Por causa desta notícia apeteceu-me tanto ouvir Smells like teen spirit que depois me pus práli aos saltos e agora acho que desloquei a anca, luchei uma articulação qualquer no ombro e bati com a testa na esquina da mesinha de cabeceira quando torci o tornozelo, para já não falar da avaria que arranjei nas partes baixas quando tentei fazer a espargata. O que 25 anos fazem a um ganapo como eu era.
Agora estou decidido a manter a calma enquanto oiço Lithium:
Não se pode dizer que tenhamos falhado tudo no nosso exercício de futurologia, mas também é verdade que algumas saíram uma nesga ao lado: não nos passou pela cabeça, por exemplo, que os americanos se mandassem a tentar romper máximos, com o Trump igualado nas sondagens! Mas depois descobrimos que o mercado anda virado para achar que uma vitória republicana, com a desregulação e a baixa de impostos já anunciadas, é uma coisa boa. Eu, no tempo que levo disto, ainda não vi o mercado a subir com republicanos e os máximos a que assisti foi sempre com democratas, mas há quem não tire de ideia que a direita americana do tipo Bush é melhor para fazer dinheiro! Enfim, ideias feitas! Voltando à vaca fria, só os bruxos acertam tudo e nós nem os livros do Harry Potter lemos, mas gostamos da ida do S&P lá acima porque deu para atestar na putaria (oops, não levem a mal: compramos puts, isto é entramos curto e apostamos na queda). No fim, mantemos o que dissemos e continuamos convencidos que isto vai dar para baixo, a não ser que o S&P500 quebre máximos históricos!
Claro que nestas contas não entra o PSI20, esse moribundo transformado em slot machine, onde só a JMT vai dando para pagar as contas. Nesse, sou-vos franco: só acima de uns 4700 com a convicção de um volume forte, é que admito voltar ao baile, ainda que timidamente (vejam porquê aqui).
Mas hoje apetece-me dar uma vista de olhos no BCP, não para fazer uma análise técnica porque a coisa não tem por onde se lhe pegue, mas para partilhar convosco alguns dados que fui reunindo nas minhas leituras na net e uma ou outra especulação relativamente ao que se vai passar em termos futuros. Futurologia outra vez!
O BCP tinha, no final do 1º semestre de 2016, 2555 M€ de crédito em risco não coberto (de um total de 53000 milhões), cerca de 61% do capital próprio, e 750 M€ de obrigações convertíveis em capital que têm que ser pagas até junho de 2017 (consta que está a tentar pagar 250 milhas, mas ainda não recebeu luz verde! Compreende-se!). Se esse crédito em risco se revelar incobrável, o BCP fica muito perto da falência ou da nacionalização (os 750 M€ colocariam o Estado de posse da maioria do capital). E o pior é que não se sabe se estes valores não terão aumentado entretanto, porque isto é como na selva: animal ferido faz a festa das feras caloteiras! Não há dúvida de que um aumento de capital (AC) é inevitável!
Entretanto, aparece a Fosun com uma oferta por 16,7% do banco ao máximo de 2 cêntimos e a administração coloca-se de cócaras com a língua de fora e o rabito a abanar. No entanto, como rapidamente se chega à conclusão de que o dinheiro chinês, mesmo assim, vai ser curto, começa a correr a ideia de que o AC terá que ser maior e vai ser necessário: 1) convencer os chineses a terem uma posição maior; 2) arranjar outros para acudirem ao peditório.
O problema é que um AC da envergadura requerida numa empresa com um valor de mercado tão baixo significará uma diluição monstra para os atuais acionistas, pelo que a debandada acelera levando a uma queda acentuada das cotações que tornam mais provável uma oferta de novas ações na casa do cêntimo do que no máximo oferecido pelos chineses!
As contas são de merceeiro, mas para terem uma ideia, se houvesse um AC de 750 milhões de euros para liquidar já os CoCos, à cotação atual, com 30% para os chineses e o resto (12%), por exemplo, para a Isabel dos Santos, as posições dos principais acionistas ficariam assim: Sonangol (17,8% para 10,3%), Sabadell (5,1% para 2,9%), EDP (2,7% para 1,6%).
O problema de um AC deste tipo é que ele pode resolver o biscate de o Estado passar a ser acionista, permitindo liquidar os CoCos, mas nada consegue fazer pelos créditos incobráveis, pelo que se trata de uma jogada de alto risco para quem entrar. Neste caso, risco alto, preço baixo! Claro que eu, se fosse acionista sénior do BCP, perante este cenário, estava a entregar as ações que tinha aos pequenotes para tentar entrar mais tarde no tal AC com um desconto bem favorável. E ao que parece, quanto mais tardar o anúncio da coisa, maior é a probabilidade de compensar vender já, porque mais baixo será o preço a que serão colocadas as novas ações e sempre há algum que se pode ganhar com o diferencial.
Vejam o caso, por exemplo, da Sonangol (de Isabel dos Santos). Se, por hipótese puramente académica, tivesse vendido no fecho de sexta-feira toda a posição, encaixaria 185 M€. Se pegasse nesse dinheiro e entrasse num AC com um desconto de 30% e a D. Isabel ficasse com os 12% acima do que os chineses querem, então a posição angolana passaria a ser de 34%, e seriam os acionistas maioritários. Dir-me-ão: mas a Sonangol não pode vender sem comunicar ao mercado! Pois não, nem eu digo que o está a fazer, mas há muitas maneiras de fazer um serviço bem feito e a avalanche de posições curtas no banco não me parece que seja só de ases da bolsa! Do you know what I mean?
Depois da quebra em baixa da linha amarela, em três dias o PSI20 pôs-se na linha vermelha, 150 pontos abaixo. Na terça-feira viemos aqui dizer que nos pusemos curtos e agora anunciamos que fechamos a loja para o fim de semana porque estamos em crer que, apesar de tudo, é capaz de ser excessivo quebrar a linha vermelha desde já. Claro que somos ninguém para dizer ao mercado o que ele pode ou não fazer, mas se bem conhecemos o azeiteiro, não é costume as coisas avinagrarem tão violentamente sem que se dê um ressalto. Demais a mais o RSI indica sobrevenda e, embora o nosso índice tenha o costume de se deixar ficar 3 ou 4 dias sobrevendido antes de dar um coice, ninguém nos tira de ideia que a quebra da linha vermelha só se dará se houver forte marosca. Notem que a linha vermelha foi quebrada em junho por causa do Brexit naquilo que ficou provado à posteriori ter sido uma excentricidade dos pessimistas, pelo que uma quebra neste momento, sem esse tipo de frisson não poderá deixar de constituir motivo para forte comoção (essa quebra só não será apocalíptica porque 5% abaixo está o mínimo anual e vai haver gente a comprar um duplo fundo). Ora vejam:
Nós podemos ficar na dúvida sempre que ouvimos na televisão os políticos e os comentadores das diferentes fações e balançar entre o otimismo de Costa e Marcelo e o negrume de Passos, mas jamais deveremos duvidar dos sinais que vêm dos mercados. Quando os juros da dívida no mercado secundário sobem como subiram esta semana e a bolsa vem pousar da forma que vimos e com um volume brutal na linha vermelha, não devemos precisar que nos façam sinais de luzes para perceber que vamos ter problemas a seguir. Claro que há um sem-número de fatores que o jornalismo especializado se entretém a avançar para explicar os movimentos a que assistimos, mas se queremos ser alguém na vida e não acabar empurrados para fora do mercado, é mister que façamos a nós próprios o favor de ignorar em absoluto todo o tipo de teorias e nos concentremos apenas nos movimentos. É evidente que o mercado não é deus todo-poderoso e muitos movimentos resultam da nossa tendência comum para o exagero: o movimento (previsível) entre a linha amarela e a linha vermelha pode ser acomodado sem espinhas nesta linha de raciocínio! Mas se quebrarmos em baixa a partir daqui, então eu, que de economia e finanças nada percebo, começarei a dar mais crédito aos pessimistas!
Quanto à próxima semana, se quisermos fazer aqui um exercício de pura futurologia, era capaz de arriscar dizer que podemos ter ressalto para durar até meio da semana. Tecnicamente, o índice ficou a jeito para os compradores (o stop-loss coloca-se sem problemas), há sobrevenda e vamos ter crentes numa espécie de triplo fundo, ao mesmo tempo que o desiderato no BPI pode levar a um curto desanuviar do cenário na banca (no BCP já se percebeu que os chineses vão entrar à grande, pagando uma bagatela - sorte a deles). Não obstante, aflige-me um bocado a situação do DAX que, em minha opinião, dificilmente escapará a vir beijar a sua linha vermelha, mas sou moço para acreditar que até quarta-feira, dia de reunião de bancos centrais no Japão e nos EUA, é possível que a coisa passe mais ou menos equilibrada.
A partir da reunião da Fed é que me parece que as coisas poderão piar mais fino. Creio que há uma probabilidade muito grande de os juros não subirem, mas também me parece que o risco de sell off a seguir, independentemente da decisão tomada, é bastante significativo. Depois da Fed, os mercados voltarão as suas atenções para as eleições de 8 de novembro e a incerteza que será criada por uma possível eleição de Donald Trump será tão grande que dificilmente escaparemos à tradicional jogada por antecipação: seja qual for o vencedor das eleições, os efeitos das suas ações começarão a ser sentidos daqui por seis meses, tempo que o mercado costuma dar de margem para reagir à cautela. No S&P500, não preciso de gastar mais as teclas do teclado, se vos mostrar o meu gráfico:
Para ajudar a que a semana seja de qualidade, fiquem com o novo Nick Cave:
Amigos, atenção a uma possível quebra do suporte dos 4600 pontos, em fecho, hoje no PSI20! De acordo com a nossa leitura, isso colocaria o índice a caminho de mínimos históricos, cenário que sairá reforçado se o fecho se der em mínimos do dia (algo que a esta hora ainda não é líquido que aconteça).
Pela parte que me toca, olho para os principais índices e vejo quedas no horizonte, olho para o comportamento dos juros no mercado secundário e vejo drama, leio as citações da entrevista do Centeno à CNBC e vejo novo resgate em parangonas, analiso o sentimento global e vejo que o povo começa a ficar descrente em relação aos Bancos Centrais e garanto-vos que bem me esforço por pensar que estou a dramatizar, mas depois recordo-me das palavras do profeta e francamente não consigo! Enfim... estou curto!
P.S. - Se hoje o PSI20 fechar acima dos 4600 pontos e logo o S&P fechar positivo, queiram desconsiderar... de momento!
Como o comportamento do PSI20 vai estar muito condicionado pelo que fizerem os grandes índices mundiais, deixo a minha visão sobre os mesmos.
O DAX fechou com a EMA21 a amparar, mas os futuros foram de fim-de-semana muito mais abaixo, encostados à linha amarela. Caso não suporte, é provável uma aproximação à linha vermelha que coincide com a SMA200. Esse movimento, a ocorrer, não colocará a meu ver problemas de maior ao atual movimento bullish, mas se a linha horizontal vermelha for quebrada em baixa, diria que o cenário volta a ser descendente no médio prazo! Para cima, a quebra em alta da zona 10920-11000 pontos, coloca o índice a caminho de máximos históricos!
No S&P500 a situação é mais simples de analisar. Olhando apenas para o gráfico é clara a existência de um suporte na zona dos 2116, valor a que, curiosamente, fecharam os futuros, sendo que, em caso de quebra, é lógico esperar um aproximar à zona que 2045-2065! Com o índice a vir de máximos históricos e o RSI a ficar já perto de 30 só com a queda de sexta-feira, diria que podemos estar na expetativa de um ressalto de curto prazo, eventualmente depois de uma ida (amanhã?) aos 2100, com target pelos 2150 pontos. Depois, vai depender dos sinais dados pela Fed, e da decisão sobre taxas de juro que sairá da reunião do próximo dia 21 (seguinte a 2 de novembro e a 14 de dezembro).
Na quinta-feira de manhã o PSI20 encaminhava-se para ativar sinal de compra, na quebra da linha de tendência descendente (Ltd) que não é superada desde maio de 2015! Se a quebra fosse para valer, deveria ter fechado em máximos nesse dia e continuar a subir, nos dias seguintes, em direção à média móvel de 200 dias (curva vermelha), pouco mais de 2% acima e depois à resistência dos 4900 pontos. Posto desta forma, mandava o bom-senso evitar qualquer tipo de entrada mesmo que a quebra da Ltd se efetivasse: não era provável que o índice conseguisse galgar até aos 4900 e quebrar sem vir novamente confirmar a passagem com sucesso da linha diagonal. Assim sendo, para possíveis entradas, o plano deveria passar por estar atento à quebra da Ltd e aguardar tranquilamente pela aproximação aos 4900 pontos: se quebrasse em força (situação improvável) entrar nessa altura; se rechaçasse apanhar o comboio na aproximação de cima à Ltd!
Mas na quinta-feira falhou o fecho em máximos, o que é sempre mau sinal em situações de quebra em alta eminente e na sexta esbardalhou-se, sendo provável que o fecho numa altura em que os índices americanos ainda não tinham entrado em voo picado, tenha evitado uma queda mais dramática!
Eu diria que, neste momento, tanto as vendas como as compras devem ser feitas com parcimónia, porque os valores chave estão todos demasiado próximos. Para cima já expliquei o meu raciocínio; para baixo há um suporte nos 4600 pontos que estou a contar que possa segurar as cotações. Se não o fizer, é motivo para ficarmos todos bastante preocupados uma vez que a ida a mínimos volta a estar em cima da mesa.
Como o mercado ficou, parece-me menos provável uma quebra em alta desde já da Ltd, pelo que quem está dentro deve equacionar vender se houver ressalto de 1% (a partir dos valores de sexta-feira) em alta, ou quebra em baixa da linha amarela! Por outro lado, uma quebra em alta já da Ltd com fecho em máximos torna o sinal mais forte do que antes, pelo que quem está fora pode equacionar uma entrada nesse caso ou então cá em baixo na aproximação aos 4600 pontos (atenção a um possível gap down amanhã, que se pode resolver caso as declarações agendadas de manda-chuvas da Fed sejam apaziguadoras da ressaca).
Quem se interessa em
acompanhar os mercados americanos (por curiosidade ou porque investe
em CFD’s) reparou que os dois últimos meses foram atípicos. De
facto, após uma cavalgada fortíssima iniciada dois dias depois de
anunciado o Brexit,
que
rompeu com as últimas resistências e instalou os principais índices
americanos em máximos históricos, o que muitos julgariam impossível
(eu incluído), seguiram-se dois meses de um monótono ondular de
menos de um por cento diário.
Durante
esse tempo muito se especulou, entre nova cavalgada para novos
máximos e queda acentuada entre os 5 e os 10%.
Não há nada de mal que os
mercados atinjam máximos, bem pelo contrário. Mas quando os
mercados estão em máximos de sempre seria normal supor que a
economia está na melhor forma de sempre. Seria… mas não é bem
assim. E não é assim porque aqui entram outros atores para além
das empresas, dos resultados delas e dos indicadores macroeconómicos.
Aliás, os principais atores nestes tempos chamam-se bancos centrais.
Só assim é que é possível os mercados americanos terem estado em
máximos históricos com a economia americana (e mundial) um pouco
longe da forma excelente.
Mas
a queda de sexta-feira (a última barra no gráfico acima) é também
ela atípica. Aparentemente nada explica semelhante tombo, pelo menos
nenhum dado económico que tenha saído. A nossa explicação tem a
ver com os bancos centrais. Os mercados americanos têm-se comportado
(a nosso ver) em relação ao dinheiro injetado na economia (na
realidade maioritariamente injetado nos mercados de capitais) como o
toxicodependente em relação à dose diária. A expectativa era a de
que, a intervalos regulares, a reserva federal lá viesse com a
dosesinha do costume e tudo continuava bem.
Ora o nosso toxicodependente
parece ter-se apercebido de que desta vez vai ter de passar sem a
dosesinha, e começou já, por antecipação, a sofrer a dores da
ressaca.
É
capaz de ser esta a explicação. E o que é que se segue? Se a
explicação estiver correta, a queda de sexta-feira não vai ser a
única. No entanto atente-se ao seguinte: o sp 500, como se pode ver
em cima, ficou num suporte importante (que também aparece no gráfico
semanal). O dow jones e o nasdaq, no entanto, quebraram os seus
suportes equivalentes. Pode ser que na segunda-feira, tendo em conta
a severidade da queda, o dow e o nasdaq testem as agora resistências
e o sp alivie um pouco. Pode ser… e pode não ser, como é óbvio.
Bons negócios.
Todos sabemos que há uma diferença trágica entre aulas de professores conhecedores do mundo e habituados a fazer mais do que ensinar e estopadas ministradas por azeiteiros que mais não são do que caixas de velocidades entre a fonte (o manual escolar) e o recetor (nós). Infelizmente, no decorrer da nossa vida escolar, é norma o número de secas monumentais ser tão avassalador que os momentos de epifania que lá vamos experimentando acabam remetidos para o mais profundo subconsciente! Foi com este medo, acumulado em anos e anos de conversa da treta, que me apresentei às palestras que inevitavelmente sempre preenchem estes cursos de formação. Mas cedo descobri que os meus receios eram infundados: toda a gente que foi chamada para nos instruir nos segredos da física das partículas e da relatividade era a fina flor do professorado, e não houve um incompetente que fosse a passar pelo palanque. Agora, também vos digo e desengano desde já: se não tendes dois dedos de testa e a genética não vos favoreceu em termos mentais, então esta história de ir ao CERN não é para vós e pode mesmo dar-vos um piripaque que vos deixa praí numa cadeira de rodas. Optai antes pela radiação UV na praia porque a pele sempre é um órgão menos importante que o cérebro!
Um bónus de algumas palestras foi terem decorrido no auditório que em 2012 esteve apinhado de cérebros bons para ouvir o anúncio da descoberta do bosão de Higgs, sendo que o Peter Higgs em pessoa (que, recorde-se, levou o Prémio Nobel) teve a honra de se sentar na cadeira onde eu me sentei à posteriori.
Se quiserem uma amostra da qualidade das intervenções e/ou procuram respostas para algumas das questões mais excitantes relacionadas com o CERN e o que lá se estuda podem consultar, por exemplo, o Quora do Professor André David, um dos oradores presentes.
Tudo o que se passa no CERN parte da equivalência entre massa (matéria) e energia enunciada por Einstein em 1905. Basicamente, a energia de protões que são acelerados a enormes velocidades é convertida em massa, isto é, em novas partículas, quando eles chocam uns contra os outros. E a magia que ali se opera consiste em detetar essas novas partículas, identificá-las e descortinar as suas propriedades, de modo a perseguir dois objetivos: avaliar a qualidade das previsões teóricas e identificar situações imprevistas para, com isso, fazer avançar a Física. Dito assim, talvez não pareça grande espingarda, mas no LHC já se conseguem reproduzir em nanoescala energias tão elevadas como as que existiram nanosegundos depois do Big Bang, pelo que, na prática, estamos a ver como era o Universo nessa altura e consequentemente como são as partículas que no âmago constituem a matéria. Acreditem: é muito à frente! Para levar a cabo semelhante façanha, eis do que vamos necessitar:
O acelerador funciona em contínuo e as colisões estão sempre a ocorrer em quatro pontos onde se localizam os detetores que são parte integrante das experiências principais. Estes encarregam-se de registar as trajetórias dos destroços, utilizando para o efeito câmaras de 100 megapixeis que tiram 40 milhões de fotografias por segundo. Na fração de segundo seguinte o sistema da imagem abaixo elimina-as todas exceto as cerca de mil que contêm traços com potencial para trazer novidades:
Filtros suplementares deixam ficar apenas os registos com verdadeiro interesse científico, que então seguem para armazenamento no centro informático do CERN:
Tudo isto é controlado por uma legião de criaturas munidas dos mais sofisticados equipamentos que a mente humana consegue gizar.
Os dados recolhidos ficam armazenados à espera de um investigador que olhe para eles com olhos de quem quer ganhar o Nobel.
Para além das experiências fundamentais há uma panóplia de investigações acessórias que versam sobre os mais diversos assuntos. Na fábrica de antimatéria já se consegue manter um átomo de anti-hidrogénio preso em vácuo durante 1000 segundos. O especialista brasileiro Cláudio Lenz César dizia-nos que estão perto de obter o espectro electromagnético do dito: se bater certo com a teoria porreiro, mas se se provar que a teoria está errada, então é Prémio Nobel! Típica Ciência! Ali ao lado fica o departamento de Física Médica onde depois do desenvolvimento da TEP se aperfeiçoa a deteção de tumores menores do que 2 mm, muito antes de o cancro se manifestar! Um pouco desviado temos o centro de controlo da experiência AMS, que recolhe dados num detetor que se encontra na Estação Espacial Internacional, e procura matéria escura e antimatéria extraterrestre.
A dada altura, topei com um ex-aluno, responsável pela melhoria permanente de um conjunto de componentes eletrónicos da experiência CMS. Ao fim de um ano ao serviço, confessou-se meio desiludido, achava que o CERN seria mais perfeito, mais certeza e menos improviso. Para nós que lá passamos uns dias, por outro lado, a experiência não podia ter sido mais revigorante e diabos me carreguem se não sinto os neurónios mais desentupidos e a postos para aquilo que sabem fazer melhor!
O mínimo que se pode dizer das instalações do CERN é que se trata de uma coisa em grande e que ninguém se pôs com merdas a poupar nas despesas! Só para a construção da jóia da coroa, o LHC, foi necessário reunir 6,5 mil milhões de paus, e o orçamento anual da empreitada ultrapassa os 1100 milhões, 14 dos quais são enviados de cá, da nossa terrinha. E tudo isso para quê, perguntam vocês? Ora, para fazer coisas como a Web, sem a qual estava fora de questão frequentarem este estupendo blogue:
Segundo nos contaram, Portugal, que é membro da organização desde 1985, até é dos países que tem um balanço positivo porque as vendas que faz ficam acima dos custos anuais. E nós somos testemunhas. Para que conste, amigos, não conseguimos trazer umas camisetas made in Portugal todas larocas da loja de souvenirs porque o diabo dos trapos tinham tanta saída que não fomos a tempo de deitar a mão a nenhuma!
Se são dos que não ficam impressionados com o poderio económico da t-shirt, talvez gostem de saber que os contentores de hélio líquido, superfluído à temperatura de 2 K a que tem de ser mantido, também são produzidos em Portugal. Não sei se sabem, mas a temperaturas tão baixas um fluído atravessa paredes, pelo que mantê-lo dentro do reservatório já não é só um problema de válvulas e torneiras, tornando-se, outrossim, num feito tecnológico que está ao alcance de poucos. Aqui fica uma imagem dos mesmos a servir de comprovativo:
Depois do jato lá no centro da cidade, a principal atração pega turista de Genebra é The globe of science and innovation dentro do qual está patente uma exposição bastante aceitável chamada O Universo das partículas (deve ser o nosso!). Arquitetonicamente o edifício não merece reparos e a localização não podia ser melhor: fica entre a portaria do complexo e as instalações da experiência Atlas, uma das 4 principais experiências (6 no total) que decorrem no LHC.
O CERN é território à parte, com uma fronteira própria onde quem não tem cartão não entra. À saída há um artista que vos vai ver a bagageira, como fazia antigamente a guarda fiscal em Valença do Minho, não vá dar-se o caso de serdes contrabandistas de aceleradores de partículas. A terra é atravessada pela fronteira franco-suíça, sendo que do lado francês ficam as montanhas do Jura, famosas pelo termo Jurássico, cunhado em honra dos artefactos que os dinossauros por lá deixaram. Entre o manancial de experiências com que somos presenteados a cada minuto, há apenas uma de âmbito puramente esotérico. Refiro-me à tripe que é colocar uma mão de um lado e outra do outro do marco que assinala a divisão entre o que é dos gendarmes e o que pertence à guarda suíça: em dois países ao mesmo tempo; que cena mais marada!
Uma vez passados os trâmites, damos entrada e, ato contínuo, passamos a fazer parte dos 6000 que todos os dias dão ao cabedal em prol da ciência, da paz no mundo, da igualdade entre os sexos e, já agora, do conhecimento da matéria até ao nível do bosão de Higgs! Não contem com luxos desnecessários, mas não tenham dúvidas de que, uma vez ao serviço, terão todas as condições para que a aventura fique convosco até que os vossos átomos deixem de se interessar por vós.