A lição da semana que passou
A maior inimiga do investidor nos
mercados financeiros é a dúvida. Quem compra nunca tem certezas, mas assume como
muito provável a valorização do capital investido. Se a dúvida surge e a
probabilidade se inverte tem que vender. E não deve ter contemplações, estados
de alma ou receios por assumir perdas. De facto, a
Bolsa não é um campeonato para ver quem é mais esperto e acerta mais vezes. Todos
nós, que andamos nisto há já algum tempo, fartamo-nos de errar (como até já se
devem ter apercebido com a leitura de alguns dos posts que foram saindo) e lidamos com esse facto com o fair play que a realidade nos impõe. O
número de vitórias e de derrotas é perfeitamente irrelevante. O que é relevante
é que o valor das mais-valias vá sendo superior ao valor das menos-valias. É
esse o objetivo e é fundamental que não o percamos de vista, porque se assim
não for, então, este não é um ramo em que devamos exercer.
É evidente que, dito assim, até
parece fácil, mas todos sabemos como a realidade é bastante mais complicada porque,
muitas vezes, pensamos que está tudo bem e há otimismo porque o mercado sobe,
depois já achamos que está tudo mal porque há notícias que saem ou movimentos
mais bruscos de descida que espoletam o pessimismo, para em seguida voltar a
estar tudo bem e, assim sucessivamente… ao longo de um só dia. Na maior parte das ocasiões, trata-se do ruído natural do mercado, de que nos
devemos abstrair porque em nada põe em causa o nosso julgamento inicial. Para
nós, que não dedicamos o nosso tempo exclusivamente aos mercados, diríamos que,
salvo raras exceções, bastará avaliar a abertura e o fecho das sessões, em
busca de sinais técnicos, e estar atento apenas às notícias mais relevantes.
Nesta linha de raciocínio, a semana que hoje termina acabou
por ser particularmente rica em ensinamentos para o futuro, por exemplo, graças
aos acontecimentos que envolveram a Banca.
No início da semana, o
comportamento anémico das ações do setor, com pressão vendedora dissimulada mas
permanente, deveria pôr-nos de sobreaviso (criar dúvida), porque parecia
indiciar que haveria no mercado gente com a certeza de que viria a poder
recomprar bem mais abaixo.
Na quarta-feira de manhã, antes
da abertura dos mercados, uma visita ao site
do Diário Económico dava-nos a confirmação de que o caminho seria para baixo,
com a notícia dos aumentos de capital. Se estivéssemos investidos, este era o
momento decisivo: era preciso vender, custasse o que custasse e fazê-lo
rapidamente, se possível na abertura. No caso do BCP, por exemplo, a quebra com
volume dos 0,19€ deveria ser a confirmação de que a tendência, pelo menos no
curtíssimo prazo, era de descida.
Mas a venda deveria ter logo
traçado um valor para a recompra: os 0,16€. Mesmo sem saber se a cotação lá
chegaria (afinal de contas, dos 0,20 aos 0,16 são 20% de desvalorização), esse
era um valor evidente, porque da última vez que a cotação lá foi em baixa, teve
uma reação explosiva de mais de 10% num só dia, criando um suporte muito fiável (ver gráfico).
Claro que as notícias, na chegada
aos 0,16€ continuavam a ser más, com a confirmação do AC do BES, e nada parecia
indicar que teríamos o tal ressalto. Mas essa é a beleza da Bolsa: por muito
mal que as coisas estejam num dado momento, é sempre possível que a situação se
inverta ao ponto de justificar uma compra. Aliás, é quando o pessimismo
exorbita que se fazem as melhores compras.
E lá veio o tal ressalto. E quem
vendeu a 0,19€ e comprou na zona dos 0,16€ não só poupou 16% à carteira, como já
está a lucrar 12%. Incrível, não é?!
Entretanto, no início da próxima
semana (e no curtíssimo prazo) deixará de haver novidade na má notícia do AC e,
no caso do BCP, pode mesmo tornar-se dominante o sentimento de que essa solução
não está eminente, como parece transparecer da entrevista que o Nuno Amado deu
ao Dinheiro Vivo:
De maneira que poderemos ter uma
nova aproximação aos 0,19€ que, agora, passaram de suporte a resistência
(veremos se forte).
E é isto, meus amigos, a Bolsa.
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