A partir do momento em que a vitória de Emmanuel Macron é
dada como certa, os mercados reagem com otimismo, é o candidato que todos
querem. Por isso, a única dúvida neste momento é com que percentagem. A
verdadeira vitória é, então, conseguir uma percentagem significativa, acima dos
60 %, que negue ao partido fascista da Frente Nacional uma vitória política.
Vitória dos valores
democráticos? Era ótimo que assim fosse. Contudo, esta segunda volta anula
qualquer debate, qualquer escolha para os franceses entre duas verdadeiras
propostas de sociedade, deixando o mesmo vazio que alimenta a subida do
populismo há décadas. Voltará tudo ao mesmo, se bem que, na verdade, com mais algumas
sequelas.
O mais preocupante é, efetivamente,
pensar que Marine Le Pen serve o sistema estabelecido. O melhor que podia acontecer
a Macron ou mesmo a Fillon, se não fossem os casos de justiça (convenientemente
desenterrados? Tal como já sucedera a Dominique Strauss Khann) a afastá-lo da
corrida, seria ter um adversário da extrema-direita de maneira a ser uma
eleição com uma única volta.
Porque não se combate realmente estes partidos fascistas, de raiz
profunda e longe de serem simples movimentos populistas de moda? Todos
concordam: estas presidenciais foram as mais pobres ideologicamente da Quinta
República Francesa: ausência de debate, de ideias, de propostas. Também o fim
da clivagem esquerda/direita que vinha a definir a paisagem política de grande
parte da Europa. Nunca na Quinta República tantos candidatos afirmaram o seu
catolicismo, em resposta a um islamismo radical crescente, mas sem questionar o
que se perdeu, sem questionar a perda gradual dos valores humanistas que estavam
inicialmente na base da construção europeia reduzida agora a um projeto
económico.
Porque o mais importante para um
político, atualmente, é construir uma carreira. A política transformou-se num show
business (não fosse o melhor representante o famoso Donald Trump). Os
políticos são produtos de marketing que recorrem aos publicitários para
conduzir a sua campanha. Já em 1981 o presidente François Mittérand percebeu a
importância da comunicação para se chegar ao poder, a escolha do publicitário
Seguela foi determinante para a sua vitória. Todos os políticos compreenderam
que, para ganhar, é preciso saber vender um produto, independentemente da sua
qualidade, e hoje vender é defender a Europa, é indignar-se contra o populismo
e o fascismo, sem proposta de alternativa. A própria Marine le Pen ou Mélenchon
defenderam, primeiro, o fim da Europa para marcar a diferença e conquistar um
eleitorado esquecido, menosprezado, a França rural e popular, só que, no final,
numa tentativa de alargar o seu eleitorado, já não eram bem contra. Marine le
Pen, de lobo mau passou a uma figura quase frequentável, desdiabolizada, que conseguiu passar para a segunda volta e que
hoje afirmou o seu partido como um partido a par dos outros.
Nesta fase, todos apelam a votar
Macron. Assim, amanhã os franceses não vão escolher entre dois
modelos de sociedade, vão apenas escolher o mal menor. Uma eleição sem segunda volta numa das democracias mais maduras da
Europa.
Quanto tempo ainda poderemos
brincar com o fogo?
Sem comentários:
Enviar um comentário