9.12.14

O regresso do medo



Se há ensinamento que qualquer trader adquire à força com a passagem do tempo é que na Bolsa sai muito caro tentarmos antecipar quebras de resistências. Vejam o que se está a passar no PSI20. Temos tido momentos de subida esporádicos em alguns títulos e quem está nos mercados diariamente vai tendo oportunidade de tentar ganhar dinheiro aqui e ali, mas a verdade é que, a menos que sejam bastante disciplinados, é muito difícil ser consistente. Há coisa de duas semanas tivemos o índice perto de quebrar a primeira resistência nos 5350 pontos, e referimo-nos aqui a esse facto, mas falhou o sinal que marcamos como indispensável, pelo que qualquer entrada seria extemporânea. De facto, é muito mais seguro comprar mais caro numa quebra robusta dos 5350 ou até dos 5400 pontos do que tentar ganhar mais uns cobres e arriscar antes de tempo (recorde-se que, na nossa leitura, o bull market apenas regressa na quebra em força dos 6400 pontos! Quando será? Quando ninguém o esperar!). É a esta dificuldade em quebrar resistências que se chama bear market e a verdade é que um mercado dominado por ursos bota abaixo pode durar um tempo verdadeiramente exasperante e atirar para fora de jogo o mais intrépido dos investidores. Enquanto o bear market durar a nossa principal missão é preservar o capital, cortando perdas de forma absolutamente radical, e apenas entrando cirurgicamente quando o rácio risco/perda for francamente favorável. Notem que não é fácil de fazer e só se recomenda a quem não tenha amor ao dinheiro e durma bem de noite com a carteira em sobressalto. Há um velho dito bolsista que diz que a melhor maneira de conseguir 1 milhão de euros em bear market é começar com 2 milhões. Não é exagero para 95% dos traders!

E por que motivo caem agora as bolsas quando tudo parecia apontar para um dezembro de qualidade?

Os americanos corrigem em larga medida por motivos técnicos. A segunda tentativa de passagem acima do canal ascendente deu para torto e a correção tornou-se óbvia (continua válida uma análise que fizemos há dias para o S&P500). Claro que os especialistas apontam a queda da cotação do crude, que, diz-se, prejudica os ianques pois passaram de consumidores a produtores nos últimos anos. É verdade que se trata de um motivo válido: na América criou-se na última década e meia toda uma indústria à volta da extração de gás e petróleo do xisto, que se tornou subitamente menos rentável com todas as consequências que daí advêm para o investimento e o emprego. Mas também não deixa de ser verdade que os EUA ainda são importadores líquidos de petróleo pelo que parece haver, apesar de tudo, um ganho na queda do preço do barril. É possível que venhamos a verificar nos próximos dados económicos que o balanço ganho/perdas da queda do preço do petróleo está efetivamente a ser negativo, mas até agora a queda ocorre porque há mais gente a achar que é tempo de realizar mais-valias.

A situação europeia é diferente. A Europa enfrenta no próximo ano um desafio muito grande com eleições em diversos países, entre os quais Portugal e Espanha. É neste último país que o cenário eleitoral parece ser bastante preocupante com a ascensão do Podemos a criar desconfiança relativamente ao resultado mais ou menos inovador que poderá sair das urnas. As declarações dos dirigentes do movimento dão a entender de que não ficará pedra sobre pedra no edifício económico-social caso saiam vencedores, pelo que mais do que discutir se se vai para melhor ou para pior, é a incerteza que falará mais alto. E a incerteza é uma grande companheira dos ursos dos mercados. Este cenário estava no horizonte para meados de 2015, pelo que era encarado como longínquo (antes ainda teríamos o QE do BCE), mas ontem ficou subitamente mais perto com a decisão do governo grego de antecipar as eleições presidenciais no país. É que há a possibilidade de as presidenciais despoletarem eleições legislativas e quem aparece à frente nas sondagens é o Syriza. Não é difícil perceber que a subida do Syriza ao poder na Grécia vai voltar a trazer os gregos para a ribalta, mas, mais do que isso, vai tornar mais provável aos olhos dos mercados a ascensão do Podemos em Espanha. Se isto é apenas uma correção natural ou um movimento de fundo é algo que estamos para saber, mas parece que vamos voltar a ter os mercados a reagir ao ritmo das sondagens, e um panorama que a prazo é tão incerto que pode haver motivo para ficarmos assustados.

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