Não há dúvida de que está toda a gente meio atordoada com a forma como tudo de repente se complicou tanto. Ainda ontem estava a ouvir a ministra das finanças a apresentar o OE do próximo ano e não pude deixar de pensar como tudo aquilo que estava a ser dito ficou desatualizado desde o dia da famosa reunião das 18 horas (quem ainda tem dúvidas é ver aqui). É evidente que todo o governo sabe disso, longe de nós de o pormos em dúvida, mas o nosso ponto é que este orçamento de estado é sintomático da forma como ninguém se apercebeu de que isto ia piorar tanto.
E por que motivo estão os números da economia a revelar uma fragilidade repentina tão grande que levaram os índices europeus e americanos de máximos históricos a um eminente bear market em poucos dias? O que aconteceu de tão catastrófico?
Eis a nossa tese.
Em primeiro lugar, as economias ocidentais, de forma muito especial, as europeias continuam incrivelmente fragilizadas porque, bem visto, nada de relevante foi feito desde que a crise rebentou em 2007. E esse estoiro de 2007 mais não é do que a consequência da acumulação de tensões resultantes de um sucesso pleno e excessivo que vem de há muito tempo. Uma das nossas últimas leituras, o livro Civilização, o ocidente e os outros, do historiador britânico Niall Ferguson, conta-nos de que forma o ocidente conquistou, desde o século XVI, uma posição de domínio global assente em 6 aplicações-chave:
- Competição entre múltiplos estados que constituíam entidades corporativas concorrentes entre si;
- Revolução científica com grandes descobertas na matemática, na astronomia, na física e na química;
- Estado de direito e governo representativo;
- Avanços na medicina, com controlo das principais doenças e epidemias;
- Sociedade de consumo em conjunto com a revolução industrial;
- Ética no trabalho e maiores taxas de poupança, com acumulação sustentada de capital.
Não custa nada perceber que todos estes aspetos em que o ocidente deu cartas e lhe permitiram ganhar vantagem ou foram postos em causa por culpa própria, ou foram copiados principalmente pelos asiáticos.
Hoje, pode-se dizer que estamos a ser vítimas do nosso próprio sucesso, como tem sido de resto norma em todas as civilizações da História que atingem um elevado patamar. E notem que não estamos a dizer isto por a bolsa estar a cair. A bolsa cai porque as pessoas têm medo, da mesma maneira que há de subir quando a ganância entrar em ação, independentemente de termos o nosso modo de viver posto em causa ou não. Aliás quem hoje vende na UE e nos EU pode até ser chinês e é muito duvidoso que esteja a vender por temer o fim da civilização ocidental. Portanto, não é esse o nosso ponto!
Hoje, pode-se dizer que estamos a ser vítimas do nosso próprio sucesso, como tem sido de resto norma em todas as civilizações da História que atingem um elevado patamar. E notem que não estamos a dizer isto por a bolsa estar a cair. A bolsa cai porque as pessoas têm medo, da mesma maneira que há de subir quando a ganância entrar em ação, independentemente de termos o nosso modo de viver posto em causa ou não. Aliás quem hoje vende na UE e nos EU pode até ser chinês e é muito duvidoso que esteja a vender por temer o fim da civilização ocidental. Portanto, não é esse o nosso ponto!
É verdade que se levaram a cabo uns planos de austeridade que conseguiram essencialmente desalavancar expetativas, mas do ponto de vista económico e financeiro nada de relevante mudou. As dívidas continuam elevadíssimas, os défices estão descontrolados e, acima de tudo, o desemprego mantém-se em níveis impossíveis. Mas também, valha a verdade, o problema não tem solução, porque a dinâmica das próprias sociedades tem tanta inércia que não há força que as consiga manobrar.
Quando olhamos para o OE 2015 e vemos que acabaram os cortes nas pensões entre os 1000 e os quatro mil e tal euros compreende-se por que motivo vamos mesmo ao fundo. Como é possível que se façam tantos ajustes e cortes e, ao mesmo tempo, se continue a pagar aquilo que sabemos ser impossível pagar. E não me venham com a treta dos descontos: os descontos que pagam reformas são os descontos de quem está atualmente no ativo. E também nos estamos verdadeiramente a marimbar para a mais do que estafada guerra geracional, que só serve para nos atirar areia para os olhos. Isto tem que ver com realismo. Como é que se mantém este estado de coisas quando uma percentagem tão grande da população está desempregada e a esmagadora maioria dos jovens ou não tem emprego, ou tem emprego escravo, ou emigra? Como é que se vão cortar 700 milhões em educação, e ao mesmo tempo se continuam a pagar milhares de pensões de reforma de 2000 euros para cima? Não há dúvida de que nós nos tornamos complacentes e perdemos por completo todos os trunfos que nos tornaram vencedores. E isto é uma corrente europeia, que se deu ao luxo de pensar que ao mesmo tempo que deixava falir as empresas que criaram a civilização ocidental, era possível manter privilégios que nem no paraíso celeste existiam. A ética no trabalho acabou porque não há trabalho (na melhor das hipóteses, temos biscates), e as maiores taxas de poupança que fizeram de nós investidores e empreendedores foram liquidadas pela geração que criou o sistema de pensões que agora contribui para rebentar connosco.
Quando olhamos para o OE 2015 e vemos que acabaram os cortes nas pensões entre os 1000 e os quatro mil e tal euros compreende-se por que motivo vamos mesmo ao fundo. Como é possível que se façam tantos ajustes e cortes e, ao mesmo tempo, se continue a pagar aquilo que sabemos ser impossível pagar. E não me venham com a treta dos descontos: os descontos que pagam reformas são os descontos de quem está atualmente no ativo. E também nos estamos verdadeiramente a marimbar para a mais do que estafada guerra geracional, que só serve para nos atirar areia para os olhos. Isto tem que ver com realismo. Como é que se mantém este estado de coisas quando uma percentagem tão grande da população está desempregada e a esmagadora maioria dos jovens ou não tem emprego, ou tem emprego escravo, ou emigra? Como é que se vão cortar 700 milhões em educação, e ao mesmo tempo se continuam a pagar milhares de pensões de reforma de 2000 euros para cima? Não há dúvida de que nós nos tornamos complacentes e perdemos por completo todos os trunfos que nos tornaram vencedores. E isto é uma corrente europeia, que se deu ao luxo de pensar que ao mesmo tempo que deixava falir as empresas que criaram a civilização ocidental, era possível manter privilégios que nem no paraíso celeste existiam. A ética no trabalho acabou porque não há trabalho (na melhor das hipóteses, temos biscates), e as maiores taxas de poupança que fizeram de nós investidores e empreendedores foram liquidadas pela geração que criou o sistema de pensões que agora contribui para rebentar connosco.
E é esta conjuntura de fragilidade e de bloqueio que é posta à prova pela crise ucraniana. Ainda hoje os jornais apontam o ressurgimento dos receios em relação à Grécia (seremos nós a seguir?) como a causa primeira para as quedas do dia. Mas erram o alvo. O regresso dos gregos (que decididamente continuam entretidos no pagode, a fazer na meia) resultam essencialmente da aflição alemã, que se estampou por causa das sanções à Rússia. Foi mal medido pelos políticos europeus, ou era inevitável que assim fosse? Enclino-me para a primeira hipótese, embora reconheça que não reagir às investidas do Putin seria mais perigoso do que uma crise económica.
É verdade que os russos também não estão melhor e, ao olhar para os preços do gás e do crude, fica-se com a ideia de que já perderam o às de trunfo. O problema para nós que estamos do lado de cá da barricada, é que, como assinalamos num post aqui colocado há algumas semanas, os russos estão sempre prontos para o combate (e se não estiverem, a vodca encarrega-se de impor tranquilidade), ao passo que nós temos demasiado a perder. Mesmo sem trunfos, Putin arrisca-se a sair vitorioso enquanto nós mantemos privilégios e bloqueamos quem quer e pode trabalhar. Se juntarmos a isso a guerra que vamos ter que travar contra o fanatismo medieval do estado islâmico e a guerra contra o medo de epidemias e de catástrofes naturais não vai ser preciso fazer muito esforço para perceber porque caem as bolsas.
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