1.12.16

Animais noturnos

Tom Ford talvez seja mais conhecido pela sua ligação ao mundo da moda, mas quando se estreou na realização de Um homem singular, filme marcante não só pela densidade do assunto tratado, mas acima de tudo por um muito marcado sentido estético, deixou desde logo tão boa impressão que ficamos ansiosos por uma segunda dose.

Tivemos que esperar 7 anos, mas a espera valeu a pena porque Animais noturnos entra diretamente para o pódio do que vimos este ano. Ford encarregou-se pessoalmente de quase tudo o que importa no filme, desde o argumento (adaptado de uma novela do já falecido Austin Wright) até à realização (nunca tinha visto um genérico de abertura de um filme que fosse uma cartilha de apresentação tão certeira daquilo que o realizador preparou para nós), passando até pela escolha e decoração da mansão onde Susan, a protagonista, passa pelas maiores aflições rodeada do luxo mais estupendo que imaginar se possa. A escolha dos atores também foi certeira e quer Amy Adams (incrível como a moça consegue estar em dois dos momentos mais marcantes do ano cinematográfico), quer Jake Gyllenhaal ou Michael Shannon mantêm o filme sob tão grande tensão emocional que o resultado é um contraste agridoce entre uma obra esteticamente burilada e uma história terrível de arrependimento, tragédia e vingança. Há ali muito de obra de arte, mas é arte de pés bem assentes no chão, numa construção que vai evoluindo de forma firme e que jamais resvala para um consenso, deixando sempre a porta aberta a múltiplas interpretações.

Susan, a personagem de Adams, trocou o marido, professor de liceu com sonhos de se tornar escritor, por um galhardo jovem laroca, ganhador nato e... riquíssimo. Escusado será dizer que chega o dia em que se arrepende e a coisa fica pior ao receber via postal o manuscrito do primeiro romance do ex. A partir daqui a história evolui em três níveis, o passado, o presente e uma situação paralela que tem lugar nos perigosos lugares do Texas ocidental. Tudo cozinhado com o máximo cuidado e um amor pela arte que nos deixa de bem connosco próprios na hora de regressar a casa.

Fiquem com o trailer:

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