Ficou tudo em pânico com o corte do Caixa (CB) à Isabel dos Santos (IS) e não falta gente de mãos atadas na cabeça e à procura de explicações para tão infeliz desiderato. Há quem avance com a hipótese de os espanhóis se terem fartado do ar angolano de quem tem o ás de trunfo e optado por uma desesperada corrida para o precipício e também já ouvi dizer que os dois chegaram a acordo, mas só depois os de Espanha, néscios do caralho, se aperceberam que tinham de opar todo o capital e acharam que era muita fruta ficar com o BPI ainda por cima sem Angola!
Nós por cá também temos duas teorias para o que se passa aqui, e dizemo-las muito rapidamente antes do nos pormos a andar para passar uma semaninha a descansar da jogatana:
- Hipótese número 1 - Os espanhóis perceberam que o negócio era fraco porque estavam a pagar muito caro (quanto? Vamos já ver!) por um banco que, sejamos francos, sem Angola fica reduzido a ser uma chafarica de um país com pouquíssimo interesse como é o nosso. Ainda por cima, a IS saía do BPI e ficava com o BFA e, se o papá deixasse, acumulava no BCP com a ajuda da mais do que desidratada Sonangol e, com um bocado de jeito, até dava para chegar ao Novo Banco! Não me custa nada imaginar os do CB a dizer que, se pudessem, se punham ao contrário. Todavia, não creio que esta seja a hipótese com maior probabilidade, porque se fosse para isso não tinha havido necessidade de tanto baile nestas últimas semanas!
- Hipótese número 2 - (Os mais impressionáveis com números grandes devem abster-se) Os valores já foram apresentados várias vezes na imprensa, mas como são contas de merceeiro e eu até aí ainda chego, não me importo de os pôr aqui: à cotação atual, a posição da IS vale 334 M€ (à cotação média dos últimos 6 meses deve valer 284 milhões) e 50% do BFA valem, de acordo com a própria IS, cerca de 700 M€, pelo que não é desacerto aparente pensar que estaremos a falar em o CB receber algures entre 370 e 420 M€ da angolana. Dito isto, aparentemente, os valores entre os dois estão feitos e não devem divergir muito. O problema coloca-se depois porque os do CB vão ter que lançar uma OPA ao resto do capital do BPI, ou seja, aos restantes 37,3%, e o preço que vão pagar pela coisa vai ser o maior de dois: média ponderada da cotação nos seis últimos meses ou o valor pago à IS. Ora é neste ponto que me parece que a partida está transformada no que é habitual nestas coisas: um tour de force de quem não brinca em serviço! À cotação atual o que resta do BPI custará 669 M€ ao CB e à cotação média (eu aponto para 1,10€) poupam 100 milhões (recebendo da IS, vão ter que avançar com 300 e tal milhas)! Acresce que por cada cêntimo a mais a que ficar registada a venda da posição da IS, os do CB desembolsam 5 milhões de euros para opar a posição dos restantes acionistas! O ideal para os espanhóis era comprar a posição da IS no preço médio semestral, mas isso obrigava a angolana, além de ter que anunciar que comprou o BFA em saldo, gramar com a gosma dos restantes acionistas do BPI que dificilmente lhe perdoariam a desfaçatez. De maneira que, qual é a solução? A do costume: fazer o peixe caro de modo a torná-lo barato. Como ainda faltam 15 dias para o final do prazo do BCE e o Draghi vem cá no dia 7 e até pode trazer novidades, os espanhóis encheram-se de peito e, ao anunciarem que vão apoiar o BPI no que fizer falta, até parece que estão dispostos para arcar com um AC em vez de fecharem o negócio que andaram a cozinhar! Entretanto, vão esperar que o mercado e os grandes acionistas interiorizem que vai ser melhor aceitar uma OPA módica do que ter que acudir a males maiores no futuro. É só jogo e a parada já vai alta! À primeira vista, não nos parece que isto faça muito bem à cotação do BPI,... mas!
Bons negócios para todos e, da minha parte, até de hoje a uma semana!