9.9.17

BCP (a nossa tese)

Causou sensação o comportamento do BCP esta semana, e muitos foram os que deitaram a toalha ao tapete na quinta-feira quando o viram arriar dos 20 cêntimos, só para ficarem com a cachola feita em papas nas duas horas finais de sexta ao vê-lo esgalhar 6% em marcha forçada. Emoções fortes, portanto! 

Mas porquê isto?

O porquê é sempre importante nestas coisas da bolsa, como de resto em tudo na vida, e, por muito que às vezes os processos possam parecer aleatórios e incompreensíveis, a verdade é que só conseguimos evoluir se refletirmos permanentemente nas causas, mesmo que o façamos à posteriori! É que, bem vêem, o sucesso exige confiança e a confiança só se constrói se conseguirmos tornar compreensível o que parece irracional, mesmo que nada mais tenhamos do que uma tese pessoal que se prove estar longe da realidade! O importante é que exista uma hipótese que possamos verificar e que nos deixe ante a perspetiva de agir em consonância.

Neste caso concreto, vou-vos dizer qual é a minha tese até porque, falsa ou verdadeira, creio que não será destituída de valor pedagógico.


Os movimentos do BCP foram condicionados pelas assembleias de credores do Novo Banco (NB), que se realizaram em parte ontem. 

Os grandes investidores internacionais, que manobram com cordel de marioneta os destinos das nações, já se tinham mostrado contra a operação de troca de dívida que iria implicar perdas que poderiam chegar aos 90%, e há algum tempo que vinham com a treta do costume de que iam deixar de investir em Portugal, que iam levar o dinheiro todo embora e que depois deles vinha aí o diabo (onde é que nós já ouvimos isto?) e mais blá, blá, blá, em que já só caem os inocentes e os assustadiços!

É preciso não nos esquecermos de que foram este tipo de paflagónios que levaram o mundo para a crise do subprime, esse episódio dantesco de ganância e irresponsabilidade, e que concorreu sobremaneira para o brutal aumento da dívida pública portuguesa (por más decisões nossas, bem entendido) e que, consequentemente, arrastou, por exemplo, o BES para a falência com o quadro de perdas e dor que tantos e tantos experimentaram. Portanto, que venham esses velhacos agora com a treta estafada de que levam o guito, fazendo pressão para não lhes paparem mais uma pedaço do graveto que cá meteram é possível apenas porque lata não lhes falta. Quanto a nunca mais investirem cá, esqueçam porque no mundo real a única regra é que o dinheiro flui sempre para o lado onde há a expetativa de crescimento: não existem estados de alma! Se estes ganapos desamparassem a loja de todos os sítios onde lhes fazem a folha, já só lhes restava neste momento a hipótese de enfiarem o pataco debaixo do colchão! Portanto, no médio-longo prazo é evidente que as coisas funcionarão como de costume: o dinheiro continuará a fluir para cá ou não consoante as oportunidades e as expetativas futuras, sendo que o passado rapidamente será esquecido! Business as usual!

Quanto ao curto prazo e até que tudo se decida, evidentemente, como toda a gente que sabe o que anda a fazer neste mundo, estes gestores de fundos farão tudo o que estiver a alcance deles para minimizar as perdas potenciais. E como dispõem de um arsenal quase ilimitado da melhor arma que existe no mundo (referimo-nos ao dinheiro), é certo e sabido que enfrentamos adversários de monta! E foi neste quadro que se travou a batalha na negociação do BCP nesta semana. 

A forma de atuar de quem usa o dinheiro como arma de pressão é tão antiga quanto o capitalismo e passa sempre por perturbarem os mercados, seja de dívida, monetários ou de ações no sentido de criarem o medo que sempre surge nos agentes económicos quando ocorrem movimentos mais exorbitantes. No caso português, a tarefa curiosamente não é fácil porque a moeda é impossível de perturbar, a dívida está escorada no BCE e parece neste momento demasiado cara para as expetativas criadas sobre o país e, portanto, resta apenas um alvo: o mercado de ações onde o único título com algum potencial para espantar é mesmo o BCP!

Evidentemente, saíram notícias que causaram algum frisson relativas ao fundo de resolução, com declarações do Nuno Amado (novidade nenhuma) e também acerca da solução para o crédito malparado (onde não pareceu vislumbrar-se nada de surpreendente), e também é certo que, do ponto de vista da análise técnica, a situação estava a deteriorar-se há algumas semanas, mas o facto de o movimento coincidir com a AG do NB é por demais flagrante!

Agora, reparem no modus operandi que, no nosso caso, é facilitado pela baixa liquidez da bolsa portuguesa. Durante o início da semana, o BCP foi abrindo sempre bastante acima do preço a que fechou a sessão, traçando no gráfico velas vermelhas que começaram a fazer retrair os compradores. Até aí nada de mais: é o jogo normal da bolsa, movido pelas expetativas de quem pode entrar longo ou curto com toda a legitimidade. A cena desenvolve na quinta-feira, quando se tornou evidente que havia doses massivas de vendas sempre que a cotação tinha alguma reação em alta. A dada altura, percebeu-se que a cotação ia ser levada aos 20 cêntimos, facto que colocou na retranca muitos dos potenciais compradores e tornou mais fácil a tarefa aos que queriam puxar para baixo. Nos 0,20€ estava a SMA200, valor seguido como suporte por muitos investidores e, por isso, zona de grande luta. Quase no final da sessão, os vendidos ensaiaram uma cena de pânico, com uma tentativa brusca de quebra do suporte. Na sexta-feira, a meio da manhã, voltaram à carga e deitaram as cotações ao fundo para mais uma queda de 7%, facto capaz de começar a fazer soar as campainhas de alarme: o BCP, banco grande mas ainda frágil do sistema financeiro português cair 7% em duas sessões consecutivas! WTF! Lá se ia o otimismo do governo, da CE, do FMI e das agências de rating

Teoria da conspiração? Não pensem nisso! Apenas dinheiro, negócio, jogo, poder de influência: parte da nossa vida!

Mas então a cotação bateu na zona de suporte de médio prazo, na barreira que colocaria em causa a recuperação do BCP e nos transportaria de volta aos tempos de incerteza! Referimo-nos à zona entre os 0,184€ e os 0,186€ e ressaltou! Era altamente improvável, diremos nós, que quebrasse à primeira, pelo que o ressalto se esperava (surpreendente foi ter chegado lá!). Entretanto, foram conhecidas as notícias relativas à AG do NB, pelo que deixou de fazer sentido investir na luta, tanto mais que a análise técnica passou a aconselhar claramente comprar e estes tipos não são néscios para lutarem contra a maré. Provavelmente, com o trabalho concluído juntaram-se a ela, fecharam posições curtas (enquanto outros menos atentos as abriam), adquirindo ações (armamento!) para venderem mais tarde (é assim o dia-a-dia desta gente - uma galhofa pegada)! Com isto, o BCP fechou a subir 6%, com uma remontada face a mínimos de 14%! 


O gráfico seguinte, mais alargado, mostra porque consideramos a linha amarela um valor de suporte tão importante:


E agora, o que vai acontecer?

Quase que imagino as conversas de bastidores! Virados para o Banco de Portugal, falando alto para o Centeno ouvir: Vocês viram o que aconteceu esta semana na bolsa com o vosso banquito? Viram como lançamos o pânico e pusemos tudo a pensar que ia ser necessário um novo AC e mais um round de ajudas do estado? Viram? E olhem que nós só usamos uma nesga do nosso poder de fogo e já aumentamos para 4% as posições dos curtos que acreditam que nada nos resistirá! Agora, façam as vossas contas: se nos quilharem no NB, nós escafedemos o BCP e pomos de pantanas a geringonça! Vá, escolhei!

De maneira, que é nisto que estamos e não vale a pena andarmos para aqui com conjeturas e a pensar em grande foguetório! Enquanto a estes tipos não lhes passar a gosma isto não vai atinar e vamos ter que ser pacientes. No gráfico, temos as médias móveis exponenciais de 9 (verde), 21 (amarelo) e simples de 200 dias (lilás): são valores de referência. Ganhamos a parada na quebra em alta de linha verde; perdemos na quebra em baixa da linha amarela! A recuperação económica e dos resultados do banco joga-se nisto, quer queiramos quer não. Para cima, mantém-se a confiança dos agentes económicos, fator decisivo para que os bons ventos continuem a soprar; se quebra em baixa, a confiança esvai-se e é uma questão de tempo até que apareçam as más notícias! É por causa disto que a análise técnica é tão importante! 

2 comentários:

  1. Portanto está claro que a volatilidade vai ser tremenda e que entre 0.18€ / 0.23€ o canal de trading.

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  2. Esse é o canal desde Abril, ainda que já tenha existido um falso breakout para cima que, em minha opinião dá ligeiramente mais força a uma quebra da resistência!

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