13.2.18

Quatro dimensões (parte 2)

De certa forma, o que mais me agradava no dispositivo do Tavares era a total liberdade de nos podermos mover a quatro dimensões, como se esse pequeno extra fosse o tónico que incrementava a qualidade de vida a níveis celestiais. 

E eu punha-me a refletir sobre toda esta problemática enquanto ouvíamos o Tavares contar-nos como lhe vieram umas ganas enormes de ver o futuro. 

Repara, tu vais ao passado e, tipo, é deveras fixola constatar como as coisas eram e é sempre surpreendente ver como tudo é diferente do que tinhas imaginado, explica-nos ele, quer dizer estás a ver Jesus Cristo por exemplo, bem Jesus não tinha nada barba, de facto era careca e um bocado anão o que bem vistas as coisas é praticamente inacreditável tendo em linha de conta que se tratava de um judeu, mas tinha um carisma mesmo porreiro e, como não tínhamos mais que fazer, andávamos todos atrás dele e tudo, mas aquela cena com Lázaro, bem, tenho a certeza que vocês até se passavam se percebessem quão marada toda aquela cena tinha sido. 

E sabem que mais, vejam lá se engolem esta, estão a ver o D. Afonso Henriques em cima do cavalo armado até aos dentes e tão possante quanto um conquistador deve ser? O Tavares esteve em Guimarães no século XII e inteirou-se de toda a história: o nosso primeiro rei era afinal uma dona de casa muito feia e com bigode na venta, chamada Idalina, que enfardava todos os dias do bêbado do marido até que uma altura lhe chegou a mostarda ao nariz e levou tudo à frente. O que se seguiu também levou muita volta, mas está bom de ver que a história peca por falta de estilo e não há país nenhum no mundo que queira nascer dessa forma. Foi em boa hora, portanto, que apareceu toda aquela descendência da sor dona Mumadona Dias a compor o cenário. 

Mas a máquina do tempo, lá está, nisso não engana… Bem, o que eu quero dizer é que ir ao passado dá um gozo bestial, mas não há nada que se compare a uma boa rusga ao futuro. Em matéria de viagens no tempo, vão por mim, viajar para o futuro tem para aí o triplo do valor de viajar para o passado. E estou a avaliar por baixo! 

Viajar para o futuro é capaz de ser historicamente a coisa mais espetacular que se pode fazer e é considerada uma arte ao nível, sei lá, da pedra filosofal ou do elixir da eterna juventude ou uma coisa assim desse género de coisas maradas para caraças. 

O Tavares explicou-nos que ao princípio tinha muito medo de viajar para o futuro porque vamos supor que acabamos numa época em que já estamos mortos, ou coisa que o valha, será que não vamos dar dentro de um caixão ou, sei lá, acabar no interior de um cinerário e transformados em poeira?

to be continued...

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