É enquanto os mercados estão fechados que nos devemos preparar para o combate limpando armas (neste caso, como a arma é o cérebro, faz-se mister descontrair e relaxar) e treinando a mira para que a pontaria para não dê raia tantas vezes (olear os neurónios para que os sacanas nos continuem a ser fiéis, apesar de estarem toda a semana a ser escravizados sem apelo). É que, como não nos temos cansado de dizer nesta casa, esta arte de negociar em bolsa, a que nos entregamos de alma e coração, exige aprendizagem contínua e um envolvimento total com o mundo que nos rodeia. Da ciência às artes, da economia ao desporto, etc., tudo é interessante e em tudo deveremos encontrar motivos para estarmos atentos e ir um pouco mais além da opinião rápida e superficial.
Dos nomeados para melhor filme nos óscares da academia (cerimónia amanhã) vimos todos exceto o Selma e o Whiplash e, francamente, não houve um que nos caísse no goto. Filmes interessantes, cinema engraçado, interpretações simpáticas, bons passatempos, mas nada de verdadeiramente inovador e que permaneça na memória para lá do tempo que vai até que vejamos o filme seguinte.
Mas esta semana estreou um filme que fica uns furecos acima dos restantes. Falamos de Relatos Selvagens, uma produção espano-argentina, que falhou a palma de ouro em Cannes (ganhou o turco Winter Sleep, que ainda não vimos) e que aparece nomeado para o óscar de melhor filme estrangeiro.
Relatos Selvagens, que é apresentado nos cinemas como uma comédia de fazer rir até mais não, é um conjunto de seis histórias autónomas carregadas de tensão e de violência. É verdade que há histórias que são de rir (veja-se logo a primeira), mas o que estes contos brutais e irónicos têm de melhor não é a piada, mas antes a forma como nos são relatadas as circunstâncias que encaminham as personagens para situações de rotura e de confronto. Muito bem filmado e interpretado, com uma banda sonora muito agradável, diálogos bem construídos e uma imaginação que não sendo absolutamente inovadora (seria possível?) é pelo menos refrescante, o filme prende-nos ao ecrã do princípio ao fim. No final, saimos com a mente limpa, aptos para retomar a luta quotidiana e alegres por perceber que o cinema afinal ainda nos pode continuar a surpreender com boas histórias que estão para lá da biografia sensaborona (A teoria de tudo, Sniper americano, Boyhood ou O jogo da imitação) ou da dramalhada psicadélica (Birdman ou Grand Budapest hotel).
Confesso que quando comecei a ler "Dinheiro: A biografia não autorizada" do macroeconomista e investidor Felix Martin não estava com grandes expetativas, pois temia que pudéssemos estar perante mais um daqueles livros escritos por especialistas em economia e finanças (o autor trabalhou no Banco Mundial) para aproveitar a onda da opinião pública impressionável com a atual crise financeira, com meia dúzia de larachas e teorias mal amanhadas sobre a atuação dos bancos centrais e dos governos. Mas não. O livro relata a história da ascensão do dinheiro ao lugar central que hoje ocupa na sociedade e fá-lo de uma forma extremamente acessível, mas sem poupar nos pormenores históricos e nas decisões que foram sendo tomadas ao longo dos tempos (desde que foi inventado, ironia do momento, na Grécia antiga), e que fizeram com que, por um lado, tivéssemos evoluído no sentido de uma muito maior prosperidade, mas por outro se tivessem tornado inevitáveis os excessos que conduzem ciclicamente a crises financeiras.
O que é o dinheiro? Como funciona? Como foi evoluindo, ao longo do tempo, a relação dinheiro/valor? De que forma as decisões dos governantes influenciaram historicamente o valor do dinheiro? E de que forma o valor do dinheiro influencia a prosperidade de uma sociedade? Haverá perguntas cujas respostas sejam mais importantes quando se trata de negociar em bolsa? Não há!
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