26.12.14

Um ano N€B

Esperamos que tenham tido um ótimo Natal.


Quando inauguramos esta casa, em finais de abril, já o PSI20 vinha devagarinho a resvalar do máximo do ano feito a 2 do mesmo mês nos 7790 pontos. 

Uma das nossas primeiras rubricas viu a luz sob a forma de um conjunto de factos a que demos o nome de "o que devo saber antes de negociar em bolsa" e, se bem que na altura parecessem um pouco extemporâneos quando nos propunhamos negociar num dos melhores índices do mundo (o PSI20 estava a subir mais de 10% no ano e parecia fácil ganhar dinheiro), nos meses que se seguiram fizeram tanto sentido que foi uma pena que não os tivessem lido.

Entretanto, veio maio e nunca fez tanto sentido o célebre dito bolsista sell in may and fly away (far away, I say)! Os da troika foram-se e percebeu-se que o mercado tinha antecipado a saída como uma vitória gloriosa, mas o sell on the news ía-nos custar tão caro que só com muito pessimismo o poderíamos prever.

O BES aumentou o capital e o BCP fez o mesmo! Muita porradinha demos num e noutro AC porque o negócio parecia tão mau como efetivamente veio a ser, mas a verdade é que durante as operações o mercado deu mostras de acreditar que o BCP podia valer 7000 milhões de euros ou que o BES podia valorizar mesmo depois de torrar 5000 milhões em Angola.

No dia 24 de junho escrevemos:

"Deixamo-vos o gráfico do PSI20 que está em zona de vai ou racha. Ou aguenta o suporte aqui nos 6800-6900 ou vamos ter o caldo entornado pelo menos até aos 6400 e aí vai-se jogar não só o futuro do PSI, mas também o futuro da nossa economia. Uma quebra consistente dos 6400 é Bear Market, o que significa que os mercados sabem coisas feias agora que nós só saberemos daqui por algum tempo."

E as coisas feias começaram a saber-se 3 dias mais tarde. No dia 27, a PT lamenta-se de ter dinheiro emprestado ao GES. Nós escrevemos:

"Porque é que a notícia lançada para os jornais de que a PT tem 900 milhões de euros empatados no BES está a causar uma mossa tão grande, tanto no próprio banco como na operadora?



Por um motivo muito simples: porque a PT está com medo de não reaver o dinheiro! Em condições normais, ninguém dá conta na praça pública dos investimentos que faz e de quando é que esses investimentos (se se tratarem de empréstimos) vencem! Mas a sensação que está a correr no mercado é que estas não são, de todo, condições normais e o facto de a PT ter posto a boca no trombone conduz diretamente à conclusão de que há risco de falência de empresas ligadas ao BES. E se isso acontecer, meus temerários amigos, vai fazer com que o BPN ou o BPP passem por furtos de delito comum.



E temo bem que esteja finalmente revelada a causa da tremenda anemia que tem atacado o PSI20 desde maio. Há risco real de desmoronar do BES e isso implica risco muito sério para Portugal (eu não sei se tem alguma coisa que ver, mas a verdade é que os juros das obrigações do tesouro estão hoje em forte alta e eu desconfio que não é só por causa do défice).



O PSI20 deveria ter reagido muito melhor à linha de tendência que traçamos e principalmente à EMA200 (ver gráfico em post mais abaixo). Não o fez e hoje pode-se escangalhar todo. Agarrem-se bem, tomem providências, entrem curto, vão de férias ou aproveitem a nossa agenda cultural. Mas também é possível que não seja nada!"

O gráfico, visto agora da frente para trás, é este:
 

Nesse dia, o BES abriu a 80 cêntimos para fechar 10% abaixo, ao passo que a PT caiu 5% a partir dos 2,87€. Na semana seguinte, o PSI20 quebrou a média móvel de 200 dias e esfrangalhou-se!

Se lerem os posts de julho vão notar que, apesar da descrença que se vai apoderando de quem crê na subida, mantém-se uma certa tensão criada pela aproximação de suportes importantes e pelos bons números aparentes que parecem provir da economia real. Mas a Bolsa é feita de empresas velhas que passaram pelos anos dourados do crédito fácil e que, por isso, não escaparam aos excessos que verdadeiramente começaram a pagar neste ano da graça de 2014! 

No dia 27 de julho, andava o Carlos Costa do BdP a garantir que havia gente disposta a acudir ao BES e que tudo estava sob controlo, nós escrevemos:

"Prejuízos da ordem dos mil milhões e um aumento de capital até 2000 milhões julgo que estarão mais ou menos descontados pelo mercado. Não vai ser pílula fácil de engolir, mas a bolsa tem a vantagem de os preços se ajustarem tão magnificamente, que haverá por certo interessados em acudir ao peditório. Mas eu na sexta-feira vi a passar em rodapé na televisão, como se não fosse nada de especial, notícia de que há quem ache que o BES pode vir a precisar de 4000 milhões de euros. Se for verdade, bye, bye!"

O BES cotava a 46 cêntimos.

No dia 30, o Expresso diário noticia que o prejuízo será superior a 3000 milhões. Adiós, amigo!

Os meses que nos trouxeram até aqui foram o suceder mais do que expectável de quebra de suportes e ressaltos mínimos típicos de um índice dominado por ursos!
Se queremos negociar em bolsa, temos que compreender que os erros fazem parte do processo e que estaremos permanentemente expostos a eles. Estamos firmemente convencidos de que quem ganha dinheiro de forma consistente falha mais vezes do que acerta: quem perde dinheiro não falha, porque não assume erros, e espera que o tempo corrija as asneiradas que vai fazendo! Não são, portanto, os erros que nos fazem mossa. O que nos cria verdadeiramente problemas é não pensar com a nossa própria cabeça, identificando os momentos chave, e decidindo sem contemplações!

Em 8 meses de atividade N€B, o PSI20 perdeu 33,5%. Quem perdeu dinheiro, pagou o curso, e os que chegam ao fim do ano a lucrar, sabem que isso aconteceu porque cortaram as perdas de forma implacável. No final, que estejamos todos prontos para retomar o combate já para a semana de modo a prepararmos um 2015 que se quer mais taurino!
Para início de conversa, não está mal! Música maestro!

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