14.1.18

Jerónimo Martins

Os frequentadores desta casa sabem que não morremos de amores pela Jerónimo Martins, não por não ser uma empresa interessante (que ideia!), mas porque nos parecia demasiado cara por comparação com a sua concorrente Sonae. Dissemo-lo por diversas vezes, e a verdade é que o mercado acabou por concordar de certa forma connosco (ip, ip, ip,... hurra!): desde a última vez que elaboramos sobre a matéria, a JMT subiu uns jeitosos 14%, mas a Son não fez por menos e tornou  os  seus investidores 70% mais felizes! Nada mau!

Mas ninguém se atreva a dizer mal da JMT. Afinal de contas, a empresa tem uma estratégia de comunicação tão bem montada que eu conheço várias pessoas que consideram o Pingo Doce bem mais barato do que o Continente, apesar de todas as evidências em contrário, e tenho conhecidos que vão fazer compras ao PD apesar de trabalharem no Cont. e terem aí vales de desconto. Trata-se, pois, de uma questão de fé e quem consegue manobrar com a fé tem que merecer a nossa atenção. E isto para nem falar na Biedronka que é impossível passar despercebida a quem dê um pulo à Polónia, tamanha é a disseminação das joaninhas. 


Se nos lembrarmos que a Polónia é o país da UE mais dado a fés, pátria de Czestochowa e do cardeal Wojtyla, que tem por rei coroado Jesus Cristo, e cujo governo conservador se prepara para aprovar uma lei que torna impossível o aborto com o argumento de que mesmo os fetos irremediáveis devem nascer para que possam ser batizados antes de descer à terra, então percebemos que o local é tão fértil como o luso para quem manobra com mestria agências de comunicação. Claro que na Polónia pia mais fino do que cá na paróquia e a JMT não teve outro remédio se não aumentar os salários dos seus funcionários no final do ano passado em 10% (em Portugal seria coisa para arrepiar cabelos e é provável que tanto o evangelizador Soares dos Santos como o saudoso Passos Coelho - só para citar gente conhecida - viessem a ter sérias dificuldades em sobreviver à síncope que inevitavelmente os acometeria - mas o tuga é feito de outra cepa) sob pena de, como já aconteceu anteriormente, a populaça se entregar a ações de boicote (e, por que não, o governo avariado do capacete que por lá obra começar a ter ideias que remetem para outros tempos da história polaca). Não tenho a certeza disto, mas não me parece improvável que um funcionário do PD leve menos para casa ao fim do mês do que o seu colega do leste (o ordenado mínimo na Polónia é de 473€).

(Vamos por música para desanuviar):


Para além disto, a JMT também está na Colômbia, território promissor, mas montanhoso e de distribuição difícil, mas onde já opera 389 lojas, com um apuro de 406 milhões, o que parece querer indicar que a estratégia de diversificação foi boa.

A empresa apresentou os números das suas vendas de 2017 na sexta-feira (subida global de 11,3%) e o mercado gostou bastante, tendo, em consonância, a cotação trepado 4,4% (6,9% em 2018). A capitalização bolsista está nos 10900 M€ (a segunda maior do PSI20 depois da Galp) e, fazendo  um cálculo muito grosseiro, talvez possamos acrescentar os tais 11,3% ao resultado líquido do ano passado e obter cerca de 400 M€ de lucro (o dobro do que eu estou à espera para a Sonae). O PER estará, portanto, nos 27 (12 para a Sonae, 16 para o Carrefour, por exemplo), a que corresponderá um lucro por ação de 0,63€.  

(Só mais uma da colheita 2017):


Evidentemente, o mercado está neste momento a pagar perspetivas de crescimento, pelo que, apesar de a empresa estar cara, não é improvável que continue a subir, agora que a Polónia já está novamente em velocidade de cruzeiro e quando é possível que a operação colombiana comece a dar lucro. Comparando com a Sonae, para mim, continua a não haver dúvidas, mas julgo que pode haver algum interesse para aqueles que se entusiasmam mais com o futuro do que com o presente.

Do ponto de vista técnico, na sexta-feira fechou um gap aberto em julho do ano passado, mas até ao máximo histórico nos 18,1€ dá-me a ideia que enfrentará uma zona de alguma resistência. Se passa, estará em território de máximos e tudo pode acontecer, se vier para baixo, situação que não será de descartar agora que as vendas já são sabidas e toda a gente quer conhecer os lucros (28 de fevereiro), poderá encontrar conforto nas médias móveis ou na linha verde. Em nossa opinião, aquele cruzamento para cima da linha verde, acompanhado do alinhamento positivo das médias móveis, recolocou a JMT num bull market de longo prazo, situação que chegou a estar tremida quando mergulhou até à linha amarela. 


Resta saber se se trata da melhor aposta neste momento... mas mais não digo!

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