30.12.15

Bom ano novo

De fora das negociatas para cumprir duas semanas de higiénica abstração a que me obrigo por alturas do Natal, venho aqui ao blogue quase só para vos desejar um ótimo ano de 2016!

Tal como tem sucedido nos últimos anos, também agora terminamos numa toada de algum desânimo, com a maior parte dos analistas cabisbaixos e a descontar um futuro cheio de desafios difíceis de superar. Não admira que assim seja, se pensarmos na quantidade de acontecimentos que marcaram o ano e cujas repercussões se prolongarão no tempo: do terrorismo, às alterações climáticas, da queda do preço do petróleo ao início do ciclo de subidas das taxas de juros nos EUA, ou, a nível doméstico, a mudança de linha de orientação política ou a continuação do esvaziar do balão especulativo que permitiu à banca lucros brutais durante metade da primeira década deste século. Há muito pessimismo no ar e, no entanto,...

No entanto, quem está nos mercados ou nos negócios sabe que com otimismos é mais difícil ganhar dinheiro, visto que os otimistas, normalmente, são-no porque já estão investidos e vêm com ganhos acumulados! Ora quem já está investido já não investirá e estará de saída quando ficar menos otimista! 

Quem está nos mercados, neste nosso tempo, o único ismo que não pode dispensar é realismo. Isso e, claro, muita saúde! 

Deixo-vos, para descomprimir e preparar o terreno para um futuro à maneira, duas sugestões de cinema que não vão querer perder logo no arranque de 2016: A queda de Wall Street (estreia a 14 de janeiro e há edição do livro que serviu de base ao argumento para o mesmo mês) e The revenant - O renascido (a 21 de janeiro).




Votos de um 2016 cheio de BN e saúde de ferro!

23.12.15

Três melhores leituras do ano

No ano em que a publicação de Submissão quase em simultâneo com os ataques ao Charlie Hebdo fizeram de Michel Houellebecq uma espécie de Salman Rushdie do século XXI, foi graças ao autor francês que passei por meia dúzia de dias no verão de leitura imparável como já não me acontecia há imenso tempo. Por natureza sou pouco dado a modernices e dou de barato que a literatura, p.e., tal como o vinho do porto, tem que maturar tempo suficiente para que seja possível fazer a distinção entre o que é mesmo bom e o que parecia bom, mas afinal não passa de trampa. Por isso, quase nunca arrisco o meu dinheiro e o meu tempo em livros acabados de produzir e, por norma, dou mais de um século de margem de segurança (temo que seja por causa de indivíduos como eu que um escritor só se torne bom depois de morto). Plataforma, publicado no ano do ataque às torres gémeas, tem todos os tiques da literatura deste início de século, mas Houellebecq é um desses escritores raros que não perde nunca a noção do que pretende transmitir nem da forma como o quer fazer, mesmo naqueles momentos mais tensos em que parece que se vai destruir por completo e escrever frases que não lembrem ao diabo. Mesmo nessas alturas, safa-se incólume sem que consigamos perceber como o conseguiu fazer: é justamente essa destreza, creio, que o torna merecedor da nossa atenção. Isso e o carácter didático dos livros que publica, a descrição do sofrimento do homem moderno que já não tem fome e vive rodeado de todo um manancial de artefactos, mas que mesmo assim sofre em permanência e só em raríssimos momentos da vida experimenta uma felicidade que, não raras vezes, não dura mais do que uma fração de segundo do tempo cósmico. A plataforma que dá título ao livro é uma superfície giratória na qual se equilibram personagens que vivem na esperança de alcançarem a segurança do centro, mas que nunca se livram de, num dado momento preciso no tempo, serem lançadas borda fora pela força centrífuga. 


Uma das raríssimas exceções que abro aqui e ali para ler coisas novas calhou este ano ao belíssimo A zona de interesse de Martin Amis, e os motivos que me levaram a condescender foram dois. Em primeiro lugar, o livro trata de um tema que, pese embora todo o esforço e recursos que lhe tenho dedicado, continua a ser uma permanente fonte de mistério. Falo de todos os eventos que rodearam a ascensão e queda do III Reich e, neste caso em concreto, das relações nos campos de concentração na segunda guerra mundial, aqui com o pormenor importante, ainda que ficcional, de tratar do ponto de vista dos verdugos. Em segundo lugar, Martin Amis tinha sido responsável, antes do lançamento do livro novo, por uma das grandes leituras do ano (fiquei logo com essa sensação), graças a Money, publicado em 1984, e que estava na minha lista de espera para leitura desde que o apanhei aqui há uns anos por tuta e meia numa feira de desperdícios. Sabia das ótimas críticas que o livro tivera nos longínquos anos 80 de boa memória e o título era convidativo para quem exerce o ofício de N€B, mas mesmo assim acabei surpreendido com o prazer que me deu cada uma das 500 páginas da edição portuguesa. O Amis de 2015, envelhecido 30 anos, é mais burilado e contido, mas o de Money trata a linguagem de uma forma que só está ao alcance dos grandes e a verdade é que o livro vive em larga medida da capacidade do autor para escrever com todas as palavras dispostas sobre o papel com a arte do artesão relojoeiro que não desatina na sua obra nem que seja por um nanómetro. Não é pela história, que até nem defrauda, que Money vale a pena, mas sim pela arte do escritor, arte moderna com certeza, e por isso, não falamos da mesma arte de um clássico russo, mas tal como sucede no livro de Houellebecq de que falamos anteriormente, há qualquer coisa de profundamente artístico no relato destas vidas tão vulgares e tão trágicas como é, em certo sentido, a vida de cada um de nós!

  
O terceiro livro mais marcante do ano não é uma obra de ficção, mas um conjunto de biografias interligadas que atravessam um período de 60 anos (1770-1830) da nossa história comum e que viriam a marcar e definir a sociedade tecnológica em que hoje vivemos e sem a qual não nos imaginamos. Trata-se de A era do deslumbramento do historiador britânico Richard Holmes. A história começa com a narração da passagem de Joseph Banks pela Taiti e desde logo a primeira epifania: como foi diferente a postura de contínua aprendizagem e maravilhamento dos ingleses dessa época perante as novas terras que iam descobrindo, por contraste com a de outros, entre os quais os portugueses (de época anteriores, certamente), que nada mais pretendiam do que o saque e a conquista. Joseph Banks no paraíso a aprender uma maneira exótica e diferente de viver que, em vez de provocar repúdio, causa admiração, e influencia tanto quanto se deixa influenciar. Está dado o mote para a descoberta não só pelo prazer do conhecimento, mas para algo ainda mais essencial: a possibilidade de integrar novas perspetivas na nossa própria forma de pensar e de agir. É esta partilha e esta forma muito mais tolerante de encarar os outros que define o Iluminismo e em última instância há de conduzir ao mundo moderno. Muitos dos biografados são britânicos consagrados da história da ciência e do conhecimento, nomes como Herschel (o músico que se transformaria em polidor de espelhos e viria a construir telescópios capazes de descobrirem o planeta Urano - outra epifania), Humphry Davy, o inventor do arco voltaico, descobridor de elementos químicos e engenheiro da lanterna de segurança que revolucionou a mineração do carvão, permitindo industrializar o mundo sedento de energia, ou Michael Faraday, o tímido encadernador de livros que se transformaria num cientista autodidata e que acabaria por descobrir os segredos da indução eletromagnética com que se eletrificaria o planeta. Holmes trata os assuntos com a sapiência de um profundo conhecedor e a sensibilidade de quem entende que o mundo não avançou por terem existido almas geniais, mas sim porque cresceu o número daqueles que eram genuinamente humildes e estavam disponíveis para ouvir e prestar atenção, apesar de terem sido formatados para achar que o que soasse diferente estava errado. Creio ser essa a grande lição deste livro maravilhoso, lição essa que continua tão atual e é tão replicável na nossa vida quotidiana, que nos deixa a esperança, a cada um de nós que não somos geniais, de continuar a aprender a viver todos os dias!


Bom Natal para todos!

20.12.15

Pulled trigger?

Depois do festim curto, pós-BCE, com que o mercado fez questão de banhar os entusiastas do Marocas teremos nós, puxado o gatilho, nesta sexta-feira no nosso índice para rally de navidad?


Se a vela que se formou na última quinta-feira nos fez temer o pior em relação ao entusiasmo matinal, sendo transversal à maioria das cotadas e índices, houve um sentimento inverso que se apoderou do PSI20 no dia seguinte quando, ainda para mais, os mercados bolsistas europeus confirmavam o volte-face do dia anterior com quedas abruptas a acompanhar os americanos. Excelente o desempenho do português fechando em cima do topo do canal que teima em não ser quebrado. Se desta o quebrar (atenção que a volatilidade que tem estado presente nos mercados tem levado a falsas quebras), então o feeling com que ficamos na última sessão terá sido sensato e o gatilho, aí, terá sido realmente puxado. Vejam o gráfico:

  
Se o índice assim está, a maioria das cotadas diferentes não estarão:

Altri a 1% de máximos; 
CTT a 2% de resistência nos 8,88 que quebrada lança-a para a SMA200, neste momento, nos 9,45; 
Galp quebrou a SMA200, atingindo valores em fecho de quase 6 meses; 
NOS a vir de uma boa reacção ao suporte nos 6,95 e à SMA200; 
Portucel após correcção aos 3,50 a querer embalar novamente para atacar a resistência nos 3,88;
EDPr já, contextualizadamente, analisada aqui.

Para o fim, breves actualizações à banca que se manteve, fielmente, a negociar no intervalo lançado aqui - no BCP, BPI, Thom Yorke e uma paisagem fantástica:

Quem nos segue no FB talvez se tenha apercebido de como a referência ao Bank Millenium para o BCP fez todo o sentido e que o confirmar do bom desempenho da cotada Polaca, vinda de mínimos, fez disparar a cotação da acção portuguesa conforme, minutos antes, chamamos à atenção aqui. Desde então, tem vindo a subir, acompanhando a performance daquela da qual detém 50%, quebrando mesmo em alta o topo do canal descendente durante esta semana. Neste momento, está a um pequeno passo do cruzamento das médias móveis. Se o próximo fecho for positivo, confirma-se o pulled trigger que o forte volume no leilão passado também sustenta e que poderá levar à zona dos 0,056 como primeiro target. Se amanhã, à custa, por exemplo, dos espanhóis, a banca tuga padecer, fiquem atentos ao momento em que se der o tal cruzamento das médias. Se continuar a dar para o torto serve como suporte a linha superior do canal descendente quebrado ou a tal zona dos 0,046 (valor a que, diga-se de passagem, não acredito que possa chegar novamente, mas... se chegar, acredito que quebre em baixa!).


No BPI, fruto da volatilidade, quebrou (false break) por duas vezes a nossa linha de tendência sendo, prontamente, recuperada mantendo-a nos eixos que a levam a, neste momento, estar em cima da SMA200, resistência antes do embalo para os 1,30. Para a próxima sessão, se for positiva, não se admirem se for com alta valorização (à semelhança de BCP); se terminar negativa, mantenham-se de olho na quebra em alta da média dos 200 dias. Para baixo, atenção que o tombo ainda é grande, o nosso suporte chave está junto ao euro/acção, mas antes disso atenção às falsas quebras da tendência delineada.


A habitual nota musical desta vez dá-se por vencida, não seja por mais nada, que seja pelo fartote que se leva por esta altura mas tradição é tradição e quem sou eu para a contrariar! Caso a ignorem e prefiram melodias fora da época então façam scroll down no nosso blogue e avancem para aqui!

Feliz Natal para todos nós, com a certeza de que a ideia de um rallyzito o tornava muito mais risonho!




Música para festejar os ganhos em bolsa

Ouvi Laura Marling no Zona de conforto e é tão bom e bem disposto que não resisto a aconselhar-vos para recuperar forças no fim-de-semana. De resto, houve muita coisa boa no programa todo e é uma excelente ideia ouvi-lo na íntegra. Bom fds.


18.12.15

EDP Renováveis

Eu ainda sou do tempo em que nos enfiavam na cabeça, em doses cavalares, a cantiga de que o petróleo esgotaria nas jazidas num abrir e fechar de olhos e não haveria alternativa decente para fazer funcionar o mundo. Nos meus tempos de juvenil, não faltava quem vaticinasse um esgotamento total das reservas em 40 anos e havia espertos que asseguravam que, com o ritmo crescente de consumo, lá para 2015 já não haveria gota para meter no popó. Era a época das teorias do peak-oil, que conduziram às guerras no médio oriente e fizeram muitos entrar num frenesim de investimento em novas prospeções. Outros trataram de açambarcar o máximo possível, negociando com governantes corruptos, construindo grandes reservatórios e até requisitando o maior número possível de petroleiros para ficarem parados e cheios com um módico de ourito negro guardado para as gerações futuras (estão-se a rir, mas houve quem chegasse a este ponto, sendo este um dos motivos por que o petróleo se aproximou dos 150 dólares/barril já em 2012). 

Entretanto, a gente anda na escola para começar a pensar um bocado sozinha e, ainda que seja muito difícil vermo-nos livres de ideias feitas, mais cedo ou mais tarde quem teima acaba por ser bem sucedido. A mim soava-me estranho que o petróleo que foi acumulado sob a crusta terrestre ao longo de centenas de milhões de anos se esgotasse em pouco mais de cem anos. A Terra tem recursos limitados, mas este tipo de conversa era perfeitamente ridículo, porque implicava, por exemplo, que em pouco mais de um século devolveríamos à atmosfera todo o dióxido de carbono que tinha sido extraído pelos seres-vivos em várias eras geológicas. Uma barbaridade, que faria do nosso planeta um sítio bem mais agreste do que Vénus. O que se segue é que, contas feitas, não seria complicado chegarmos à conclusão de que a indústria do petróleo vivia muito de investimentos megalómanos que vigaristas estavam permanentemente a fazer porque tinham construído a argumentação que lhes permitia sacar recursos aos inocentes amedrontados com o fim da era da energia fóssil. Já nos referimos a tudo isto aqui.

Entretanto, muito desse investimento foi também canalizado para energia alternativas, tendo-se gasto montantes verdadeiramente exorbitantes de dinheiros públicos em investimentos completamente destituídos de senso. Uma das empresas (a nível mundial) que mais (é improvável que tenha sido a melhor) aproveitou essa onda furiosa de investimento foi a elétrica nacional de um pequeno país quase falido: sim, estamos a falar da EDP! A EDP muniu-se de subsidiação pública extravagante para construir um braço das energias eólicas que, a certa altura, dizia-se à boca cheia, era a terceira melhor empresa do ramo do mundo. Não sabemos quão correta é essa posição no ranking, mas o que é certo é que o tal ramo eólico, a EDP Renováveis (EDPr), foi alvo de um IPO na bolsa de Lisboa com as ações a serem arrematadas em êxtase a 8 euros a unidade: nunca mais estiveram tão caras como nos primeiros dias de negociação! Gráfico mensal:


Com o fim da era da ilusão no petróleo e o correspondente crash nos preços, acelerados pelos desenvolvimentos em torno do gás e do petróleo de xisto, poderíamos pensar que estaria em causa o investimento em fontes alternativas de energia, uma vez que o petróleo é, de longe, a fonte mais económica, fácil de utilizar e versátil. À primeira vista, estaríamos à espera que a queda dos preços do petróleo fosse má notícia para a EDPr, pois tornaria muito menos competitivo o mercado eólico. 

Mas não foi nada disso que sucedeu! 

Por causa da perceção pública do ritmo crescente das alterações climáticas, há cada vez mais uma predisposição para pagar caro pela energia, mesmo que se possa tê-la mais barata. Ironicamente, neste momento, chegamos ao ponto em que, embora se tenha percebido que o petróleo não vai acabar, somos nós que o teremos que substituir! 

Não admira, portanto, que as renováveis estejam cada vez mais na moda, existindo um investimento crescente e aparentemente imparável por parte das grandes empresas mundiais em alternativas ao petróleo. Capitalismo puro: a oferta cria a sua próxima procura e há uma dinâmica que faz o resto! E neste particular a EDPr, até pela presença que tem nos EUA, está particularmente bem colocada. Há quem lamente que o investimento que os contribuintes continuam a fazer todos os dias para financiar a deriva renovável de anteriores governos (continuam a fazer esse investimento, por exemplo, através de um tarifário elétrico que é dos mais inchados de toda a Europa e através de impostos sobre o consumo para acudir a um suposto défice tarifário), não seja usufruído por esses mesmos contribuintes, mas transferido para os acionistas. Helás! São as regras do jogo e é assim que as coisas, de facto, funcionam: nesta, como em outras matérias, contribuinte paga, empresa cresce, acionista ganha!

E é aqui que entramos nós! Não é por acaso, por conseguinte, que a EDPr seja das empresas mais bullish da bolsa portuguesa e, a par da Altri e talvez da Portucel, das únicas em que vale a pena investir. Eis o nosso gráfico diário:


Comprar aqui parece-nos asneira: o ideal seria uma entrada na base do canal, hoje na zona dos 6,50! Mas um fecho acima dos 7 euros (máximo de 5 anos), principalmente de for fecho semanal, pode permitir àqueles que estão dentro desde o IPO finalmente fazer dinheiro, pois transforma os 8 euros num alvo evidente!

14.12.15

Mio babbino caro

Para o meu pai (mio babbino caro) que hoje passou o dia a matutar nesta coisa esquisita de haver um dia no ano em que subitamente ficamos mais velhos, com um beijo enorme e muitos parabéns!

Que estejas connosco para sempre!


PSI20 (e Dax)

O máximo do ano no PSI20 foi feito a 10 de abril e em 2014 tinha sido a 2 do mesmo mês, pelo que seria sensato mudar o sell in may para um mês antes. Os mínimos foram um duplo fundo entre 15 de dezembro de 14 e 15 de janeiro de 15 e depois a tal tourada de 39% em 4 meses que fizeram o ano. Desde aí, com mais ou menos pânico, mantivemo-nos a maior parte do tempo num canal cuja base foi hoje tocada em fecho. 


Vocês já sabem que eu sou um otimista nato e ando cada passo a pagar a fatura de ver o mundo cheio de flores e de melodias angélicas e, como tal, já me dão o devido desconto, mas a verdade é que eu vi naquele toque na base uma espécie de sinal verde para abrir os cordões à bolsa e fazer umas comprinhas natalícias para pôr umas açõeszitas no sapatinho (não, não pus Banif porque para ficar teso tinha ido ao casino que sempre me divertia mais). Não comprei tudo quanto queria, porque ainda estou na espetativa de que a coisa possa arriar ali à zona dos 4900 pontos (meros 2% abaixo) e dar-nos uma espécie de sexta-feira negra bolsista (o termo "negra" é foleiro quando se fala destas coisas, porque remete para crash grosso, mas é o que está na moda e quem sou eu para me pôr com filosofias)! 

A minha ideia é, obviamente, seguindo a lógica do ano que agora acaba, fazer a jorna até abril para depois ter cheta suficiente para aguentar os compromissos de um pai de família que anda com pouca vontade de trabalhar. Se vai resultar, veremos, mas embora todos saibamos que a história não se repete exatamente da mesma forma, ainda ninguém me provou que não o possa fazer de modo parecido. E eu nisto sou muito formal, até porque de formação sou físico: ou é por a+b ou então prefiro o Pai Natal que sempre é um gajo porreiro! Já perdi o fio a meada...

Já sei: ia falar do Dax! Depois de me queimar ao de leve naquela treta do gap para fechar, quase que veio à nossa linha tracejada vermelha. Mais coisa menos coisa, não vemos que possa ir já daqui abaixo (até porque, tal como o PSI, está sobrevendido). Depois da amanhã fala a Yellen e dou como boa a hipótese de termos um buy on the news que cure os níveis exorbitantes de pessimismo que se atingiram por estes dias. Evidentemente, nem preciso de vos dizer onde vemos os alemães se a linha tracejada não amparar o tranco (e já agora, no PSI se os 4900 não forem suficientes para consolarem os ursos, só se forem os mínimos deste ano: não sei, que dizem?)

Vejam o Dax, que o S&P já disse que, em princípio, estava de acordo connosco.

10.12.15

História das terras e dos lugares lendários

"...o Velho da montanha havia descoberto um método atroz de transformar os seus cavaleiros em invencíveis máquinas de guerra, fidelíssimos até ao sacrifício extremo. Eram levados ainda muito jovens (alguns dizem que ainda bebés) para o alto da rocha [Alamut] e, em jardins belíssimos, cumulados de delícias, vinho, mulheres, flores, inebriados com haxixe. Quando já não podiam renunciar à beatitude perversa daquela ficção de Paraíso, eram expulsos durante o sono e obrigados a experimentar pela primeira vez uma vida normal e sem graça. Em seguida, o Velho oferecia-lhes uma alternativa: se matares qualquer um que eu ordene, o Paraíso perdido será teu de novo para sempre. Se falhares, retornarás ao tédio.


E eles, aturdidos pela droga, sacrificavam-se para sacrificar, matadores [assassinos] certamente condenados a serem mortos também."

Esta e muitas outras histórias podem ser encontradas no excelente volume "História das terras e dos lugares lendários", numa compilação organizada por Umberto Eco.


O que é flagrante na passagem que citamos é notar quão incrivelmente mais fácil ficou a arte de recrutamento de suicidas nestes 1000 anos que nos separam da lenda de Alamut. 

Os assassinos do século XI não iam na cantiga da promessa de um paraíso das mil e uma delícias post-mortem, nem eram movidos por qualquer ideia mística de sacrifício para glória divina (uma jihad). Para os convencer, o Velho investia verdadeiramente na construção de um paraíso terrestre, que viciasse os recrutas na boa vida, ao ponto de eles preferirem o suicídio a viverem de outra forma!

Aos assassinos que se explodem no século XXI nada mais é necessário dar do que crença num paraíso conquistado pela morte.

6.12.15

Mais uma semana

Se nos correu bem a semana?, pergunta o amável Herculano, frequentador preocupado deste espaço. Que não! - respondemos. A verdade é que correu uma baita caca, embora até ao meio-dia de quinta-feira nem tivéssemos razões de queixa. Depois percebemos que estávamos do lado errado do mercado e nem deu tempo para dizer ai: quando demos por ela já tinham evaporado 2 pontos percentuais do lucro anual e, como toda a gente sabe, ao vapor não lhe é possível deitar a mão. Do mal o menos, como 28% vão nas mais-valias, não chegou a 1 ponto e meio: eis uma das vantagens de se pagar impostos! 

O que se segue é que ninguém que queira ganhar dinheiro nos mercados se pode pôr à procura de desculpas externas para as semanas em que a coisa dá para torto. Trata-se de algo que todos temos obrigação de saber, tal como é mandatório retirar dos flopes consequências que nos tornem mais eficientes. 

A meu ver, a maior aprendizagem da semana é a que exponho a seguir. 

Os mercados habituaram-se a um Mário Draghi mãos largas já que, por três vezes em que, no passado, o homem tomou decisões importantes, as bolsas reagiram com euforia. Desta vez, os mercados vinham desde outubro a antecipar medidas robustas e, em consonância, tinham apresentado subidas expressivas (o DAX, por exemplo, subia 20% no início da semana, relativamente ao início de outubro). Assim sendo, o erro  de cada um de nós que se deixa ficar à espera de boas novas em situações como esta, estará em pensar que o mercado continuará a subir por causa da apresentação final do plano de medidas: se as novidades fossem boas haveria sell on the news, se fossem más haveria sell-off. O problema é que todos sabemos isso (ou quase todos), mas na hora agá acabamos sempre por pensar que desta vez será diferente. E o mal é que acaba por ser sempre igual! Na verdade, dificilmente haveria notícias capazes de motivar subidas no mercado, porque todos quantos estavam na expetativa dessas mesmas notícias já teriam investido muito tempo antes, de maneira que rarearia o dinheiro fresco para entrar nos mercados. E nestes casos, quem tem experiência disto sabe que é muito fácil transformar um reles sell on the news, num sell-off de monta: a desculpa de que o Draghi foi conservador e não fez o que o mercado antecipava foi forjada para espalhar o pânico e amplificar o movimento. No final de contas, o BCE foi razoável e não seria de esperar que um banco central que sempre foi conservador (ou não tivesse que agradar à Alemanha) fizesse já as loucuras que alguns vieram dizer que estavam a contar que fizesse. De maneira que estar do lado longo na quinta-feira a meio do dia era, de facto, um erro e o pior é que é um erro que a maioria dos investidores não se cansa de repetir (eu incluído): não digo que se devesse estar curto, mas depois das subidas antecipatórias das últimas semanas, estar de fora era do mais elementar bom-senso.

Nós não estávamos de fora, como dissemos, e já pagamos a fatura do erro (e de mais uma lição do célebre curso de bolsa que dura toda uma vida). Felizmente, uma parte significativa do que tínhamos investido estava no BPI, que nos fez a fineza de remontar no dia seguinte (pena que estivéssemos no DAX e não no S&P e já não tínhamos razões de queixa). Agora, como sempre, olhamos em frente. 

Ficamos muito agradados com a decisão do BCE que nos pareceu equilibrada e muito racional (compreende-se, naturalmente, que o mercado tenha reagido de forma brutal, não só porque houve quem tivesse necessidade de reajustar carteiras - notou-se, por exemplo, um movimento de institucionais dos títulos para a liquidez com o euro a reagir de forma, à primeira vista, tresloucada -, mas também por causa do pânico gerado por uma queda abrupta - no DAX, por exemplo, viu-se muita gente a vender filada no fecho do gap nos 10500), e estamos em crer que os números que têm saído relativos à economia real poderão evitar um movimento em baixa mais prolongado, ao mesmo tempo que o mercado vai assimilando o impacto real das mexidas assimétricas do BCE e da Fed.

No DAX, vamos assistir a uma luta entre quem acha que o gap dos 10500 pontos é para ser fechado já e aqueles que acreditam em máximos relativos antes. Deixo duas perspetivas (otimistas!) no gráfico seguinte: na primeira vamos já para cima até à zona dos 11600-11700 pontos para depois vir eventualmente fechar o tal fosso nos 10500 e mais tarde atacar máximos históricos. Na segunda, não superamos os 11000 pontos e a teoria do fecho do gap vence desde já: depois vamos a máximos. Pessimista (também sou, raramente!) fico se o fecho do gap nos 10500 pontos não sustiver a queda e se vir o euro (contra toda a racionalidade) a galgar os 1,10!


Por terras lusas, gostaria de fazer uma pequena atualização aos dois bancos (ainda que o João o tenha feito há pouco tempo).

No BCP vejo o seguinte. É muito importante que não quebre em baixa o mínimo relativo anterior (aliás, como podem ver no gráfico, há uma hipotética Lta de curto prazo que pode ter um ponto de toque no fecho de sexta-feira). Se amanhã fechar acima do valor de fecho da semana livra-se, por ora, de maiores apertos, e pode dar-se a quebra daquela Ltd (que já falhou uma vez). Entretanto, faz um higher low que pode ser usado para trunfar contra os lower highs que tem marcado! Fechando abaixo dos 0,0460 marca um lower low bastante comprometedor, e acima dos 0,0536 dá sinal de compra! O nosso palpite é que o BCP só vai sair do marinanço quando se conhecerem decisões concretas na Polónia (o Millenium Bank polaco fez mínimos históricos na sexta-feira, mas fechou a sessão com uma subida robusta e em máximo do dia, o que não deixa grande margem para se tirarem conclusões imediatas, ainda que mínimos históricos sejam sempre mau sinal).


É o BPI o banco que ainda me faz ter alguma fé (já é uma questão de fé!) na banca lusa. Na quinta-feira fez um movimento agreste e bem que temi que se fosse escangalhar, mas no dia seguinte notou-se que havia muita gente disponível para se atravessar e, mesmo com os mercados globais a hesitar, não teve pejo em retomar a Lta que fez perigar no dia do sell-off. Por esse motivo, dou como possível uma nova investida à zona 1,16-1,20. Para baixo, a linha inclinada já se viu que tem força, mas é o suporte horizontal na zona do euro que nos deve servir de guia!