18.9.16

Futurologia

Depois da quebra em baixa da linha amarela, em três dias o PSI20 pôs-se na linha vermelha, 150 pontos abaixo. Na terça-feira viemos aqui dizer que nos pusemos curtos e agora anunciamos que fechamos a loja para o fim de semana porque estamos em crer que, apesar de tudo, é capaz de ser excessivo quebrar a linha vermelha desde já. Claro que somos ninguém para dizer ao mercado o que ele pode ou não fazer, mas se bem conhecemos o azeiteiro, não é costume as coisas avinagrarem tão violentamente sem que se dê um ressalto. Demais a mais o RSI indica sobrevenda e, embora o nosso índice tenha o costume de se deixar ficar 3 ou 4 dias sobrevendido antes de dar um coice, ninguém nos tira de ideia que a quebra da linha vermelha só se dará se houver forte marosca. Notem que a linha vermelha foi quebrada em junho por causa do Brexit naquilo que ficou provado à posteriori ter sido uma excentricidade dos pessimistas, pelo que uma quebra neste momento, sem esse tipo de frisson não poderá deixar de constituir motivo para forte comoção (essa quebra só não será apocalíptica porque 5% abaixo está o mínimo anual e vai haver gente a comprar um duplo fundo). Ora vejam:


Nós podemos ficar na dúvida sempre que ouvimos na televisão os políticos e os comentadores das diferentes fações e balançar entre o otimismo de Costa e Marcelo e o negrume de Passos, mas jamais deveremos duvidar dos sinais que vêm dos mercados. Quando os juros da dívida no mercado secundário sobem como subiram esta semana e a bolsa vem pousar da forma que vimos e com um volume brutal na linha vermelha, não devemos precisar que nos façam sinais de luzes para perceber que vamos ter problemas a seguir. Claro que há um sem-número de fatores que o jornalismo especializado se entretém a avançar para explicar os movimentos a que assistimos, mas se queremos ser alguém na vida e não acabar empurrados para fora do mercado, é mister que façamos a nós próprios o favor de ignorar em absoluto todo o tipo de teorias e nos concentremos apenas nos movimentos. É evidente que o mercado não é deus todo-poderoso e muitos movimentos resultam da nossa tendência comum para o exagero: o movimento (previsível) entre a linha amarela e a linha vermelha pode ser acomodado sem espinhas nesta linha de raciocínio! Mas se quebrarmos em baixa a partir daqui, então eu, que de economia e finanças nada percebo, começarei a dar mais crédito aos pessimistas!

Quanto à próxima semana, se quisermos fazer aqui um exercício de pura futurologia, era capaz de arriscar dizer que podemos ter ressalto para durar até meio da semana. Tecnicamente, o índice ficou a jeito para os compradores (o stop-loss coloca-se sem problemas), há sobrevenda e vamos ter crentes numa espécie de triplo fundo, ao mesmo tempo que o desiderato no BPI pode levar a um curto desanuviar do cenário na banca (no BCP já se percebeu que os chineses vão entrar à grande, pagando uma bagatela - sorte a deles). Não obstante, aflige-me um bocado a situação do DAX que, em minha opinião, dificilmente escapará a vir beijar a sua linha vermelha, mas sou moço para acreditar que até quarta-feira, dia de reunião de bancos centrais no Japão e nos EUA, é possível que a coisa passe mais ou menos equilibrada. 


A partir da reunião da Fed é que me parece que as coisas poderão piar mais fino. Creio que há uma probabilidade muito grande de os juros não subirem, mas também me parece que o risco de sell off a seguir, independentemente da decisão tomada, é bastante significativo. Depois da Fed, os mercados voltarão as suas atenções para as eleições de 8 de novembro e a incerteza que será criada por uma possível eleição de Donald Trump será tão grande que dificilmente escaparemos à tradicional jogada por antecipação: seja qual for o vencedor das eleições, os efeitos das suas ações começarão a ser sentidos daqui por seis meses, tempo que o mercado costuma dar de margem para reagir à cautela. No S&P500, não preciso de gastar mais as teclas do teclado, se vos mostrar o meu gráfico:


Para ajudar a que a semana seja de qualidade, fiquem com o novo Nick Cave:

Sem comentários:

Enviar um comentário