Segunda-feira, Costa sonha ser primeiro-ministro. A excelente atriz Catarina, que desde sempre viveu no mundo do surreal, sonha abrir uma sucursal do Syriza no lado de cá do continente de modo a expandir a franchise. Os dois, C&C, encontram-se e projetam lançar-se à obra de transformar o sonho em realidade. Jerónimo sonha permanecer eternamente no mundo do abstrato e da luta bolchevique, mas dá-se conta, de repente, que está a perder fiéis em massa para a religião mais à esquerda. Resolve tomar medidas drásticas e arranja um padre para abençoar as presidenciais, enquanto dá luz verde aos rapazolas vermelhos para que sonhem com uma nesga de realismo. O sonho de Costa cresce e transforma-se numa alucinação psicotrópica em que vinga o episódio do PEC IV, desbanca Passos e Portas e assume o poleiro, com a benção dos comunas e sem ter que passar pela maçada de ter de ganhar eleições. A clientela socialista, que tinha ficado tão fodida com os resultados eleitorais, acha que está a sonhar e apressa-se a embarcar numa espécie de voo por universos paralelos em que o impossível subitamente se torna real, só porque os de esquerda são tão saloios que não se importam nada em lhes dar tudo para se verem livres dos sacanas da direita. O sonho dos da coligação transforma-se em pesadelo quando percebem que não só a maioria absoluta se foi com os cucos, mas que podem inclusive ser mandados embora, se não arranjarem maneira de dar ao Costa um sonho melhor do que o de ser primeiro-ministro. Em pânico, concebem o plano de se porem de joelhos e dar tudo o que têm em troca de terem um governo aprovado pelo PS na AR. Na terça-feira, o sonho de Costa atinge o clímax: com Catarina e Jerónimo a acolitar e pleno de soberba já nem abre a boca para dizer seja o que for. Quer ser primeiro-ministro e ponto final. À noitinha, recebe os dois estarolas da coligação em casa e nota-lhes o ar de aflição e a predisposição para baixar as calças sem pestanejar. Todos dizem que é ele que tem a faca e o queijo na mão e percebe-se bem que aos pobres diabos da direita lhes apetece comer queijo. À hora do noticiário, Costa vê-se na contingência de ter de decidir entre dois sonhos hiperbólicos: 1) deixar P&P "governar" como fazem as marionetas e aguardar pelo momento oportuno para assumir funções; 2) governar desde já, fazendo fé nos vermelhos e aceitando como boa a hipótese de que o BCE não lhe faria a folha em poucas semanas! Intuitivamente, prefere a primeira hipótese porque sabe que basta Bruxelas querer para que os juros da dívida se encarreguem de rebentar com ele e com tudo à volta, mas compreende que os clientes, que não vêem mais longe que o dia seguinte, não se vão contentar com nabiças podendo comer bife! Estávamos neste pé, quando soa uma voz grossa e o sonho perde um bocado de cor: "não pense o PS que isto são favas contadas!", adverte Jerónimo, tomando a atitude do pai de família que põe na ordem a rapaziada sobreexcitada. P&P percebem a mensagem e logo a seguir vêm à televisão trunfar (isto na quarta-feira). C&C, que estavam charrados até não poder mais, enfrentam a ressaca e Jerónimo, talvez abençoado pela fradaria, assume as rédeas da jigajoga. Vamos bailando!
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