15.2.18

Quatro dimensões (parte 4)

A notícia da estranha morte futura do Tavares contada por ele próprio abalou-nos a todos um par de horas ou coisa que o valha, mas os desejos de saber mais sobre o futuro eram tão grandes que rapidamente toda a gente passou uma esponja sobre o assunto e decidimos seguir em frente.

Demais a mais, ao nosso amigo soltou-se-lhe o medo, quer dizer se te hão de fazer o funeral de qualquer das formas para que estás tu a matutar e hesitas? É aproveitar a vida enquanto podemos e eu e os outros não podíamos estar mais de acordo. 

Uns dias mais tarde, o nosso amigo veio ter connosco e lançou-nos a bomba que ninguém esperava, meus caros, disse ele solenemente, exorbitei e estive trinta milhões de anos no futuro, e não estive lá um dia ou dois mas muito tempo, e até vos passais se vos contar em que sentido tudo isto vai evoluir. 

É verdade que a Terra existe há cinco mil milhões de anos e os animais para aí há seiscentos milhões, pelo menos foi a conversa que, tanto quanto me lembro, nos quiseram impingir na aula de ciências e é certo que os dinossáurios nos deixaram para sempre há 65 milhões de anos porque o Tavares esteve lá e assistiu na primeira fila aos acontecimentos, mas os números são tão ões que ninguém está preparado para os pesar com um pouco de senso, de maneira que quando tu pensas em viajar para o futuro, bem, estás a contar com uma viagem de um ou dois séculos quando muito, se estiveres suficientemente passado dos carretos mil anos, mas ninguém se preparou para viajar para o futuro trinta milhões de primaveras. É simplesmente um número grande de mais para caber no nosso cérebro. 

É uma questão de pura exiguidade de espaço. 

Portanto, foi perfeitamente normal que durante algum tempo nenhum de nós se tenha atrevido a soltar uma palavra que fosse de tão aturdidos ficamos. O Tavares desfrutou com prazer de cada segundo que passou em que olhava para as nossas caras de palermas a quem tinham acabado de contar a coisa mais estrambólica que era possível imaginar e via-se que aquilo lhe dava, como é natural, um gozo formidável.

to be continued...

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