8.3.15

Subida de taxas de juro nos EUA

Pensam os mercados que pensa a Fed que com os EUA quase em pleno emprego, como mostram os números publicados na passada sexta-feira, vai começar a faltar mão de obra para fazer face às necessidades da economia, e o remédio dos patrões vai ser aumentar o salário dos calaceiras para que não deixem a fábrica na mão e fujam para a concorrência. Com mais dinheiro na carteira vem o regabofe, o tratante relaxa, deixa de produzir como deve ser e a fábrica torna-se mais ineficiente. Ato contínuo começam a escassear os bens de consumo nos mercados. Mais dinheiro e menos bens disponíveis costumam levar a uma subida da inflação e os salários começam a ser comidos pelo custo de vida, sendo que o povão panica e deixa de comprar, o que leva a uma subida do desemprego, depois à miséria e à recessão. 
 
Pensam os mercados que a arma de um banco central como a Fed para lutar contra a perspetiva de uma subida generalizada dos salários é a subida das taxas de juro, que desencentive o investimento e a criação de mais empregos. Por causa disso, o dólar sobe ainda mais (atingiu sexta-feira um máximo de 2003 contra o euro e acreditamos que não deve haver um de vós que não tenha dólares na carteira) do que estava a fazer até aqui: é que quem tem dólares pode depositá-los nos states e receber juros mais altos do que na Europa. É claro que a subida do dólar por si só vai começar a criar problemas à indústria exportadora americana (é que nem todas as empresas têm o appeal da Apple) e com isso penalizar o mercado de trabalho. Mas os mercados não querem saber de nuances e fazem finca pé na ideia de que uma subida das taxas de juro vai levar a uma redução dos resultados líquidos das empresas por via de um maior custo da dívida e por causa de um corte nas despesas das famílias. Enfim, como os mercados pensam que os dividendos vão cair quando os juros sobem, tiram dinheiro da mesa e as bolsas caem. Quando as bolsas caem, numa economia como a americada em que uma grande parte da população tem dinheiro na bolsa, é evidente que vai haver sarilhos na economia real, pelo que, no final, isto é na realidade uma pescadinha de rabo na boca e é por isso que se diz que os índices bolsistas antecipam a economia real em pelo menos meio ano (o contrário é válido quando as bolsas sobem). 

A queda dos índices americanos no final da semana foi a maior dos últimos tempos, mas mesmo assim continuamos a apenas 2% de máximos históricos. Claro que podemos ver isso como um sinal de que novas quedas se seguirão e, de facto, olhando para o gráfico, ficamos com a ideia de que uma ida pelo menos aos 2040 pontos no S&P é uma possibilidade a não descartar. Aliás, mais do que uma possibilidade, parece-nos que seria uma oportunidade muito interessante de entrarmos longo, já que a proximidade de máximos e a volatilidade causada pelas especulações em torno do timing da Fed desaconselham um ferro curto.


Claro que a Europa está numa fase completamente distinta do ciclo económico, com o desemprego ainda em níveis muito elevados e as taxas de juros sem perspetivas de subida no curto prazo. Para além disso, o início do QE do BCE esta semana, quando o da Fed já acabou há bastante tempo fazem crer que meter dinheiro nas bolsas europeias pode vir a tornar-se mais interessante do que nas americanas, sendo o lado de lá do Atlântico previligiado para os depósitos e os títulos de dívida. Se nos vamos aguentar a subir com os americanos em queda é questão a que esperamos não ter que responder, porque as odes não estão a nosso favor. Para já, ainda somos daquele que continuam a crer que, apesar do podermos assistir à tal subida da volatilidade, não está em causa o bull market americano!

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