zona dos 4900! 

Hoje estivemos vai e não vai, mas a Galp tirou-nos a confiança toda ao impedir uma aterragem brusca ao jeito da que o S&P está com vontade de fazer: ida ao nosso valor DATAC e posterior rebound

No caso do S&P ou há um mínimo que está feito ou então arriscaríamos dizer que ursalhamos feio! 

No PSI20, lá está, o cenário podia ter ficado hoje mais claro e foi pena aquela remontada estrambólica da Galp (é verdade que tecnicamente, fez algum sentido, mas não havia necessidade de tanta pressa... ou havia?).


E um pouco de música para ajudar a compor...


11.1.16

cny/usd e cny/eur

Estamos em crer que este será um dos dados que mais de perto devemos seguir em busca de pistas para o futuro: depois de uma queda ininterrupta que o levou a depreciar quase 4% em menos de um mês, o yuan chinês teve finalmente hoje uma ligeira recuperação!


Escusado será dizer que com uma moeda mais fraca os chineses comprarão menos ao exterior, facto que tem servido para alimentar um pessimismo bastante arreigado em especial entre as maiores exportadoras europeias (em relação ao euro a recuperação de hoje foi um bocado mais expressiva, contra uma queda de quase 7% desde 30 de novembro). A título de exemplo, no que vai de 2016, a BMW cai mais de 14%, a Daimler quase 12% e a Porsche outro tanto! Mais esquisita parece-me a queda de 11,3% da Bayer: as vendas de Rennie devem estar em alta com a azia que grassa, em particular entre os grandes jogadores de poker bolsista chineses! Enfim, racionalidade nunca foi o forte nos mercados!

Notem que não estamos a dizer que lá porque hoje subiu vamos ter recuperação da moeda chinesa, e inversão nos índices; simplesmente fazemos notar que o mercado anda a descontar uma hecatombe e é bem capaz de dar por ela e aperceber-se de que exagerou! Nada como estar atento a todas estas subtilezas! Já agora, muita atenção para o facto de haver números importantes que vêm da China na madrugada de quarta-feira, pelo que é preciso levar isso em linha de conta se decidirem ir a jogo!

David Bowie

Thanks!


10.1.16

DATAC

Após uma semana de negociação estarmos com quedas anuais a rondar os 7% no IBEX, no CAC e no NASDAQ, 6 no Dow e no S&P, e acima de 8% no DAX é quase tão inacreditável quanto o facto de, desta vez, o PSI20 até nem ficar mal no retrato (-3,5%). É verdade que havia um grande pessimismo no ar antes do final do ano e houve sinais técnicos relevantes que foram ativados no sentido descendente, mas um movimento desta dimensão, em tão curto espaço de tempo, é coisa para deixar os cabelos em pé ao mais indefectível otimista (eu nem imagino como se deve estar a sentir, neste momento, o nosso ministro das finanças, às voltas com um orçamento de estado tão cheio de riscos, enquanto que os mercados internacionais metem um medo dos diabos)! 

Seja por causa da China (já por diversas vezes chamamos neste espaço à atenção para o PMI chinês estar, há tantos meses, abaixo de 50), seja por outro motivo qualquer, se este movimento não for rapidamente estancado vamos começar a ver maus indicadores da economia real e caminharemos para uma crise. É que, ao contrário do que é senso comum, a maior parte das vezes (salvo cisnes negros como atentados ou cataclismos), são os mercados financeiros que marcam o compasso do ciclo económico e não o contrário: queda dos mercados antecipa desemprego e crise, que acaba por se começar a materializar algumas semanas mais tarde. Muitas vezes somos levados a pensar que os maus dados foram prognosticados pelos sabichões dos mercados, mas a verdade é que o bear market, ao retirar dinheiro do bolso de quem realmente mexe com a economia, cultiva ele próprio os períodos de baixa!

Há quem ache que já estamos em bear market (nos principais mercados financeiros, bem entendido; no PSI20, nem chegamos a ver o touro), e a verdade é que desde abril quem anda a apostar longo dificilmente tem ganho dinheiro, pelo que no médio prazo temos andado, realmente, a levar sapatada do urso! Porém, neste momento, nós por cá ainda nos mantemos acima do nível em que Deitamos A Toalha Ao Chão (nível DATAC).


Consideramos, contudo, que as próximas sessões poderão ser decisivas e cremos que os gráficos que colocamos a seguir clarificam a nossa posição.

Evidentemente, nem vos precisamos de lembrar que consideramos um nível DATAC um ponto de compra para quem não se importa de ver o dinheiro violentado (é muito mais racional comprar num DATAC do que no ponto em que nos encontramos neste momento, ou em qualquer ponto por onde passamos ao longo da semana que terminou). É imprescindível, contudo, colocar um stop loss a uma distância a gosto abaixo desse patamar, sob pena de perdermos noites de sono desnecessariamente! 

Vamos aos gráficos.

No DAX a linha horizontal vermelha é o nosso nível DATAC. Não o vemos a quebrar já e mantemo-nos na expetativa de um ressalto pelo menos nos 9400 pontos. Se não houver... foda-se! Se existir, temos um duro caminho para cima!


No CAC estamos quase DATAC, o que nos leva a pensar que estará por dias o esclarecimento cabal da situação (aqui damos 100 pontos de intervalo de confiança abaixo dos 4300).


No S&P DATAC abaixo dos 1870 pontos (a 2% do fecho da semana).


No PSI20, o nível DATAC está há muito tempo nos 4900 pontos e reafirmamos que não se aconselham tomadas de posição nestes ressaltos em números redondos. Quem não gosta de apertos deve abster-se, em absoluto, até que haja uma quebra consistente dos 5400 pontos (do jeito que as coisas estão, teremos tempo para falar disso).


Aperceberam-se, certamente, de que o nosso raciocínio é muito simples: como estamos bear desde abril, com um duplo mínimo de permeio, consideramos que a quebra desse mínimo vai fazer os investidores procurarem novos mínimos mais abaixo e encarar um mercado urso de mais longo prazo. Acima dos níveis DATAC podemos ter ressaltos violentos como os que ocorreram no final do verão; abaixo vamos ter ressaltos até esses níveis que passarão a resistências fortes. Olhando para a envergadura do movimento e o registo recente, acima do DATAC nada nos demove da ideia de que estamos em presença de uma correção que poderá acabar com um fundo em V!

Apenas uma nota adicional. Concretizou-se o que conjeturamos aqui e a queda deste ano no PSI20 é, até ao momento, similar ao movimento feito no início do ano passado (há uma diferença de patamar e pouco mais - até o movimento antecedente é semelhante): queda a rondar os 4% e um duplo fundo de poucas semanas! Vai ser interessante verificar se a história se repete:

3.1.16

Para início de conversa...

Aqueles que nos seguem já sabem que andamos neste mister de negociar em bolsa sem ilusões nem constrangimentos, o mesmo é dizer-se, estamos prontos para mudar de opinião ao ritmo a que o vento muda de direção. Não estamos aqui para investimentos de longo prazo (para isso íamos para o imobiliário, p.e.), nem para nos afeiçoarmos à mercadoria em que investimos (para isso vamos negociar arte ou bólides de coleção, p.e.). A Bolsa coloca à nossa disposição a possibilidade de mudarmos de opinião ao segundo e não devemos nunca enjeitar a oportunidade de reconhecermos o nosso próprio erro. Aliás, se não o fizermos corremos o risco de pagar a fatura com línguas de palmo! Só para usar um exemplo que muitos reconhecerão, quem não corrigiu o erro de ter comprado BCP no primeiro dia de negociação de 2015 acarreta um desfalque de 25,6%, sendo que precisará de uma subida de 34,4% só para recuperar do prejuízo. Evidentemente, é possível que o banco venha a voltar a cotar nesses valores e até a superá-los, pelo que o problema principal nem é a chatice de amolarmos por ora com uma perda (embora esse seja um problema bastante aborrecido, até porque o buraco pode crescer); o problema principal é o custo de oportunidade que o dinheiro empatado num estraga-fodas sempre acarreta. Vivemos em dois dias e é sempre má ideia estragar, nem que seja uma nesga de tempo, com material avariado! Claro que para reconhecer que erramos é preciso ter uma bitola que nos permita identificar o erro. É aqui que entra a análise técnica: quando se compra é preciso perceber por que motivo o estamos a fazer naquele momento e não noutro, e que condição nos levará a vender custe o que custar! Na prática há sempre um rácio ganho/risco que é necessário avaliar e temos que ser intransigentes no momento em que o nosso rácio deixar de ser favorável. Num bull market isto é muito fácil de fazer e não levanta problemas de maior, mas quando estamos em maré bear muitas vezes erramos ao assumir um erro que afinal era só aparente: é principalmente por causa disto que muitos profissionais lerpam à grande em bear markets: andam sempre a mudar de curto para longo e vice-versa, a torrar cacau como se fossem fabricantes de chocolate.


Dou-vos um exemplo que creio vir a talhe-de-foice. Depois desta análise do João ao Banif vimo-lo a ir uma segunda vez ao mínimo de 0,0036€ e aceitamos que poderia haver compradores interessados em comprar uma espécie de duplo fundo (my God!). Fomos a ele nos 0,0038€ (erro, porque o João tinha falado e bem na quebra dos 0,0041€), mas estipulamos que um novo toque nos 0,0036€ era a nossa deixa para entregar a pasta a outro. Não foi mais tarde do que o dia seguinte e ainda tivemos a sorte de haver uma alma bondosa que acudiu nos 0,0037€ (não lhe conhecemos a estampa, mas na Bolsa temos que ser uns pelos outros: rezo, com genuflexão, para que não tenha encaixado um prejuízo muito grande!). Da parte que nos toca, não foi agradável queimar numas horas grande parte do graveto que o patrão generoso nos passa para as mãos num mês, mas bem vistas as coisas, evitou-se o pior... Claro que podíamos ter assumido o erro e afinal não era erro nenhum e ele tinha mesmo ido por aí acima e subido em flecha e... é a isto que se chama risco e os negócios são coisas arriscadas, seja na Bolsa, seja em outra arte qualquer!

Agora leiam o que vos quero dizer sobre este início de ano (não é muito!). 

Neste momento, não estou otimista nem pessimista porque, como sempre, há diversos motivos para comprar e outros tantos para vender: daí nunca faltarem os negócios. Em geral, inclino-me para achar que estamos naquela época do ano em que é mais fácil haver subidas (reconstrução das carteiras dos fundos, entradas de investidores que gostam de fazer apostas anuais, etc.) do que descidas (é preciso não esquecer que também há quem se posicione curto). 

No PSI20, ao preço a que estamos, será de esperar por uma quebra, em fecho, e com volume, dos 5400 pontos, onde já tocou duas vezes no passado recente e disse que não. Daí para cima devemos ter 3% de subida até à EMA200 e depois é provável que o momentum próprio dos inícios de ano se encarregue de não nos dar motivos para vender. Se vier para baixo, vamos ver se reentra no canal: se o fizer, vamos aguardar por ele cá em baixo perto dos 4900 pontos. 


Um bom ano para todos, com muitos bons negócios e poucos erros para assumir!