Na quarta-feira, quando se tornou claro que os americanos tinham posto a comandar a civilização um troglodita egocêntrico e profundamente ignorante, lembrei-me de duas personagens que estão nos antípodas de D. Trump.
Foi Churchill quem disse, com a fineza que só está ao alcance dos homens que verdadeiramente dispõem das ferramentas para conduzir o mundo, que a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as outras. Churchill, que salvou Inglaterra e derrotou Hitler, e que se houver sítio neste universo para os mortos se preocuparem com os vivos, deve estar banzado com quão má pode ser, de facto, a democracia (apesar de, por certo, todas as outras serem piores)!
Lembrei-me de Churchill e de Leonard Cohen (mal eu sabia que dois dias mais tarde lamentaria a sua morte) e fui ouvir Everybody knows:
Toda a gente sabe, toda a gente sabe sempre, mas depois há sempre este fatalismo que faz com que pareça que não sabemos. Achei Cohen velho e abatido no videoclip de há 2 anos, mas continuava lá aquela elegância que condiz com as palavras certeiras que nos legou para sempre. Palavras que vêm tão a talhe de foice neste tempo em que, de repente, voltamos a ter sobre nós a crença de que a humanidade não habita toda no mesmo planeta e não persegue, em suma, um objetivo que é igual para todos: levar a nossa vida até ao fim com inteligência e que o nosso contributo final, ainda que diminuto, possa ser positivo.
A verdadeira ironia nem está em que teimemos em escolher os impreparados para nos liderar, mas sim em acharmos que depois de os escolhermos eles se vão revelar boas surpresas. E isso é irónico porque muitas vezes sobrevalorizamos a nossa inteligência quando afinal de contas decidimos de uma forma que envergonharia o pior dos jumentos. Ouvir tantos iluminados a pedir para darmos o benefício da dúvida ao homem, faz lembrar tragicamente aqueles casais de namorados que andam sempre a turra e à massa até que decidem casar na convicção de que depois da boda tudo será diferente! Não será, mas eles descobrirão isso sozinhos.
Everybody knows, diz-nos Leonard Cohen, the poor stay poor, the rich get rich! Quando vemos os pobres americanos, pretensamente desiludidos com o sistema (tão desiludidos quanto os britânicos que seguiram o mentecapto Farage e optaram pelo isolacionismo, ou os franceses que escolherão Le Pen, ou os italianos que tudo farão para ficar com o palhaço Grillo, depois de outro palhaço chamado Berlusconi, ter dado cabo deles), quando vemos os pobres americanos votarem maciçamente em quem vai acabar com o Obamacare no primeiro dia de mandato ou baixar os impostos para as empresas mais ricas e para as maiores fortunas, percebemos que Cohen não falha um milímetro! That's how it goes! O programa de Trump é claro: expulsar os imigrantes ilegais e criar milhões de empregos mal pagos na recuperação de infraestruturas para que o poor american hard worker possa lançar mãos à obra em prol do crescimento da riqueza dos que já estão bem na vida. Talvez assim seja possível baixar impostos, gastar mais de 500 biliões de dólares em obras e não acabar falido. O mais provável, contudo, é que tudo acabe mal, para bem de todos nós!
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