25.9.16

BCP

Não se pode dizer que tenhamos falhado tudo no nosso exercício de futurologia, mas também é verdade que algumas saíram uma nesga ao lado: não nos passou pela cabeça, por exemplo, que os americanos se mandassem a tentar romper máximos, com o Trump igualado nas sondagens! Mas depois descobrimos que o mercado anda virado para achar que uma vitória republicana, com  a desregulação e a baixa de impostos já anunciadas, é uma coisa boa. Eu, no tempo que levo disto, ainda não vi o mercado a subir com republicanos e os máximos a que assisti foi sempre com democratas, mas há quem não tire de ideia que a direita americana do tipo Bush é melhor para fazer dinheiro! Enfim, ideias feitas! Voltando à vaca fria, só os bruxos acertam tudo e nós nem os livros do Harry Potter lemos, mas gostamos da ida do S&P lá acima porque deu para atestar na putaria (oops, não levem a mal: compramos puts, isto é entramos curto e apostamos na queda). No fim, mantemos o que dissemos e continuamos convencidos que isto vai dar para baixo, a não ser que o S&P500 quebre máximos históricos!

Claro que nestas contas não entra o PSI20, esse moribundo transformado em slot machine, onde só a JMT vai dando para pagar as contas. Nesse, sou-vos franco: só acima de uns 4700 com a convicção de um volume forte, é que admito voltar ao baile, ainda que timidamente (vejam porquê aqui).

Mas hoje apetece-me dar uma vista de olhos no BCP, não para fazer uma análise técnica porque a coisa não tem por onde se lhe pegue, mas para partilhar convosco alguns dados que fui reunindo nas minhas leituras na net e uma ou outra especulação relativamente ao que se vai passar em termos futuros. Futurologia outra vez!

O BCP tinha, no final do 1º semestre de 2016, 2555 M€ de crédito em risco não coberto (de um total de 53000 milhões), cerca de 61% do capital próprio, e 750 M€ de obrigações convertíveis em capital que têm que ser pagas até junho de 2017 (consta que está a tentar pagar 250 milhas, mas ainda não recebeu luz verde! Compreende-se!). Se esse crédito em risco se revelar incobrável, o BCP fica muito perto da falência ou da nacionalização (os 750 M€ colocariam o Estado de posse da maioria do capital). E o pior é que não se sabe se estes valores não terão aumentado entretanto, porque isto é como na selva: animal ferido faz a festa das feras caloteiras! Não há dúvida de que um aumento de capital (AC) é inevitável!

Entretanto, aparece a Fosun com uma oferta por 16,7% do banco ao máximo de 2 cêntimos e a administração coloca-se de cócaras com a língua de fora e o rabito a abanar. No entanto, como rapidamente se chega à conclusão de que o dinheiro chinês, mesmo assim, vai ser curto, começa a correr a ideia de que o AC terá que ser maior e vai ser necessário: 1) convencer os chineses a terem uma posição maior; 2) arranjar outros para acudirem ao peditório. 

O problema é que um AC da envergadura requerida numa empresa com um valor de mercado tão baixo significará uma diluição monstra para os atuais acionistas, pelo que a debandada acelera levando a uma queda acentuada das cotações que tornam mais provável uma oferta de novas ações na casa do cêntimo do que no máximo oferecido pelos chineses! 

As contas são de merceeiro, mas para terem uma ideia, se houvesse um AC de 750 milhões de euros para liquidar já os CoCos, à cotação atual, com 30% para os chineses e o resto (12%), por exemplo, para a Isabel dos Santos, as posições dos principais acionistas ficariam assim: Sonangol (17,8% para 10,3%), Sabadell (5,1% para 2,9%), EDP (2,7% para 1,6%). 

O problema de um AC deste tipo é que ele pode resolver o biscate de o Estado passar a ser acionista, permitindo liquidar os CoCos, mas nada consegue fazer pelos créditos incobráveis, pelo que se trata de uma jogada de alto risco para quem entrar. Neste caso, risco alto, preço baixo! Claro que eu, se fosse acionista sénior do BCP, perante este cenário, estava a entregar as ações que tinha aos pequenotes para tentar entrar mais tarde no tal AC com um desconto bem favorável. E ao que parece, quanto mais tardar o anúncio da coisa, maior é a probabilidade de compensar vender já, porque mais baixo será o preço a que serão colocadas as novas ações e sempre há algum que se pode ganhar com o diferencial. 

Vejam o caso, por exemplo, da Sonangol (de Isabel dos Santos). Se, por hipótese puramente académica, tivesse vendido no fecho de sexta-feira toda a posição, encaixaria 185 M€. Se pegasse nesse dinheiro e entrasse num AC com um desconto de 30% e a D. Isabel ficasse com os 12% acima do que os chineses querem, então a posição angolana passaria a ser de 34%, e seriam os acionistas maioritários. Dir-me-ão: mas a Sonangol não pode vender sem comunicar ao mercado! Pois não, nem eu digo que o está a fazer, mas há muitas maneiras de fazer um serviço bem feito e a avalanche de posições curtas no banco não me parece que seja só de ases da bolsa! Do you know what I mean?

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