27.3.16

BPI

Ficou tudo em pânico com o corte do Caixa (CB) à Isabel dos Santos (IS) e não falta gente de mãos atadas na cabeça e à procura de explicações para tão infeliz desiderato. Há quem avance com a hipótese de os espanhóis se terem fartado do ar angolano de quem tem o ás de trunfo e optado por uma desesperada corrida para o precipício e também já ouvi dizer que os dois chegaram a acordo, mas só depois os de Espanha, néscios do caralho, se aperceberam que tinham de opar todo o capital e acharam que era muita fruta ficar com o BPI ainda por cima sem Angola!

Nós por cá também temos duas teorias para o que se passa aqui, e dizemo-las muito rapidamente antes do nos pormos a andar para passar uma semaninha a descansar da jogatana:
  • Hipótese número 1 - Os espanhóis perceberam que o negócio era fraco porque estavam a pagar muito caro (quanto? Vamos já ver!) por um banco que, sejamos francos, sem Angola fica reduzido a ser uma chafarica de um país com pouquíssimo interesse como é o nosso. Ainda por cima, a IS saía do BPI e ficava com o BFA e, se o papá deixasse, acumulava no BCP com a ajuda da mais do que desidratada Sonangol e, com um bocado de jeito, até dava para chegar ao Novo Banco! Não me custa nada imaginar os do CB a dizer que, se pudessem, se punham ao contrário. Todavia, não creio que esta seja a hipótese com maior probabilidade, porque se fosse para isso não tinha havido necessidade de tanto baile nestas últimas semanas!
  • Hipótese número 2 - (Os mais impressionáveis com números grandes devem abster-se) Os valores já foram apresentados várias vezes na imprensa, mas como são contas de merceeiro e eu até aí ainda chego, não me importo de os pôr aqui: à cotação atual, a posição da IS vale 334 M€ (à cotação média dos últimos 6 meses deve valer 284 milhões) e 50% do BFA valem, de acordo com a própria IS, cerca de 700 M€, pelo que não é desacerto aparente pensar que estaremos a falar em o CB receber algures entre 370 e 420 M€ da angolana. Dito isto, aparentemente, os valores entre os dois estão feitos e não devem divergir muito. O problema coloca-se depois porque os do CB vão ter que lançar uma OPA ao resto do capital do BPI, ou seja, aos restantes 37,3%, e o preço que vão pagar pela coisa vai ser o maior de dois: média ponderada da cotação nos seis últimos meses ou o valor pago à IS. Ora é neste ponto que me parece que a partida está transformada no que é habitual nestas coisas: um tour de force de quem não brinca em serviço! À cotação atual o que resta do BPI custará 669 M€ ao CB e à cotação média (eu aponto para 1,10€) poupam 100 milhões (recebendo da IS, vão ter que avançar com 300 e tal milhas)! Acresce que por cada cêntimo a mais a que ficar registada a venda da posição da IS, os do CB desembolsam 5 milhões de euros para opar a posição dos restantes acionistas! O ideal para os espanhóis era comprar a posição da IS no preço médio semestral, mas isso obrigava a angolana, além de ter que anunciar que comprou o BFA em saldo, gramar com a gosma dos restantes acionistas do BPI que dificilmente lhe perdoariam a desfaçatez. De maneira que, qual é a solução? A do costume: fazer o peixe caro de modo a torná-lo barato. Como ainda faltam 15 dias para o final do prazo do BCE e o Draghi vem cá no dia 7 e até pode trazer novidades, os espanhóis encheram-se de peito e, ao anunciarem que vão apoiar o BPI no que fizer falta, até parece que estão dispostos para arcar com um AC em vez de fecharem o negócio que andaram a cozinhar! Entretanto, vão esperar que o mercado e os grandes acionistas interiorizem que vai ser melhor aceitar uma OPA módica do que ter que acudir a males maiores no futuro. É só jogo e a parada já vai alta! À primeira vista, não nos parece que isto faça muito bem à cotação do BPI,... mas!
Bons negócios para todos e, da minha parte, até de hoje a uma semana!

21.3.16

No rain em "O momento da Galp"

Após sucessão de quatro higher lows desde mínimos do ano, a 20 de Janeiro, a petrolífera portuguesa consolidou o movimento que lhe terá dado força para quebrar a resistência, com largos meses de invencibilidade, pelos 11 euros! No momento em que escrevo dá a sensação, nos movimentos da cotada, de um teste ao dito valor quebrado! Ora vejam o gráfico, com fecho da última sessão:


Se for para valer e confirmar a quebra da resistência então podemos olhar para cima e, no cenário mais optimista, esticar a cotação para os 13 euros reflectindo a projecção do triângulo ascendente que parece ter desenhado! Para os mais cautelosos, alguma razão até porque o valor na zona dos 12 euros impõe respeito! Para baixo, e dando relevo ao interessante rácio custo/benefício, a zona de resistência quebrada (a confirmar!), ora em diante suporte sem retirar a devida importância ao prolongamento da hipotenusa (leia-se linha de tendência) do triângulo a sombreado!

Para conclusão da apreciação ao momento da Galp, uma iguaria do nosso cardápio no Spotify! Nostálgica, a aconchegar a tarde chuvosa! 

Fiquem bem, bons trades!



  

20.3.16

PSI20

Não há dúvida de que o PSI20 está a passar por uma boa fase. Depois de um início de ano em voo picado que o levou a uma queda máxima de 16% no dia 11 de fevereiro, encetou uma recuperação que nos deixa a uns módicos 2,6% do break even. É assim a Bolsa: passamos do bota-abaixismo militante ao vamos ver o que isto dá e ao se não compramos morremos, e também fazemos o caminho inverso, em menos de um fósforo, como se fôssemos os maiores cata-ventos do mundo. E tudo só por causa de uns gráficos com as cotações diárias e com pouca ou nenhuma ligação com a realidade! Irracional? Sim, but we like it!

A performance do nosso índice e dos outros como ele foi, portanto, imprópria para quem sofre do reumático ou da hipófise, mas fez certamente as delícias dos que se pelam por emoções fortes e têm tido a felicidade de frequentar esta nossa animada casa. 

Vejam em que estado param as modas no arranque de mais uma semana.


Reparem na subida de volume na semana que findou, facto que só ajuda a confirmar a tendência de subida que é já claramente de médio prazo: quebra com força do canal descendente (vê-se melhor no gráfico seguinte), primeiro higher high depois de 8! lower highs seguidos e cruzamento convicto da EMA14 (linha verde) sobre a EMA50 (linha amarela), facto que já não acontece desde janeiro de 2015 no dealbar, também com aumento de volume, de uma subida de 21% em 3 meses.


Como queremos manter a coisa simples, gostamos de médias móveis, linhas e pouco mais. No gráfico metemos a média móvel de 200 dias (linha vermelha) que costuma dar sinais de longo prazo. Escolhemos a média simples que nos parece dar resultados mais fiáveis: o PSI20 já falhou duas aproximações em ressaltos e agora está prestes a uma terceira abordagem (aliás, se usarem a média exponencial, o fecho semanal deu-se exatamente sobre a linha). O facto de as MM de mais curto prazo ainda estarem algo longe e a presença daquela resistência horizontal representada pela linha tracejada vermelha levam-nos a tomar como provável um período de consolidação antes de ultrapassarmos a zona dos 5250-5300.

No gráfico semanal há um facto que reforça o nosso otimismo. Ora vejam:


Aquela linha de tendência descendente não era quebrada em alta há dois anos! Foi-o agora e parece-nos extremamente relevante, ainda que não estejamos livres de um false break.

Para baixo, não gostávamos de uma arriar daquela linha ascendente no primeiro gráfico, pelo que a consideramos um bom ponto de entrada para quem está de fora. Stop loss na quebra em baixa da zona dos 4900 pontos.

15.3.16

BPI

Começam a surgir desenvolvimentos em relação ao negócio entre a Santoro, de Isabel dos Santos, e o Caixabank (CB) com vista a solucionar o problema do excesso de exposição do BPI a Angola e recompor a estrutura acionista do banco.

Tanto quanto transparece das informações que surgiram na imprensa, o acordo vai permitir, em primeiro lugar, a desblindagem dos estatutos do BPI que exige a aprovação de 2/3 do capital, de modo a terminar com o limite dos direitos de voto a 20%. Sem essa limitação, os direitos de voto corresponderão diretamente à posição de capital. A ideia é que, depois de aprovada a desblindagem, o CB passe a deter mais de 50% do capital do BPI (supostamente comprando a totalidade da posição da Santoro - 18,6%) e possa controlar totalmente o banco. E é aqui que entra a segunda parte do acordo: controlando o BPI, o CB vende a participação (parte? a totalidade?) no BFA a Isabel dos Santos.

E onde entramos nós neste negócio?

De acordo com o código de valores mobiliários (art.º 187), "Aquele cuja participação em sociedade aberta ultrapasse, directamente ou nos termos do n.º 1 do artigo 20.º, um terço ou metade dos direitos de voto correspondentes ao capital social tem o dever de lançar oferta pública de aquisição sobre a totalidade das acções e de outros valores mobiliários emitidos por essa sociedade que confiram direito à sua subscrição ou aquisição."

Portanto, havendo negócio e controlo por parte do CB tem que haver OPA sobre a totalidade das ações! 

Mas pode ser que (e neste particular as informações ainda são escassas) o acordo seja apenas para desblindar os estatutos para que em conjunto (CB e Santoro) possam tomar decisões, que permitam uma troca de participações: os angolanos passam BPI para o CB, sem ultrapassar o limite dos 50%, e o BPI entrega BFA a Isabel dos Santos, resolvendo o chamado problema angolano. Duvido que a Santoro queira uma solução deste tipo porque, depois de desblindados os estatutos, seria muito fácil o CB controlar efetivamente o BPI, mesmo que não tivesse a maioria do capital, aliando-se com outro dos pequenos acionistas. Era um formidável tiro no pé! Contudo, o comportamento do BPI hoje no mercado foi bastante estranho para um banco em risco de ser opado (até parecia que não houve fugas de informação), pelo que fico um bocado de pé atrás até ver o que de concreto se vai seguir!

Quanto ao preço de uma possível OPA, o artº. 188 do mesmo código esclarece: "A contrapartida de oferta pública de aquisição obrigatória não pode ser inferior ao mais elevado dos seguintes montantes: 
a) O maior preço pago pelo oferente ou por qualquer das pessoas que, em relação a ele, estejam em alguma das situações previstas no n.º 1 do artigo 20.º pela aquisição de valores mobiliários da mesma categoria, nos seis meses imediatamente anteriores à data da publicação do anúncio preliminar da oferta; 
b) O preço médio ponderado desses valores mobiliários apurado em mercado regulamentado durante o mesmo período.

Portanto, vai ser importante saber a que preço vende a Santoro a sua posição porque a média das cotações nos 6 últimos meses deve estar abaixo da cotação atual!

A nossa bênção e um pouco de SBSR

Começo por dizer que no decorrer da passada semana tivemos um registo de visualizações acima das 2500! Só por isso...


É obra e gratificante para um blogue com um público alvo tão restrito quanto a sedução popular pelos mercados! Ou seja, pouca! Claro está que o entusiasmo das últimas semanas nas bolsas ajudou ao frenesim dos seduzidos mas também não deve deixar de ser menos verdade que a nossa conversa fiada, com uns gráficos pelo meio e umas melodias a acompanhar, vos tem engrandecido a conta bancária e vocês andam a tomar-lhe o gosto! Se não é verdade, que raio andam vocês a ler?


Trigo limpo farinha Amparo! Trabalho de casa feito e só cabia a cada um a tarefa de cumpri-lo à risca! Forte volume no breakout nos 0,04, à típico short squezze, era o último sinal para 15% até ao objectivo! E voilà, foram precisos dois dias até ao fecho de posição e o nosso estar do lado de cá!


Daqui para a frente e para cima acrescentámos próximo objectivo, ali junto aos 0,052, pós quebra dos 0,046/47, se quebrar e se lá voltar! Para baixo, juntámos uma lta de curto prazo que tem suportado a cotação. Se for para valer, neste momento está nos 0,0415! Para voltar a reinar o pessimismo, a quebra em baixa dos 0,039/40 é meio caminho andado! 


Abusou da paciência mas lá se aguentou na base do canal, para o bem de quem nela acreditou na expectativa de realizar mais-valia na ida aos 0,98! Lá aconteceu e rapidamente cedeu, consolidando pelos 0,95! Sexta-feira passada quebrou resistência e ficou com este cenário:


Para baixo a anterior resistência virou suporte, pelos 0,98! Para cima, objectivo nos 1,08!


Embora no dia seguinte à nossa publicação tenha chegado lá perto, ontem acabou por atingir, sem mais dar, a projecção ao encontro do primeiro objectivo! 


Para cima, e na quebra à segunda dos 1,82, segue o objectivo dos 1,92! Para baixo, ganhou algum suporte pelos 1,65! Abaixo disso, zona dos 1,50 para evitar desconfianças!

Abençoados trades!

Adiante e a caminho da conclusão umas breves notas:

  • Nos índices fizemos aqui há dois dias o ponto de situação, bem como a leitura especulativa aos movimentos no BCP! 
  • Altri e a Portucel que falámos no passado dia 8 de Março seguem dentro do expectável e mediante análise! 
  • Na EDP mais parece que o confronto de ideias entre a zona de vendas e o gap bullish da sessão de sexta-feira está a fazer sucesso e ela não se quer decidir! Não sai do sítio, é aguardar!

Para terminar, deixo-vos com uma entrevista de 1996 a Iggy Pop pelo Blitz, que podem ler aqui, ele que um dia depois de ter passado pela nossa casa com Gardenia no EDP e a nova de Iggy Pop foi confirmado no SBSR! Até parecia intuitiva a nossa bênção!

A música de fecho, como não podia deixar de ser, fica entregue ao elenco deste ano do Super Bock Super Rock! Duas escolhas que entram directamente para a nossa playlist do Spotify!

Boa audição, boa noite!

The National com Bloodbuzz Ohio


Disclosure com a participação de Lorde no tema Magnets


13.3.16

O ponto em que nos encontramos e o BCP

Confesso-vos que nos tempos que correm não me dá vontade de negociar mais nada que não seja banca. Banca tuga, bem entendido. Um tipo vê em todo o lado tudo a falar da banca portuguesa e de processos de rearranjo de estruturas acionistas (em vez de aumentos de capital) e pensa para com os seus botões, que diabo, este é o tipo de cena excitante em que quero andar metido. Carago se os espanhóis andam metidos, se os angolanos andam metidos, se o Marques Mendes anda lá enfiado e até o nosso presidente-papa-francisco está empenhado quem somos nós para ficarmos de fora a ver? Isso: ninguém!

De maneira que andamos lá e olhem: entramos em boa hora e já temos bebido uns cafés de graça! 

Vou-vos dizer qual me parece ser o ponto da situação.

Começo pelo PSI20 que na sexta-feira atingiu o topo do nosso canal. Se rompeu ainda é uma incógnita, mas nos próximos dias saberemos (seja como for, a verdade é que também não seria inédito um falso break). Agora tem que fazer um máximo relativo acima dos 5100 pontos em fecho, essencial para que não se dê um novo lower high que poderia ter consequências bastante sérias: não parece difícil, até porque, apesar das subidas recentes, o índice mantém-se saudavelmente longe da sobrecompra. Para cima, o primeiro verdadeiro teste vai estar na zona dos 5300-5400 pontos, curiosamente, a região do break-even anual, para baixo, na região 4850-4900. Claro que, atendendo a toda a envolvente do mercado, estou como vós e agora acredito mais no cenário bullish, mas todos sabemos que o mercado é maroto!


Olho para o S&P500 e vejo força, mas há ali uma resistência que pode colocar dificuldades na zona dos 2040:


E no DAX, idem, com resistência nos lógicos 10000 pontos. Neste caso, com um bocado de boa vontade, é possível imaginar uma cabeça e ombros invertida, figura que, em conjunto com uma quebra da zona dos 9900 pontos projetava as expetativas para a zona dos 11000 pontos, já em território de touros:


Como os mercados se mantêm em bear market, as resistências devem ser levadas muito a sério, pelo menos num primeiro embate e vai ser importante monitorizar a evolução, por exemplo, do preço do petróleo e da cotação do par euro/dólar para se perceber com que probabilidade poderemos ter uma quebra em alta.

Visto o panorama geral, vamos então ao JP Morgan e ao Goldman Sachs cá da paróquia. 

De fusões, aquisições e outras confusões nem me vou dar ao trabalho de falar porque meus meninos e meninas nada mais sei do que vocelências, mas opino sobre o que dizem os gráficos e faço-o com o beneplácito do artista da bola de cristal.

Especulamos aqui que a Blackrock (BR) tinha andado a vender a posição que tinha no BCP. Veio-se a saber depois que não vendeu a sua posição mas outra que pediu emprestada no valor de metade da posição que tinha. Enfim, detalhes que não nos fizeram perder a aposta. Contudo, há uma nuance que faz toda a diferença. Se a BR tivesse mesmo vendido a posição, tinha ido à sua vida e neste momento já estaria a fazer maus negócios noutro sítio e nenhum daqueles traders tresloucados queria saber do BCP para nada. Ao shortar, trancou a posição que tinha, isto é, sobre metade da posição deixou de ter prejuízo ou lucro, mas continuou acionista do nosso banco e melhor ainda: quem shorta, mais cedo ou mais tarde, vai ter que comprar para fechar a posição e devolver o que pediu emprestado. Ou seja, os bacanos da BR não só não venderam a posição que tinham, como se comprometeram a recomprar 1% do BCP no futuro. Claro que para quem alombou com as quedas quando os artistas estavam a despejar isso não foi grande consolo, mas quem assistiu de fora foi como se recebesse um bilhete para uma grande galopada sometime in the future! Ora bem, e o melhor é que o BCP é o rei dos shorts: na semana passada havia 5% (quase 3000 milhões de ações) de posições curtas. Duvido que a BR tenha fechado na sexta-feira: vão ser os últimos de certeza! E acho que muitos devem ter passado o fim-de-semana a fazer contas ao rácio custo/benefício de manterem a posição e eu sou dos que estou a torcer para que concluam que é melhor comprar: eu tenho um cesto delas que vendo por caridade!

Gráfico diário:


Uma chamada de atenção para o semanal onde o BCP não fecha acima da média móvel de 21 períodos desde junho de 2015: está nos 0,0448!

Vai longo o texto: amanhã falo do BPI!

A semana do BCE

Bela semana, a que passou, para se fazer dinheiro na Bolsa, com direito ao habitual show de irracionalidade selvagem a que já nos habituamos a assistir sempre que há decisões importantes por parte dos bancos centrais (agora é o BCE o protagonista, mas durante anos cabia à Fed o papel de lançador de petardos). 

Desta vez a maluqueira atingiu proporções bíblicas e na quinta-feira o DAX acabou o dia todo torcido. A mim o que me acalmou foi ver o PSI20 como se nada fosse, ele que tem o duvidoso costume de ir à frente todo lampeiro quando é para cair. Mesmo assim, a meio da tarde ainda me pus a tentar saber o que de tão herético tinha saído da boca do Marocas Draghi na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio de que o dinheiro ia ficar tão barato tão barato que, em determinadas circunstâncias, quem pedisse dinheiro era pago com mais dinheiro. Quase como se eu recebesse um Mercedes de borla de cada vez que mandasse vir um Porsche. Mais um... siga! Não vi nada, mas à noite estavam na CNBC a esmiuçar o fenómeno e houve quem trouxesse luz ao assunto: os mercados inverteram quando foi dito que daqui para baixo os juros já não descem! Atingimos o mínimo dos mínimos, disse Draghi. E houve quem desatasse a vender como se a notícia fosse o fim do mundo. E logo outros foram atrás, por via das dúvidas, e a dada altura a enxurrada de labregos a vender sem saber porquê fez os alemães passarem de +3% para -3% num par de horas. Ao que chega o néscio do século XXI. 

Fiquei descansado e dormi com os anjos.

É evidente que daqui para baixo os juros já não baixam e isso é bom. Mário Draghi está a dizer à banca que ou aproveitam aqui ou então vão ser ultrapassados pela direita (e por cima, e por baixo, e pelo meio, etc.). Até aqui, os bancos têm sido os intermediários entre o Banco central e o mercado, mas é necessário que comecem a cumprir a função de que tentam escapar há imenso tempo: encontrar bons projetos, em que valha a pena investir, de maneira a criar riqueza e reduzir o desemprego, trazendo para o mercado de consumo tantos e tantos que não podem comprar porque não recebem salário! É preciso, por outro lado, que a banca volte às boas práticas dos grandes banqueiros que financiavam verdadeiras revoluções tecnológicas que criavam novas necessidades nos consumidores, de maneira a que o interesse por parte dos europeus, fartos de tudo, possa ser reavivado e as fábricas tenham necessidades de maior produção. Só assim será possível reverter os problemas criados pelo excesso de produção em setores tradicionais (que o digam os produtores de leite ou carne de porco) e pelo desinteresse por consumir que se tem instalado nas sociedades mais avançadas. Isso, em vez da calaceirice de só financiarem o imobiliário! 

O que Mário Draghi disse na conferência de imprensa de quinta-feira foi que se estas medidas não resultarem numa subida dos preços, então vamos ter plano B: que tal um helicóptero a largar notas

EDP e a nova de Iggy Pop

Depois de uma sucessão negativa de notícias e factos relevantes que levaram a EDP a quebrar em baixa suporte e base da oscilação, iniciada em Março de 2014 entre os redondos 3 e os 3,60, a cotada encontra-se em zona que a poderá colocar novamente no trilho do canal horizontal dos últimos dois anos.

Vejam o gráfico:


Se confirmar a recuperação, acima do valor de fecho da última sessão, vemos como primeiro objectivo o encontro com a linha de tendência descendente (a preto) pelos 3,20! Embora tecnicamente se encontre em zona de vendas pode ser que o gap bullish de sexta-feira passada e os actuais ventos favoráveis nos mercados a empurrem para esse primeiro target, recuperando dessa forma zona de suporte nos 2,98!

A concluir e a acompanhar análise sumária ao momento da eléctrica Portuguesa, álbum novo:

  
Post Pop Depression é o mais recente trabalho de Iggy Pop com a participação de Joshua Homme, vocalista e guitarrista dos Queens of the Stone Age, Dean Fertita (também dos QOTSA) e de Matt Helders dos Artic Monkeys que chega às lojas oficialmente na próxima sexta-feira, 18 de Março. 

Por aqui deixámos o primeiro single. Com a nossa bênção, Gardenia!

Boa semana.

11.3.16

Música e leitura

Negociar em bolsa pressupõe uma atenção permanente ao mundo! Só ganha dinheiro consistentemente quem está atento, quem decide rapidamente e quem tem aquela mistura bem afinada de emoção e racionalidade que só se adquire se o nosso cérebro misturar instinto com aprendizagem de uma forma muito apurada. O verdadeiro trader tem que ser instintivo, esperto, racional e informado. Não é fácil e dá muito trabalho! Não há nada por que não nos interessemos à partida, mas é fundamental sermos seletivos e saber escolher o que vale a pena porque o tempo é limitado e os conteúdos são imensos.
É a pensar nisso que o nosso blogue passou a disponibilizar uma seleção de músicas e de leituras que constituem a base em que assenta a nossa atitude na hora de negociar em bolsa! São as ferramentas que moldaram uma grande parte daquilo que nos permite ter uma postura diferenciada, um instinto menos fetal e uma racionalidade mais afinada. Não temos dúvida de que se nos mantemos no mercado, com muito mais entusiasmo do que o que tínhamos há vinte anos atrás, o devemos, em larga medida, a estas músicas e a estes livros!
Para ouvirem a nossa música precisam de se logarem ao spotify e seguirem a playlist "Negociar em bolsa".
Quanto aos livros, apresentamos um top pessoal das leituras de que mais gostamos, ordenadas de acordo com 6 parâmetros de importância decrescente:
- Facilidade de leitura;
- Aditividade;
- Criatividade;
- Influência;
- História/conteúdo;
- Qualidade da escrita.
De cada vez que acederem ao blogue ficarão a conhecer um dos livros e a respetiva posição. Na net encontrarão, claro, mais informação sobre os mesmos. É uma lista pessoal e outras existirão com tanta ou maior importância, mas se forem por estes é garantido de que ficarão bem servidos.
Bom proveito!

8.3.16

Altri, Portucel e um Escocês à Italiana

Se estão de olho na reunião do BCE e no impacto que daí possa advir para o par EUR/USD então é natural que na nossa praça estejam de olho (o outro) nas empresas exportadoras, como é o caso, em especial, do sector da pasta de papel! E até aí, tudo bem visto! Se nos perguntarem qual será mais interessante nessa óptica, nós olhamos para os gráficos...

... da Altri:


... e da Portucel:


... e dizemos que entre um e outro, o da Portucel parece mais interessante no imediato! A quebra em alta, a confirmar, dos 3,14 parece-nos mais/menos líquido que a chuta para aquela zona demarcada a cinzento entre os 3,53 e os 3,60! Na Altri, embora o cenário seja idêntico, a proximidade à barra (igualmente demarcada) deixa-nos menos confortáveis no risk/reward! Confirmada a passagem para lá da tal barra e o desconforto também passa!

Por agora, tanto numa como noutra, é esperar para ver!

Em pleno dia das moças termino com o nome que também faz jus ao título, Paolo Nutini!

Bom dia para todos!

6.3.16

One million dollars question, o BCP e a jogada no BPI

Na amena cavaqueira sobre bolsa com quem o negócio passa completamente ao lado ou com quem ainda vai tentado perceber o que a move, a questão típica é aquela que se no futuro vai valer mais ou menos, a que facilmente digo - isso não vale, essa é a pergunta para: 


Até que se acerca a desilusão de rentabilidade fácil estampada no rosto como se isto fosse de caras - não é e a luta é diária! O que hoje é certo, amanhã é errado e vice-versa! Não fosse assim e não estaríamos aqui a escrever e analisar constantemente - sem beliscar o prazer que nos dá!

Este introdutório para dizer aquilo que provavelmente já se aperceberam que em quase dois anos de N€B temos opinado e analisado, essencialmente, à distancia do curto prazo - tanto mais que quem se deixou estar  investido ao longo deste tempo no nosso índice tem aqui o retrato, a deslizar, da carteira:  

Gráfico semanal

Claro está que pelo meio da tendência descendente tem havido alturas de entusiasmo pontual, que não o deixam de ser mas que tem dado grandes alegrias, sobretudo a quem é disciplinado ao ponto de simplesmente fazer parte daqueles que sensatamente nos seguem, agindo em consonância!

Puxados os galões e um pouco de gabarolice à CR7, olhemos em frente!

Na banca, o David com este texto e a sua habitual pertinência deu, uma vez mais, uma de Rei Midas e em uma semana o sector passou a valer mais 20%! O BCP, patinho feio para muita gente, voltou a avivar a memória a quem já se esquecia (ou fazia por) que lá tinha dinheiro entalado e subiu até à zona de resistência após quebra em alta da EMA21! 

Confiram:


Posto isto e esticando a manta da recuperação, aliada à óptica optimista, vemos a possibilidade de replicar valores da oscilação que tem havido desde 20 de Janeiro, i.e., a quebra em alta da zona dos 0,039/40 poderá activar um duplo fundo que a atira para zona dos 0,046/47! Zona, diga-se, que sugerimos na altura aqui que zarpassem - fuginde, foi o termo caso a quebrasse em baixa. O tempo fez questão de o confirmar e porque não, também dizê-lo, de trazer até nós Thom Yorke na edição deste ano do NOS Alive! Resta saber se lá chegaremos novamente... O tempo, ou quiçá a Isabelinha do BPI o dirá!

E por falar em BPI, o que temos a dizer é o seguinte:
  • O Caixabank, lançou, há pouco mais de um ano, uma OPA ao BPI a 1,329 e a Isabel dos Santos disse que o graveto era pouco e recusou a desblindagem dos estatutos. Houve quem falasse na altura em valores aceitáveis na casa dos 2 euros!
  • Agora a D. Isabel, que parece que manda nisto tudo (como o outro), e tem um jeito assaz engraçado para N€B, está a negociar a venda da sua posição. Vai vender por quanto? 1,329? Não nos parece!
  • De modo que vemos dois cenários em cima da mesa: ou o negócio se faz e o BPI vai subir e bem; ou o negócio não se faz e o BPI fica numa situação foda, e a Isabel e o Caixabank com ele!
  • Claro que se o negócio se fizer, nós queremos o nossa parte (e vocês também, supomos), de maneira que mais vale pormo-nos a toques e andar atentos à dança. E o BCP ganha? Claro que sim, chega para todos, porque não é possível que o BPI estabeleça um novo padrão de preço sem que o outro ajuste! Assim haja dinheiro vindo de Espanha (por falar nisso, ajudava se a situação governativa se esclarecesse, de uma vez por todas, lá na terra do Quixote)!

Como a semana foi abençoada e lá nos deu os 4% (superando-os até) ao ritmo de Wall Street, justifica-se exultar...

YEAH YEAH YEAHS, em música para festejar os ganhos em bolsa!

Boa semana!*


*Talvez amanhã ainda nos encontremos para uma revisão aos outros sectores, se assim se justificar, embora o façamos pontualmente no nosso FB!

Caro ou barato

Para quem como eu não é contabilista e tudo o que pretende da Bolsa é meter uns cobres ao bolso enquanto bebe uns canecos, avaliar se a empresa está cara ou barata é arte que se deve resumir a comparar efetivo com expetativas, avaliar o peso da dívida e calcular o PER (price earnings ratio) ou razão preço-lucro. E no que diz respeito a contabilidade, se ficarmos por aqui já não teremos feito pouco serviço! O resto, vão por mim, está tudo nos gráficos que contêm informação que vale bem por várias resmas de demonstração de entradas e saídas.

Para calcular o PER eu divido o valor da empresa pelo seu resultado líquido (nos EUA é costume apresentar os earnings per share, EPS, (lucros por ação), pelo que a conta é mais fácil: cotação/EPS). Mas aqui não se usa talvez porque o EPS de algumas empresas tenha que ser apresentado em notação científica! Evidentemente, o valor da empresa resulta do produto entre a cotação e o número de ações. 

Vamos dar dois exemplos:
  • O BCP está a cotar nos 0,0388€ e tem um capital constituído por 59.039.023.275 ações. Logo, segundo o mercado, o banco vale 2.290 M€. Com um resultado líquido, em 2015, de 235,3 M€, obtemos um PER=2290/235,3=9,7!
  • A Jerónimo Martins, de que falamos aqui, está avaliada pelo mercado em 8.854 M€ e apresentou um resultado líquido de 333 M€: PER=26,6!
Isto significa que precisamos de investir 9,7 € por cada euro de lucro que o BCP dá, ao passo que na JMT temos que colocar 26,6 euros/euro de lucro. Ou então: o BCP precisa de 9,7 anos para pagar a cheta que lá enfiamos e a outra, etc.

Portanto, visto apenas por este prisma, o BCP está mais barato que a JMT. 

Mas é claro que não podemos ver só por este prisma, pois não? 

Para começar, a JMT já distribui parte dos lucros e o BCP ainda está à rasca só para constituir reservas que o tirem da zona de perigo. Depois, vai ter que pagar ao Estado e pode ser que um dia mais tarde volte a poder distribuir dividendos. Além disso, a banca está mergulhada em incertezas várias que podem levar a aumentos de capital com emissão de novas ações (ainda agora o BCP aumentou o capital em cerca de 100 M€ por troca de obrigações por ações), o que leva ao correspondente aumento do PER, etc. 

E é claro que há todo um sem número de variáveis que vão sendo ponderadas, muitas vezes apenas na mente dos investidores, e que vão fazendo o preço das ações oscilar em tempo real. Investimento é precisamente isto: tentar encontrar forma de maximizar as vantagens futuras com o mínimo de desvantagens no presente. 


Quando alguém compra um imóvel para rendimento faz um price earnings ratio, talvez uma razão entre o preço do imóvel e o valor da renda anual que espera receber, subtraindo as despesas (resultado líquido): quanto mais baixo o valor, melhor o negócio, porque mais rapidamente vai recuperar o investimento feito. Claro que, como no mercado acionista, também neste caso há imensas variáveis que é necessário levar em linha de conta, mas o facto de não se verem os valores a oscilar num ecrã de computador leva muitos a achar o negócio menos arriscado.

Bem vistas as coisas, o PER é uma caca muito grande (é famoso o PER de 800 e tal da Amazon, sem nunca ter distribuído um chavo de lucro) e estar com a trabalheira de analisar todos os indicadores e variáveis é frete que nem nos passa pela cabeça assumir quando temos tudo de que precisamos num gráfico bem feito!

2.3.16

Jerónimo Martins

Olhando para estes resultados fica-se com a ideia de que a JMT é uma empresa cara. 

Com um PER atual de 25, mesmo com um crescimento de lucros na Polónia de 12% não parece haver grande margem para valorizações consistentes, até porque Portugal está parado e a Colômbia, até à data, está a ser um bom sorvedouro de dinheiro. A margem ficou em linha com o ano passado nos 5,8%, bastante abaixo do alvo de 6,5% até final de 2017, o que pode levar o mercado a pensar que podemos falhar esse objetivo, tanto mais que não se prevêem grandes crescimentos da inflação ou diminuição da concorrência (vulgo: promoções). Do lado positivo, uma dívida baixíssima, para os padrões portugueses, que permite libertar recursos para dividendos generosos. 

Do ponto de vista técnico, é das ações portuguesas em melhor forma, mas está numa zona de resistência muito importante e que já não consegue vencer há mais de dois anos:


Se amanhã subir, acreditamos que possa ir um bom bocado mais acima, mas julgamos que há um sério risco de ainda não ser desta que vença a resistência.

Se nós fôssemos um banco de investimento, apontaríamos para um PER mais saudável por volta de 18 (afinal de contas, a JMT não é nenhuma empresa de alta tecnologia!), o que dará um price target de 11€ para o final do ano, assumindo uma subida (generosa) de 15% no resultado líquido ao longo de 2016.

Por comparação, a título de exemplo, a Sonae, que apresenta resultados no dia 16, à cotação atual e com os lucros de 2015 tem um PER de 13!