A partir do momento em que, no início do século XX, a química nos deu o processo industrial de produção de amoníaco, que permitiu a agricultura infinita, e depois a física disponibilizou a bomba nuclear, colocando os governantes e os decisores em cheio na frente de batalha, o único motivo para que uma nação democrática passasse por apertos financeiros que obrigassem os seus a baixar do limiar da dignidade passou a ser a corrupção. Por motivos que não cabe aqui enumerar, a corrupção está muito entranhada no código genético de alguns povos e entre os seus mais perniciosos efeitos contam-se a capacidade de abalar a democracia e o sistema de justiça, a propensão para produzir quantidades de dívida exorbitantes e injustificadas e a inevitabilidade de conduzir a mortes catastróficas e de origem aparentemente insondável (vimo-las, por exemplo, no ano passado em Portugal, e este ano na Ática e em Génova).
Entra-se na Grécia ao som do Sirtaki, a dança de Zorba, esgalhada por Anthony Quinn para o filme de 1964 e sentimo-nos imediatamente de bem connosco próprios. Não sei se será por estarmos num país europeu que, segundo tudo indica, se pôs em pior estado do que nós, ou simplesmente por estarmos a pontos de ver a manjedoura onde foi parida a democracia, mas a verdade é que nos sentimos bestialmente, com o coração a palpitar todo laroca e com uma desenvoltura de que já não o pensávamos capaz! Temo que seja mesmo complexo de superioridade por estes se terem esbardalhado mais do que nós e, por momentos, lamento pela minha falta de empatia, até porque já estou convencido de que os gregos têm tão pouca consciência dos malefícios da corrupção como nós!