Tenho a certeza de que já se aperceberam como as manhãs calmas e até de uma certa descida têm dado lugar a tardes de arromba nos mercados do lado de cá do Atlântico e como essa inversão vespertina da tendência vem acompanhada de quedas nos índices americanos e na cotação do euro face ao dólar. Mal a América acorda começa a ponte aérea de transporte de cacau do lado de lá para o de cá, no que às ações diz respeito, e de troca de euros por dólares no que toca à liquidez, aos depósitos e aos títulos de dívida.
Não nos parece que haja para já motivos para crer que os americanos vão cair muito mais e inverter o sentimento de longo prazo (a ida do Nasdaq aos 5000 pontos, ao fim de 15 anos, levou à correspondente correção, mas ficávamos surpreendidos se não fôssemos novamente para máximos em breve), mas a verdade é que, tradicionalmente, mesmo com dados económicos favoráveis e bons resultados empresarias, as ações não lidam bem com subidas dos juros e há risco de má performance relativa. Se juntarmos a isso o QE europeu, julgamos que ninguém precisa de mais nada para compreender por que motivo temos visto o S&P a arriar ao mesmo tempo que o DAX sobe como se não houvesse amanhã. Aliás, para nós é essa novidade de a Europa se estar a tornar independente dos EUA em termos de mercados financeiros que mais nos tem surpreendido nos tempos que correm. Em muitos anos que levamos neste mister é a primeira vez que assistimos a semelhante coisa!
Cá pela terra temos o PSI20 a comportar-se da forma esperada. A semana foi interessante como se previa e assistimos a um primeiro sinal de bull market com a quebra da SMA200 (claro que há quem pense que lá por que já estamos acima dos 20% de valorização no ano estaremos automaticamente a salvo dos ursos; nada mais falso: até ver, podemos perfeitamente estar apenas numa correção de curto prazo às descidas violentas do ano passado). Essa quebra foi ainda mais interessante por se ter seguido a uma correção forte (na terça-feira) que nos fez testar a Lta (terceiro toque) e aliviou indicadores de forma muito saudável. Agora, precisamos de uma quebra da zona 5780-5800 para termos 300 pontos de subida até abril! Que assim seja!
Nos 3 últimos dias da semana tivemos subidas com volume crescente e notou-se um frenesim meio louco entre os investidores a fazer tudo por tudo por cavalgar os títulos que mais subiam e deitar a mão àqueles que iam quebrando resistências, vendendo os que já se encontram numa fase mais adiantada da recuperação. A propósito, diga-se que por muito que nos custe, é fundamental que aceitemos com resignação que não é possível estar em todas as que estão a subir num dado momento. Num mercado que sobe de forma marcada temos que usar de parcimónia nos movimentos e limitarmo-nos a ajustes ponderados, evitando entrar na loucura de vendas e compras agressivas que nos dão cabo da cabeça e da carteira. É uma lei do universo o facto de haver sempre energia dissipada, e os mercados não são propriamente conhecidos por facilitarem a vida a quem complica!
A EDPr quebrou como previsto e a Mota também. No caso da primeira o cenário parece menos obstruído, tal como referimos aqui na semana passada.
Na banca o ás de trunfo foi o banquito pequenote, o BANIF, que, como costuma suceder com o lixinho brilhou com subidas simétricas das descidas que experimentou no passado. A zona entre os 8 e os 9 décimos de cêntimo parece bastante mais congestionada do que o décimo anterior, de maneira que não antecipamos que seja uma subida tão limpa daqui em diante. De qualquer das formas, a quebra da SMA200 pode dar algum suporte na zona dos 0,0076, enquanto que as especulações em torno de fusões e aquisições na banca vão servindo de tónico a um banco que tem que encontrar comprador para a posição do estado (comprada acima do cêntimo de euro).
Nos outros bancos, vamos ter também uma semana agitada, à medida que se aproxima o dia 20, data em que vamos ficar a conhecer as propostas não vinculativas para a compra do Novo Banco. Mas desses já aqui falamos na semana passada.
Uma chamada de atenção para a Sonae porque está a enfrentar a derradeira resistência, nos 1,40€, antes de entrar numa zona em que pode definitivamente levantar vôo. Fica o gráfico:
Brutal! O único senão é estar sobrecomprada (não é a única), mas nós deitamos-lhe a mão se a virmos corrigir à zona 1,28-1,32. É que podemos tê-la a lamber 30 cêntimos sem que tenhamos tempo de pensar em que havemos de gastar o lucro! A propósito, ao ler o artigo sobre a Farfetch, que vem publicado na revista do Expresso, foi da Sonae que mais nos lembramos, por ser a empresa portuguesa que mais se tem aproximado de ser um player global! Talvez lhe falte trabalhar mais a componente que está a dar dinheiro a sério: os negócios na internet. Mas o resto já lá está!
Da NOS (fechou a semana em máximos da muitos anos) já falamos e achamos que ficou tão jeitosa que não lhe vão faltar pretendentes, tanto mais que agora já se percebeu porque andou a cair com volumes tão altos no início da semana. Era o Joaquim Oliveira que estava à rasca para sair. E já saiu...
Mas é nas telecomunicações que continua um dos calcanhares de aquiles do PSI20 (são dois, como tem que ser; o outro é a Galp que anda a pagar com línguas de palmo ter enfiado rios de dinheiro a tentar ir buscar petróleo quase ao centro da Terra! Uma loucura que deu muito dinheiro a ganhar a uma data de gente, mas não aos acionistas). As notícias de que a Oi gostava de dar com os pés à PT e trocá-la por uma empresa russa, ainda que tenham sido desmentidas rapidamente, dizem-nos que o fundo ainda está longe de ter sido feito e vêm quedas a caminho que vão, por certo, levar a PT para mínimos históricos. Claro que nós não estamos preocupados com a PT em si (está para lá de fodida há bastante tempo atrás) e estamos certos que nenhum de vós, sensatos e racionais como são, estará investido nesse monte de lixo tendo tanta coisa boa em que investir, mas preocupa-nos o facto de os 7,5% de peso no índice poderem servir de lastro à recuperação do PSI20 (notem que a queda semanal de 9% da Galp, que vale 12%, tirou 60 pontos ao indice que podia, se não fosse isso, fechar a semana acima dos 5800), ao mesmo tempo que fazem reviver na mente dos investidores estrangeiros as cenas medievais (economicamente falando) que tivemos que aturar no ano passado!
Não temos falado das papeleiras, Altri e Portucel, mas é evidente que não as podemos ignorar. Agora, porém, já não nos apetece escrever mais (nem a vocês ler). Fica para a próxima!
Bons negócios para todos!
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