28.2.16

Ao ritmo de Wall Street

Se tiveram a mesma sensatez na interpretação do momento ou simplesmente foram obedientes ao soar de alarme aqui dado, figuradamente pelo Clint Eastwood em O bom, o mau e o vilão, então certamente amealharam umas mais-valias e não passaram pelo aperto do simples pensar que podíamos voltar a mínimos e chegar com a carga a ponto de não saber que lhe fazer, emocionalmente cada vez mais dolorosa!

     
Adiante!

Realmente não voltou a tombar feio e até nisso a leitura foi sensata! A reboque dos movimentos nos States os Europeus limitaram-se a fazer um mínimo superior ao anterior e o nosso PSI20 lá segurou nos 4600! Confiram o cenário:


Daqui para a frente, a quebra do topo do canal inferior dá-nos 4% de distância até aos 4900! Na toada de optimismo segue o topo do canal principal antes do valor verdadeiramente importante nos 5130! Para baixo nem há grande vontade de falar mas também parece evidente que se não é o mínimo relativo anterior a segurar então iremos novamente a mínimos do ano!

Como parece que andámos aqui por ver andar os outros, viremos agulhas para o SP500 e tentemos antecipar qual a direcção a tomar mediante isto:


Duas possibilidades, ambas optimistas, a primeira demarcada a vermelho e a segunda a preto: Activamos o duplo fundo na passagem pelos 1945 pontos com projecção intraday nos 2065 e na mesma perspectiva um fundo em V, característico do índice, a valores de fecho com projecção para a zona dos 2045 ou então, não activamos já e recuámos até à zona dos 1865 para posteriormente activar, pelos valores actuais, um IH&S com semelhante projecção para a resistência pelos 2045 pontos! Portanto, se o virem hesitante no caminho para cima e consequentemente começar a dar para trás levem em consideração este cenário menos fugaz embora mais consistente numa óptica bullish!

Posto isto, música para os nossos ouvidos em pleno fecho de fds entregue à voz de Jeff Buckley num original dos The Smiths!

Boa semana!

Banca

Durante a semana, o mercado parece ter ignorado em média a perspetiva de Brexit e não se concretizou a parte do cenário mauzinho que traçamos aqui. Ainda bem! Em retrospetiva, é evidente que, como sempre, é o marmanjo que tem razão: aquela cena dos ingleses ainda vem longe, e o mais certo por ora é que o cagaço acabe por falar mais alto (as sondagens mais recentes já dão a vitória ao não à saída). Muito antes, temos o BCE a falar, no dia 10 de março e, bem vistas as coisas, as perspetivas em torno do que vai ser decidido tem um potencial bem maior para mexer com o mercado no curto prazo.

Hoje queria falar um pouco da banca nacional, agora reduzida ao BCP e ao BPI, ainda que o que tenha para dizer se resuma a uma data de trivialidades de que todos têm conhecimento. Enfim, é o que se pode arranjar.

O BCP, com uma queda nos dois meses que o ano leva que já orça em 32%, está mais parecido com a média europeia do que o BPI, que passa por banco de luxo ao cair apenas 4,5%. 

No caso do BCP a queda é já tão grande que muita gente que conheço começa a ficar inquieta com a possibilidade de se repetir a cena do BES. Muito francamente, não creio que esse cenário esteja neste momento em cima da mesa, até porque uma falência do BCP implicaria com toda a certeza um novo resgate a Portugal, com renegociação da dívida e haircut a muita gente importante, e uma situação de grande stress, mesmo a nível europeu, não só por se tratar de um banco de dimensão nacional, mas principalmente por constituir o desmoronar do sistema financeiro de um país membro da zona euro (reparem que, por exemplo na Grécia, ainda que estejam todos ligados ao suporte básico de vida, nenhum dos principais bancos faliu). Seria o fim da picada ainda e principalmente pelo enorme impacto que teria nos depositantes que constituem um parte significativa da população. Se o BES foi o que se sabe, isto seria uma desgraça de proporções épicas. Só vai acontecer se o armamento financeiro europeu não der vazão às necessidades, e sendo verdade que as necessidades prometem pôr o sistema à prova, não deixa de também ser certo que o cenário de deflação garante que há ferramentas não convencionais que podem ser postas em prática (outro galo cantaria se estivéssemos na situação de alguns países bem conhecidos que andam aflitos por causa da subida constante dos preços). Seja como for, nestas coisas, como a sucessão de acontecimentos nos tem bem ensinado, jamais nos podemos distrair e mesmo que não sejamos acionistas do banco é melhor irmos deitando um olho às cotações porque de um estoiro ninguém sai ileso. 

Do ponto de vista fundamental, vão ser as perspetivas de fusões e negociatas na banca que poderão dar alguma sustentação às cotações, mas o cenário é tão incerto que ninguém tem apostado que haja ganho algum para o BCP, que, recorde-se, tem que reembolsar 750 M€ ao estado se quiser tomar conta do seu próprio destino. 

Do ponto de vista técnico, quase não há nada que aconselhe uma entrada no BCP, a não ser que levemos a sério uma linha de tendência descendente que vem do início do ano e que foi quebrada em alta na sexta-feira. Isso e o segundo toque nos 0,031 que são, curiosamente, um suporte horizontal. Se isso é suficiente para nos levar às compras? Depende, evidentemente, do grau de tolerância ao risco de cada um, mas a verdade é que, como as coisas estão, quem quer negociar BCP tem que ser muito lesto nas entradas, porque um bear market desta dimensão não autoriza entradas apenas na quebra de resistências: correm sérios riscos de ser os últimos a entrar! 

Confiram:


Se os mercados internacionais ajudarem (e disso falar-vos-à o João mais daqui a pouco), e/ou se a banca europeia aliviar, e/ou se os rumores em torno de uma atuação enérgica do BCE aumentarem, e/ou se se der a quebra da média móvel de médio prazo nos 0,0348€ (quebra inédita no ano) podemos ter uma subida violenta, pois até à zona dos 0,038-0,04 não se vêem resistências. Para baixo, uma quebra dos 0,0308€ é muito mau sinal e pressupõe uma descida ao mínimo histórico na zona dos 0,028€. Daí para baixo confesso que começo a ficar verdadeiramente preocupado, mesmo estando a ver de fora!

No BPI há luta de galos o que costuma fazer as cotações bulir. Não se tem visto muita euforia (embora, como se disse, a reduzida queda anual seja encorajadora), mas a situação promete desenvolver com o aproximar do final do prazo (finais de março) para se regularizar a posição em Angola de acordo com as regras do BCE. O nosso gráfico mantém-se como o deixamos da última vez e há valores claros que devemos respeitar se quisermos ir a jogo. Uma palavra para a proximidade da SMA200 (linha vermelha) cuja quebra em alta só se dará se houver quem saiba mais do que o comum dos mortais. Disse.

21.2.16

O lobo mau

Os números da economia ajudaram, o acordo do petróleo também e a tremenda situação de sobrevenda deu o impulso final para que os principais índices tivessem uma semana muito engraçada, tendo em conta o que vem sendo a bitola no que vai de 2016. Aliás, a festa esteve tão porreta que, como em boa hora assinalou o João aqui, fomos a toda a bolina em direção a uma zona de perigo nos índices que acompanhamos.

No DAX embatemos nos 9400 pontos, anterior suporte-mor, reforçado pela presença da EMA21, zona agora infestada de ursos e, por conseguinte, terreno de shortanço. Se quebra em alta já, ficamos muito admirados (mas longe de nós regatear com o mercado)! Se vem para baixo arrisca mínimos ou, sendo mais otimista, ou higher low um duplo fundo. Manda a lógica, portanto, que se entre curto com target nos 8700-8800, mas o mercado só costuma ser lógico no retrovisor e a olho nu é mais matreiro que o lobo mau.


Pedimos desculpa pelo lapso da régie, que colocou a estampa desta moçoila talvez a pensar nos motivos que levaram o lobo a ser mau e matreiro. A imagem correta é esta:


No S&P500, o João explicou tudo no texto dele e nós não lhe acrescentamos uma vírgula que seja. No PSI20, o nosso gráfico ficou assim:


É evidente que com a reentrada no canal em jogo na quinta-feira, não precisaram de nos assobiar para passar o testemunho a outros, que estivessem menos cansados, e assim chegamos ao fim-de-semana líquidos como água da torneira.

Se nos perguntarem o que faremos em seguida, diríamos que nos parece que a jogar na equipa da ursalhada (ou do lobo mau!) se estará melhor, tanto mais que poderemos fechar com poucas perdas se houver quebra em alta daquelas linhas chave que pusemos no gráfico.

Aliás, no início da semana, ficaremos admirados se não houver lucros para quem vender emprestado e explicamos porquê.

O anúncio do referendo no Reino Unido é, evidentemente, uma má notícia, até porque o mercado só estava à espera desse berbicacho em 2017. Claro que a reação pode não ser má, se rapidamente houver a percepção de que o "sim" ganhará, mas a verdade é que até 23 de junho vamos andar bastante tempo ao sabor das sondagens e dos anúncios de apoios que um e outro lado for conquistando. A forma com o primeiro-ministro britânico anunciou a decisão no dia de ontem, enfatizou quão grande é a situação de exceção do acordo RU/UE e admirar-nos-ía que as opiniões públicas mais independentes da UE como os nórdicos ou os alemães e em especial os franceses não começassem a fazer contas de cabeça acerca do funcionamento da própria União. Se o "não à UE" ganhar vamos assistir, como tem sido assinalado por diversos analistas, a uma situação de tão grande turbulência que muita gente terá que retirar dinheiro do mercado desde já só para poder descontar o risco dessa possibilidade. É que, por muito remota que a vitória do Brexit possa vir a parecer (como assinalava hoje o meu amigo Renato, há muitos fatores que os britânicos terão que pesar muito bem e não são só fatores económicos; por exemplo, se o RU sair da UE é provável que a Escócia abandone mesmo a união para poder aderir sozinha), há sempre a possibilidade de um atentado de última hora que espolete o medo a tal ponto que conduza a um resultado emocional! 

18.2.16

Alto e pára o baile!

Não desejaria ser aquele fulano estraga festas até porque o bailarico tem estado bom e então para quem arrecadou umas doses lá em baixo, a mínimos, certamente que se sentirá o gajo mais popular da festa! E nem a pausa que se verificou na terça-feira serviu para esfriar ânimos - quando até mesmo nesse fim de sessão Europeu se antecipara a continuação de subidas! Com o nosso PSI a reagir aos 4600 e o DAX a recuperar nos últimos minutos para fechar acima da EMA9 a levar-nos para a sensação de típica correcção ao movimento de curto prazo! 

Já o SP500, esse não faz intervalos, até que... Zona de fogo cruzado à vista?


Isso mesmo! Devem estar a pensar que aquela zona do ponto de interrogação demarcada pelo último máximo relativo e pela porta de entrada no canal será o primeiro ponto em que os longos menos optimistas abandonam o recinto e os curtos mais agressivos cerram fileiras! Não seria tão pessimista ao ponto de dizer que isto já vai tombar feio outra vez, longe disso, mas será sensato prever que de ânimo leve não activará duplo fundo, de rajada! Que é como quem diz: Alto e pára o baile!

The good, the bad & the ugly

Com o Germânico a recuperar até à sua zona DATAC - e bem! Dizemos nós! O Tuga com o aspecto conforme verão abaixo, vejam se não estará a chegar hora de recolher umas mais-valias e ganhar fôlego sabendo de antemão que nestas coisas tendemos a andar ao ritmo dos States!


Não teremos capacidade para causar apreensão à festarola, mas para que não restem dúvidas nós por cá abrimos a sessão in modus longo e logo veremos o sentir da pulsação! Mas na dúvida... Já sabem com o que a casa conta! 

Bom dia! Seguem os Britânicos New Order!

    

15.2.16

Sonae

Com os mercados em pleno rebote e o nosso PSI20 a galopar quase 5% em dois dias, atingindo hoje o primeiro objectivo ao fechar gap aberto de quinta-feira passada, os accionistas da Sonae devem estar que nem os Arcade Fire:


Das duas uma, estende-se ao comprido ou então redime-se da birra que fez hoje (e já na sessão anterior esteve longe de ser obediente) quando falta à chamada das recuperações, depois de ter entrado na zona do vai não vai para se lixar toda:


O gráfico está de tal modo esticado de forma a encontrar paralelismo no mínimo de Outubro de 2014, precisamente aos valores do fecho de hoje, nos 0,88! Que coincide com a base do canal por onde tem oscilado! Quebra aqui e só vemos suporte com alguma fiabilidade pelos 0,73! Se simplesmente estiver a abusar da paciência da malta que se atravessou nela na expectativa da reacção ao dito valor então que haja a tal redenção que a possa levar para cima das linhas vermelhas, até aos 0,98!

Amanhã temos nova sequela!


Segue a banda sonora do filme!

Boa noite e boa semana!

14.2.16

Gráficos avulso

O PSI20 está naquele ponto em que, pqp o gajo, com 15% de queda em mês e meio, parece um destruidor de papel tão bom quanto o rambo a devastar o Afeganistão:


O gráfico diz que daqui para baixo, se cai, só se levanta se lhe enfiarem um foguete no traseiro, porque está nuns mínimos tão mínimos que, pqp, abaixo disto... congela!


Gráfico:


Seguindo a nossa sui generis maneira de atuar, fomos à bulha na sexta-feira para um, estamos em crer, bref combat. Ficam as nossas escolhas:




Entre o BCP e o BPI o primeiro estava num ponto importante do ponto de vista técnico, mas a queda de 3% meteu-nos um medo muito grande e ficamos a pensar, talvez mal, que ainda o vamos apanhar no mínimo histórico:


BPI com um bocado de boa vontade pode estar ali a desenhar uma coisa parecida com uma lta apoiada em higher lows (será?) e pareceu-nos mais apetecível! Esta notícia deixa-nos a pensar que a aposta foi boa!


Escusado será dizer que estamos over and out se as linhinhas horizontais que pomos nos gráficos forem postas em perigo! Para este peditório não damos! PQP!

10.2.16

Primeiro dia de ressalto

Hoje estamos em modo ressalto, mas do jeito que as coisas se puseram todo o cuidado é pouco e podemos ter sol de pouca dura. Seja como for, mandam as regras do mais elementar bom senso que, mais do que tentarmos apanhar facas em queda, se avalie com rigor o que se passa no primeiro dia de um ressalto (nós que daqui vos falamos somos fãs incondicionais dos primeiros dias de ressalto depois de quedas violentas: nunca na queda, sempre no 1º dia de ressalto é regra que nos tem rendido maquias engraçadas). É que ressaltos com o mercado tão sobrevendido costumam durar pelo menos dois dias e pode ser bom negócio entrar desde que se seja lesto e se tenha estômago firme para aceitar que podemos ter que assumir perdas ato contínuo.

O bom dos ressaltos como o que está a ocorrer hoje é estarmos tão perto de suportes que podemos minimizar o entalanço com um stop loss pouco abaixo do ponto de entrada. É essa, de resto, a magia dos suportes: a malta não tem pejo em entrar porque o rácio ganho/risco é mega aliciante. Se quinar foge-se e não se pensa mais nisso!

No PSI20 temos receio de não conseguirmos superar a entrada no canal na zona dos 4800 pontos, o que coloca uma pressão muito grande sobre o nosso rácio custo/benefício. Com alguma boa vontade, pode ser que se acerque das EMA, 2% acima do valor atual, mas, como verão, estamos muito dependentes do que se passar na estranja:


Estamos a olhar para empresas que vêm de suportes firmes, como a SON, a Altri, os CTT, a EDPr ou a NOS e procuramos evitar as que estão em terra de ninguém ou aquelas que já quebraram o suporte como, por exemplo, a EDP.

O DAX pagou com línguas de palmo a quebra do nosso valor DATAC e escafedeu para cima de 600 pontos em dois dias: é obra! Agora o alvo evidente é o reteste do anterior suporte, pelo que se se aproximar desse valor vai haver muita gente a trocar longos por curtos. Em nossa opinião, quanto mais perto desse valor chegar, no mais curto intervalo de tempo, maior será a probabilidade de voltarmos às quedas fortes. 


Quem anda a segurar isto tudo, preso por linhas de coser (o mesmo é dizer-se, pela queda do dólar que traz sempre a esperança de que saiam favorecidas as exportadoras americanas) é o S&P500. Quebrou os 1870 em baixa e o alvo evidente era o reteste aos 1812, tendo recusado. Por esse motivo, acabou por se segurar e neste momento testa o retomar do valor anterior. Aqui temos território de urso e se hoje não fechar acima dos 1870 podemos ter um final de semana a esgalhar para baixo. Se superar dá sinal de que é capaz de financiar a tal ida do Dax aos 9400. Vai ser interessante de ver!

9.2.16

O consumo (contributos para compreender por que motivo caem as bolsas)

Na Roma do Império chegou-se a um ponto em que o pré dos legionários passou a ser pago com sal (daí "salário"). O sal era um produto de enorme valor relativo porque servia para conservar os alimentos, mas ficava uns furos abaixo da prata, do cobre ou do estanho com que se costumava fazer o dinheiro de uso corrente. Acontece que a entrega de moedas à soldadesca deixou de ser praticável, porque, à falta de produtos para comprar, os homens entesouravam e o metal, essencial para se fazer armamento, acabava enterrado nos quintais sem uso nem proveito.


Com as revoluções industriais, tornou-se possível produzir bens a um ritmo tal que acabou por se democratizar o acesso a produtos de primeira necessidade como alimentos e vestuário. 


Com o tempo, o incrível crescimento de produtividade criado pela mecânica e, mais tarde, pela eletricidade levaram ao surgimento de uma indústria que produzia bens de que a maioria das pessoas nunca pensou que necessitaria. Já no século XX, o jogo entre a oferta (industrial e de serviços) e a procura dos consumidores consolidaria um sistema económico alicerçado numa aparentemente insaciável necessidade de consumo por parte do ser humano, que permitiu a uma minoria lucrar e entesourar, mantendo a maioria satisfeita com bugigangas - o capitalismo. As pessoas procurariam sempre pelas novidades e estariam permanentemente interessadas em fazer um sacrifício adicional para que as pudessem adquirir. Mais horas de trabalho, mesmo que com um salário/hora inferior, para poder comprar as últimas novidades que são produzidas, com dividendos para a minoria, graças a esse mesmo esforço adicional. Nesse sentido, o controlo dos salários, mantendo-os baixos, tornou-se essencial para:
  • impedir o entesouramento;
  • prevenir uma saturação de consumo.
Finalmente, o nascimento da banca e do crédito industrial resolveram o problema de conciliar baixos rendimentos com altos consumos!


Em finais da década de 80, começou no Japão o primeiro grande surto de saturação de consumo. Os japoneses, pura e simplesmente, aborreceram-se de consumir e a grande indústria japonesa, erguida dos destroços da Segunda Grande Guerra, viu-se a braços com um excesso de produção que só conseguia escoar graças ao gosto estrangeiro pela inovação e grande fiabilidade da mercadoria nipónica. Com a queda no consumo, o Japão mergulhou na deflação, que trouxe mais de duas décadas de crise económica de que o país ainda não saiu:


Entretanto, os japoneses começaram a viver de uma forma mais simples, viajaram pelo mundo e entesouraram, emprestando grandes quantidades de capital ao seu próprio estado. O índice da bolsa japonesa passou por um bear market prolongado de que só começou a sair em 2013, graças ao abenomics


Durante muito tempo, os capitalistas ocidentais pensaram que o que aconteceu no Japão tinha raízes culturais e não seria replicável na Europa e, muito menos nos EUA, cujos povos sempre se mostraram arraigadamente consumistas e sedentos de novidades tecnológicas de que nunca haveria carestia. No fundo, tratava-se apenas de conciliar inovação nos produtos com fornecimentos certeiros de crédito, de maneira a manter o rato na roda, o mesmo é dizer-se, o consumidor satisfeito por trocar esforço, trabalho e dores de cabeça por canga de que julga necessitar.


Claro que os nórdicos e os alemães, certamente influenciados por uma formação superior e imbuídos no espírito protestante do rigor e da austeridade, foram os primeiros a cansarem-se do jogo consumista (é por este motivo que os alemães não aceitam subir salários: eles sabem que o efeito prático dessa medida é nulo, porque não é por falta de dinheiro que o povo não compra; é por falta de vontade. Com os tugas será certamente diferente... por enquanto!). Entrar em lojas e comprar caca de que só precisamos porque nos esforçamos para isso, implica uma certa abstração que se evapora quando lemos, viajamos e apreciamos os verdadeiros prazeres da vida! Com ordenados altos e uma vida confortável começaram a entesourar como faziam os legionários romanos. É certo que não enterravam metais no quintal, mas o efeito prático era ainda mais bombástico: não compravam! 

Os alemães, esses, rapidamente perceberam em que buraco se acabariam por enfiar quando o mercado interno colapsasse sob o peso do entesouramento dos seus cidadãos, e tudo fizeram para criar um mercado comum europeu que lhes permitisse:
  • investir o tesouro acumulado;
  • escoar os produtos que produziam.
No final, acabaram inclusive por aceitar trocar a sua grande moeda nacional por uma comum ao mercado europeu que lhes facilitasse as transações e os empréstimos sem estarem permanentemente preocupados com a desvalorização das moedas dos países para onde canalizavam o tesouro acumulado.

O problema da Alemanha (e de outros que tais) é que a tecnologia acabou por evoluir de uma forma tão avassaladora que a produtividade cresceu exponencialmente. Foi evidente como a Mercedes e a BMW, por exemplo, marcas de luxo só acessíveis a alguns, se acabaram por transformar em produtos de uso corrente, pois a necessidade de escoar o produto ao ritmo a que crescia a produtividade obrigou ao sacrifício da exclusividade das marcas. 

Rapidamente, contudo, o mercado único europeu tornou-se exíguo para as necessidades de escoamento alemão (até porque os países que tinham gente disponível para absorver o crescente manancial de novidades esgotaram entretanto o plafond de compras porque se endividaram irremediavelmente) e o sucesso das empresas do país ficou muito dependente de mercados exteriores: dos BRIC e de outros emergentes.

E é aqui que tudo se começa a complicar subitamente em 2014. As sanções à Rússia acabaram com um dos grandes mercados do motor produtor europeu; o esvaziar da bolha das matérias primas, principalmente do petróleo, tirou poder comprador à maioria dos outros mercados e a enorme crise de dívida da China, com uma fuga de capitais em massa de que a valorização aparentemente estranha do euro é um sintoma evidente, ameaça acabar por deixar as fábricas europeias e americanas sem compradores.

E aqui, meus caros amigos, não há BCE que nos valha. O dinheiro que Mário Draghi está a lançar nos mercados, comprando dívida, fica estacionado nos bancos porque não há quem o queira. Tirando Portugal e os restantes europeus do sul e do leste, ninguém na Europa está verdadeiramente interessada em comprar a quinquilharia que os alemães e os grandes produtores europeus produzem, mesmo que lhes ofereçam dinheiro barato. E se os alemães não vendem, têm que reduzir a produção e cortar nos subcontratados. 

Esta crise em que estamos mergulhados é uma crise que mexe fundo com a cartilha capitalista e não é um problema para o qual se tenha uma solução fácil: os países ricos que podem escoar a produção industrial têm populações que não estão interessadas em ir às compras e os países que têm gente com vontade de comprar ou estão afogados em dívida ou mergulhados numa crise de divisas. Sem querer ser dramático, até porque só há verdadeiro dramatismo na morte, começamos a pensar que pode haver profetas da desgraça que têm razão.

1.2.16

EDP e JMT

Movimento de curto prazo bastante interessante na EDP. Fecha hoje sobre uma resistência que vem marcando o compasso desde julho. Para quem está de fora, não se aconselham tomadas de posição a menos que quebre em fecho e com volume os 3,33€. Nesse caso, quebrará em alta a média móvel de 200 dias (a que, diga-se, não parece ligar muito) mas, mais importante, evitará um novo lower high e poderá ter espaço para avançar até à zona dos 3,60€. Claro que para isso vai precisar da ajuda dos mercados internacionais e não é líquido que haja disponibilidade para tanto. 


Na Jerónimo Martins o movimento também tem sido engraçado, mas aproximamo-nos a passos largos da zona dos 13,40€ onde estará, por certo, um sortido abundante de ordens de venda. É que a JMT já não passa desse valor para cima desde finais de 2013 e nas últimas aproximações levou pantufada velha e afundou direta ao suporte mais próximo. Daí que quem esteja dentro tenha pouca vontade em experimentar a graça e opte, sensatamente, por vender! Contudo, com os lucros na Polónia mais ou menos acautelados, com os Pingo Doce atacados de malta disponível para empatar o cacau que nasceu (não na carteira, mas na mioleira, o que, para o caso, vai a dar no mesmo) em resultado dos novos tempos que-se-lixe-a-austeridade e com a Colômbia envolta num cada vez mais excitante mistério não será de descartar que a resistência seja arrombada e a descarada suba pelo menos mais um euro até à zona dos 14,50€. Não acredito que o faça de uma assentada e muito menos o consiga sem ajuda externa, mas que a JMT arrisca voltar a ser a ação mais interessante da bolsa, disso, meus caros amigos, não tenham dúvidas!