27.2.18

O apagão (parte 1)

Um dia falhou a luz e nunca mais veio.

Claro que continuamos a ter o Sol para nos iluminar e aquecer, (também era excessivo que agora o Sol se nos finasse!), mas a verdade é que ninguém está preparado para viver como faziam dantes os cabeludos das cavernas, pasmados com o brilho do Sol. Em certo sentido, foi quase como se nós fôssemos prisioneiros de catacumbas que voltassem de repente cá para fora. Lógico que íamos achar o fornecimento de luz pelo Sol bestial e bastante aceitável, e tenho a certeza absoluta de que o justo seria que não tivéssemos nada a reclamar, muito pelo contrário, tínhamos tudo a agradecer por aquele brilho todo, mas nós não éramos abestuntas nem bandidos, de maneira de que quando a luz, a elétrica, bem entendido, se foi e já não veio, era natural que nos sentíssemos deslavados e traídos. E é aí que tu te dás conta da falta que o Sol faz de noite, quando ele vai sabe-se lá para onde, e nós ficamos para cá numa escuridão que nem vos passa pela cabeça.

Claro que ao princípio até nem nos arranjamos mal porque havia por aí umas velas que davam uma luzinha muito decente e, embora ficássemos um bocadinho ridículos à luz da velinha a tremeluzir, ninguém se queixava, a não ser quando nos pelávamos todos ou alguém deitava fogo a uma casa e tínhamos de ir a correr, a acarretar baldes de água ou pás de areia, e aquilo tinha dias em que chegava a ser uma galhofa pegada e quase nem sentíamos a falta dos nossos computadores e das redes sociais.

to be continued...  

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