10.5.14

Estar fora

Aqueles que, como nós, teimam afinar a sua forma de estar nos mercados, tiveram uma semana rica em ensinamentos, ainda que isso possa não se ter notado na carteira. 

E a lição deveu-se essencialmente ao BCP, honra lhe seja feita.  

Vamos então recapitular, para memória futura:

- Na segunda-feira, depois de um dia de hesitação, o BCP apresenta resultados que, genericamente, ficam acima das expetativas dos analistas (esses sábios). Toda a gente fica a salivar: os que têm ações percebem que vão poder fazer uma tainada das grandes no dia seguinte; para os que optaram por ficar de fora, a compra é certa, e o preço jamais será problema.  

- Como os primeiros querem vender caro e os segundos pagam o que for preciso, o BCP abre a bombar na terça-feira de manhã.

- É então que, como de costume, começam a nascer alguns focos de dúvida, que levam os compradores a começar a esmorecer e os vendedores a deixarem de ser esquisitos: e se os resultados no próximo trimestre já não forem tão bons?; e se a economia inverte e começa a arrefecer?; e se as eleições europeias dão resultados aborrecidos?; e se o banco tem que fazer um aumento de capital?; e se o deferimento de créditos fiscais não for aprovado pelo Governo?; e se a bolha nos juros da dívida pública rebenta?; e se os analistas (esses sábios) vierem dizer que afinal os resultados não foram assim tão bons e os price targets (essas luzes ao fundo do túnel) vão ter de ser revistos em baixa?; e se as falências das empresas afinal aumentarem e houver mais gente a entregar casas por não as conseguir pagar?; e se volta o irrevogável?; e se cai um meteorito?; e se... demasiadas dúvidas. Na terça-feira, a coisa segurou-se com uma subida pífia, mas na quarta deu queda!

- Na quinta-feira veio o Barclays confirmar que vai sair do nosso belo país (have a nice trip). Mas o que causou verdadeiramente frisson foi quando o presidente do banco disse que nem ia tentar vender a operação, mas fechar a taberna tão cedo quanto possível, fazer as malas e abalar a toda a brida. Que diabo! O negócio está assim tão mal que é caso para isso! Fechar, escafeder, debandar, desertar, fugir todo mijado e nem olhar para trás. Sendo assim, não será sensato que nós que, por cá andamos às apalpadelas, tiremos também o time de campo e abalemos dos outros bancos? Dito e feito: mais queda!

- Na quinta feira, muitos estavam esperançados (o chamado whisfull thinking) na subida de rating de sexta. Mas na manhã de ontem, a subida não aconteceu: só uma revisão para lixo estável (de lixo descendente). What the f*ck! Grande bodega! Mesmo assim, ainda houve uns loucos que se decidiram a meter, logo a abrir, ordens de 7 milhões na compra à melhor oferta. Resultado: abriu em grande forma, mas depois o cenário tornou-se desolador e, de tarde, viveram-se momentos de verdadeiro entusiasmo vendedor com gente a deitar fora como se cheirasse a bicho morto e não houvesse amanhã (se calhar, está mesmo um meteorito em rota de colisão). A coisa só não foi mais longe porque estava ali a barreira dos 20 cêntimos que acabou por amparar o balancete. Diga-se que os juros da dívida tiveram a primeira subida consistente em muitas semanas, mas desses havemos de falar noutra altura.

- Entretanto, os banqueiros do Barclays já receberam telefonemas de colegas portugueses todos indignados a dizer que assim não pode ser e ontem lá vieram a terreiro com a palavra "vender" a sair da boca em vermelho bold e com sublinhado. Toda a gente começou o plano de contingência a ver se eliminam a azia e o caldo não entorna de vez.

O mal disto tudo é que nós, que tudo o que queremos é ganhar uns trocados para compor o ramalhete que o patrão nos entrega ao fim do mês, temos que andar a aturar estas m*rd*s. E não há nada que se possa fazer:
- Porque não podem as ações comportar-se de uma forma previsível e sem dar chatices? 
- Por que motivo se esforça o mercado por ser um cabrãozinho tão fedorento? 
Porque se fosse assim éramos todos ricos, eis porquê! E desde que o Adão e a Eva, esse autênticos animais, andaram a comer fruta bichada, o Senhor institui que isso não podia ser! E fez muito bem! 

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