O mais feliz dos homens é aquele que melhor conhece a arte de se tornar feliz sem prejuízo dos seus deveres; e o mais infeliz é o outro que abraçou um estado em que se acha todos os dias, de manhã à noite, na triste obrigação de prever.
Estas palavras foram escritas por Giacomo Casanova, no final do século XVIII. Casanova é muito injustamente conhecido apenas pela sua libertinagem, já que o livro de memórias que nos deixou (História da minha vida) contém muito mais do que a narração de um conjunto de aventuras amorosas cuja obrigação de prever faziam, nas suas palavras, a infelicidade do homem. A vida de Casanova é a vida sem fim, plena de excessos e de ensinamentos e a sua obra é um manual sobre a arte de viver apaixonadamente, mas sem perder de vista a lucidez e a racionalidade. A infelicidade daqueles que abraçam o estado em que se vêem permanentemente na contingência de prever pode ser a dos que andam nos mercados, tentando ser adivinhos ou procurando ferramentas que permitam adivinhar. E a felicidade dos que cumprem os seus deveres mantendo-se felizes é também o objetivo dos que andam na bolsa não para acertar sempre, mas para ganhar dinheiro. Tal como Casanova percebeu, o mundo é muito mais complexo do que nos fazem crer os nossos rudimentares órgãos dos sentidos e a confusão que se gera na nossa mente quando não compreendemos que não é possível prever é, de facto, a maior fonte de frustação que conduz à infelicidade e ao desânimo.
Não se esqueçam de que nada mais há nos mercados do que pessoas que compram e vendem. Umas porque analisam e decidem, umas vezes bem e outras mal. Quando decidem bem, ótimo, e quando decidem mal, corrigem, sofrem até ao fim do dia e depois seguem em frente. Outras, talvez a maioria, andam nos mercados a fazer previsões. Casanova achava que estes eram infelizes.
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