13.5.18

Ponto da situação

Na sexta-feira, perto do final da sessão, entramos em modo pânico quando nos demos conta de que estávamos com menos de 50% investidos com o PSI20 a romper alegremente os 5600 pontos e com cara de quem ia ter o arrojo de fechar em máximos semanais. Claro que não nos esquecemos de que tínhamos um alvo no índice que anda cerca de 1% acima do valor atual, pelo que o rácio não parecia especialmente favorável:


Mas sabem como nós somos: temos o vício no corpo e não podemos ver a coisa a subir sem espumarmos de ganância da mesma forma que nos borramos todos se a coisa azeda geral! Temos o coração mole, é isso, e pensamos assim, quesafodacaralho questamerda vai masé a máximos históricos e nós ficamos feitos pategos a olhar. Garanto-vos que foi assim mesmo com este português de rei, este português que os nossos avós também usavam quando se mandavam por esse mar fora em busca de especiarias (como tive oportunidade de recordar agora que ando a estudar história do 5º ano com a minha filhota). Por esse motivo, foi olhar para a lista e disparar meio à balda. Meio à balda é exagero de expressão porque, bem sabem, isto à sorte fica substancialmente mais difícil e nós não gostamos muito de dar ponto sem nó, mas o tempo era tão escasso que tivemos que usar toda a nossa artilharia neuronal para decidir onde despejar o grampo.

Optamos pela Sonae: no dia 17 apresenta resultados e é bem capaz de haver especulação de que serão bons como da outra vez (afinal de contas, a tão temida Mercadona ainda não chegou) e, além disso, muitos lorpas como nós vão começar a conjeturar que haverá boas novidades em relação ao lançamento do retalho em bolsa. E além disso, onde é que já se viu o PSI subir sem a Sonae exorbitar? O gráfico mandava, contudo, ser prudente porque há ali um canalito de curto prazo que precisa de ser quebrado antes de podermos sonhar com um pouco mais:


Foi por causa dessa prudência que não metemos a carne toda nesta e dividimos com a EDP. 

A cena passou-se assim nos recantos mais profundos da nossa exígua mente: a EDP apresentou resultados meio para o fatela e depois veio dizer que conta lucrar apenas(!) 800 milhões este ano, bastante abaixo dos 1000 milhões que marcou aqui há uns anos, pelo que havia todos os motivos para estar com um desempenho bastante negativo. Mas no final da sessão, depois de ter ido ao suporte dos 3 euros, estavam a aparecer compradores e dava a ideia de que fecharia em máximos do dia. Só por isso, fechamos e olhos e saltamos lá para dentro. Não tínhamos qualquer ideia de rumores nem nos apercebemos de que pudesse acontecer fosse o que fosse, ainda que tenhamos grandes conectes com o presidente Xi Winnie the Pooh Jinping (temos por natureza não ser gabarolas nem nada disso, mas para que não haja dúvidas postamos uma selfie que tiramos da última vez que fomos comer um chop soi lá a casa):


A verdade é que estávamos todos martelados por termos ficado feitos burros a olhar para o nabal quando a Galp se fartou de fazer sinais de fogo de que ia subir e nós não aproveitamos para meter gasóleo de graça, de maneira que um dos nossos neurónios disse para o outro, peraí pá, não será que está aqui a oportunidade de finalmente este nosso gajo pagar a fatura da luz que está ali à espera de liquidez desde aqueles dias de delícia no inverno passado em que cometemos a loucura de pedir para ele pôr a casa à temperatura estrambólica de 20 ºC? E o outro, pois é caralho, um gajo paga à EDP à laparoto para termos a taça de 5ª maior eólica dos EUA, pelo que talvez seja boa ideia tratar de pôr o mercado a pagar. Com os dois de acordo, afaguei os tomates, carreguei no botão e mandei vir um lote.


5 minutos depois pensei que estava rico, garanto-vos que fui logo ao Booking de máquina de calcular  em punho para ver se já dava para ir de férias para o Algarve no verão (mesmo que a OPA fosse boa ainda não dava) e ia ter eletricidade de graça nos próximos anos quando vi que os chineses bondosos me iam opar. Sempre quis ser opado, e já fui uma vez no BPI. Não sei se vocês já foram, mas garanto-vos que não sabem o que é viver se nunca foram opados. A sensação é agridoce com um ligeiro pendor para o amargo porque a nossa inclinação natural é sempre para nos recriminarmos por não termos carregado mais na carga e andarmos feitos néscios a pensar que podíamos ter governado a nossa vida de vez, como se isso fosse mesmo acontecer. Mas é uma sensação que se recomenda em absoluto, pelo menos enquanto se vive naquele frisson de saber a que preço nos vão opar! Para mim, pessoalmente, foi como reviver os dias gloriosos de há um ano atrás, quando nós, os tugas, batemos todos os recordes de felicidade (bendito 13 de maio e dias à volta)!

Depois veio o valor que o chinos pagam e pqp que OPA mais sem graça: 5%?! Wtf! Ou os chineses não sabem opar em condições ou nós temos fama de baixar as calças baratinho, mas eu acho que era de ponderar fazer um abaixo assinado ou uma subscrição à Assembleia da República no facebook para obrigar esta gente a respeitar-nos: vão gozar com o (acho que já usei o meu plafond diário de caralhadas). Eu já andava a contar com 5 euros e sai-me 5%. O que vale é que já ouvi dizer que amanhã vai abrir a subir mais de 10%, pelo que pode ser que dê para kompensar a azia.

Eu não me vou por para aqui a conjeturar sobre as virtudes, os defeitos e as possibilidades de sucesso da OPA, mas é preciso não nos esquecermos de que a EDP tem 13,8 mM€ de dívida o que atira o seu valor de mercado, para todos os efeitos, para a casa do 25 mM€. É esse o valor que os colegas chineses assumem e eu não me admira nada que o nosso PM abra logo as pernas: claro que se trata de uma empresa privada, mas é uma empresa privada portuguesa, com uma dívida que é, em grande medida, nacional. Por outro lado, não nos podemos esquecer de que a EDP, apesar de laborar em quase monopólio, tem um negócio de algum risco, por exemplo, nos EUA onde a administração Trump não morre de amores pelas renováveis e também na Europa onde o tempo das vacas gordas em que o povo andava cego e era possível fazerem-se negociatas impensáveis em nome da treta climática começa a abrir brechas. Perguntem ao Mexia porque é que ele é o gestor mais bem pago em Portugal; perguntem-lhe como é que vendeu a EDPr em bolsa a 8 euros e nenhum dos compradores iniciais ganhou dinheiro apesar de a empresa ser fortemente subsidiada com a eletricidade mais cara da Europa na ótica do consumidor; perguntem-lhe que vantagem têm verdadeiramente os portugueses da sua generosidade para combater o aquecimento global, pagando para instalar eólicas por todo o lado, e depois bombas nas hidroelétricas para bombear água e assim consumir a eletricidade gerada e não aproveitada quando há vento; perguntem-lhe... deixem lá que não interessa de nada. O que interessa é que eu não estou tão otimista quanto muitos em relação a uma OPA concorrente. Não descarto, mas não vejo o negócio como tão apelativo quanto isso e julgo que quem quiser opar e for inteligente esperará para ver se os chineses não levam com tantos entraves que o negócio caia. Quanto à EDPr os chinos não são burros e pagam o mínimo possível: toda a EDPr já está praticamente na EDP!

Perguntam-me, finalmente, pela Cofina e pela Sonae Indústria:
- Na Sonae gostei dos resultados porque me continua a parecer que a empresa está barata. Houve queda dos lucros que se ficou a dever essencialmente a um câmbio pouco favorável (entretanto, desde março, o dólar canadiano tem tido uma trajetória ascendente) e à paragem de laboração das fábricas portuguesas (fala-se em 10 milhões de euros de indemnização das seguradoras). Não me parece que seja, contudo a melhor opção neste momento, pelo que, a menos que quebre em alta a zona 2,90-3,10, julgo ser mais sensato aguardar pela aproximação dos resultados do 2º trimestre.
- Já aqui disse que não acredito que alguém ande a comprar Cofina a estes valores por causa da CMTV, dos jornais ou das revistas. Por causa disso, a empresa não interessava nem ao pai natal. O interesse está no jogo online e os resultados apresentados nada dizem a esse respeito, pelo que se continuará a tratar de uma questão de fé. Noto é que há números muito interessantes que vêm de outras empresas desse setor e a própria entrada da Santa Casa no negócio só dá força a essa convicção. A esse propósito, julgo que a entrada da SCML tem um impacto muito maior ao nível da promoção do que o que terá do ponto de vista da concorrência. Seja como for, parece-me que este é um investimento mais de longo prazo do que eu gosto de fazer e não descarto que possa haver algum perder de gás no curto prazo! 

E, ainda, para terminar: será que agora que os chineses andam aí, os do BCP não se lembrarão de opar o nosso banquito! Duas OPAS para mim talvez fosse excessivo, pois nada fiz para merecer tanto, mas não me importo que me tirem um pouquito do meu quinhão de delícias post-morten por conta de papar duas OPAS seguidas em vida! Deus queira! Amen!

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