17.5.14

A lição da semana que passou

A maior inimiga do investidor nos mercados financeiros é a dúvida. Quem compra nunca tem certezas, mas assume como muito provável a valorização do capital investido. Se a dúvida surge e a probabilidade se inverte tem que vender. E não deve ter contemplações, estados de alma ou receios por assumir perdas. De facto, a Bolsa não é um campeonato para ver quem é mais esperto e acerta mais vezes. Todos nós, que andamos nisto há já algum tempo, fartamo-nos de errar (como até já se devem ter apercebido com a leitura de alguns dos posts que foram saindo) e lidamos com esse facto com o fair play que a realidade nos impõe. O número de vitórias e de derrotas é perfeitamente irrelevante. O que é relevante é que o valor das mais-valias vá sendo superior ao valor das menos-valias. É esse o objetivo e é fundamental que não o percamos de vista, porque se assim não for, então, este não é um ramo em que devamos exercer.

É evidente que, dito assim, até parece fácil, mas todos sabemos como a realidade é bastante mais complicada porque, muitas vezes, pensamos que está tudo bem e há otimismo porque o mercado sobe, depois já achamos que está tudo mal porque há notícias que saem ou movimentos mais bruscos de descida que espoletam o pessimismo, para em seguida voltar a estar tudo bem e, assim sucessivamente… ao longo de um só dia. Na maior parte das ocasiões, trata-se do ruído natural do mercado, de que nos devemos abstrair porque em nada põe em causa o nosso julgamento inicial. Para nós, que não dedicamos o nosso tempo exclusivamente aos mercados, diríamos que, salvo raras exceções, bastará avaliar a abertura e o fecho das sessões, em busca de sinais técnicos, e estar atento apenas às notícias mais relevantes.

Nesta linha de raciocínio, a semana que hoje termina acabou por ser particularmente rica em ensinamentos para o futuro, por exemplo, graças aos acontecimentos que envolveram a Banca.

No início da semana, o comportamento anémico das ações do setor, com pressão vendedora dissimulada mas permanente, deveria pôr-nos de sobreaviso (criar dúvida), porque parecia indiciar que haveria no mercado gente com a certeza de que viria a poder recomprar bem mais abaixo.

Na quarta-feira de manhã, antes da abertura dos mercados, uma visita ao site do Diário Económico dava-nos a confirmação de que o caminho seria para baixo, com a notícia dos aumentos de capital. Se estivéssemos investidos, este era o momento decisivo: era preciso vender, custasse o que custasse e fazê-lo rapidamente, se possível na abertura. No caso do BCP, por exemplo, a quebra com volume dos 0,19€ deveria ser a confirmação de que a tendência, pelo menos no curtíssimo prazo, era de descida.

Mas a venda deveria ter logo traçado um valor para a recompra: os 0,16€. Mesmo sem saber se a cotação lá chegaria (afinal de contas, dos 0,20 aos 0,16 são 20% de desvalorização), esse era um valor evidente, porque da última vez que a cotação lá foi em baixa, teve uma reação explosiva de mais de 10% num só dia, criando um suporte muito fiável (ver gráfico).


Claro que as notícias, na chegada aos 0,16€ continuavam a ser más, com a confirmação do AC do BES, e nada parecia indicar que teríamos o tal ressalto. Mas essa é a beleza da Bolsa: por muito mal que as coisas estejam num dado momento, é sempre possível que a situação se inverta ao ponto de justificar uma compra. Aliás, é quando o pessimismo exorbita que se fazem as melhores compras.

E lá veio o tal ressalto. E quem vendeu a 0,19€ e comprou na zona dos 0,16€ não só poupou 16% à carteira, como já está a lucrar 12%. Incrível, não é?!

Entretanto, no início da próxima semana (e no curtíssimo prazo) deixará de haver novidade na má notícia do AC e, no caso do BCP, pode mesmo tornar-se dominante o sentimento de que essa solução não está eminente, como parece transparecer da entrevista que o Nuno Amado deu ao Dinheiro Vivo:


De maneira que poderemos ter uma nova aproximação aos 0,19€ que, agora, passaram de suporte a resistência (veremos se forte).

E é isto, meus amigos, a Bolsa.


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