1.5.14

Os russos

Os russos são conhecidos por beberem muita vodka, mas também por serem ótimos jogadores de xadrez. No caso ucraniano, Putin, que em sentido tático nada perde para o seu inimigo político e ex-campeão Garry Kasparov, encaminha-se a passos largos para o xeque-mate.

Desde o início do conflito que a jogada russa passava por explorar o facto de a Ucrânia ser, em termos de nação, um caso falhado. Com um povo tradicionalmente dividido entre aquilo a que chamaríamos de verdadeiros ucranianos, mais ocidentalizado (até porque ocupa a região mais ocidental do país) e que olha com gosto para a organização e estilo de vida proposto pela UE, e a enorme comunidade russa ou pró-russa que odeia a Alemanha (ainda por causa dos nazis) e está disposta a abdicar da independência e voltar à mãe Rússia, a Ucrânia é um belíssimo alvo para a típica jogada de sabotagem política que vem nos livros desde pelo menos os tempos de Júlio César (ver "A guerra das Gálias").

A aposta de Putin é criar uma tensão que coloque os verdadeiros ucranianos na contingência de terem de pegar em armas para defender o país. Se os manuais de estratégia estiverem corretos, chegará a altura em que se colocará a questão de saber se efetivamente valerá a pena partir para uma guerra civil com o objetivo de obrigar os pró-russos a ocidentalizar-se, com todos os perigos e destruição que tal opção vai implicar, ou se, pura e simplesmente, fará mais sentido negociar uma secessão do leste que liberte a parte ocidental para se aproximar do ocidente. Putin acredita que, no final, os ucranianos vão optar pela segunda alternativa, até porque a mobilização de tropas ucraniana parece ser tudo menos entusiástica e a colossal dívida ucraniana coloca uma pressão adicional para se tomarem decisões apressadas.

Resta saber como é que o ocidente e, em particular, os EUA vão reagir a uma vitória tão retumbante da Rússia e de que forma se vão reequilibrar as forças nos mercados mundiais. A avaliar pelo que se passou na Crimeia, a aposta numa reação puramente no campo económico-financeiro, apesar de fazer mossa, parece em nada beliscar as intenções russas. Veremos o que se segue.

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