29.11.16

Sonae

Não tem havido muito para dizer e, por isso, mantemo-nos calados que sempre erramos menos vezes. Ao PSI20 agora deu-lhe para estacionar naquele chove não molha e temos estado basicamente à espera do momento em que trumpismo cá chega e isto levanta voo rumo ao céu! 

Enquanto isso não acontece, e como quietos não conseguimos estar, temos andado entretidos com a única cotada que vai valendo a pena neste momento. Refimo-nos, evidentemente, à Sonae que deixou para trás há algum tempo os 75 cêntimos que, como dissemos aqui, eram o nosso marcador de investimento no médio prazo. São agora o suporte para que estamos a olhar e, ao mesmo tempo, um maravilhoso ponto de entrada se lá for!

A nossa tese na Sonae é que o mercado se deu finalmente conta de que a empresa está barata! Durante muito tempo, andamos a pregar justamente isso e chegamos a dizer que a Jerónimo Martins, por comparação, nos parecia cara. O mercado, que faz o que lhe dá na real gana, baldou-se e a JMT continuou a valorizar enquanto que a Sonae chegou a estar no pelotão da frente das que mais caíam no ano (chegou a estar a cair 40% para um malho atual de 24%)! 

Quem anda neste modo de vida há tempo suficiente sabe que os mercados passam da distração completa à fúria mais desenfreada em menos de um fósforo, bastando para isso que sejam espoletados determinados sinais, muitas vezes de natureza técnica. Daí, justamente, a importância da análise de gráficos. A quebra dos 75 cêntimos, e o facto de não ter sido autorizada uma ida abaixo ao fim de todo este tempo, pode ter começado a colocar a Sonae demasiado sob a luz dos holofotes para que o facto de ser uma empresa barata passar despercebido ao mercado! E barata é ela, hoje ainda mais do que no início do ano. Estamos a falar de uma empresa que pode lucrar perto de 200 milhões no final do ano e está a valer menos de 1600 M€ (a JMT vale para cima de 5 vezes mais)! 

Do ponto de vista técnico, está ali nos 81 cêntimos a média móvel dos 200 dias que travou a subida em março e deu origem ao terrível movimento descendente anual. Em termos de resistências, é evidente a zona dos 88 e pode ser um bico de obra quebrá-la se o PSI20 entretanto não animar. Atenção à situação de sobrecompra no curto prazo.

22.11.16

Pensa rápido - BCP 2

Ontem o BCP fez o serviço do costume: abriu todo lampeiro, com o mercado provavelmente a apostar numa tese parecida com a nossa, mas, depois, na hora final da negociata apareceram uns malvados e estragaram a festa toda: filhosdeumagrandessíssima...

Eu, como não vou em novelas, olhei para aquele fecho e olhei outra vez, matutei e matutei e verifiquei que é possível que tenha estado a ver mal o filme e que haja um outro final bem mais sinistro. Ontem faltou-me tempo para o vir aqui partilhar convosco, mas hoje, como já soaram as matinas,...


venho cá dar uma perninha, porque não vale de nada, nestas coisas, um tipo ficar varado a ver a casa descoser-se e depois dizer que os artistas graúdos é que são maus!

A minha teoria sinistra torna os chineses ainda mais maquiavélicos e asseguro-vos de que só ides gostar da ideia se estiverdes curto, coisa que começaram a fazer (ou reforçar) os fulanos que ontem deram ordens de venda depois das 3 da tarde!

Os da Fosun já disseram que querem gastar no máximo 500 milhões de euros no negócio e adquirir até 30% do banco. Eu li isto como ponto de partida, mas agora acho que é mesmo para valer, uma vez que, como eles assinalaram ontem à tarde, todos os atuais acionistas são bem vindos à luta!

Por outro lado, foi noticiado que o BCP vai pagar 750 milhões dos cocos ao estado em fevereiro, o que significa que, evidentemente, vai fazer um AC a partir do final de dezembro!

A minha aposta de domingo era que os chineses e os angolanos estavam cá para hostilizar, mas, de facto, como bem disseram alguns colegas, eles não precisam de nada disso: basta-lhes o tal AC com que os principais acionistas já disseram concordar e ficam donos, conjuntamente com os da Sonangol, de 60% do capital!

Ora, eu fui fazer umas contas de merceeiro, juntando as duas variáveis (30% do capital, gastando no máximo 500 M€) numa mesma equação para me dar o valor da cotação, X, para um AC de 750 milhões de euros. Ora vejam:

(750/X + 944,6)*0,3 = 325/X

944,6 milhões de ações é o número total atual de papeis do BCP e 325 corresponde a 500 menos os 175 M€ já gastos! Feitas as contas:

X = 0,35 €

Teríamos, portanto, uma emissão de 2142,9 milhões de novas ações a este preço!

Assustador, não é? 

Nem vale a pena fazer contas a qual seria a cotação do banco para que valesse o mesmo que vale agora no pós AC (cenário meramente hipotético)! Muito baixinho: 44 cêntimos!

WTF!

Terá sido por causa disto que exigiram o reagrupamento de ações?!

Nesse caso, os restantes acionistas do banco só teriam que dispor de 425 M€,  sendo que a Sonangol, se quiser subir a sua posição para 30% entraria com 276 milhões! Ficam a sobrar 149 milhões que alguém que queira ficar num banco dominado a 60% por chineses e angolanos não terá dificuldade em arranjar!

Se for isto, até a coisa estar feita, o cenário não se afigura famoso!

Mas também pode ser que não seja nada disto! Enfim, especulações! Os grandalhões malvados é que sabem e nós, tudo o que podemos fazer é... estar atentos! 

20.11.16

BCP

Falar do BCP é sempre uma alegria, porque o tráfego do blogue bate várias vezes no teto e a moral do oráculo sobe em flecha. Hoje até nem temos que inventar argumento para falar no dito, porque as notícias do dia impõem a agenda, de maneira que lá vimos nós mandar mais umas postas de pescada a ver se o mercado nos dá razão. 

Já sabem que o nosso forte não é a adivinhação e também temos pouco jeito para as artes mágicas, mas como nos falta a vergonha, vamos já dizer-vos o que nos parece que vai acontecer nos próximos dias.

Há gente preocupada com o valor pago pelos da Fosun, que foi, de facto, uma ninharia, se compararmos com a cotação histórica do BCP e com os valores de que se fala para o NB. Todavia, digo-vos já que isso agora não interessa para nada, e ainda que possa haver gente impressionável a vender por causa de os chinos entrarem na casa dos 1,10 €, ninguém com tino se vai sentir melindrado por causa disso! 

O adiamento da AG pode também causar urticária a alguns mãos leves e levar a umas vendas de gente que queria decisões para amanhã, mas também é assunto mais do que cagativo: é ponto assente a subida dos direitos para os 30% e para os de Angola também! Há quem diga que estes últimos só estão a fazer bluff com o pedido para aumentar a posição, mas eu acho que é para valer: a dos Santos vai vender no BPI e não quererá perder o pé no BCP o que lhe garante uma posição na banca europeia! Acima de tudo, era fora de órbita desistir agora que o BCP tem capital chinês

Agora o que eu acho que vai realmente mexer com as cotações! 

Neste momento, é claro que há interesse em entrar no capital do banco. Apesar de todas as dificuldades, provisões, prejuízos e imparidades, a verdade é que a brutal desvalorização em bolsa colocou a cotação num patamar em que há interessados no negócio. A entrada dos chineses ao preço a que foi ainda torna a coisa mais inebriante porque muitos vão achar que, para um banco com negócios na Polónia, em Portugal, Angola e Moçambique é capaz de ter sido pechinchona. Notem que, muitas vezes, os negócios só parecem pechincha depois de terem sido consumados por outros. Foi o caso, por exemplo, da compra do Banif pelo Santander: ninguém o queria por preço nenhum, mas depois de se saber da venda até o BCP veio dizer que foi pena não se ter feito ao piso...

Neste momento, Fosun e Sonangol têm todo o interesse em se entenderem porque, se ficarem com 30% do capital, cada uma, podem controlar o banco e, no futuro, aumentarem o capital para valores que diluirão completamente a posição dos restantes acionistas. É por isso que eu continuo a achar que, a partir do momento em que for desbloqueada a situação dos limites de voto, vamos assistir a uma luta pelo poder, com compras em bolsa, como os chineses já assumiram que poderiam fazer (vejam aqui as nossas contas, que ainda se mantêm atuais - multipliquem as cotações por 75 e dividam pelo mesmo valor o número de ações)! Só depois teremos aumentos de capital, para solucionar a escassez de capital do banco e pagar os Cocos!

Mas as compras podem começar já...

Até hoje ainda havia gente com receio de que os chineses desistissem e que o BCP ficasse numa posição absolutamente terrível (até porque o pedido da Sonangol para aumentar a posição podia afastar os da Fosun, porque há o risco de o BCE não autorizar, impedimento que será válido para todos - julgo que autorizará porque os angolanos continuarão longe de controlar a maioria do capital), mas agora somos em crer que estarão reunidas as condições para que a luta se inicie. A ser otimistas, coisa que somos mais facilmente do que pessimistas, não vemos motivos que possam impedir os angolanos (e até os chineses) de tentarem comprar já até aos 20%, porque achamos que se esperarem são capazes de comprar mais caro depois de a especulação estar toda montada!

Se bater certo, evidentemente, vai subir!

14.11.16

Para apreciar melhor a superlua

aqui vos falei sobre O primeiro encontro.

Em noite de superlua pareceu-me justificável partilhar convosco On the nature of daylight, o tema de Max Richter que acompanha algumas das cenas mais comoventes do filme.

13.11.16

Suportes, oversold e Anthony Kiedis

Depois deste texto, manancialmente inspirado, tanto na forma como no conteúdo, a que diga-se de relance já estamos habituados nos artigos do David umas breves análises, individualizadas, onde poderemos, quiçá, retirar partido do eventual toca e foge no nosso PSI20!

Conforme o titulo remete, focamos a análise em cotadas que se encontram sobrevendidas (ou perto de) e em suportes que, passando a redundância, possam suportar a cotação.

EDP, suporte nos 2,56€:


EDPr, suporte pelos 5,65€:


Jerónimo Martins, suporte na SMA200 (tracejado a preto), pelos 14,35€:


Galp, suporte pelos 11€:


Na música destaque para a banda de Anthony Kiedis que foi confirmada como primeiro grande nome para a edição 2017 do SBSR e que agora recordamos aqui com Under the Bridge, do tempo em que eu era uma criança e, p.e., o Trump ganhar ou não as presidenciais nos States me era igual ao litro! 

Red Hot Chili Peppers e uma boa semana!

 

O início de um épico bull market?

Malapata não deve ser, mas que é de um mano ficar meio avariado disso não pode haver dúvida. Refiro-me, evidentemente, ao facto de em semana de Trump a trampa vir toda para o lado de cá. À parte a chalaça, a dúvida que fica é como caralho os americanos enveredam pela puta da loucura e somos nós, tugas inocentes, que mais apanhamos no trombil? Como é que a opção ianque pela bandalheira, que chegou a ameaçar uma razia nos mercados mundiais (na madrugada de quarta-feira o S&P500 chegou a estar a perder 6%), acabou em triunfo em todo o lado, exceto cá na península, onde o PSI20 se destacou com um coice semanal de 3,5% (uma décima mais que o Ibex)? 

Porquê nós, Senhor? Porque são os pobres pequenotes a pagar a trumpalhada (até o nome do homem se presta bestialmente a este tipo de humor foleirote)?

Bem sei que a resposta para o fenómeno pode ser encontrada numa diversidade de fatores, desde a fragilidade da economia e a dívida elevada, passando pelas taxas de juro à beira de pegar fogo num momento em que se prevê que a dívida americana suba e haja menos disponibilidade de liquidez para nos acudir (muita atenção ao referendo constitucional italiano de 4 de dezembro, que pode muito bem ser o terceiro míssil de cruzeiro a atingir em cheio a ordem mundial vigente, colocando a Itália à beira da bancarrota, caso Renzi se demita), até à existência de empresas expostas ao mercado americano e que estão do lado errado da barricada (ver EDP e EDPr), ou expostas a emergentes como a Pharol e a Mota. No caso da EDP, para além de tudo o que envolve a renováveis, podemos estar em presença de um sinal do mercado de que há uma fortíssima possibilidade de assistirmos a prazo a uma subida muito assinalável dos juros da dívida pública, uma vez que há, tradicionalmente, muita arbitragem, por parte de institucionais, entre os dividendos da elétrica e os juros pagos pelo estado! Esperemos que não!

Vejam como ficou o nosso semanal do PSI20 e, para melhor comparação, o semanal do S&P500 (diga-se que se confirmou o afundanço até aos 2044 - foi abaixo, perto dos 2020 pontos - mas apenas na negociação de futuros na madrugada de 4ª feira):



Esta queda tão acentuada do PSI20 colocou o índice no caminho do mínimo anual (e mínimo multianual) estabelecido fugazmente no dia do brexit nos 4176. Eu olho para o gráfico e vejo que não tem ponta por onde se lhe pegue: já quebrou a linha amarela e acaba de torrar a linha vermelha! Um caso claramente perdido!

E, no entanto, há aqui uma nesga de esperança que nos pode salvar e, quiçá, catapultar para um BULL MARKET épico. Let's dream,... only for a while!


Sigam, por favor, a minha linha de raciocínio!

Nos valores a que se encontra (na zona entre os 4260-4360) há uma grande probabilidade de ressaltar eficazmente porque fará triplo fundo anual que tem um rácio ganho/risco particularmente interessante (o ressalto pode ocorrer antes, porque já há sobrevenda, mas uma ida toca e foge aos 4260 era estupenda):


Se o ressalto der mostras de força, lá mais para a frente, no médio prazo, quando já nem nos lembrarmos de que estivemos a cair 18% no ano, pode haver gente endinheirada que comece a olhar para o índice num horizonte mais alargado e se disponha a investir num duplo fundo multianual. 

É uma teoria tão puxada que não se recomenda a gente impressionável (verdade que a eleição do Trump também era uma excentricidade de proporções épicas e efetivamente aconteceu)! 

De qualquer das formas, considerem-se avisados e sigam por vossa conta e risco!

Vocês sabem onde foi o mínimo do bear market de 2009-2012? Segurem-se amiguinhos que isto não é fácil: nos 4354 pontos no dia 14 de junho! Depois houve um ressalto e duplo fundo um mês mais tarde. A partir daí o índice subiu 80% em menos de ano e meio. E onde estamos neste momento? Correto: outra vez nesse valor! Show business in deed! Confiram:


Só para vos pôr a salivar, se a tramóia funcionar, as regras mandam que a subida leve o nosso pequenito a máximos históricos por volta dos 14000 pontos! Puta que pariu! Trump santo subito


Baaahh! Esqueçam! Estava a sonhar alto! Outro dia houve um analista que veio dizer que o Dow Jones ia para os 80000 pontos e que estamos a toques de um major bull market e aquilo impressionou-me tanto que, depois do trumptrauma, devo ter ficado com uma parte do cérebro feita em papa! Não ponham dinheiro nesta hipótese e protejam-se como puderem! 

Falando a sério, se virem o PSI abaixo do mínimo anual... já vos disse para vender tudo, depois para entrarem curto, para emigrarem, para entrarem em depressão, para se enfiarem em casa a ver os programas da tarde na tv com os pezinhos perto do lume, para se enfiarem na cama a chorar o cacau que o bcp vos torrou, etc... de maneira que... se virem o PSI20 abaixo dos 4150 e ainda estiverem investidos, já sabem que não vos posso aconselhar mais nada a não ser...


Apenas um último mistério por resolver: como é possível que a eleição de Trump não tenha sido a pior notícia da semana? 


12.11.16

A vitória de Trump

Na quarta-feira, quando se tornou claro que os americanos tinham posto a comandar a civilização um troglodita egocêntrico e profundamente ignorante, lembrei-me de duas personagens que estão nos antípodas de D. Trump. 

Foi Churchill quem disse, com a fineza que só está ao alcance dos homens que verdadeiramente dispõem das ferramentas para conduzir o mundo, que a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as outras. Churchill, que salvou Inglaterra e derrotou Hitler, e que se houver sítio neste universo para os mortos se preocuparem com os vivos, deve estar banzado com quão má pode ser, de facto, a democracia (apesar de, por certo, todas as outras serem piores)! 

Lembrei-me de Churchill e de Leonard Cohen (mal eu sabia que dois dias mais tarde lamentaria a sua morte) e fui ouvir Everybody knows:


Toda a gente sabe, toda a gente sabe sempre, mas depois há sempre este fatalismo que faz com que pareça que não sabemos. Achei Cohen velho e abatido no videoclip de há 2 anos, mas continuava lá aquela elegância que condiz com as palavras certeiras que nos legou para sempre. Palavras que vêm tão a talhe de foice neste tempo em que, de repente, voltamos a ter sobre nós a crença de que a humanidade não habita toda no mesmo planeta e não persegue, em suma, um objetivo que é igual para todos: levar a nossa vida até ao fim com inteligência e que o nosso contributo final, ainda que diminuto, possa ser positivo. 

A verdadeira ironia nem está em que teimemos em escolher os impreparados para nos liderar, mas sim em acharmos que depois de os escolhermos eles se vão revelar boas surpresas. E isso é irónico porque muitas vezes sobrevalorizamos a nossa inteligência quando afinal de contas decidimos de uma forma que envergonharia o pior dos jumentos. Ouvir tantos iluminados a pedir para darmos o benefício da dúvida ao homem, faz lembrar tragicamente aqueles casais de namorados que andam sempre a turra e à massa até que decidem casar na convicção de que depois da boda tudo será diferente! Não será, mas eles descobrirão isso sozinhos.

Everybody knows, diz-nos Leonard Cohen, the poor stay poor, the rich get rich! Quando vemos os pobres americanos, pretensamente desiludidos com o sistema (tão desiludidos quanto os britânicos que seguiram o mentecapto Farage e optaram pelo isolacionismo, ou os franceses que escolherão Le Pen, ou os italianos que tudo farão para ficar com o palhaço Grillo, depois de outro palhaço chamado Berlusconi, ter dado cabo deles), quando vemos os pobres americanos votarem maciçamente em quem vai acabar com o Obamacare no primeiro dia de mandato ou baixar os impostos para as empresas mais ricas e para as maiores fortunas, percebemos que Cohen não falha um milímetro! That's how it goes! O programa de Trump é claro: expulsar os imigrantes ilegais e criar milhões de empregos mal pagos na recuperação de infraestruturas para que o poor american hard worker possa lançar mãos à obra em prol do crescimento da riqueza dos que já estão bem na vida. Talvez assim seja possível baixar impostos, gastar mais de 500 biliões de dólares em obras e não acabar falido. O mais provável, contudo, é que tudo acabe mal, para bem de todos nós!

O primeiro encontro

Para quem como eu tem formação em ciências é o mistério do desconhecido o que mais atrai; é o facto de não sabermos e de termos consciência de que não sabemos e que morreremos sem saber que é mais sedutor. E para aqueles que tomaram contacto com a ciência que vai tendo algum sucesso na procura racional de explicações para o universo, agrava-se sempre a frustração perante a possibilidade de conhecer o que não temos ilusões de que estará muito para lá das nossas capacidades cognitivas. E, no entanto, o que nos mantém verdadeiramente entusiasmados e alertas é essa ambição de compreender um pouco mais, a cada dia que passa, nem que seja através da sugestão e do sonho! 

No filme O primeiro encontro há essa civilização extraterrestre que, de um dia para o outro, coloca naves a flutuar sobre 12 locais à superfície da Terra. Perante a novidade e a ameaça, nós os humanos agimos da forma habitual, primeiro com medo, depois com irracionalidade e finalmente com agressividade. Mas sempre desunidos e sem que as ferramentas de que dispomos nos sejam úteis: não é útil a luz que os nossos olhos captam porque os ecrãs não tardam a ser por nós desligados, porque a atmosfera permanece sempre envolta em névoa, e porque os nossos pesadelos estão sempre lá para nos distorcer a realidade; não é útil a audição nem os sons que produzimos, porque os problemas de comunicação parecem inconciliáveis (é irónico que acabe por ser mais fácil interagir com uma civilização que não evoluiu no nosso planeta, do que confiarmos naqueles que são da nossa espécie), nem nos vale de nada o nosso cérebro pretensamente tão inteligente se, quando o temos de usar, preferimos atuar por instinto. 

O filme recusa em absoluto a fantochada brutal e psicadélica e, ao fazê-lo, abre portas ao sonho que acaba por nos colocar um poucochinho mais perto de compreender o universo. Poesia e arte como já não víamos há muito tempo numa sala de cinema! No final, creio, há uma mensagem de grande otimismo: a nossa inquietude perante o universo avassalador e inexplicável não é solucionável mesmo que possuamos tecnologia que nos permita viajar entre as estrelas (não é, portanto, um defeito nosso). Trata-se sim de uma característica que está imbutida no tecido do espaço-tempo como a força da gravidade ou o valor de pi! No fim, todos estaremos limitados nos nossos sentidos, como o heptápodes que acabaram por aparecer por cá por terem uma ineficiência evolucionária na forma como percepcionam o tempo. Felizmente, há alguém que está uns furos acima do comum mortal e soluciona todos os problemas comunicacionais, permitindo uma transação justa: eles levam o conhecimento do tempo contínuo e nós ficamos com o poder de ver o futuro que nos dá a hipótese de solucionar todos os males do mundo... ou não! Mas mesmo essa heroína da comunicação interestelar (a personagem de Amy Adams) terá que se debater com a mais profunda das nossas angústias: a necessidade de, em última instância, termos que decidir!

Vão ver que, pela parte que me toca, ainda não vi melhor este ano!

11.11.16

Leonard Cohen, 1934-2016

Hoje acordamos com a triste notícia da morte de Leonard Cohen! A sensibilidade que tanto nos enriquece e o prazer que ganhámos em o ouvir é o suficiente para não passarmos ao lado de tal efeméride! De tantas outras que fazem parte da nossa vida, Suzanne.   


Suzanne, In memoriam
Leonard Cohen
1934-2016

7.11.16

Bom senso americano (parte 2)

Olhando para estes valores, poderíamos concluir, de uma maneira quiçá primária, que a esquerda democrata é boa para os mercados e que a direita republicana traz bastante mais turbulência! Mas também podemos assinalar que os períodos eleitorais, principalmente quando a mudança de presidente é imperiosa, costumam ser tempos de incerteza e momentos para os investidores, talvez no uso do tal princípio da psique humana de que nada corre bem ou mal para sempre, forçarem viragens no ciclo económico! 

Não admira, portanto, que nesta altura, estejamos a passar por tanta turbulência nos mercados e que poucos dos mais experimentados tenham o mau senso de olhar para os números da economia e pensar que, pelo menos na América, esta está pujante e de boa saúde! É verdade que o PIB sobe 2,9% e o emprego é praticamente pleno, mas também em novembro de 2000 parecia que o bem estar económico nunca mais pararia de subir e que as empresas da Internet operariam um milagre de multiplicação da prosperidade. Nessa altura, tal como hoje, a FED estava na iminência de iniciar um ciclo de subida das taxas de juros para que não se desse um sobreaquecimento e muito poucos estavam à espera que as bolsas deixassem de subir só porque um novo presidente seria eleito! De modo idêntico, se bem que em sentido oposto, em novembro de 2009, tudo estava tão mal, e a confiança tinha caído tão fundo, que muito poucos deram credibilidade à subida nos dois meses anteriores às eleições.

Agora, em 2016, estamos na era das redes sociais e da Internet em todas as casas. Porém, a esperança de que a proliferação de informação acessível a todos de forma fácil e rápida contribuísse para um maior conhecimento e para decisões mais racionais esvaiu-se em pouquíssimo tempo. Em vez disso, o mundo tornou-se o palco dos larachentos, da opinião fácil e desinformada, do jornalismo barato e sempre no fio da navalha do sensacionalismo, e das teorias mirabolantes acerca de tudo e mais alguma coisa. Tudo o que sempre funcionou, afinal está mal e tem que ser mudado, o que nos faz sentir bem, afinal prejudica, o que é certo não pode estar mais errado, e o que hoje é verdade, amanhã virou mentira e depois de amanhã está outra vez certo. Para tudo há um espectro de opiniões que vai de menos a mais infinito e cada um de nós, se não se puser a pau, corre o risco de ensandecer com as infinitas possibilidades do relativismo!

Não admira, por conseguinte, que gente como os Le Pen, como Nigel Farage ou Boris Johnson, como Beppe Grillo, Sarah Palin ou Donald Trump, que há poucos anos seriam rejeitados liminarmente pela maioria habituada à informação assente na prática quotidiana, agora se afigurem plausíveis aos olhos daqueles que andam perdidos no oceano do pseudo bom senso relativo da era das redes sociais e do jornalismo de pacotilha! 

O que é que isto tem que ver com os mercados financeiros? 

Absolutamente tudo! 

À parte a situação agora se assemelhar de forma flagrante à que vivemos em 2000, e pese embora a história nunca se repetir exatamente da mesma forma, não deixa de ser um cenário com condicionalismo inéditos o que temos diante de nós. Nunca como agora a perspetiva de sermos servidos por governantes talhados à imagem e semelhança deste relativismo permanentemente em rotação se tornou tão forte. Acabou-se a era do debate racional e da troca de argumentos; foi-se a época do pensamento emotivo, mas que punha à frente de tudo o interesse da maioria, assente na aprendizagem ancestral e no acumular de experiência quotidiana. Na eleição de amanhã não estão em confronto diferentes formas de formatar a sociedade e contribuir para a prosperidade global, mas sim diferentes dosagens no experimentalismo com que se encaram situações pelas quais já passamos antes. E experimentalismo costuma soar a incerteza e, se a incerteza sobe para além do razoável, dizem os investidores mais tradicionais e sensatos, money is king!

Olhando para o S&P500, diria que entre hoje e amanhã terá que reagir em alta! É muito raro o índice estar sobrevendido (vejam o RSI) e não ressaltar, sendo que desta vez há ali a média móvel dos 200 dias (linha lilás) a servir de amparo! Uma vitória limpa de Hillary Clinton pode levar a um teste dos 2116 como resistência. Se Trump ganhar ou se não aceitar o resultado das eleições os índices de ansiedade vão subir em flecha e podemos até vir testar diretos os 2044 pontos, onde está a nossa linha vermelha. Se chegarmos a esse ponto, definitivamente, não vemos uma quebra em baixa à primeira e achamos que é provável o tal ressalto! Estamos bastante pessimistas (como quase toda a gente) e não nos parece que o índice volte a fechar acima dos 2116 tão cedo, sendo que mudamos outra vez para longo na quebra em alta da Ltd a vermelho, hoje nos 2141 pontos. Boa sorte para todos!


God bless America...

6.11.16

Corticeira Amorim

A Corticeira Amorim tem sido a grande estrela da nossa bolsa nos últimos anos: desde finais de 2012 a cotação da empresa multiplicou por 9 e este ano leva 37% de subida, tendo, há três semanas, atingido máximos históricos. Entretanto, a cotação foi descendo nos últimos dias e na sexta-feira deu-se o desiderato: os irmãos Amorim resolveram vender a institucionais 10% das ações que detinham na empresa, acabando por fechar negócio a 7,90€ por título, facto que motivou um despenque de quase 8%!

Um dos motivos que tem levado a corticeira (que é líder do setor a nível mundial) a passar quase despercebida a muita gente é a baixíssima liquidez que apresenta. Para um indivíduo assumir uma posição que se veja é o cabo dos trabalhos tal é o baixo volume disponível e se tem que vender é uma aflição maluca pois não é fácil encontrar quem acuda! Ora esta libertação de 10% das ações, mais de 13 milhões de papéis, vai aumentar o free float de 15 para 25%, pelo que dará uma grande ajuda na resolução deste problema. Para além disso, estamos em crer que tornará a empresa apetecível para outros públicos, designadamente, para aqueles que não se contentam com pouca papelada. E olhem que os da CGD concordam connosco!

Do lado dos fundamentais, apesar da galopada furiosa de 1000% em quatro anos, a verdade é que a esfolassobreiros não parece estar cara: lucrou até ao momento, no que vai de ano, 55 milhões (+33% que há um ano), estando avaliada em cerca de 1059 M€ (um PER relativamente conservador de 15)! E a dívida é uma pipoquinha deliciosa: 64 milhões e a descer 25% no ano! What the fuck! Queremos! 

Onde é que se faz uma compra a sério? Resposta rápida: por volta dos 7,2€! Vai lá? Não cremos! Mas contem connosco para ficarmos com as vossas se as quiserem dar a esse preço!

PSI20

Depois de traçar os 4600 pontos, foi em menos de um fósforo que o PSI20 se pôs outra vez em cima da linha vermelha. Neste momento, não há nada de bom que possamos dizer, a não ser talvez esperar que o suporte funcione mais uma vez e que o facto de o índice estar quase sobrevendido ajude! É preciso ter muita esperança, mas neste mundo não há impossíveis. Como temos dito, neste momento, estamos todos nas mãos dos americanos e não se pode dizer que estejamos bem entregues porque o panorama por lá também não se recomenda de todo. 

É triste, mas em três semanas, passamos de um possível final de ano cheio de doçura sobre a mesa, para uma perspetiva bem mais amarga para os longos! É assim a vida e não há de que reclamar! O lado bom da coisa é que pode ser que tudo se componha e para a semana estejamos outra vez otimistas! Nota final: quebra o suporte em fecho e vai a mínimos!

Bom senso americano (parte 1)

Manda o bom senso que estejamos atentos aos números da economia se queremos tomar decisões relativas aos nossos investimentos. Com frequência semanal são publicadas estatísticas, a que todos temos acesso imediato, relativas às encomendas da indústria, às folhas de pagamento de salários, aos níveis de confiança dos diferentes agentes económicos, ao crescimento do PIB e dados sobre o andamento do emprego. Manda o bom senso, mas, como muitas vezes sucede, não é isso que aconselha a prática quotidiana, pois as estatísticas, para além de obviamente poderem ser marteladas, dizem sempre respeito ao passado, ao passo que quando tomamos uma decisão relativamente aos nossos investimentos, estamos a projetar o futuro!

Também é de bom senso que, se queremos tomar decisões relativas a investimentos no mercado financeiro de um dado país, estejamos atentos aos sucessos da economia desse país. No caso que nos diz respeito, para comprar/vender no PSI teríamos que olhar com muita atenção para o desempenho da geringonça, ou para o que se vai passar com a CGD, ou para o comportamento dos juros da DP no mercado secundário, ou ainda para os resultados trimestrais que vão sendo publicados pelas empresas, etc. Contudo, mais uma vez, a prática quotidiana vai-nos dizendo que as notícias que vão saindo acabam por fazer sentido apenas quando olhamos para trás e justificam movimentos que pareciam até nem ter lógica quando ocorreram!

Também manda o bom senso que se olhe para cada país e mercado como um caso concreto, com as suas próprias características e condicionalismos, que devem ser analisados à luz do desempenho da economia e das decisões dos seus governantes, da confiança que se cria nos investidores, e das empresas que possuiu e dos mercados que conquista. Contudo, também aqui a prática diária nos ensina que o bom senso não tem lugar nos mercados e que, no fim de tudo, raríssimo será o investimento que faça sentido do lado longo, mesmo que tudo pareça estar bem,... se os mercados americanos estiverem a cair!

Sempre os americanos!

Bem vistas as coisas, se quisermos efetivamente ser sensatos, devemos olhar antes de tudo o mais para a América: se os EUA estiverem a subir, os outros podem subir também, ainda que não seja certo que o façam; mas se os americanos descerem, não há bom senso que resista à evidência de que as subidas serão exceções! A Alemanha pode ser o motor da Europa, aos ingleses pode-lhes dar para brexitar, os chineses bem podem vir a ser a segunda maior economia mundial e o judoca Putin pode torrar rios de rublos preciosos a terraplanar a Síria à base de balázios! No final, quando a América desce, ficamos todos mais pobres e nem santo nos vale. O capitalismo da América é o capitalismo puro, aquele que assenta no mérito e na resiliência de cada ser humano, e na convicção de que a eliminação da pobreza não está na redistribuição, mas sim na capacidade de os ricos enriquecerem cada vez mais, criando em última instância condições de prosperidades universal! Esse é o capitalismo que, a nós europeus, nos soa demasiado associal e até perverso, mas que inegavelmente cria as condições para o surgimento das mais prósperas empresas do mundo e para a sociedade mais avançada em termos tecnológicos!

A economia capitalista americana não tem ilusões acerca da natureza profundamente cíclica do bem estar económico: não é possível crescer de forma contínua, até porque a própria natureza humana se sente crescentemente desconfortável com um sucesso prolongado, criando condições de stress para que ocorram correções! Essas correções, longe de serem defeitos do sistema, são sim oportunidades para que a seleção natural funcione e outros possam ter a oportunidade de se afirmarem!

Historicamente, pelo menos nos últimos 25 anos, temos assistido a ciclos económicos cujo início tem sido marcado pelas eleições presidenciais. O gráfico seguinte é o semanal do S&P500 desde a eleição de Bill Clinton para o primeiro mandato, em 1991.


Durante os oito anos em que Bill Clinton esteve na Casa Branca, o índice mais representativo dos mercados mundiais cresceu a uma taxa anualizada de 15,3% (o PIB americano cresceu mais de 4% numa base anualizada). A vitória de George W. Bush, a 7 novembro de 2000, na célebre eleição em que perdeu em número de votos face a Al Gore, já trazia o lastro de uma correção no índice de 12% em menos de 2 meses (começara precisamente a 11 de setembro, um ano antes dos atentados de Nova Iorque) e continuaria depois até à explosão da bolha das dotcom, tradicionalmente marcada no mês de março de 2001. No decorrer dos dois mandatos de Bush filho, marcados pelas decisões polémicas que todos recordamos, o índice ainda recuperaria do estoiro e entre 2003 e meados de 2007 teve uma subida bastante interessante. Contudo, a crise do subprime a partir de agosto de 2007, e a falência do Lehman Brothers já em outubro de 2008 deitaram tudo a perder e o balanço final da aventura foi uma queda anualizada de 4%! Nos dois meses antes da eleição de Barack Obama, o mercado estabilizou e ensaiou uma subida de 9%, a tal incerteza/expetativa gerada pelas eleições. Todavia, quando Obama assumiu a sala oval, em janeiro de 2009, herdou uma situação económica caótica, com o mundo à beira do caos financeiro. Até março desse ano, o S&P500 ainda cairia 20%, mas depois foi sempre a subir, puxado pelas grandes empresas do novo capitalismo americano de base fortemente tecnológica, acabando por marcar um saldo anualizado positivo de 12%.

Música americana:


A segunda parte deste texto será publicada amanhã de manhã!