Com a falência do BES foi-se-nos a inocência e nunca mais voltaremos a ser os mesmos. Em matéria bolsista, bem entendido. Afinal de contas, as empresas cotadas em bolsa também podem falir e levar-nos a carteira a zeros num abrir e fechar de olhos. E se até mesmo um porta aviões de empresas como era o banco salgado vai ao fundo, o que poderá salvar as empresas sobreendividadas que pululam por esse país fora?
Das que estão cotadas na nossa bolsa, sabemos que, tirando uma ou outra exceção, todas estão com a corda na garganta e se o torniquete apertar escafedem sem apelo, porque longe vai o tempo em que o refinanciamento de dívidas era garantido, mesmo para as que apresentavam prejuízos sucessivos.
Esta semana vimos como o Eng. Belmiro colocou a SONI na sala de suporte básico de vida. É correto dizer-se que ainda não estamos perante uma falência, mas do ponto de vista dos acionistas só se vêem diferenças de pormenor. Com a diluição do AC a empresa regressa à origem e passa a ser novamente a sociedade (nacional) de estratificados da Maia. Lá se foram os galões de maior empresa do ramo no mundo inteiro. Má onda para quem apostou nas madeiras e não seguiu as normas inalienáveis da negociação em bolsa.
Mas a SONI ainda tem a segurá-la gente com dinheiro mais do que suficiente para evitar a vergonha da falência e, com mais ou menos dificuldade, não há de constituir problema de maior para o restante mercado.
Caso diferente é o da Martifer que, ou muito nos enganamos, ou está mesmo a caminho de fechar portas. Vejam se o gráfico semanal que apresentamos a seguir não é o de uma empresa mais do que falida:
A Martifer é um caso típico da megalomania lusa. Uns fulanos criam uma empresa de estruturas metálicas, em 1990, que vendem em bolsa em 2007, com o objetivo de a tornar num dos maiores players mundiais de uma coisa diversificada, que vai do core business original às fontes de energia renováveis e alternativas. Enfim, a nossa velha sina de querermos ser sempre os maiores do mundo, nem que para isso não passemos do piolhinho lá no topo da cabeça do gigante que nos financia!
Quando o preço do petróleo subiu aos 150 dólares o barril, os irmãos Martins entraram na busca histérica pelas fontes de energia alternativas e dispararam em todas as direções como se fossem génios que iam inventar o que mais ninguém conseguira. Se tivessem estado atentos na escola, contando que tivessem um professor de FQ em condições, tinham aprendido que o petróleo se tornou na fonte de energia universal por ser de longe a mais barata (mesmo com um preço de 150 dólares o barril) e, quiçá (heresia) a menos poluente. Mas eles meteram-se mesmo em tudo quanto é fontes de energia caras, desde o solar, às eólicas e aos combustíveis feitos de cereais. Uma burrice sem fim, em que só cai quem é burro! Paralelamente, a Martifer foi roubada sem jeito em negócios de compra e venda de terrenos e em obras mal adjudicadas, mal orçamentadas e sem garantias de virem a ser pagas.
Lembro-me de comprar Martifer na IPO quando a empresa era tida como um exemplo do novo empresariado português. As ações foram vendidas a 8 euros, o que avaliava a empresa em 800 milhões. Quando a negociação abriu fui dos que consegui vender no máximo histórico de 12 euros. E foi tudo o que se consegui ganhar na empresa de Oliveira de Frades. Felizmente, tinha pessoas amigas que trabalhavam na Polónia (de onde a empresa já saiu) e me iam dando conta da barafunda que ia na cabeça dos génios Martins, e pus-me ao largo.
Se a Martifer falir, e dá-me a ideia que nem santo nem santa lhe vale, lá se vai outra vez o nosso índice reputacional (e, se calhar, o índice PSI20) cair para a lama, porque há bancos muito atravessados na empresa e não vejo de onde possa vir capital para a sanear. Já agora, tenham muito cuidado com as ações da Mota Engil, cuja reputação vai sofrer com toda a certeza.
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