Mas um dia acabaram as velas, bem,
a verdade é que não acabaram apenas as nossas velas, mas todas as velas do mundo,
e como já não se fabricavam velas porque a máquina que as fabricava não tinha
luz para funcionar, acabamos por ter de amolar com a escuridão. Para ser
franco, a história das velas até nem teve grande importância porque mesmo que o
estoque não se tivesse esgotado, a verdade é que não nos iam servir para nada,
a não ser talvez para atirarmos uns aos outros como se fossem petardos ou
coisas assim, porque se nos acabaram os fósforos.
Aliás, não foram só os fósforos
que acabaram e não se puderam fazer mais porque não veio a luz, mas onde nós
verdadeiramente nos tramamos a sério foi quando demos cabo da última chispa de lume,
o que, vejam bem, é uma infelicidade bastante grande porque, em primeiro lugar,
ninguém no seu perfeito juízo imagina que a humanidade inteira possa ser tão
passada dos carretos que se chegue ao ponto de deixar esgotar o lume, e, em segundo
lugar, parece que para fazer lume não é preciso ter luz, pelo menos é o que dizem
os entendidos, embora eu não acredite mesmo nada, mas a verdade é que uma coisa
veio a dar na outra e, desde aí, entramos num buraco que parece não ter fundo e
tem um aspeto tão negro que só nos apetece fugir. Mas para onde?
to be continued...
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