29.11.14

CFDs

Quem negoceia apenas PSI20 é uma sorte se não estiver a pontos de mandar a Bolsa pó caralho e enveredar por outro estilo de vida que dê mais saúde e menos desassossego. Reparem que ainda no final da semana passada estávamos todos na expetativa de que o animal rompesse a resistência e fosse por ali acima rumo a um alegre rally natalício, e hoje o que se verifica é que o tolo deu para trás e, contra tudo e contra todos, escangalhou-se outra vez de tal forma que só com paciência de masoquista lhe conseguiremos reunir os cacos. É certo que desta vez foi a GALP a grande responsável pela enxurrada, e até foi possível ganhar dinheiro em outras cotadas, mas que diabo andamos nós a fazer se estamos à espera de ganhar dinheiro num índice que mais parece o pólo norte: frio e cheio de ursos? 

A verdade é que a beleza dos mercados financeiros e aquilo que nos faz adorar este estilo de vida é o permanente fluxo de oportunidades. E hoje em dia temos uma sorte bestial porque essas oportunidades entram-nos literalmente pela porta graças à possibilidade de negociar online em tempo real. E é uma autêntica loucura de emoções poder fazê-lo a nível global e com praticamente a mesma quantidade de informação que a média de todos os outros players. Bem sei que há um laço afetivo às empresas do PSI20, e é bem mais fácil poder acompanhar o que se vai passando cá na parvónia, mas,  com o índice tão bear, ou apostamos rapidamente em abrir os horizontes, ou enfrentamos um risco sério de sermos empurrados para fora dos mercados. E abrir os horizontes passa não só por poder negociar ações de outros mercados (disponível em praticamente qualquer conta bancária), mas também poder atuar de ambos os lados, longo ou curto, em commodities ou no mercado cambial. Nos meus tempos de jovem trader essa negociação fazia-se com warrants, fundos ou ETFs e digo-vos que, por norma, o desafio era pouco amigável para o investidor, pois era muitas vezes contra-intuitivo e padecia de falta de transparência. Felizmente, hoje em dia massificaram-se os CFDs e a negociação global está ao alcance de cada um de uma forma muito mais simples.

Vou explicar-vos como funciona a negociação de CFDs.

Para negociarem CFDs precisam de contratar os serviços de uma plataforma de negociação. A oferta no mercado é bastante grande e é até possível que o banco com que trabalham disponibilize esse serviço. É importante referir que, sendo produtos que oferecem uma exposição muito alavancada ao mercado, podem implicar uma exposição ao risco bastante superior à da negociação de ações, pelo que uma plataforma de negociação não é, de certeza absoluta, uma ferramenta de utilização massificada como são, por exemplo, as contas online. É que num negócio de CFDs, tal como sucede no Forex, trabalhamos em margem, isto é, quando fazemos um investimento apenas temos de dispor de uma parte do capital (a margem), sendo o restante disponibilizado pela corretora que, em troca, nos cobra juros (se dermos uma ordem de compra) que acabam por ser diluídos nos custos das operações que vamos fazendo. É deste facto que vem a alavancagem, que pode proporcionar ganhos incríveis, mas acarreta, como é evidente, um risco proporcional.

Vamos supor que tinham aberto a vossa conta na plataforma de negociação e que a tinham fornecido com, digamos, 5000 dólares (para facilitar vou falar em moeda americana, porque vamos negociar crude). 

A grande história da semana foi, sem dúvida, o petróleo. A reunião da OPEP do dia 27 manteve os níveis de produção, pois, aparentemente, os países da organização estão de pés e mãos atados já que, ao controlarem menos de metade da produção mundial, perceberam que se reduzissem a produção não iam segurar o preço, mas simplesmente vender menos. Aliás, as matérias-primas estão a passar todas um mau bocado (a propósito, temos sérias duvídas de que as bolsas mundiais não se venham a ressentir da hecatombe) e muitas foram ótimas oportunidades do lado curto. Imaginemos que estavam atentos a toda esta tramóia e que perceberam que a manutenção dos níveis de produção ia empurrar necessariamente os preços ainda mais para baixo (o petróleo tem caído consistentemente nos últimos meses) devido ao excesso de oferta. Resolveram, por isso, atuar.

Com o petróleo a 74 dólares colocaram uma ordem de venda de 5000 barris, isto é, compraram 5000 contratos de CFDs do lado curto. Os barris são-vos emprestados pela corretora que, automaticamente, os vende no mercado pelo preço total de 370.000 dólares. Por esta operação a corretora retém da vossa conta a tal margem que pode ser, por exemplo, 0,5%. Significa isto que vocês adquiriram uma exposição curta ao petróleo de 5000 barris, tendo gasto 1850 dólares. Ontem o preço do petróleo veio para 67 dólares o barril e vocês decidem fechar a posição, com um ganho de 7 dólares em barril. No instante em que deram a ordem, a corretora automaticamente compra os vossos 5000 barris pelo preço de 335.000 dólares. Os 35.000 dólares de diferença são vossos e transformaram, de um dia para o outro, 1850 dólares num valor 19 vezes maior! Voilá!

Agora imaginem que vocês tinham feito a mesma operação e o preço do petróleo tinham subido. Bastava que o preço subisse para 74,37 dólares para que a vossa margem tivesse evaporado, pois já estariam a perder 1850 dólares. Mas ainda não havia problema de maior, porque a vossa conta dispunha de mais 3150 dólares de segurança. A situação complicava-se bastante se o preço do petróleo chegasse aos 74,80, pois aí estariam a perder 4000 dólares e a vossa conta só tinha 1000 dólares de reserva, tendo-se perdido 80%. Por norma, se a perda chegar aos 90% da conta a corretora fecha-vos automaticamente a posição e vocês assumem a perda. Ou seja, um investimento de 1850 dólares transformou-se numa perda de 4500 por causa da alavancagem. Daí o risco!

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