9.9.18

O mercado ansioso

O mercado é feito de seres humanos e, por isso, comporta-se como um ser humano, mas é um ser humano a quem foram injetadas pílulas de reação rápida, de maneira que tudo aquilo que são as características mais asselvajadas dos humanos, o mercado replica-as como se estivesse possuído pelo demónio. 

O que se passou desde o início deste mês é verdadeiramente assustador, não só pela dimensão e persistência da queda, mas também por ela ter acontecido numa altura em que os EU estão em zona de máximos históricos e a economia ainda não mostra sinais de que pode inverter o ciclo económico. Se formos ver os principais índices europeus é a quarta vez que um movimento de queda tão pronunciado e prolongado no tempo acontece só este ano. No caso do PSI20, tivemos 8 sessões seguidas de queda, algo que já tinha acontecido em janeiro, registando-se, pelo meio, mais dois trambolhões do mesmo género. De todas as vezes, o mercado conseguir esboçar uma recuperação, mas nenhum deles conseguiu suplantar o máximo anterior.





Trata-se, não há dúvida, de uma situação que nos deve preocupar e que julgo ser representativa do nervosismo que grassa na Europa, numa altura em que já parecem não restar dúvidas de que o protagonismo económico se está a deslocar do Atlântico para o Pacífico (ainda que a China também não esteja a passar por um bom momento). Acima de tudo, julgo que há uma tremenda desconfiança relativamente à capacidade dos governantes europeus para enfrentar os desafios colocados pela mudança de paradigma em Washington (de que falamos aqui), numa altura em que o continente parece navegar à deriva manietado por divisões, egoísmos e falta de sensatez (veja-se o caso do Brexit ou da Catalunha, o populismo de Itália (perigosíssimo), o ultraconservadorismo da Polónia e da Hungria, o perigo da extrema direita na Suécia (quem diria?) e em outros países, o afundanço da Turquia aqui tão próxima, etc.). Num panorama tão carregado é, de facto, difícil estar otimista e, mesmo que os indicadores que vão saindo das empresas de sondagens ainda não indiquem claramente que estamos à porta de uma crise, a verdade é que há a sensação de que é muito fácil as coisas se deteriorarem, até porque é sabido que a recuperação por exemplo da banca ainda está longe de ser um dado adquirido. 

Acresce a isto a tal capacidade dos mercados para expressarem de forma exorbitante o que é por natureza humano. O mercado torna-se ansioso muito facilmente e, nestes últimos dias, notou-se por demais um desconforto crescente com a teimosia dos índices americanos em manterem-se em máximos históricos quando, mesmo do ponto de vista dos EUA, a política seguida por Donald Trump ser, obviamente, geradora de incerteza. É verdade que os resultados das empresas americanas têm saído de estalo e os números da economia são de meter inveja, mas quando nos falam em empresas a valer um milhão de milhão de dólares não é fácil, realmente, abstermo-nos de pensar em bolha, tanto mais que, lá está, navegamos em águas incertas. 

Se nós, europeus, não subimos quando os americanos estão em máximos, o que vai acontecer quando os americanos corrigirem? E se a correção for forte como costuma acontecer quando os níveis de incerteza passam para lá de um limite que parece já ter sido superado? Foi esta ansiedade que contribuiu para liquidar os mercados europeus neste início de mês de setembro. E não há dúvida de que todo este movimento nos deixou muito mais perto de começarmos a receber más notícias da economia e virmos a ter uma crise a breve trecho!

Voltemos ao gráfico do PSI20.


Neste momento está sobrevendido e a probabilidade de ressaltar é bastante elevada, até porque os níveis de pessimismo atingiram valores que roçaram o pânico (digo apenas "roçaram" porque o volume manteve-se relativamente conservador). Eu bem sei que a história raramente se repete, mas o ideal seria que tivéssemos agora uma situação como a que vivemos em novembro do ano passado, altura em que o S&P500 também vinha a marcar máximos históricos sucessivos e o mercado europeu se pôs todo nervoso. 


Se a resistência há duas semanas estava nos 5500 pontos, agora vamos ter que ver o comportamento na zona dos 5300. Se rechaçar e depois vier do ponto em que nos encontramos para baixo (ou se continuar a cair), a situação começa a recomendar que se acautelem posições, principalmente se assistirmos a um aumento do volume. Seja como for, o grande suporte agora está na zona dos 5000 pontos, mas daí para baixo vamos começar a ouvir falar muito em crise (o Catroga já se posicionou para vir dizer que tinha avisado), vamos ver o Governo em maus lençóis e entraremos em bear market. Oxalá não aconteça e digo-vos que ficaria muito admirado se, depois da grande crise que vivemos, aguentássemos tão pouco o ciclo económico benigno. Chamem-me otimista irracional, mas diria que estamos tão perto do bear market quanto estaremos de uma subida pujante que nos leve para cima dos 5800 pontos. Seja como for, veremos... e agiremos em conformidade!

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