Durante a semana, o mercado parece ter ignorado em média a perspetiva de Brexit e não se concretizou a parte do cenário mauzinho que traçamos aqui. Ainda bem! Em retrospetiva, é evidente que, como sempre, é o marmanjo que tem razão: aquela cena dos ingleses ainda vem longe, e o mais certo por ora é que o cagaço acabe por falar mais alto (as sondagens mais recentes já dão a vitória ao não à saída). Muito antes, temos o BCE a falar, no dia 10 de março e, bem vistas as coisas, as perspetivas em torno do que vai ser decidido tem um potencial bem maior para mexer com o mercado no curto prazo.
Hoje queria falar um pouco da banca nacional, agora reduzida ao BCP e ao BPI, ainda que o que tenha para dizer se resuma a uma data de trivialidades de que todos têm conhecimento. Enfim, é o que se pode arranjar.
O BCP, com uma queda nos dois meses que o ano leva que já orça em 32%, está mais parecido com a média europeia do que o BPI, que passa por banco de luxo ao cair apenas 4,5%.
No caso do BCP a queda é já tão grande que muita gente que conheço começa a ficar inquieta com a possibilidade de se repetir a cena do BES. Muito francamente, não creio que esse cenário esteja neste momento em cima da mesa, até porque uma falência do BCP implicaria com toda a certeza um novo resgate a Portugal, com renegociação da dívida e haircut a muita gente importante, e uma situação de grande stress, mesmo a nível europeu, não só por se tratar de um banco de dimensão nacional, mas principalmente por constituir o desmoronar do sistema financeiro de um país membro da zona euro (reparem que, por exemplo na Grécia, ainda que estejam todos ligados ao suporte básico de vida, nenhum dos principais bancos faliu). Seria o fim da picada ainda e principalmente pelo enorme impacto que teria nos depositantes que constituem um parte significativa da população. Se o BES foi o que se sabe, isto seria uma desgraça de proporções épicas. Só vai acontecer se o armamento financeiro europeu não der vazão às necessidades, e sendo verdade que as necessidades prometem pôr o sistema à prova, não deixa de também ser certo que o cenário de deflação garante que há ferramentas não convencionais que podem ser postas em prática (outro galo cantaria se estivéssemos na situação de alguns países bem conhecidos que andam aflitos por causa da subida constante dos preços). Seja como for, nestas coisas, como a sucessão de acontecimentos nos tem bem ensinado, jamais nos podemos distrair e mesmo que não sejamos acionistas do banco é melhor irmos deitando um olho às cotações porque de um estoiro ninguém sai ileso.
Do ponto de vista fundamental, vão ser as perspetivas de fusões e negociatas na banca que poderão dar alguma sustentação às cotações, mas o cenário é tão incerto que ninguém tem apostado que haja ganho algum para o BCP, que, recorde-se, tem que reembolsar 750 M€ ao estado se quiser tomar conta do seu próprio destino.
Do ponto de vista técnico, quase não há nada que aconselhe uma entrada no BCP, a não ser que levemos a sério uma linha de tendência descendente que vem do início do ano e que foi quebrada em alta na sexta-feira. Isso e o segundo toque nos 0,031 que são, curiosamente, um suporte horizontal. Se isso é suficiente para nos levar às compras? Depende, evidentemente, do grau de tolerância ao risco de cada um, mas a verdade é que, como as coisas estão, quem quer negociar BCP tem que ser muito lesto nas entradas, porque um bear market desta dimensão não autoriza entradas apenas na quebra de resistências: correm sérios riscos de ser os últimos a entrar!
Confiram:
Se os mercados internacionais ajudarem (e disso falar-vos-à o João mais daqui a pouco), e/ou se a banca europeia aliviar, e/ou se os rumores em torno de uma atuação enérgica do BCE aumentarem, e/ou se se der a quebra da média móvel de médio prazo nos 0,0348€ (quebra inédita no ano) podemos ter uma subida violenta, pois até à zona dos 0,038-0,04 não se vêem resistências. Para baixo, uma quebra dos 0,0308€ é muito mau sinal e pressupõe uma descida ao mínimo histórico na zona dos 0,028€. Daí para baixo confesso que começo a ficar verdadeiramente preocupado, mesmo estando a ver de fora!
No BPI há luta de galos o que costuma fazer as cotações bulir. Não se tem visto muita euforia (embora, como se disse, a reduzida queda anual seja encorajadora), mas a situação promete desenvolver com o aproximar do final do prazo (finais de março) para se regularizar a posição em Angola de acordo com as regras do BCE. O nosso gráfico mantém-se como o deixamos da última vez e há valores claros que devemos respeitar se quisermos ir a jogo. Uma palavra para a proximidade da SMA200 (linha vermelha) cuja quebra em alta só se dará se houver quem saiba mais do que o comum dos mortais. Disse.
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