Nada do que aconteceu é surpreendente, nem pela dimensão nem pelo curto espaço de tempo. Evidentemente, não estamos a dizer isto porque o tivéssemos adivinhado porque não adivinhamos (ainda que rapidamente nos tivéssemos apercebido de que algo não estava bem), mas sim para enfatizar que não há nada de extraordinário na forma como tanta gente decidiu vender de uma só vez! O mercado, de forma particular o mercado americano (aquele que verdadeiramente conta), estava a subir de forma contínua há meses a fio e a correção que se deu até agora colocou-nos apenas aos níveis de finais de novembro do ano passado. Só quem entrou nos últimos dois meses é que neste momento já estará com prejuízos pelo que ainda há muitos com bons lucros e que poderão sair entretanto, se o pânico se acentuar! Aliás, olhando para o gráfico do S&P500, da forma como nós estamos a ver as coisas, ainda há margem para descidas sem fazer perigar o bull market. Não estamos a dizer que vá acontecer (talvez a EMA200 - linha lilás - consiga mesmo segurar, como fez na sexta-feira), mas uma descida rápida até à zona dos 2200 pontos (quase 25% desde máximos) seria um tónico para o tourito e não beliscaria o andamento da economia, pelo que poderia até reforçar o crescimento económico. Da nossa linha vermelha para baixo, ou se a descida se prolongar no tempo, julgo que não tardaremos a ver números muito fracos a vir da indústria, da inflação e alertas dos bancos centrais que consolidarão a inversão de ciclo económico com a consequente virada para bear market.
- Mas muito do que aconteceu esta semana teve, de facto, um lado inovador e que nos faz pensar neste texto que escrevemos em novembro, na parte em que nos referimos à inteligência artificial. É verdade que os crashes se dão por definição em bull market e quando tudo parece estar bem e nada poderá correr mal. E também é verdade que os movimentos costumam ser assim, violentos e num ambiente de quase pânico. Mas a tremenda volatilidade a que tivemos oportunidade de assistir esta semana é demasiado artificial, quase destituída de emoção. O ser humano não costuma passar do medo e do pânico à ganância absoluta em questão de minutos, mas no mínimo de um dia para o dia seguinte. Nos anteriores momentos de pânico na bolsa, tínhamos dias de quedas fortes a que se seguiam dias de subidas, mas raramente havia quedas violentas numa hora para dar lugar a subidas vertiginosas na hora seguinte e depois fechos completamente em queda livre. O que isto nos confirma é que o mercado (e por inerência o próprio mundo) é de facto comandado agora por entidades destituídas de emoção e que agem puramente de forma racional (pelo menos da forma racional para que foram programados). A minha dúvida é saber se é possível aprender de maneira a ser-se cada vez mais eficaz num mercado que funciona de forma muitas vezes tão imprevisível (aparentemente é, porque há humanos que sozinhos conseguem ter consistentemente ganhos fabulosos) e se estes computadores que hoje existem já estão a aprender com este tipo de situações. Como fica um mercado em que computadores destituídos de emoção aprendem em cada segundo a tornarem-se mais eficientes no mercado?; como fica um mercado em que todos estes computadores estão a lutar uns com os outros?; como fica a economia, o emprego e a vida de cada um de nós?; e como devemos agir nós, seres emotivos, muitas vezes irracionais, no meio disto tudo? Em última instância, fica-se com a ideia de que, se o mercado já era uma selva, então o número de predadores está decididamente a aumentar!
- Por último, há uma lição que eu julgo que vale a pena reforçar. O mercado é demasiado complicado para que nós o compliquemos ainda mais. Não vale a pena inventar, nem diversificar em demasia. Na realidade, só há uma regra: se der para torto, há que estar fora o mais depressa possível, se der para subir há que estar dentro com tudo! Identificar os momentos em que isto acontece exige atenção e flexibilidade mental; exige perceber que nunca conheceremos antecipadamente o futuro, pelo que, na dúvida, contamos com o pior; e exige conhecer muito bem aquilo em que estamos metidos, de maneira a sermos surpreendidos no menor número de vezes possível. E é importante nunca perdermos de vista que só ganhamos no momento em que vendemos (nunca quando compramos) e entre perder um ganho e ganhar uma perda é importante preferir o primeiro. Parece uma lição de moral, mas não é! Vender é o nosso verbo mais importante e vender bem implica deixar correr os lucros, mas também evitar (ou minimizar) os prejuízos!
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