Se nos correu bem a semana?, pergunta o amável Herculano, frequentador preocupado deste espaço. Que não! - respondemos. A verdade é que correu uma baita caca, embora até ao meio-dia de quinta-feira nem tivéssemos razões de queixa. Depois percebemos que estávamos do lado errado do mercado e nem deu tempo para dizer ai: quando demos por ela já tinham evaporado 2 pontos percentuais do lucro anual e, como toda a gente sabe, ao vapor não lhe é possível deitar a mão. Do mal o menos, como 28% vão nas mais-valias, não chegou a 1 ponto e meio: eis uma das vantagens de se pagar impostos!
O que se segue é que ninguém que queira ganhar dinheiro nos mercados se pode pôr à procura de desculpas externas para as semanas em que a coisa dá para torto. Trata-se de algo que todos temos obrigação de saber, tal como é mandatório retirar dos flopes consequências que nos tornem mais eficientes.
A meu ver, a maior aprendizagem da semana é a que exponho a seguir.
Os mercados habituaram-se a um Mário Draghi mãos largas já que, por três vezes em que, no passado, o homem tomou decisões importantes, as bolsas reagiram com euforia. Desta vez, os mercados vinham desde outubro a
antecipar medidas robustas e, em consonância, tinham apresentado subidas expressivas (o DAX, por exemplo, subia 20% no início da semana, relativamente ao início de outubro). Assim sendo, o erro de cada um de nós que se deixa ficar à espera de boas novas em situações como esta, estará em pensar que o mercado continuará a subir por causa da apresentação final do plano de medidas: se as novidades fossem boas haveria
sell on the news, se fossem más haveria
sell-off. O problema é que todos sabemos isso (ou quase todos), mas na hora agá acabamos sempre por pensar que
desta vez será diferente. E o mal é que acaba por ser sempre igual! Na verdade, dificilmente haveria notícias capazes de motivar subidas no mercado, porque todos quantos estavam na expetativa dessas mesmas notícias já teriam investido muito tempo antes, de maneira que rarearia o dinheiro fresco para entrar nos mercados. E nestes casos, quem tem experiência disto sabe que é muito fácil transformar um reles
sell on the news, num
sell-off de monta: a desculpa de que o Draghi foi conservador e não fez o que o mercado antecipava foi forjada para espalhar o pânico e amplificar o movimento. No final de contas, o BCE foi razoável e não seria de esperar que um banco central que sempre foi conservador (ou não tivesse que agradar à Alemanha) fizesse já as loucuras que alguns vieram dizer que estavam a contar que fizesse. De maneira que estar do lado longo na quinta-feira a meio do dia era, de facto, um erro e o pior é que é um erro que a maioria dos investidores não se cansa de repetir (eu incluído): não digo que se devesse estar curto, mas depois das subidas antecipatórias das últimas semanas, estar de fora era do mais elementar bom-senso.
Nós não estávamos de fora, como dissemos, e já pagamos a fatura do erro (e de mais uma lição do célebre curso de bolsa que dura toda uma vida). Felizmente, uma parte significativa do que tínhamos investido estava no BPI, que nos fez a fineza de remontar no dia seguinte (pena que estivéssemos no DAX e não no S&P e já não tínhamos razões de queixa). Agora, como sempre, olhamos em frente.
Ficamos muito agradados com a decisão do BCE que nos pareceu equilibrada e muito racional (compreende-se, naturalmente, que o mercado tenha reagido de forma brutal, não só porque houve quem tivesse necessidade de reajustar carteiras - notou-se, por exemplo, um movimento de institucionais dos títulos para a liquidez com o euro a reagir de forma, à primeira vista, tresloucada -, mas também por causa do pânico gerado por uma queda abrupta - no DAX, por exemplo, viu-se muita gente a vender filada no fecho do gap nos 10500), e estamos em crer que os números que têm saído relativos à economia real poderão evitar um movimento em baixa mais prolongado, ao mesmo tempo que o mercado vai assimilando o impacto real das mexidas assimétricas do BCE e da Fed.
No DAX, vamos assistir a uma luta entre quem acha que o gap dos 10500 pontos é para ser fechado já e aqueles que acreditam em máximos relativos antes. Deixo duas perspetivas (otimistas!) no gráfico seguinte: na primeira vamos já para cima até à zona dos 11600-11700 pontos para depois vir eventualmente fechar o tal fosso nos 10500 e mais tarde atacar máximos históricos. Na segunda, não superamos os 11000 pontos e a teoria do fecho do gap vence desde já: depois vamos a máximos. Pessimista (também sou, raramente!) fico se o fecho do gap nos 10500 pontos não sustiver a queda e se vir o euro (contra toda a racionalidade) a galgar os 1,10!
Por terras lusas, gostaria de fazer uma pequena atualização aos dois bancos (ainda que o João o tenha feito há
pouco tempo).
No BCP vejo o seguinte. É muito importante que não quebre em baixa o mínimo relativo anterior (aliás, como podem ver no gráfico, há uma hipotética Lta de curto prazo que pode ter um ponto de toque no fecho de sexta-feira). Se amanhã fechar acima do valor de fecho da semana livra-se, por ora, de maiores apertos, e pode dar-se a quebra daquela Ltd (que já falhou uma vez). Entretanto, faz um
higher low que pode ser usado para trunfar contra os
lower highs que tem marcado! Fechando abaixo dos 0,0460 marca um
lower low bastante comprometedor, e acima dos 0,0536 dá sinal de compra! O nosso palpite é que o BCP só vai sair do marinanço quando se conhecerem decisões concretas na Polónia (o
Millenium Bank polaco fez mínimos históricos na sexta-feira, mas fechou a sessão com uma subida robusta e em máximo do dia, o que não deixa grande margem para se tirarem conclusões imediatas, ainda que mínimos históricos sejam sempre mau sinal).
É o BPI o banco que ainda me faz ter alguma fé (já é uma questão de fé!) na banca lusa. Na quinta-feira fez um movimento agreste e bem que temi que se fosse escangalhar, mas no dia seguinte notou-se que havia muita gente disponível para se atravessar e, mesmo com os mercados globais a hesitar, não teve pejo em retomar a Lta que fez perigar no dia do sell-off. Por esse motivo, dou como possível uma nova investida à zona 1,16-1,20. Para baixo, a linha inclinada já se viu que tem força, mas é o suporte horizontal na zona do euro que nos deve servir de guia!