1.5.17

"Liberdade" vs Liberdade

Na semana em que se celebra o Dia da Liberdade (“25 de abril”), o desafio foi lançado: pintar um mural no interior do Estabelecimento Prisional de Viana do Castelo.
Entrar naquele espaço, "fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde os indivíduos estão inseridos num lugar físico onde os menores movimentos são controlados, onde todos os acontecimentos são registados” (Foucault, 1977), é uma excepção ao principio da liberdade.


Colocar lado a lado, a “Liberdade” vs Liberdade e Criatividade num espaço condicionado como este EP, foi para mim uma forma original e inédita de "gritar: Liberdade”. Por outro lado, com a privação da liberdade, os reclusos não perdem o direito de reflectir e aprender, com o intuito de poderem ter acesso à arte.
Ao contrário do que acontece no exterior destes muros, a abordagem passa por transformar uma parede alta, vazia, que não fala(completamente muda), numa janela aberta e não fechada, que apenas e só será contemplada, sentida e interpretada pelos reclusos. 

A ideia é trazer para dentro deste EP a “liberdade” de pensamento, “liberdade” de expressão e “liberdade” criativa; uma forma de igualdade de direitos entre os homens. 
O "25 de abril" não foi apenas uma libertação politica da ditadura, foi também uma libertação da vida, das energias positivas das pessoas e do próprio amor que também deixou de ser, também ele, uma palavra proibida.




É um olhar de abril, uma proclamação das ideias e valores da liberdade no imaginário destas pessoas (reclusos), que possam ter um pensamento critico e sair desta “ilusão” colectiva que estão a viver. 

Para além de todas as conotações politico e culturais que possam estar explicitas neste mural, o grande destaque está nesta analogia em trazer para o presente, parte da iconografia popular (“cravo”) e fazer lembrar às pessoas que aqui estão e às novas gerações a importância da “revolução dos cravos”.
 
As mãos aqui representadas surgem como uma manifestação corporal do estado interior do ser humano; elas revelam um quadro completo das pessoas, das suas tendências, dos seus defeitos, dos seus meios de lutar na vida e o seu futuro imediato.
Elas traduzem/arrastam a voz da liberdade, liberdade de voar num horizonte qualquer (aqui representado pelas gaivotas).

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