4.5.14

O que devo saber antes de Negociar em Bolsa.

Facto nº 1:

Na bolsa negoceiam-se, em tempo real, títulos que têm por base variadíssimos ativos, sendo o preço ditado exclusivamente pela Lei da Oferta e da Procura.

Facto nº 2:

Os títulos negociados podem ser participações em empresas (ações), cabazes de ações (fundos, ETF's, etc.), direitos sobre empréstimos (obrigações), mercadorias (metais, petróleo, gás, cereais, etc.), ou derivados, como warrants, opções, CFD's, etc.

Facto nº 3:

Os produtos que se compram na Bolsa não têm qualquer utilidade para o comprador (mesmo que se tratem de mercadorias). Em vez disso, quem compra espera que, no futuro, possa vender os produtos mais caros, realizando uma mais-valia. Daí tratar-se de investimento.

Facto nº 4:

Na Bolsa há permanentemente compradores e vendedores: quando alguém compra, alguém vende e vice-versa. Tal como acontece na Natureza com a matéria e a energia, nada se cria, nada se destrói, tudo se... troca. Quem compra acha que o preço vai subir e vai poder vender mais caro; quem vende, acredita que o preço descerá, e poderá vir a comprar mais barato.

Facto nº 5:

Quem estiver na Bolsa a jogar ou a fazer apostas está no sítio errado. Seria a mesma coisa que jogar com a compra de uma casa ou de barras de ouro. Compramos ou vendemos porque temos uma certa expetativa, mediante a informação de que dispomos e as condições do mercado.

Facto nº 6:

Na Bolsa confrontam-se em permanência dois dos sentimentos mais primitivos do ser-humano: o medo e a ganância. Por vezes, o medo torna-se extremo e irracional e ocorre um crash; noutras alturas, a ganância exorbita e surge uma bolha especulativa. Na maior parte do tempo, o sucesso depende de sabermos dosear na justa medida esses dois ingredientes do nosso comportamento.

Facto nº 7:

Para Negociar em Bolsa não é necessário nenhum conhecimento especial, não temos que tirar um curso superior, não faz falta ser genial, ser musculado, bonito, ou talentoso. Também não temos que ser ricos. Tudo o que precisamos é de uma conta bancária com saldo positivo e uma ligação à net.

Facto nº 8:

A Bolsa é um negócio: compras e vendes. Às vezes as coisas correm de feição e tudo se passa como previmos; outras vezes nem tanto e rapidamente percebemos que fizemos asneira. No primeiro caso é um regalo; no segundo fizemos um galo. Tudo normal. No dia seguinte a Bolsa volta a funcionar!

Facto nº 9:

Abstém-te de Negociar em Bolsa se não estiveres preparado para perder dinheiro. Mas se fores artolas ao ponto de te dares ao luxo de perder mais de 20% do capital de que dispões, opta antes pelo casino, pelas apostas desportivas ou por um esquema Ponzi. Sempre dá menos trabalho e ao menos escafedes de uma só vez.

Facto nº 10:

Estamos sempre à espera de só haver boas notícias para comprar, ou então que o caldo esteja entornado de todo para ser certo que devemos vender. Mas isso nunca acontece. Na Bolsa, como na vida, nunca tudo é bom e jamais tudo será mau. No final, haverá tantos motivos válidos para comprar como para vender. É por isso que nunca faltarão compradores nem vendedores.

Facto nº 11:

O mercado segue tendências. Há períodos de tempo em que a tendência predominante é de subida, a que se seguem outras épocas em que enfrentamos uma tendência clara de queda. E, assim, sucessivamente, antecipando sempre os ciclos económicos. Na maior parte das vezes, torna-se relativamente fácil ganhar dinheiro na Bolsa, seguindo apenas a tendência.

Facto nº 12:

Os americanos, que com estas coisas dos mercados não costumam brincar, batizaram as tendências com duas designações que todo o investidor conhece desde o berço: à tendência altista chamaram BULL market, enquanto que a tendência baixista corresponde a um BEAR market.


Facto nº 13:

O touro simboliza um mercado que sobe porque, como todo o forcado sabe, aparte de se tratar de um animal um tanto ou quanto vesgo e destituído de tino, tem o hábito de atacar de baixo para cima, levantando tudo pelo ar. Já do urso diz-se que adquiriu o insensato costume de levantar as patas dianteiras antes de as fazer desabar sobre as suas vítimas, nocauteando-as sem que tirem o pé do chão.

Facto nº 14:

Por isso, já sabem, se acreditarem que o mercado vai subir e, consequentemente, estiverem compradores então, na gíria bolsista, estarão BULLISH; se, por outro lado, o cagaço vos inquinou e acham que a coisa vai para baixo, então, diremos que estão a passar pela chamada fase BEARISH. No fundo, é como se a bolsa fosse um misto de praça de toiros e coliseu romano na época áurea. Ou uma selva. Sintam-se a vontade para escolher!

Facto nº 15:

O problema na Bolsa não é comprar! Comprar é fácil: entram no site do vosso banco, selecionam o produto da vossa eleição, dizem quanto querem investir, e são dois cliques (um para dizer que sim e outro para dizer que sim outra vez, para que não restem dúvidas). Em menos de 2 segundos, tornam-se nos orgulhosos proprietários de um lote de coisas que não servem para nada nem têm qualquer suporte físico. No fundo, compram uma dor de barriga e uma aceleradelas boas no músculo cardíaco. 

O verdadeiro problema é vender. Quando devo vender? Se subir e ganhar uns cobres vendo logo ou torno-me ganancioso? E se vender e elas continuarem a subir?! Se descer, aguento firme ou vendo a perder? E se aguentar o tranco e o meu lote continuar a desvalorizar, que faço? E se a coisa chegar ao ponto de estar a perder tipo o dinheiro das férias ou vários ordenados, quem vou eu culpar? E se começar a acordar ao meio da noite com suores frios e a delirar com notas de euro a arder numa pira fumegante? E se, finalmente, decidir assumir a perda e entregar o lote de cangalhos a outro que cuide dele... e, de repente, aquela m*r*a começar a subir,... e subir,... e subir, sem parar?!

Tramado, não é?!

É bom saber que é assim antes de nos mandarmos de cabeça. É que há quem, pura e simplesmente, não esteja para aturar este tipo de biscate. Afinal de contas, o dinheiro não paga tudo!

Facto nº 16:

A Bolsa é um jogo de soma positiva. 

Em jogos como o poker ou o blackjack, nas apostas desportivas ou em outros jogos de sorte ou azar, na maior parte dos casos não há criação de riqueza: o que um ganha resultou das perdas de outros subtraído da comissão da casa. Excetuam-se, por exemplo, os jogos de poker em que há transmissões televisivas que pagam direitos, mas, na maior parte dos casos, estamos em presença de jogos de soma nula.

Na Bolsa para que alguém ganhe não é necessário que outros percam, porque há efetiva criação de riqueza. Quando compramos ações de uma dada empresa, por exemplo, estamos a depositar confiança no trabalho dos funcionários dessa empresa: acreditamos que os produtos que vão produzir terão sucesso e vão ser vendidos de uma forma que gerará riqueza que será traduzida em lucros.

Embora possam existir ineficiência de curto/médio prazo (que geram ótimas oportunidades de investimento) no longo prazo as cotações das empresas sobem de uma forma que acompanha a geração de riqueza por parte da empresa (e, como é evidente, descem se a empresa estiver a destruir riqueza).

É por este motivo que a Bolsa, mais do que um jogo, se considera um investimento. No fundo, a tarefa do trader não é fazer uma aposta, mas antes identificar as empresas que poderão gerar mais riqueza no futuro.

Facto nº 17:

Mas, afinal de contas, por que motivo é que as pessoas compram ações e estas valorizam ou desvalorizam?

A resposta é muito simples: porque aos tornarmo-nos acionistas de uma empresa temos direito a uma percentagem do lucro dessa empresa sob a forma de dividendos.

Imaginem a empresa Negociarembolsa que tem um negócio que gera lucros de 1€ por cada ação. Se possuírem uma ação dessa empresa têm direito a receber esse dividendo todos os anos e, ainda por cima, podem vender a ação quando quiserem, transformando esse bem em liquidez (dinheiro vivo). Quanto valeria para vós essa ação? Cinco euros? Dez euros? Pois bem, o valor da ação em Bolsa é aquilo que o mercado, constituído por todas as pessoas e entidades que, por um motivo ou outro têm interesse na empresa, acha que a ação efetivamente vale.

No fundo, investir na Bolsa é como comprar um apartamento para alugar e receber uma renda (claro que as semelhanças se esgotam na ligação dividendo/renda; tudo o resto são diferença de que falaremos mais tarde).

Agora imaginem que o negócio da Negociarembolsa vai de vento em popa e existe a expetativa de que os dividendos possam subir para 2€ no próximo ano. O que acham que vai acontecer à cotação das ações. É isso, adivinharam: vai subir!

Facto nº 18

Buy high, sell higher.

Ao contrário do que se passa nas situações do dia-a-dia, em que o ideal é sempre comprar barato e vender caro, na Bolsa essa perceção pode ser alterada.

Devido à persistência das tendências de valorização ou desvalorização das ações, nem sempre comprar ações mais baratas é mais seguro do que comprar ações mais caras.


Tomemos por exemplo o caso do banco BCP na bolsa portuguesa. Há pouco mais de dois anos atrás cotava a 12 cêntimos por ação, mas vinha numa tendência descendente que tinha tirado 70% ao valor das ações em cerca de um ano. Num ano, o banco tornara-se 70% mais barato o que parecia indiciar que seria uma pechincha. Mas, em Bolsa, há sempre motivos para tamanha tendência descendente que tornam um trade desse tipo bastante arriscado. Entretanto, o BCP viria a cair outros tristonhos 60% até aos 5 cêntimos! Até que, no final de novembro de 2013 deu finalmente sinal de compra, ao quebrar para cima os 12 cêntimos, colocando-se no caminho ascendente. Entre os 5 e os doze cêntimos subiu 140% (o que é uma valorização magnífica), mas o risco de um trade negativo era substancialmente superior a uma compra a um valor acima dos 0,12€. E, afinal de contas, com o banco atualmente nos 0,22€, uma valorização de 83% em 5 meses, não se pode dizer que tivesse sido mau!   

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