Quem acompanha o blogue e segue a carteira que vamos disponibilizando no painel lateral pôde verificar que passamos a semana toda a liquidar posições em empresas de que nos enchemos de dizer bem e acerca das quais muito francamente não mudamos nem um milímetro de opinião. Mas é esta a nossa maneira de estar nos mercados pelo menos desde que, tenros chavalos, levamos em cima com o tremendo bear market do ano 2000 e transformamos uma carteira cheia de panache num destroço catastrófico, que nos obrigou a trabalhos forçados e horas extra, só porque enfiamos na cabeça que o sell off de março desse ano não passaria de mais uma reles correção técnica. O facto de só voltarmos a ter um bocado de paz de espírito ao fim de um ano e meio de pancada tresloucada quando vendemos Pararede com uma desvalorização de 80% deixou-nos escarmenta para a vida e prometemos a nós próprios nunca mais passar por semelhante refrega, nem que em causa estivesse a vida eterna com direito a bar aberto! There is no love in the markets, my friends!
De maneira que prestes desmontamos a tenda (ficamos com a Cofina porque não encontramos quem nos acolhesse a carga sem parecer mal) e agora estamos frescos que nem alfaces verdinhas...
...para voltar ao ringue e assentar mais uma murraças valentes na tromba do ursalhadas! Podemos ter que comprar mais caro, mas ontem fomos ao cinema ver o belo filme com o Daniel Day Lewis, papamos uma dose de sushi, fizemos mais coisas e dormimos que nem anjos, e hoje até o cesto do SLB nos caiu que nem ginjas. Não há dinheiro que pague esta sensação boa de estar fora do mercado quando o touro sofre e ainda por cima termos feito um mês de janeiro que deu para as despesas e ainda sobrou. Como diz o lema desta humilde taberna, não foi perfeito, nem completo, mas também não tinha que ser. Nunca seria, amigos, nunca seria!
O que me fez vender foram duas coisas em essência:
- Em primeiro lugar, o DAX falhou a quebra quando toda a gente estava a pensar que iria para máximos históricos e imediatamente deixou no ar a sensação de que se pôs a jeito para um duplo topo. Não há nada de especial nisto, só o mercado a funcionar: não temos que pensar se há motivos, se os números da economia aconselham tamanho chavascal, se as palavras do Draghi foram assim ou assado, etc. Não temos que nos pôr com teoria absolutamente nenhuma a não ser esta: falhou a ida a máximo, abriu a hipótese de duplo topo, cenário que levaria a uma correção que podia não ser meiga e que, diga-se em abono da verdade, pode ter sido ativado no fecho de sexta-feira e pode ser confirmado na segunda-feira. Só isso. Incoerência quando se estava tão lampeiro? Nada disso, a não ser que vivam no paraíso celeste. Cá neste mundo chama-se "vida" e a vida é assim: volátil, como nós gostamos. Ora confiram:
É cedo para nos pormos com cenários catastrofistas, até porque é possível que haja ali um ressalto que inverta tudo naquela linha lilás, que é a EMA200, abaixo da qual o DAX não fecha desde julho de 2016. Nesse caso, podemos ter um retomar da tourada e siga para bingo! Se não... fodeu!
- O segundo tiro no porta aviões veio da América. Os EUA inventaram o produto mais bem sucedido de todos os tempos e que lhes fizeram a riqueza. Refiro-me ao dólar americano, esses pedaços de papel verduscos que quase toda a alma deste mundo deseja ter ao ponto de os EUA as imprimirem praticamente em quantidades ilimitadas. Foi o USD que fez a riqueza da América e não a riqueza da América que deu a credibilidade ao USD. Isso, a abundância e a vastidão do solo, as místicas dos pais fundadores e do american dream e, claro, a imigração. A dada altura, por volta da década de 50 do século passado, os americanos sentiram-se tão mal com a confiança cega que o USD granjeara que resolveram estampar nas notas o célebre lema "In God we trust". Dito de outra forma, pensou o tio Sam, nós podemos ser uns grandessíssimos aldrabões e esta tira de papel não estar muito mais do que à altura do suporte da retrete, mas o bom God lá nos céus vos há de fazer justiça e nele podeis confiar (porque o diabo da nota feita por nós expressamente o diz). Enfim, a história do dólar é a história da inteligência e do engenho e sobre isso... eu também quero. O que se segue é que o 10 year yield americano tem vindo a subir com consistência nos mercados desde pelo menos os últimos 6 meses e desde o início do ano a coisa agravou-se e agora o mercado prepara-se para exigir 3% para manter a impressora oleada.
Com a credibilidade espantosa que o presidente americano granjeou por esse mundo fora, com a política de imigração que os EUA se preparam para seguir (é preciso não esquecer que a força inovadora da América vem em grande medida dos imigrantes - oiçam estas palavras do físico Michio Kaku):
...e com os red neck a pedirem dinheiro para reduzir os impostos aos ricos e para fazer estradas, rotundas e muros, pode ser que se comece a desconfiar do dólar e a pensar que é melhor emprestar aos tugas (piada)! Evidentemente, o mercado está-se a marimbar para a yield (bem, alguns talvez estejam preocupados!), mas simplesmente estava a precisar de algum motivo para desopilar. Estava demasiado esticado e aquela vela despropositada do dia 26 de janeiro foi mesmo o toque de cornetim para o fogo de cobertura.
Agora vamos já diretos para bear market? Há espertos que afirmam solenemente que se a yield quebrar os 3% o mercado pega fogo e o touro quina:
Que gente drástica, senhor! Eu, pela parte que me toca, só queria arranjar quem mas entregasse mais barato para voltar ao bailarico que estava tão gostoso. Não creio, portanto, que seja motivo para basket case...
...mas no caso do S&P, que é a meu ver o índice mais importante, o caso vejo-o assim:
Pelo sim e pelo não, fiquem de olho nas yields americanas e não se preocupem: eu amanhã, se estiver para aí virado, venho aqui dizer-vos como vamos fazer para arrasar com isto tudo. Vai tudo pelo ar!
Uma mistura de AF e AT bem conseguida :) Parabéns A resposta de 1 milhão é se é mais um dip para comprar ou o inicio de uma inversão.
ResponderEliminarJulgo que a resposta será dada na próxima semana! Bom domingo!
ResponderEliminarFantástico artigo e análise! Muito bem escrito, o humor só confirma a seriedade da análise! Parabéns.
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