De certa forma, o que mais me agradava no
dispositivo do Tavares era a total liberdade de nos podermos mover a quatro
dimensões, como se esse pequeno extra fosse o tónico que incrementava a
qualidade de vida a níveis celestiais.
E eu punha-me a refletir sobre toda esta
problemática enquanto ouvíamos o Tavares contar-nos como lhe vieram umas ganas
enormes de ver o futuro.
Repara, tu vais ao passado e, tipo, é deveras fixola
constatar como as coisas eram e é sempre surpreendente ver como tudo é
diferente do que tinhas imaginado, explica-nos ele, quer dizer estás a ver
Jesus Cristo por exemplo, bem Jesus não tinha nada barba, de facto era careca e
um bocado anão o que bem vistas as coisas é praticamente inacreditável tendo em
linha de conta que se tratava de um judeu, mas tinha um carisma mesmo porreiro
e, como não tínhamos mais que fazer, andávamos todos atrás dele e tudo, mas
aquela cena com Lázaro, bem, tenho a certeza que vocês até se passavam se
percebessem quão marada toda aquela cena tinha sido.
E sabem que mais, vejam lá
se engolem esta, estão a ver o D. Afonso Henriques em cima do cavalo armado até
aos dentes e tão possante quanto um conquistador deve ser? O Tavares esteve em Guimarães
no século XII e inteirou-se de toda a história: o nosso primeiro rei era afinal
uma dona de casa muito feia e com bigode na venta, chamada Idalina, que
enfardava todos os dias do bêbado do marido até que uma altura lhe chegou a
mostarda ao nariz e levou tudo à frente. O que se seguiu também levou muita
volta, mas está bom de ver que a história peca por falta de estilo e não há
país nenhum no mundo que queira nascer dessa forma. Foi em boa hora, portanto,
que apareceu toda aquela descendência da sor dona Mumadona Dias a compor o
cenário.
Mas a máquina do tempo, lá está, nisso não engana… Bem, o que eu quero
dizer é que ir ao passado dá um gozo bestial, mas não há nada que se compare a
uma boa rusga ao futuro. Em matéria de viagens no tempo, vão por mim, viajar
para o futuro tem para aí o triplo do valor de viajar para o passado. E estou a
avaliar por baixo!
Viajar para o futuro é capaz de ser historicamente a coisa
mais espetacular que se pode fazer e é considerada uma arte ao nível, sei lá,
da pedra filosofal ou do elixir da eterna juventude ou uma coisa assim desse
género de coisas maradas para caraças.
O Tavares explicou-nos que ao princípio
tinha muito medo de viajar para o futuro porque vamos supor que acabamos numa
época em que já estamos mortos, ou coisa que o valha, será que não vamos dar
dentro de um caixão ou, sei lá, acabar no interior de um cinerário e
transformados em poeira?
to be continued...
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