Para quem como eu não é contabilista e tudo o que pretende da Bolsa é meter uns cobres ao bolso enquanto bebe uns canecos, avaliar se a empresa está cara ou barata é arte que se deve resumir a comparar efetivo com expetativas, avaliar o peso da dívida e calcular o PER (price earnings ratio) ou razão preço-lucro. E no que diz respeito a contabilidade, se ficarmos por aqui já não teremos feito pouco serviço! O resto, vão por mim, está tudo nos gráficos que contêm informação que vale bem por várias resmas de demonstração de entradas e saídas.
Para calcular o PER eu divido o valor da empresa pelo seu resultado líquido (nos EUA é costume apresentar os earnings per share, EPS, (lucros por ação), pelo que a conta é mais fácil: cotação/EPS). Mas aqui não se usa talvez porque o EPS de algumas empresas tenha que ser apresentado em notação científica! Evidentemente, o valor da empresa resulta do produto entre a cotação e o número de ações.
Vamos dar dois exemplos:
- O BCP está a cotar nos 0,0388€ e tem um capital constituído por 59.039.023.275 ações. Logo, segundo o mercado, o banco vale 2.290 M€. Com um resultado líquido, em 2015, de 235,3 M€, obtemos um PER=2290/235,3=9,7!
- A Jerónimo Martins, de que falamos aqui, está avaliada pelo mercado em 8.854 M€ e apresentou um resultado líquido de 333 M€: PER=26,6!
Isto significa que precisamos de investir 9,7 € por cada euro de lucro que o BCP dá, ao passo que na JMT temos que colocar 26,6 euros/euro de lucro. Ou então: o BCP precisa de 9,7 anos para pagar a cheta que lá enfiamos e a outra, etc.
Portanto, visto apenas por este prisma, o BCP está mais barato que a JMT.
Mas é claro que não podemos ver só por este prisma, pois não?
Para começar, a JMT já distribui parte dos lucros e o BCP ainda está à rasca só para constituir reservas que o tirem da zona de perigo. Depois, vai ter que pagar ao Estado e pode ser que um dia mais tarde volte a poder distribuir dividendos. Além disso, a banca está mergulhada em incertezas várias que podem levar a aumentos de capital com emissão de novas ações (ainda agora o BCP aumentou o capital em cerca de 100 M€ por troca de obrigações por ações), o que leva ao correspondente aumento do PER, etc.
E é claro que há todo um sem número de variáveis que vão sendo ponderadas, muitas vezes apenas na mente dos investidores, e que vão fazendo o preço das ações oscilar em tempo real. Investimento é precisamente isto: tentar encontrar forma de maximizar as vantagens futuras com o mínimo de desvantagens no presente.
Quando alguém compra um imóvel para rendimento faz um price earnings ratio, talvez uma razão entre o preço do imóvel e o valor da renda anual que espera receber, subtraindo as despesas (resultado líquido): quanto mais baixo o valor, melhor o negócio, porque mais rapidamente vai recuperar o investimento feito. Claro que, como no mercado acionista, também neste caso há imensas variáveis que é necessário levar em linha de conta, mas o facto de não se verem os valores a oscilar num ecrã de computador leva muitos a achar o negócio menos arriscado.
Bem vistas as coisas, o PER é uma caca muito grande (é famoso o PER de 800 e tal da Amazon, sem nunca ter distribuído um chavo de lucro) e estar com a trabalheira de analisar todos os indicadores e variáveis é frete que nem nos passa pela cabeça assumir quando temos tudo de que precisamos num gráfico bem feito!
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