10.12.15

História das terras e dos lugares lendários

"...o Velho da montanha havia descoberto um método atroz de transformar os seus cavaleiros em invencíveis máquinas de guerra, fidelíssimos até ao sacrifício extremo. Eram levados ainda muito jovens (alguns dizem que ainda bebés) para o alto da rocha [Alamut] e, em jardins belíssimos, cumulados de delícias, vinho, mulheres, flores, inebriados com haxixe. Quando já não podiam renunciar à beatitude perversa daquela ficção de Paraíso, eram expulsos durante o sono e obrigados a experimentar pela primeira vez uma vida normal e sem graça. Em seguida, o Velho oferecia-lhes uma alternativa: se matares qualquer um que eu ordene, o Paraíso perdido será teu de novo para sempre. Se falhares, retornarás ao tédio.


E eles, aturdidos pela droga, sacrificavam-se para sacrificar, matadores [assassinos] certamente condenados a serem mortos também."

Esta e muitas outras histórias podem ser encontradas no excelente volume "História das terras e dos lugares lendários", numa compilação organizada por Umberto Eco.


O que é flagrante na passagem que citamos é notar quão incrivelmente mais fácil ficou a arte de recrutamento de suicidas nestes 1000 anos que nos separam da lenda de Alamut. 

Os assassinos do século XI não iam na cantiga da promessa de um paraíso das mil e uma delícias post-mortem, nem eram movidos por qualquer ideia mística de sacrifício para glória divina (uma jihad). Para os convencer, o Velho investia verdadeiramente na construção de um paraíso terrestre, que viciasse os recrutas na boa vida, ao ponto de eles preferirem o suicídio a viverem de outra forma!

Aos assassinos que se explodem no século XXI nada mais é necessário dar do que crença num paraíso conquistado pela morte.

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