Eu ainda sou do tempo em que nos enfiavam na cabeça, em doses cavalares, a cantiga de que o petróleo esgotaria nas jazidas num abrir e fechar de olhos e não haveria alternativa decente para fazer funcionar o mundo. Nos meus tempos de juvenil, não faltava quem vaticinasse um esgotamento total das reservas em 40 anos e havia espertos que asseguravam que, com o ritmo crescente de consumo, lá para 2015 já não haveria gota para meter no popó. Era a época das teorias do peak-oil, que conduziram às guerras no médio oriente e fizeram muitos entrar num frenesim de investimento em novas prospeções. Outros trataram de açambarcar o máximo possível, negociando com governantes corruptos, construindo grandes reservatórios e até requisitando o maior número possível de petroleiros para ficarem parados e cheios com um módico de ourito negro guardado para as gerações futuras (estão-se a rir, mas houve quem chegasse a este ponto, sendo este um dos motivos por que o petróleo se aproximou dos 150 dólares/barril já em 2012).
Entretanto, a gente anda na escola para começar a pensar um bocado sozinha e, ainda que seja muito difícil vermo-nos livres de ideias feitas, mais cedo ou mais tarde quem teima acaba por ser bem sucedido. A mim soava-me estranho que o petróleo que foi acumulado sob a crusta terrestre ao longo de centenas de milhões de anos se esgotasse em pouco mais de cem anos. A Terra tem recursos limitados, mas este tipo de conversa era perfeitamente ridículo, porque implicava, por exemplo, que em pouco mais de um século devolveríamos à atmosfera todo o dióxido de carbono que tinha sido extraído pelos seres-vivos em várias eras geológicas. Uma barbaridade, que faria do nosso planeta um sítio bem mais agreste do que Vénus. O que se segue é que, contas feitas, não seria complicado chegarmos à conclusão de que a indústria do petróleo vivia muito de investimentos megalómanos que vigaristas estavam permanentemente a fazer porque tinham construído a argumentação que lhes permitia sacar recursos aos inocentes amedrontados com o fim da era da energia fóssil. Já nos referimos a tudo isto aqui.
Entretanto, muito desse investimento foi também canalizado para energia alternativas, tendo-se gasto montantes verdadeiramente exorbitantes de dinheiros públicos em investimentos completamente destituídos de senso. Uma das empresas (a nível mundial) que mais (é improvável que tenha sido a melhor) aproveitou essa onda furiosa de investimento foi a elétrica nacional de um pequeno país quase falido: sim, estamos a falar da EDP! A EDP muniu-se de subsidiação pública extravagante para construir um braço das energias eólicas que, a certa altura, dizia-se à boca cheia, era a terceira melhor empresa do ramo do mundo. Não sabemos quão correta é essa posição no ranking, mas o que é certo é que o tal ramo eólico, a EDP Renováveis (EDPr), foi alvo de um IPO na bolsa de Lisboa com as ações a serem arrematadas em êxtase a 8 euros a unidade: nunca mais estiveram tão caras como nos primeiros dias de negociação! Gráfico mensal:
Com o fim da era da ilusão no petróleo e o correspondente crash nos preços, acelerados pelos desenvolvimentos em torno do gás e do petróleo de xisto, poderíamos pensar que estaria em causa o investimento em fontes alternativas de energia, uma vez que o petróleo é, de longe, a fonte mais económica, fácil de utilizar e versátil. À primeira vista, estaríamos à espera que a queda dos preços do petróleo fosse má notícia para a EDPr, pois tornaria muito menos competitivo o mercado eólico.
Mas não foi nada disso que sucedeu!
Por causa da perceção pública do ritmo crescente das alterações climáticas, há cada vez mais uma predisposição para pagar caro pela energia, mesmo que se possa tê-la mais barata. Ironicamente, neste momento, chegamos ao ponto em que, embora se tenha percebido que o petróleo não vai acabar, somos nós que o teremos que substituir!
Não admira, portanto, que as renováveis estejam cada vez mais na moda, existindo um investimento crescente e aparentemente imparável por parte das grandes empresas mundiais em alternativas ao petróleo. Capitalismo puro: a oferta cria a sua próxima procura e há uma dinâmica que faz o resto! E neste particular a EDPr, até pela presença que tem nos EUA, está particularmente bem colocada. Há quem lamente que o investimento que os contribuintes continuam a fazer todos os dias para financiar a deriva renovável de anteriores governos (continuam a fazer esse investimento, por exemplo, através de um tarifário elétrico que é dos mais inchados de toda a Europa e através de impostos sobre o consumo para acudir a um suposto défice tarifário), não seja usufruído por esses mesmos contribuintes, mas transferido para os acionistas. Helás! São as regras do jogo e é assim que as coisas, de facto, funcionam: nesta, como em outras matérias, contribuinte paga, empresa cresce, acionista ganha!
E é aqui que entramos nós! Não é por acaso, por conseguinte, que a EDPr seja das empresas mais bullish da bolsa portuguesa e, a par da Altri e talvez da Portucel, das únicas em que vale a pena investir. Eis o nosso gráfico diário:
Comprar aqui parece-nos asneira: o ideal seria uma entrada na base do canal, hoje na zona dos 6,50! Mas um fecho acima dos 7 euros (máximo de 5 anos), principalmente de for fecho semanal, pode permitir àqueles que estão dentro desde o IPO finalmente fazer dinheiro, pois transforma os 8 euros num alvo evidente!
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