12.11.16

O primeiro encontro

Para quem como eu tem formação em ciências é o mistério do desconhecido o que mais atrai; é o facto de não sabermos e de termos consciência de que não sabemos e que morreremos sem saber que é mais sedutor. E para aqueles que tomaram contacto com a ciência que vai tendo algum sucesso na procura racional de explicações para o universo, agrava-se sempre a frustração perante a possibilidade de conhecer o que não temos ilusões de que estará muito para lá das nossas capacidades cognitivas. E, no entanto, o que nos mantém verdadeiramente entusiasmados e alertas é essa ambição de compreender um pouco mais, a cada dia que passa, nem que seja através da sugestão e do sonho! 

No filme O primeiro encontro há essa civilização extraterrestre que, de um dia para o outro, coloca naves a flutuar sobre 12 locais à superfície da Terra. Perante a novidade e a ameaça, nós os humanos agimos da forma habitual, primeiro com medo, depois com irracionalidade e finalmente com agressividade. Mas sempre desunidos e sem que as ferramentas de que dispomos nos sejam úteis: não é útil a luz que os nossos olhos captam porque os ecrãs não tardam a ser por nós desligados, porque a atmosfera permanece sempre envolta em névoa, e porque os nossos pesadelos estão sempre lá para nos distorcer a realidade; não é útil a audição nem os sons que produzimos, porque os problemas de comunicação parecem inconciliáveis (é irónico que acabe por ser mais fácil interagir com uma civilização que não evoluiu no nosso planeta, do que confiarmos naqueles que são da nossa espécie), nem nos vale de nada o nosso cérebro pretensamente tão inteligente se, quando o temos de usar, preferimos atuar por instinto. 

O filme recusa em absoluto a fantochada brutal e psicadélica e, ao fazê-lo, abre portas ao sonho que acaba por nos colocar um poucochinho mais perto de compreender o universo. Poesia e arte como já não víamos há muito tempo numa sala de cinema! No final, creio, há uma mensagem de grande otimismo: a nossa inquietude perante o universo avassalador e inexplicável não é solucionável mesmo que possuamos tecnologia que nos permita viajar entre as estrelas (não é, portanto, um defeito nosso). Trata-se sim de uma característica que está imbutida no tecido do espaço-tempo como a força da gravidade ou o valor de pi! No fim, todos estaremos limitados nos nossos sentidos, como o heptápodes que acabaram por aparecer por cá por terem uma ineficiência evolucionária na forma como percepcionam o tempo. Felizmente, há alguém que está uns furos acima do comum mortal e soluciona todos os problemas comunicacionais, permitindo uma transação justa: eles levam o conhecimento do tempo contínuo e nós ficamos com o poder de ver o futuro que nos dá a hipótese de solucionar todos os males do mundo... ou não! Mas mesmo essa heroína da comunicação interestelar (a personagem de Amy Adams) terá que se debater com a mais profunda das nossas angústias: a necessidade de, em última instância, termos que decidir!

Vão ver que, pela parte que me toca, ainda não vi melhor este ano!

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