Há duas regras que é costume associar-se ao investimento nos mercados financeiros que não andaremos longe da verdade se afirmarmos que raramente deram dinheiro a ganhar a alguém, e que mesmo assim os especialistas continuam a enfiar aos incautos como se fossem atitudes do mais elementar bom senso. Referimo-nos à regra do investimento a longo prazo e à regra da carteira equilibrada e bem distribuída, a chama "lei dos ovos todos no mesmo cesto".
A primeira regra parte do princípio de que uma empresa cotada em bolsa crescerá inevitavelmente, ainda que possa passar por naturais períodos de maior indefinição ou até de decréscimo. É a crença nesta ideia, que creio vir do tempo em que as empresas tinham negócios protegidos, com fortes ligações ao poder político (veja-se o BES) e muitas vezes assentes em monopólios (veja-se a EDP), que faz com que, por exemplo, a revista Dinheiro & Direitos da Deco só recomende o investimento em ações a quem pode dispor do dinheiro por mais de 5 anos. É evidente que a maior parte dos leitores da revista não tem arcaboiço para acompanhar os mercados diariamente, nem estaleca para sobreviver mentalmente ao sobe e desce das cotações, pelo que, ao indicar um prazo de 5 anos para um investimento se procura eliminar queixumes e garantir uma certa sanidade mental aos mais afoitos. De qualquer das formas, empatar 5 anos o dinheiro num investimento e aguentar os altos e baixos impávido e sereno, é atitude que, nos dias que correm, não passa pela cabeça de ninguém. É que o mundo acelerou de uma forma tal e a imprevisibilidade é tão grande que pura e simplesmente não existem nenhumas garantias seja do que for. Num mundo tão aberto, nenhuma empresa está ao abrigo dos solavancos dos mercados, nem a salvo da ruína ou dos caprichos dos acontecimentos. Veja-se o caso, por exemplo, da Jerónimo Martins que ainda há pouquíssimo tempo era a empresa maravilha do PSI e hoje passa por sérias dificuldades em bolsa. Quem está disposto a manter JMT confiando que a operação colombiana vai correr pelo melhor e levar as cotações outra vez para cima? Até pode ser que sim, mas manter o dinheiro empatado, apostando nessa hipótese, é conselho que não se deve dar. Se a JMT voltar a justificar subidas nós vamos saber muito a tempo, pois a inversão de tendência saltará à vista, e podemos comprar nessa altura. Eu ainda não sou um rapaz entradote, mas lembro-me perfeitamente de conhecidos meus que, quando em andava na escola, iam para o Porto negociar ações diretamente na bolsa. Nesse tempo compravam-se papéis e guardavam-se no cofre. Hoje, que diabo, compram-se e vendem-se ações ao segundo a partir de qualquer lado onde estejamos. Se a coisa no curto prazo está a dar para baixo, vende-se. Quando a tendência inverter... compra-se! Mas esqueçam comprar ações e esquecer! Esqueçam o "no longo prazo tudo sobe"! Quem precisa da segurança do longo prazo deve abster-se de negociar em bolsa.
A segunda regra é uma antiga forma de defesa contra a nossa natural ignorância sobre o futuro. Na impossibilidade de garantir que o cesto dos ovos não caia ao chão e eles se percam, manda o bom senso que se distribuam os ovos por vários cestos. Nos mercados recomendam os expertos que também se constitua uma carteira equilibrada e diversificada. Não há de dar tudo para baixo ao mesmo tempo e, se houver descidas, haverá subidas para compensar. O problema é que assim não vamos a lado nenhum, nem é garantido que as descidas não sejam generalizadas. Os mercados dão tantas chatices e fazem-nos por vezes tanto mal que não nos podemos dar ao luxo de andar nisto para aquecer e pelo nervoso miudinho da luta. Não é possível ganhar num investimento arriscado e saturante para perdemos num conjunto de tiros mal dados para diversificar. Claro que nos fundos de investimento é necessário ter mecanismos de proteção das carteiras e uma distribuição sensata do capital porque os volumes são tão elevados que não é possível desfazer posições em tempo útil e há o risco de perdas catastróficas. Mas o comum dos mortais não se livra da trabalheira de tentar identificar oportunidades dentro de um leque alargado e decidir por um número pequeno de opções. A sensatez estará em jamais entrar com, digamos, mais de 1/3 do capital em apenas uma posição, mas diversificar não é uma atitude correta para minimizar risco, podendo ser meio caminho andado para nos entalarmos de forma definitiva.
Quem quer investir nos mercados tem que saber que pode perder! Aliás, tem que estar consciente que, mais cedo ou mais tarde, vai perder. Mas também vai ganhar! E a ideia é cortar as perdas rapidamente e deixar esticar os lucros. Para que isso aconteça, nem diversificação, nem longo prazo. Recomenda-se estudo, identificação de oportunidades e atenção. E, já agora, vir ao NeB.
Uma situação exemplar para finalizar.
Há três semanas falamos aqui do BPI e dissemos que a perspetiva de o banco se poder perfilar para arrematar o NB por tuta e meia era capaz de ser suficiente para fazer subir as ações. Acertamos e o negócio correu bem.
Entretanto a cotação foi lá acima à resistência imediata e começou a plissar. Vende-se! Não interessa se o negócio se vai concretizar ou não. A bolsa não vive de situações concretas, mas de expetativas. E a expetativa deu-nos 20 cêntimos para meter ao bolso. Se quebrasse a resistência avaliava-se uma possível reentrada. Como deu para baixo é porque há quem saiba mais do que nós e esteja a ver aquilo que nós ainda não vimos. Sensatamente mantemo-nos de fora a ver onde param as modas. Entretanto, soube-se que o Carlos Costa andou por Madrid a promover o NB junto dos espanhóis e hoje o Expresso noticia que há já vários bancos lá de Espanha que são capazes de estar interessados. Onde a notícia mais pica é quando anuncia que o La Caixa, acionista de referência do BPI, pondera avançar sozinho para a compra dos restos comestíveis do defunto BES. "Para integrar no BPI" sugere o jornal! E se não for?, perguntamos nós. Se o La Caixa entrar em Portugal comprando o NB a preço de saldo e puser a posição no BPI à venda? Como é que fica a cotação das ações do BPI com 20% do capital à venda, a ter que lidar com mais um concorrente e ainda por cima a ter que entrar com 10% da diferença de preço entre o empréstimo do Estado e o preço de venda? Não sei se nos estão a seguir?! Não dizemos que vá ser assim ou de outra forma, nem sequer avaliamos probabilidades. O que queremos demonstrar é que o cenário de negócio chorudo para o BPI azedou um bocado e as cotações já refletiram isso. A nossa missão nos mercados é sempre tentar antecipar toda esta jogatana e, à falta de informação priveligiada, temos os gráficos, mas disso não falamos hoje que a conversa já vai longa.
Cuidem-se que os mercados não estão para arrivistas!
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