Fomos dos que achamos excelente a jogada da Isabel dos Santos quando resolveu avançar com a OPA à PT e escrevemos aqui que o lance fazia todo o sentido, do ponto de vista dos angolanos, se queriam diversificar e tornar-se dominadores na indústria das telecomunicações em língua lusa. De uma assentada, e a preço de amigo, os de Angola passavam a perna aos lorpas lusos e condicionavam a tarefa dos finórios brasucas, ficando com uma operação bem montada e relevante em três continentes. E isto sem terem de passar pela estafadela de criar uma empresa de raíz. Teoricamente, era muito bem jogado, do ponto de vista estritamente empresarial. Sendo assim, evidentemente, cumpria-nos o papel de entrar na PT para aproveitarmos uma possível subida do preço da OPA ou, quiçá, o aparecimento de ofertas concorrentes. E assim se fez, sendo que a princípio houve mais gente que concordou com o nosso raciocínio e a PT chegou a negociar nos 1,60€, 18% acima do valor oferecido pela engenheira angolana.
Mas então começaram a aparecer motivos para dar razão aos que duvidaram desde o início da exequibilidade da operação, ao mesmo tempo que nem a Isabel se mostrou por um segundo interessada em subir a parada, nem se viu quem pudesse entrar com uma proposta concorrente. Como o preço também começou a arriar, nem pensamos duas vezes e fechamos a loja enquanto ainda havia lucro para embolsar. Está visto que fizemos bem! Para além de todos os obstáculos que apareceram no caminho, fica-se com a ideia de que, com a queda do preço do petróleo, houve corte da semanada no palácio presidencial em Luanda, e o sonho angolano da genial engenheira foi-se com o vento, tal como antes tinha ido o sonho lindo do Zeinal Bava!
Temos, portanto, a PT reduzida à condição de SGPS de uma única participação social, os 25,6% com que ficará do negócio da atual Oi (embora esta percentagem não seja pacífica, como podem verificar aqui). A essa participação há que acrescentar uma opção de compra até um máximo de 37,3%, caso receba os 900 e tal milhões que tem entalados no BES mau. Sendo assim, as contas para o valor da PT são fáceis de fazer: temos 25,6% do valor da Oi mais os milhões que é expectável receber do bolo que voou com o Espírito Santo.
Hoje a Oi fechou a valer 2324 milhões de euros, donde resulta um valor para a PT de 595 M€ ou cerca de 0,66€ por ação. A este valor há que somar cerca de 1 euro se acharem que a PT pode reaver o total dos 900 milhões. Feita a regra de 3 simples, com o fecho de hoje, temos o mercado a contar que a PT é capaz de receber 229 milhões de euros do BES mau. Parece muito, tanto mais que no fim-de-semana ficamos a saber que o Goldman Sachs se juntou à lista dos que se vão pôr na fila de mão estendida. Não admira, pois, que a PT tenha hoje marcado um mínimo histórico em fecho!
Do ponto de vista técnico, havia ali uma hipótese de duplo fundo que terá levado alguns a arriscar umas compras antes do fim-de-semana passado, mas, com a queda de 7% da Oi na passada sexta-feira (a Oi realizou um reverse stock split que veio dar força mental aos que estão convencidos que devem vender), e as notícias do entalanço do Goldman, o bota abaixo de hoje era expectável.
Agora estamos tão sem referências como sem motivos que justifiquem uma ida a jogo, a não ser que acreditemos que pode haver uma espécie de luta por posições para decidir a venda ou não da PT Portugal à Altice na assembleia geral do próximo dia 12 de janeiro. Nesse caso, podemos ter uma subida do interesse na PT nos próximos dias, uma vez que a data limite de registo de titulares de ações na AG é sexta-feira. Também temos o mínimo histórico absoluto ali nos 0,865€, que pode servir de suporte e derradeira oportunidade para os que têm fé no tal duplo fundo. Seja como for, a cotação da PT vai continuar mais ou menos atrelada à da Oi (hoje esteve a cair quase 6% e fechou a marcar menos 1,4% que na sessão passada), mas também vai refletir o que se passar na luta de credores do falecido BES e, provavelmente em menor grau, o câmbio BRL/EUR.
Seja como for, meus caros, nós que andamos nisto há algum tempito sabemos que é nestes lances, em que a situação parece desesperada, e a maioria já dá por adquirido que a melhor solução é enfiar a empresa no cesto do lixo, que nos devemos começar a interessar mais por acompanhar a evolução das cotações. Com 70% de queda anual, vai sendo tempo de olhar para o potencial da nova empresa que surge depois de 12 de janeiro (se é que a Altice paga mesmo metade da dívida da Oi/PT), e verificar se não estaremos perante um bom negócio!
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