28.12.14

Previsões

Creio que não há um de vós que acredite ser possível, nos tempos que correm, fazer previsões sobre movimentos no mercado para além de uns dias no futuro. E já assim se arrisca bastante e raramente a coisa funciona! São tempos loucos estes em que vivemos, de uma avassaladora torrente de factos e acontecimentos, que nos esticam os neurónios ao ponto em que só com muito treino somos capazes de manter a sanidade mental em níveis aceitáveis. Nem tempo temos para digerir os factos estupendos com que vamos sendo empanturrados a ritmo regular e crescente, quanto mais para nos entretermos com previsões que sabemos de antemão serem absolutamente inúteis! E mesmo a mente mais arrojada e o previsor mais apocalíptico tem dado por si atropelado por factos que deixam o quadro traçado infinitamente abaixo do que vem a ser a realidade. É um fenómeno que, se formos bíblicos, facilmente nos levará a pensar em fins do mundo ou regresso do messias. Má onda para os astrólogos e os profetas, não fosse o ser humano dotado da capacidade para esquecer facilmente sempre que a bota não bate com a perdigota! 


Quem diria há um ano atrás que o BES deixaria de existir (há um ano, não faltavam casas de investimento a dar preços-alvo para o BES acima dos 1 euro, e havia até quem dissesse que cada ação podia valer mais do que uma moeda das grandes)? Quem podia prever que a PT ia deixar cair o P, para passar a ser apenas um T trocado entre brasileiros e franceses? Que profeta previu, há um ano, que íamos ter um ex-premier enjaulado em Évora? E quem seria tão pessimista ao ponto de partir do princípio que, com uma saída limpa do programa de ajustamento, o PSI20 cairia mesmo assim quase 30%? Etc!

É verdade que o ano foi um fartote, um autêntico Cisne Negro (como assinalava ontem, no Expresso, João Vieira Pereira), mas a nossa tese é que a probabilidade de se darem acontecimentos que baralham por completo as circunstâncias subiu brutalmente nos últimos anos e tornou a arte de prever numa lotaria de probabilidade ainda mais baixa do que a normalidade sempre impõe. De maneira que nós, em condições normais, nem nos atrevemos a prever para além do que se vai passar nos próximos dias. E mesmo isso, costuma ser feito de gráficos em punho e com enorme reserva porque o final de ano, como a malta anda com os pirolitos descompassados, presta-se a fenómenos estrambólicos que fazem temer o pior.

Em condições normais, esta última semana em que hoje entramos seria a derradeira para limpeza de carteiras, com reforço das menos-valias de modo a equilibrar o IRS e arrancar no próximo ano com a conta a zeros. Como há falta de liquidez, a descarga costuma levar a uma queda das cotações, a que se segue uma subida nas primeiras semanas do ano, com a constituição de novas carteiras. Essa costuma ser a situação normal e é habitual fazerem-se ótimos negócios comprando, pela calada, nesta última semana. 

Desta vez, contudo, é possível que muitos dos que tinham perdas para lavar já o tenham feito há algum tempo atrás, porque o PSI20 tem dado mais do que evidentes sinais de que para baixo é o caminho, de maneira que me quer parecer que quem ainda não fechou já não vai fechar, porque a dor da perda é tão insuportável que nem o acumular de menos-valias para efeito de impostos os consegue demover. Claro que se pode vender e comprar logo a seguir, que a coisa fica como está, mas convencê-los disso?

Assim sendo, isto parece um pouco mais difuso este ano! 

Felizmente, temos os gregos, esses fundadores da democracia que vêm em nosso auxílio, de modo a podermos prever com um pouco menos de irracionalidade. 

Como previsto(!), os gregos deixaram para a última jornada a possibilidade de evitar eleições legislativas antecipadas, que se parecem prestar a colocar o Syriza no poder. E a última rodada da eleição presidencial é amanhã, segunda-feira. Se houver fumo branco e o problema ficar resolvido, teremos eleições apenas no final do próximo ano e é um problema sério que sai, de momento, do radar dos investidores. Nesse caso, estamos em crer que dificilmente os índices europeus não marcarão novos máximos históricos, no início do ano, (exceto o PSI20, bem entendido; a propósito, diga-se que o nosso belo índice precisa de subir quase 200% para estabelecer um novo recorde; ficamos todos ricos, carago). Olhando para o fecho de semana no índice grego parece que o otimismo não é elevado, mas pode ser que haja intervenção dos deuses do Olimpo. Se a coisa der para trás, temos eleições em fevereiro e estaremos entregues ao pior inimigo dos mercados: a incerteza! Nesse caso, só o BCE nos pode trazer boas notícias capazes de travar a queda!

Afinal, até nem é difícil prever! Vamos ver se bate certo!

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